<ENTRE DOIS CORAÇÕES>
Música Tema: Love The Way You Lie (feat. Eminem) - Rihanna.
Capítulo I: Adolescente Clichê ou Clichê Adolescente?
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Me virei de lado enquanto tentava ignorar o barulho irritante do meu celular tocando e vibrando sobre a cabeceira da cama. Cobri a cabeça com o edredom e bufei, amaldiçoando quem quer que fosse que estivesse ligando às... An...
Estiquei o braço e tateei a cabeceira da cama em busca do meu celular, o arrastando para baixo do edredom. Deslizei o dedo sobre a tela de bloqueio e fiz uma careta ao abrir os olhos. 11:30 da manhã.
Respirei fundo e contei até três, tomando coragem para levantar da cama. No 1 eu joguei o edredom para o lado; no 2 eu mirei a porta de madeira do meu quarto; e no 3 eu pulei da cama para o chão, tropeçando no meu próprio pé e cambaleando até a porta espelhada do meu guarda-roupas. Okay. Eu estava de pé. Talvez não completamente acordado, mas de pé.
Andei ainda sonolento até a pequena suíte do meu quarto, que fora posta ali somente para as necessidades de higiene básica como urinar, lavar as mãos e escovar os dentes. Minha mãe dizia horrores sobre eu morar no quarto se pudesse, mas ela estava sempre exagerando. Eu sempre me considerei um adolescente clichê. Não havia nada em mim que me tornasse tão interessante, nem tão tedioso quanto os outros.
Meu nome é Ethan Vitiello. Apesar do sobrenome italiano, meus pais são norte-americanos e meus avós também. Minha mãe é do Texas, e meu pai de Nova Iorque. Eu tenho 17 anos de idade e moro atualmente com a minha mãe em uma cidade esquecida no interior do Rio de Janeiro, onde você não pode sair sem protetor solar durante o verão. Eu me formei no ensino médio com 16 anos, graças à uma prova que me fez pular os primeiro e segundo anos do colegial. As pessoas me consideravam inteligente, mas eu não deixava isso subir à cabeça. A verdade é que eu sempre fui exageradamente focado nos meus estudos.
Terminei a minha higiene matinal e voltei para o quarto, pegando um marca-texto azul sobre a cabeceira da cama e marcando um X na data de hoje em um calendário colado em uma das portas do meu guarda-roupas. Apenas 6 meses e 23 dias para completar 18 anos. Como eu disse, um adolescente clichê.
Desci para o térreo, direto para a cozinha. Era um dos maiores cômodos da casa, dividida por um grande balcão de mármore. De um lado ficava a área culinária, com um fogão de 5 bocas, uma geladeira de porta dupla e uma pia também em mármore. Os armários pendurados na parede eram de madeira, e quase todos os eletrodomésticos eram inoxidáveis. Do outro lado do balcão havía uma mesa de vidro para 6 pessoas, que eu particularmente achava um exagero, já que minha mãe nunca trazia os amigos do trabalho para cá, e eu geralmente só convidava a minha melhor amiga e o meu namorado, que às vezes também aparecia sem avisar.
Caminhei até a dispensa e peguei um pacote de torradas e um sachê de chá matte de limão. Coloquei uma xícara com água para aquecer no microondas enquanto pegava um pote de geléia na geladeira e levava tudo até a grande e solitária mesa do outro lado da cozinha. Esperei que o microondas apitasse, preparei o chá e me sentei à mesa, saboreando lentamente o meu café da manhã quase na hora do almoço.
Vocês devem estar pensando "nossa, que garoto solitário", mas meus dias não são sempre assim. Minha mãe trabalha em uma construtora civil multinacional, e por isso sempre está viajando para diversos cantos do país. Ela comanda quase todas as obras da empresa, mas volta para casa toda sexta-feira, sem falta. Era um acordo que ela havia feito com os donos da construtora. Mas apesar dos 5 dias em que minha mãe ficava fora, minha melhor amiga estava sempre aqui, e quando não, meu namorado estava, e geralmente ficava para dormir. Mas não na última noite. Meu namorado estava em um evento de um dos seus patrocinadores e minha melhor amiga havia virado a madrugada em uma boate na capital. Resultado: eu estava sozinho desde ontem. Mas hoje era sexta-feira. Dia de mamãe voltar pra casa.
Ouvi o toque do meu celular, que não parecia mais tão irritante quanto a alguns minutos atrás. Revirei os olhos e esperei que ele parasse de tocar. E parou. Menos de um minuto depois ele voltou a tocar. Saí da mesa bufando. Só havia uma pessoa que me ligava assim desesperadamente, e por mais incrível que pareça não era a minha mãe.
Subi para o meu quarto e me inclinei sobre a cama de casal que mamãe havia me presenteado no último dia dos namorados, junto com um colchão cheio de preservativos. Preservativos que eu nunca usei, aliás.
Tateei a cama atrás do meu celular, que não parava de tocar uma música do The Wanted. Eu estava começando a questionar o meu gosto musical.
— O que você quer? — Falei irritado, sem nem sequer olhar para o identificador de chamadas.
— Bom dia pra você também! — Gabrielly respondeu em mesmo tom — Acordou irritado hoje, meu amor? Estranho, até parece que foi você QUE FOI ABANDONADO NA PORTA DE UMA BOATE PELO SEU MELHOR AMIGO.
— Tecnicamente eu não te abandonei. — o os olhos e voltei para a cozinha enquanto falava — Eu nem apareci na boate, e eu liguei avisando que não iria. Como foi lá?
— Vai se foder. Foi maravilhoso, peguei altos boys. Um mais lindo que o outro.
— Em uma boate gay? — Gargalhei enquanto me sentava à mesa novamente — Você deve ter se confundido e pego as lesbas que pareciam meninos.
— Vai ver que foi isso. — Ela murmurou — Mas é sério. Não teve a menor graça. Saí de lá antes das 3, e cheguei em casa sóbria ainda por cima. Uma das piores noites da minha vida.
— Sinto muito. — Falei com toda a sinceridade possível antes de bebericar o chá ainda quente — A próxima eu juro que vou.
— A próxima vai ser uma baladinha hetero. — Minha melhor amiga provocou — Como foi a sua noite? O Robert dormiu aí?
— Muito tranquila. Ele foi para um evento, não sei se volta ainda essa semana. E ele nem é o mais bonito de lá.
Gabrielly gargalhou, e então o assunto morreu. O problema de ter uma amiga como Gabrielly era que ela estava sempre querendo saber da sua vida, de como foi o seu dia e o caralho a quatro. E aí quando ela liga de manhã quando o dia ainda mal começou, o assunto morre.
— Hmmm... E então... — Quebrei o silêncio — O que você está aprontando aí?
— Porque eu tenho que estar aprontando algo? — Ela disse em tom injustiçado. Até parecia uma menina recatada — Eu só estou pintando as unhas dos pés. Vermelho ou azul?
— Nenhum dois. De que adianta pintar a unha se você não pode mostrar esse pé horroroso? Quer dizer, até pode mostrar, mas só vai passar vergonha. Pé de ogro.
— Vá à merda, Ethan! — Gabrielly riu — Meus pés são lindos, pare de invejá-los, por favor. Ah, e sobre aquela próxima vez que nós estávamos falando... Que tal se ela fosse hoje? Meus tios foram viajar e minha prima vai aproveitar a oportunidade para dar uma festa na casa dela. O que você acha?
— Você tá falando da Bianca? — Franzi o cenho — Você não odeia ela?
— É, mas meu amor por bebidas alcoólicas é muito maior do que o meu ódio por aquela piranha velha ladra da namorados. E aí, vamos ou não?
— Apesar da ideia de provavelmente ter que te carregar bêbada ser tentadora, eu vou ter que dispensar. Minha mãe chega de viagem hoje, e como você deve saber, eu não a vejo a cinco dias.
— Filhinho de mamãe. — Gabrielly disse conformada, e eu pude imaginá-la revirando os olhos — Mas no sábado você não me escapa, entendeu? Você vai sair comigo nem que eu tenha que te arrastar até... CARALHO — Ela gritou, me fazendo afastar o telefone do ouvido — Porra Ethan, meu pai vai me matar! Me diz que acetona também remove esmalte de panos. Capa de sofá, para ser bem específica.
— Eu não sei... — Usei todo o meu autocontrole para não rir da situação — Tenta, se não der certo troca a capa e finge que não sabe o que aconteceu.
— E eu ainda sou obrigada a ouvir meus pais falando que você é uma boa companhia pra mim... — Gabrielly suspirou — Okay, a gente se fala mais tarde. Vou tentar dar um jeito na minha mais recente obra de arte. Te amo. Até.
— Tá certo, até mais tarde. Também te amo. — Respondi sorrindo e encerrei a ligação“O mundo é cruel, egoísta e sombrio. Qualquer sinal de alegria que ele encontra, ele destrói.” a madrasta de cabelos cacheados intimidou a pobre garota de cabelos dourados, e parecia estar dando certo...
— Eu adoro esse filme. — Meu namorado sussurrou a frase pela quarta vez desde que o filme começou.
— Dá pra ver. A gente assiste ele sempre que você está aqui. Pra ser mais exato, sempre que estamos a sós. — Murmurei, ainda olhando para a tela. — Parece que está tentando evitar que algo aconteça.
— E estou. — Ele confessou com naturalidade — E você sabe que eu estou. E sabe o que eu estou tentando evitar também.
Me endireitei no sofá e fiz uma careta, encarando os belos olhos castanhos do meu namorado.
Ele se chama Robert, e é 4 anos mais velho do que eu. Tem olhos castanho-mel e cabelo loiro na altura do pescoço. Robert é modelo em uma agência pequena da capital, e até ontem estava em um evento promovido pelos patrocinadores dessa agência.
Nos conhecemos a pouco mais de 5 anos, e namoramos a pouco menos de 3. Apesar de todo o nosso tempo de convivência, Robert insiste na ideia estúpida de me manter virgem até que nos casemos. Conservador idiota.
— Eu odeio você. — Murmurei, repousando a cabeça sobre suas pernas.
— A recíproca é verdadeira. — Robert respondeu gentilmente, afagando meus cabelos negros. Ele era irritantemente incorruptível.
— Você podia ao menos escolher um filme diferente. — Reclamei em voz baixa — Eu já sei todas as falas desse filme, em todos os idiomas que você achar possível.
Robert riu, mas não retrucou.
— Tudo bem então. — Ele disse sorrindo — Escolha um que seja do seu agrado.
Assenti e peguei o controle no braço do sofá. Robert me olhava curioso enquanto eu procurava o filme.
— Cuatro Lunas? — Ele franziu o cenho — Sobre o que é?
— É a história paralela de quatro pessoas, que enfrentam os mais variados problemas cotidianos. — Expliquei ainda olhando para a tela — Entre eles a descoberta da homossexualidade e problemas de relacionamento. Você vai gostar. — Falei rindo — Aliás, não tem dublagem pra português, então vamos assistir no áudio original, que é espanhol. Hablas español?
— Yo puedo intentar. — Robert respondeu sorrindo e me puxou para o seu colo, deitando comigo logo em seguida. Iniciei o filme e me aconcheguei em seus braços, repousando minhas mãos sobre as suas.
Não demorou muito para que houvesse a primeira simulação de sexo entre dois homens. O filme era cheio dessas cenas.
Senti a respiração de Robert pesar no meu pescoço, seu peito estufando e seus músculos enrijecerem, me apertando levemente em seu abraço.
— Você não presta. — Ele sussurrou em meu ouvido enquanto tentava manter a respiração controlada.
— Faz amor comigo. — Sussurrei de volta, entrelaçando meus dedos nos seus e conduzindo suas mãos até a minha barriga.
— Primeiro casa comigo. — Robert respondeu, mordendo minha orelha em seguida.
— Eu não vou casar com você sem saber se você transa bem. E se eu não gostar? — Era meu argumento final. Olhei para Robert e ergui a sobrancelha enquanto ele ria discretamente.
— A prática leva à perfeição.
— Então vamos praticar.
— Eu amo você.
A declaração me pegou de surpresa, me fazendo perder o foco da discussão e olhar sério para o meu namorado. Em 3 anos de namoro, Robert e eu nunca dissemos que nos amávamos. Era uma palavra forte. Não que eu não o ame. Eu o amo. Mas tinha medo de que expor isso estragasse a nossa relação de alguma forma.
Meus olhos marejaram. Mordi os labios e não consegui evitar que um sorriso brotasse no meu rosto.
— Eu te amo também. — Sussurrei e levei minha mão ao cabelo de Robert, o puxando para um beijo. Deixei que minha boca demorasse na sua, mas evitei que nossas línguas se tocassem. Sorri ao encerrar o beijo — Eu te amo.
Robert sorriu de volta e me puxou, me sentando sobre o seu colo e fixando seus olhos castanhos nos meus. Sua boca alcançou o meu pescoço, mordendoe chupando lentamente, sem pressa de terminar o serviço. Seus lábios deslizaram até o meu ouvido, e eu pude sentir a ponta da sua língua tocar minha orelha. Senti um arrepio subir por todo o meu corpo e sorri, jogando a cabeça para trás e dando total domínio do meu pescoço para Robert.
— Eu te amo. — Robert repetiu com um sorriso bobo no rosto. Ele fazia isso parecer tão natural. — Eu amo seu rosto — Ele disse sorrindo enquanto afagava o meu rosto com ambas as mãos — E eu amo seu pescoço — E seus lábios tocaram o meu pescoço com gentileza enquanto suas mãos deslizavam pelo meu corpo até a cintura, me apertando com força — E eu acho que não preciso nem falar da sua boca. — Robert sussurrou e sorriu. Sorri de volta e fechei os olhos enquanto Robert aproximava seus lábios dos meus. Seu beijo era gentil e doce, mas tinha um toque cítrico selvagem e extintivo.
Minhas mãos se moveram quase que involuntariamente para a borda da camisa azul de Robert, a erguendo devagar e separando-a do seu corpo. Robert fez o mesmo, mas não teve tanta paciência quanto eu. Assim que suas mãos atingiram a borda da minha camisa ele a removeu do meu corpo e a lançou em um canto qualquer da sala.
— Ethan!! — A voz alarmada cortou o clima como uma lâmina de aço. Mas não era a voz do meu namorado.
Olhei para a entrada da sala, onde a silhueta feminina da minha melhor amiga estava. Ela acendeu as luzes, me fazendo fechar os olhos por alguns instantes.
— O que houve? — Perguntei em tom despreocupado enquanto ainda me acostumava com a luz forte.
A respiração de Gabrielly estava descompassada e seus olhos estavam vermelhos, como quem acabara de chorar. Seus fios dourados caíam como um véu sobre os seus ombros mas haviam alguns fora do lugar.
— Foi o esmalte? Seus pais de te expulsaram de casa? — Caçoei para diminuir a tensão do momento, mas não surgiu efeito. Ela nem sequer percebeu que Robert e eu estávamos sem camisa.
Os olhos de Gabrielly marejaram, e então eu percebi que era algo sério. Ela raramente chorava. Estava sempre fazendo piada de tudo, até mesmo das suas próprias frustrações.
Saí do sofá e fui ao seu encontro, a abraçando com força. Apesar de ser alguns poucos anos mais velha, Gabrielly era mais baixa do que eu. Seu corpo se encaixava perfeitamente entre os meus braços. Ela não é magra, mas também não é gorda. Tem um corpo ideal, com curvas nos lugares certos. Seu cabelo loiro e ondulado ficava um pouco abaixo do ombro, mas ela costumava jogar ele sobre o ombro, como estava agora. Seus olhos verde-esmeralda eram invejáveis de tão lindos, e agora brilhantes por causa da água em seus olhos.
— Tudo bem, tudo bem... Shhh... — Eu tentava consolar minha melhor amiga, mas minhas tentativas não surtiam efeito — O que houve?
— Gaby... — Robert disse suavemente, chamando a atenção dela, e a minha. Eu nem sequer o vi levantar do sofá. — Vem... — Ele a puxou pelo braço e a sentou no sofá — Hey, você precisa ficar calma. Respira. — E ela obedeceu, controlando o choro. — Isso, de vagar. Olha pra mim e me conta o que aconteceu.
Gabrielly olhou para Robert, depois me olhou e voltou a chorar, agora soluçando.
— Porque você não atende a porra do seu celular? — Ela disse brava enquanto chorava. — Seria muito mais fácil se eu pudesse contar sem olhar para a sua cara idiota. Seu babaca.
Fiquei confuso com a irritação de Gabrielly, mas tentei não me irritar. Porque agora ela estava brava comigo?
Deixei Gabrielly como Robert enquanto caçava o meu celular pela cozinha. Está por aqui em algum lugar. Eu lembro de estar com ele quando Robert chegou. Ele tem a mania de pegar meu celular de mim e colocar no silencioso pra ninguém atrapalhar os nossos momentos juntos. Será que está com ele?
Voltei à sala de estar em silêncio e apalpei os bolsos da calça de Robert. Enfiei minha mão no bolso esquerdo traseiro e puxei o meu celular. Mais de 25 ligações perdidas. Entre elas ligações do meu pai, da minha mãe e algumas de um número privado.
— O que está acontecendo, Gabrielly? — Perguntei preocupado, a olhando sério. Porque tanta urgência em me contar? E o que o meu pai tinha a ver com isso? Definitivamente era algo serio. Meu pai e eu não nos falávamos há anos.
— Tava chovendo muito forte, e as ruas estavam alagadas — Ela controlava os soluços, mas as lágrimas ainda corriam pelo seu rosto angelical — Uma...Uma curva... E aí o carro derrapou, e ela não conseguiu frear... Tinha um posto de gasolina, e aí o carro dela bateu... E teve uma explosão... Ela... Ela... — E voltou a chorar entre soluços, sem conseguir falar. — O corpo dela foi totalmente carbonizado, não tinha como escapar ou sobreviver..
— Ela quem? — Falhei a última palavra. Minha mãos tremiam e meus olhos marejaram, mas as lágrimas não caíram.
— A sua mãe, Ethan... — Robert respondeu, me puxando para um abraço no mesmo instante.
Minha cabeça demorou para processar todas as informações de uma única vez. Talvez estivesse me preparando para o choque. O choque que eu teria ao me dar conta de que eu acabara de receber a notícia de que a minha mãe estava morta.
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É isso aí gente, se vocês gostaram da história comentem aqui, e se não gostaram comentem também!! Beijos, fui