Ola galera, eu esqueci a senha da minha conta principal, já tentei milhares de vezes recuperá-la, mas sem sucesso. Então criei essa nova conta pra continuar postando, se ainda tiver “publico”, claro.
A quem tiver o interesse de ler os capítulos anteriores, aqui está o link: http://www.casadoscontos.com.br/perfil/
Lá estava eu, tão humilhado, deitado naquele gramado molhado.
Já fazia algum tempo que estávamos deitados. Alexandre já dormia feito uma pedra.
Queria ser como ele, que depois que deita, não passa cinco minutos e já tá dormindo.
Não tava dando pra mim. O chão molhado, calor, os insetos... Simplesmente não estava conseguindo, podem me chamar de fútil, mas aquilo não era pra mim! Minha vontade era acordar o Alexandre e implorar pra ir pra casa.
Mas cadê a coragem? Ver ele feliz me deixa feliz... Só não feliz o suficiente pra gostar daquela situação.
Nem sei até que horas fiquei acordado. Não sei a hora exata, mas sei que já estava amanhecendo.
Quando acordo, vejo que Xande já não está ao meu lado. Levanto e vou lá pra fora procurar por ele.
Assim que saio, o vejo voltando com uma xícara na mão.
Xande – Bom dia!
Diz sorrindo.
Eu – Bom dia.
Xande – Dormiu bem?
Não dormi nada!
Eu – Mais ou menos. Posso beber um pouco disso?
Digo pegando a xícara dele, esperando ser café no conteúdo.
Eu – Vodka Alexandre?! Ainda não são nem 8:00 da manha e você já está enchendo a cara?!
Xande – Não consegui achar nenhum café.
Eu – Maravilha, “vodka da manha”!
Digo irônico.
Xande – Ei, é um festival alternativo e...
Eu – Que vai terminar em uma reunião dos Alcoólicos Anônimos.
Ele continua bebendo.
Eu – Eu tenho que ir mijar.
Xande – Amor, a fila dos banheiros tá enorme. Melhor você ir no mato.
Eu – Essa não é nem uma possibilidade!
Xande – Boa sorte!
Ele diz sorrindo.
Eu - Odeio esse lugar! Odeio!
Digo já longe do Xande, a caminho dos banheiros químicos.
Cerca de meia hora depois, finalmente era minha vez.
- Esse aqui já tá cheio. Acredite em mim mano, você não vai querer entrar aí.
Diz o rapaz que estava dentro do banheiro.
O universo só pode tá de brincadeira comigo.
Ir no mato ou fazer nas calças? Mato? Calças? Mato!
Se algum dia eu terminar com o Xande, vou jogar esse momento na cara dele. Podem ter certeza.
Só mais algumas horas Lucas, só mais algumas horas e você vai poder ir pra sua casa.
Enfim, faço o que tinha que fazer e volto ao camping.
Xande – Aí está você amor! Onde tava?
Diz já dando sinais de embriaguez.
Eu – Já chega de bebida Xande.
Digo tirando o copo da sua mão.
Xande – Tá bom, tá bom. Mas onde você tava? Fui te procurar nos banheiros químicos e não te achei.
Eu – Tive que ir fazer xixi no mato.
Ele rir.
Eu – Tive que andar um pedaço porque queria um pouco de privacidade.
Xande – Qual o problema com os banheiros?
Eu – Aquilo deveria ser interditado. Estava asqueroso!
Xande – Estava mesmo ou você só está sendo dramático?
Eu – Eu vou te trancar dentro de uma daquelas cabines e depois você me diz se estou sendo dramático!
Xande – Coisa linda! Você fica ainda mais bonito quando está bravo.
Ele diz me abraçando.
Não digo nada. Apenas continuo o abraçando.
Xande – Daqui a pouco recomeçam as apresentações.
Mas que droga! Esse pessoal não cansa? Foi ontem o dia todo e já vai começar de novo?!
Xande – O Iran disse que essa é melhor banda. A gente não pode perder!
Ele diz animado.
Eu – Claro amor, o que você quiser...
Digo tentando parecer o mais verdadeiro possível.
Eu – Você e os rapazes se deram muito bem, não foi?
Xande – Não diria “muito bem”, mas eles são bacanas.
Eu – Hum. Eu gostei muito da Luiza...
Foi ela quem salvou meu fim de semana.
Xande – Você tá bem?
Eu – Sim.
Xande – Mesmo?
Eu – Tá tudo bem amor. Vamos.
Seguro sua mão e vamos nos encontrar com Luiza, Iran e os outros.
Pelo menos eu ainda tenho Luiza pra me distrair.
Luiza – Bom dia gatinhos!
Diz ela me abraçando.
Eu - Bom dia. Dormiu bem?
Luiza – Tentei, né? E vocês?
Xande – Eu sim.
Eu – Eu não. Xande dorme em qualquer lugar, sob qualquer circunstância.
Luiza – Sorte dele!
Eu – Cadê os meninos? Ainda dormindo?
Luiza – Nada. Já levantaram, devem tá bebendo por ai.
Xande – Eles não vão assistir ao show?
Luiza – Sim, vão sim. Já que eles aparecem.
Xande – Vamos?!
Diz Xande animado, já andando.
Luiza revira os olhos.
Luiza – Ele tá gostando mesmo disso aqui, não é?
Eu – Adorando.
Luiza – Ai migo, o que nós não fazemos pelos nossos boys.
Ela diz me abraçando.
E a banda começou a tocar e eu me surpreendi, gostei muito, me lembrou um pouco o som do Foster the People.
O que não gostei nada foi da aproximação no irmão do Iran com o Xande. Ontem a noite tinha notado uns olhares que dele pro Xande, mas achei que fosse coisa da minha cabeça. Mas agora durante o show, às vezes o abraçava (digo “abraçava”, colocava o braço ao redor do pescoço ou da cintura dele) ou falava alguma coisa no ouvido dele.
Luiza – Que foi Lucas? Que cara é essa?
Eu – Nada...
Luiza – Não tá gostando do show?
Eu – Não, tá bem bacana...
Luiza – Então ajeita essa cara e vamos curtir. A gente não tem nada melhor pra fazer mesmo!
Minha vontade era fazer um barraco e tirar aquele cara de perto do meu namorado, mas cadê a minha moral?
Eu poderia fazer isso? Eu que sempre reclamo das cenas de ciúmes do Xande poderia fazer o mesmo que ele? Tinha que agüentar calado.
...
Depois que acabou anunciaram uma pausa de duas horas até começar o outro.
Xande e eu fomos comer alguma coisa.
Xande – Come amor.
Eu – Não tô com fome.
Xande – Você tá sempre com fome.
Ele diz rindo.
Eu – Hoje não.
Xande – Que foi vida? Você ficou sério de repente.
Eu – Bobagem.
Xande – Me conta. O que foi que te chateou?
Eu – Esquece. Não é importante.
Xande – Não. Vai, me conta! Você sabe que eu vou ficar insistindo até você falar.
Depois que ele insistiu muito.
Eu – O que era que o Iago ficava falando no teu ouvido durante o show?
Ele rir.
Eu – Fala Alexandre!
Xande – É isso? Você tá com ciúmes?
Ele diz confuso.
Eu – Você não queria saber? Agora me responde!
Xande – Não era demais Luke. Só falando sobre a banda, perguntado se eu estava gostando do festival, essas coisas. Eu não acredito que você ficou com ciúmes dele.
Ele com um sorriso idiota no rosto.
Eu – Isso é falta de respeito Alexandre! O cara passa o show todo te abraçando e falando coisas no teu ouvido e você não faz nada.
Xande – Meu amor, porque não era nada demais! Ele tá bêbado Luke, claro que se eu achasse que fosse algo demais teria dado um basta.
Eu – Você é muito ingênuo Alexandre! Se ele tem coragem quando está bêbado, tem vontade quando está sóbrio!
Ele continua sorrindo.
Eu – Mas você ainda tá rindo de que?
Xande – Só achei engraçado. Não pensei que você fosse do tipo ciumento.
Eu – Claro que eu sinto ciúmes Alexandre! Só porque não demonstro, não quer dizer que não sinta.
Xande – E porque não demonstra?
Eu – É sério essa pergunta?
Xande – Sim.
Eu – Alexandre me responda você. Por qual motivo nós passamos meses separados?
Xande – Junior!
Eu – Não! Não foi por causa do Junior. Foi porque você achou que eu estava te traindo! E eu estava?
Ele fica calado.
Eu – Eu estava Alexandre?!
Pergunto com um tom de voz mais alto.
Xande – Não. Não estava...
Eu – Então porque me falou todas aquelas cois...
Ele abaixa a cabeça. Acho que por vergonha.
Eu – Porque você achou que eu estava te traindo?
Xande – Eu vi vocês se abraçando, pensei besteira. Fiquei com ciúmes.
Eu – Aí está sua resposta Alexandre. Ciúmes, nós dois já sofremos bastante por causa de ciúmes. Por isso não demonstro, por isso prefiro guardar o que sinto pra mim. Porque não quero te perder novamente Alexandre.
Começo a andar.
Xande – Hey!
El diz vindo atrás de mim.
Xande – Ei, ei, ei! Isso não vai acontecer.
Diz segurando meu braço.
Xande – Não vai acontecer.
Eu – Você pode me condenar por ter medo?
Xande – Eu estou tentando controlar meu temperamento.
Eu – Eu sei disso. Por isso mesmo, pelo esforço que você está fazendo pra melhorar que eu não posso ter ataques de ciúmes.
Xande – Luke, nós somos um casal. Ter ciúmes é natural. Se você ficar com ciúmes de alguém ou eu fizer alguma coisa que você não goste, não esconda de mim. Ta bom?
Eu – Tá bem...
Ele segura minha mão.
Xande – Você fica lindo quando tá com ciúmes.
Ele sorrir.
Eu - ...
Xande – Tá bravo ainda?
Eu – Não.
Xande – Não? Então diz, como é meu nome?
Eu – Alexandre.
Xande – “Você só me chama de Frederico quando está bravo comigo.”
Ele assiste muito Chaves.
Eu sorrio e ele me abraça.
Xande – Promete que não vai mais me esconder o que tá sentindo?
Eu – Prometo... Pelo menos vou tentar.
Xande – Que bom. Então... Pronto pra mais um show?
Gente, que ódio desse festival.
Eu – Claro amor, o que você quiser.
Ele começa a rir.
Eu – O que?
Xande – O que você acabou de me prometer Luke?
Eu - ...
Xande – Você tá odiando isso aqui, não tá?
Eu - ... Xande.
Xande – Vamo embora Luke.
Eu – Não! Eu quero ficar, você tá gostando tanto. Não quero que fique chateado comigo.
Xande – Eu nunca ficaria chateado com você por causa disso Luke. Você está aqui só pra me agradar. Você já agüentou tempo demais.
Eu – Mas e o nosso fim de semana?
Xande – Ainda vamos aproveitar.
Eu – Como?
Xande – Nós passamos por uma pousada no caminho até aqui e...
O celular dele toca.
Xande – É... é meu pai!
Ele diz surpreso.
Xande – Pai? Pai espera. A ligação tá ruim...
Foi caminhando.
Eu – Vou te esperar na barraca.
...
Fico guardando minhas coisas de volta na mochila quando o Xande volta.
Eu – Que foi amor? O que seu pai queria?
Ele estava estranho.
Xande – Meu avô... faleceu.
Eu – Eu sinto muito Xande. Como você tá?
Xande – Faz tempo que eu não o via, mas ainda assim, é meu avô.
Dizia com os olhos cheios de lagrimas.
Eu o abraço.
Eu – O que vai fazer agora?
Xande – Meu pai ligou porque quer que eu vá ao velório com ele.
Eu –Depois disso não tinha não tinha mais clima pra continuar por lá, então viemos pra casa.
Ele veio o caminho de volta todo em silencio.
Xande – Vou fazer minha mala e já volto pra irmos. Avisa seus pais e faz sua mala rápido.
Ele disse já em frente de casa.
Eu – Como é? Você quer que eu vá com você?
Xande – Claro Lucas. Você não quer me acompanhar?
Eu – Não é isso Xande, é que... É um momento pra família.
Xande – Agora que meu avô se foi, minha família é minha mãe e você.
Eu – Você tem tios, primos e tem seu pai.
Xande – Eles não são importantes.
Eu – Você não tá ansioso pra ver seu pai de novo?
Xande – Vai preparar suas coisas logo!
Ele diz irritado.
Eu – E Xande, e a faculdade?
Xande – Nós vamos voltar amanhã a noite. Não vamos perder aula alguma.
Eu – Mas não tenho d...
Xande – Lucas, eu vou pagar pela sua passagem e por tudo o que você precisar.
Ele faz uma breve pausa.
Xande - Por favor Luke, eu preciso de você ao meu lado, ok?
Diz num tom de voz mais baixo.
Eu – Ta bom... Como você quiser.
...
Se o Xande não está ansioso pra ver o pai dele, eu estou. Ansioso e com medo também.
Continua.
Muito obrigado a todos que acompanham o conto e me perdoem pela demora, dessa vez não foi minha culpa.
Grande abraço.
