Cap.1
“Andava pela minha casa com meu pijama e meu ursinho de pelúcia. Era uma criança na época, com pouco mais de 10 anos, mal sabia o que era sexo.
-Papai ? - procurava o meu pai para entregar um desenho de Dia dos Pais que lhe havia feito.
-Estou aqui filho... - ouvi a voz dele vindo do quarto dele. Fui andando lentamente até o quarto. Abri a porta, ele estava ali, deitado, trocando os canais da TV.
-Olha o que eu fiz para você pai... - ele pegou o papel entre as mãos, olhou.
-Você desenha muito bem meu filho... Parece que tem um dom para isso...
-Você acha mesmo ?
-Acho... Deita aqui comigo... - subi na cama dele, deitei no meio das pernas dele e lá fiquei. Sempre vi o meu pai como uma inspiração, alguém que eu podia confiar para tudo, que nunca me faria mal algum, que sempre seria o meu protetor para o que precisasse.
-O que nós vamos comer papai ?
-Eu não sei filho... - ali, entre as pernas dele, começei a sentir algo duro crescer por trás de mim. E de repente suas mãos começaram a me alisar.
-O que você está fazendo pai ?
-Calma...
-Não... Para pai ! PARA PAI !”
Acordei de repente, ofegante. Dormia no sofá do meu apartamento, e acordei afoito, com o coração acelerado. Infelizmente isso não foi um pesadelo. Foi real, aconteceu, e eu não consigo esquecer um dia que seja. Mesmo já tendo se passado 8 anos do acontecido, agora eu tenho 18 anos. Aquilo martelava na minha mente. Meu pai, minha maior fonte de inspiração, havia me abusado sexualmente no dia dos pais. E sempre que esta data tão simbólica chega, eu me vejo sem chão. Todos falam maravilhas de seus pais, enquanto eu queria esquecer que tinha um.
-Alô ? - dizia, após atender o meu telefone que tocava.
-Oi filho... - minha mãe dizia – como estão as coisas ?
-Tudo bem mãe...
-Mandei mensagem no Facebook pra você, porquê não respondeste ?
-Não estou usando a internet hoje...
-Mas porquê ?
-Para não lembrar que dia é hoje...
Aquilo aconteceu mais vezes. Não foi apenas uma vez que meu pai tirou de mim a dignidade. Até que certo dia minha mãe viu.
“-Seu monstro ! - disse ela, empurrando ele para longe de mim – como você pode fazer isso ? Seu monstro !”
Ele foi preso. A cidade inteira ficou sabendo. Naquela época morava em uma cidade do interior de Santa Catarina. Após isso, minha mãe achou que era ruim para mim continuar morando ali. Todos falavam de mim, olhavam para mim com uma cara de pena. E além disso, eu já não conseguia mais viver ali, a lembrar sempre do que havia acontecido. Me mudei então para Joinville. Uma grande cidade, longe daquilo tudo, e onde haviam boas oportunidades para a minha vida.
-Você gostou ? - minha mãe perguntava, me mostrando pela primeira vez o apartamento que ela havia comprado para mim.
-É bonito...
-Você pode decorar do jeito que quiser...
-A senhora acha que é o melhor ?
-O que ?
-Que eu passe a morar só aqui ?
-Eu confio em você... Sei que tem a cabeça no lugar, não vai fazer nenhuma besteira. Eu não posso deixar a cidade. E aqui tem mais oportunidades pra que você alcance o seu sonho.
O meu sonho era ser médico. E foi nisso que eu sempre pensei quando passei a morar sozinho em Joinville. Busquei o meu sonho, e consegui ir para o caminho certo. Passei numa faculdade de Medicina na cidade, e começei a cursar.
-Eu não acredito – dizia, pela primeira vez na frente daquela faculdade – devo estar sonhando... O meu sonho começa aqui... - começava a entrar naquela faculdade, sozinho, quando de repente alguém que vinha correndo esbarrou em mim e eu fui direto pro chão.
-Ai – falamos juntos.
-Você não olha por onde anda ? - falei... De repente então o rapaz, aos resmungos me olhou. Arregalou os olhos, e sorriu.
-Desculpa, desculpa ! Quer ajuda ? - falou, esticando a mão.
-É o mínimo, não ? - e então me ajudou a levantar. Logo eu estava de pé. E ele não parava de me olhar. Como se algo em mim o fascinasse.
E aquilo aconteceu mais vezes. Parecia que a partir do momento em que eu coloquei os pés dentro daquela faculdade, passei a ter um poder sobrenatural sobre os homens. Todos olhavam pra mim, todos faziam o que queria, todos tentavam algo comigo. Até mesmo os que se diziam heterossexuais acabavam me procurando. Apesar disso, eu nunca namorei ninguém desde aquele acontecimento. Ninguém me atraia de verdade.
-Olha o que eu comprei para você – um dizia, se aproximando de mim – é um bolo muito gostoso...
-Obrigado... - dizia, pegando...
-Eu comprei esses chocolates, espero que goste – outro dizia.
-Olha o que eu te trouxe. É um colar... Espero que goste...
-Obrigado...
De repente eu não precisava mais pagar nada... Diversos rapazes apareciam de todos os lados para tentar me conquistar com guloseimas. Não ficava mais sozinho em momento algum. Fiz inimigos sem fazer nada. Todos com inveja. Nem eu entendia o porquê de tudo aquilo. Eu só era eu mesmo. E quem era eu ? Um garoto branco. Alto. Magro. De cabelos pretos lisos. Olhos castanhos. Me chamo Lorenzo. O apelido que me colocaram, Lorenzo, o sonho dos homens.
Continua
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