- ISSO NÃO É UM CONTO ERÓTICO -
Vocês tem um minuto? Queria contar uma história sobre minha relação com contos eróticos, sobre meus textos e de onde eles vieram.
A primeira vez que li um conto erótico foi por engano. Centro da cidade, meio da adolescência. Perto de uma banca de camelô cheia de conteúdo que claramente não era dirigido a pessoas da minha idade. Na época, os computadores estavam se tornando populares, mas não era qualquer casa que os tinha. O Windows 98 ainda era o preferido dos usuários. A internet era discada. Eu mesmo não sabia direito como nada disso funcionava, nem me importava. Aparelhos de DVD também eram novidade. Demorou pra ter um na minha casa. Então, meu acesso a pornografia se dava por revistas. Nú masculino sendo minha preferencia, obviamente.
Todo mês eu tinha que carregar meu bilhete de ônibus, para ir a escola. Como isso só podia ser feito em um prédio velho bem no centro da cidade eu aproveitava e descia dois pontos antes da parada correta e dava uma passada numa mistura de camelódromo com sebo que ficava por trás dos prédios do INSS e dos Correios. Eu ainda me lembro da vergonha quando comprei minha primeira revista. Apenas apontei e balbuciei minha preferencia ao rapaz que cuidava da banca. Devo ter parecido ridículo. De mochila cinza nas costas, com fardamento de colégio estadual, apontando para uma publicação cuja a capa exibia um homem musculoso usando apenas cueca e tinha a clara intenção de tirá-la. Esperei alguns segundos que alguma coisa explodisse. Ou que ele gritasse pra eu ir embora e tomar vergonha, que aquilo não era coisa pra um menino como eu estar interessado. Nada disso aconteceu. Ele pegou a revista e perguntou se eu queria mais alguma. Eu disse que não. Meu dinheiro só dava para aquela. Mesmo em meu nervosismo eu notei que não havia um pingo de julgamento nos olhos dele. Nem mesmo um sorrisinho de deboche. Ele a colocou em uma sacola discreta que eu fiz desaparecer dentro da minha mochila rapidamente. Paguei e sai. Tinha custado metade do que eu teria pago se fosse em uma banca de revistas comum. A capa dizia que acompanhava um CD-ROM, que obviamente, não estava presente, uma vez que era de segunda mão. Eu não me importava. Não havia onde assistir mesmo.
Passei a ir todo mês naquele sebo. Não só comprei revistas de putaria, mas quando o dinheiro permitia, vários livros também. Sempre gostei de ler. Sinto dizer que sou um dos poucos ou talvez o único da família a ter esse hábito. E a atitude daquele vendedor também me deixou mais a vontade pra voltar outras vezes e conferir as novidades. Ele chegava a me indicar várias coisas. Todas voltadas para o publico gay, ja que ele era ciente dos meus gostos. Um dia vi uma revistinha com dois parrudos se agarrando na capa. Cabia no bolso da minha calça jeans de tão pequena. Custava apenas um real. Achei uma pechincha, então levei. So me permitia abri-las quando estivesse seguro em casa, com mais ninguém por perto. Ficava o caminho todo imaginado o que teria dentro delas e me excitando por antecipação. Qual não foi minha decepção quando tirei o papel filme a qual ela estava enrolada e ver que não tinha nenhuma foto alem da que estampava a capa. Apenas texto. Entendi na hora porque custou tão barato. Me senti roubado. Parece contraditório alguém que diz gostar de ler falar que não gostou de ver um conto erótico, mas entenda: Quando eu queria ler historias eu procurava livros. As revista pornográficas eram pra masturbação. Eu só dava atenção para as fotos. Isso, felizmente, mudou ali. Não me lembro da história daquela revista, mas por causa dela comecei a prestar mais atenção aos textos e matérias que vinha junto das fotos explicitas.
O tempo foi passando e eu percebi como uma boa história erótica pode excitar você. Muito mais do que a parte visual do ato sexual em si. Passei a devorar todo conteúdo das publicações e mesmo depois de começar a comprar filmes pornôs em DVD, não abandonei os contos. Lia de todo o tipo, inclusive em revistas héteros. Das que eu comprava, emprestava dos amigos, pegava sem permissão do meu tio que achava que as escondia bem no fundo do seu armário. Tive conhecimento da maioria dos fetiches do ser humano através dessas histórias. E até hoje quase duas décadas depois, elas não perderam seu apelo para mim. Lembro-me de um conto bem especial publicado na revista Homens, cuja a publicação foi suspensa ja na época em que pus as mãos nela. Contava sobre dois irmãos, Everaldo e Everilton que se encontravam depois de anos separados pela vida. Everaldo o mais velho, ja casado e com dois filhos (que levam o mesmo nome dele e do irmão), recebe o mais novo em casa. Os dois rapidamente relembram as brincadeiras sexuais da adolescência. O erotismo do conto era forte e o tema, incesto, polêmico por si só. Mas havia também algo de romântico na historia que me encantou tanto quanto excitou. O texto era longo, tomava várias páginas, mas não era nada cansativo de ler. Foi tão bem escrito. Tão bem detalhado. Sem ser prolixo ou redundante. Foi assim que aprendi a importância de uma história bem escrita e cuidadosamente elaborada. Nenhum dos meus textos jamais chegou a qualidade daquele, mas ele me inspirou muito. Nunca achei uma versão online desse conto e ja esqueci o nome do autor. Sei que ele consta na Revista Homens Nº 57, ano 2002, mas não a encontro em lugar algum.
Com o advento da banda larga e a multiplicação das lan-houses, todo mundo passou a ter acesso a internet e toda a pornografia que ela poderia fornecer. Cheguei a trabalhar em uma por uns dois anos e foi por essa época que eu descobri a CDC. Assim como vários outros sites. Eu tinha uma conta fake no orkut onde também acompanhava os relatos. Eu chegava a dividir as coisas dessa forma: Se eu queria ler pra me masturbar eu vinha pra CDC; Se eu queria ler um relato mais longo de cunho biográfico ou até mesmo mais romântico eu ia para as comunidades do orkut. Como pode ver eu sou pré-histórico na internet. Eu andava por aqui quando ainda era tudo mato.
Aqui costumava ser um bom site antes de se encher de folhetins para adolescentes. Mal escritos, cheio de clichês, personagens unilaterais, furos no roteiro, falta de lógica. E a falta principal: Sem erotismo. Ou pelo menos um bem escrito. Os autores daqui estão sabendo cada vez menos escrever uma cena de sexo. Irônico e lamentável considerando onde eles escolheram publicar suas histórias. Fica obvio que ele está falando de algo que nunca fez e portanto não sabe escrever de forma satisfatória. Aqui virou palco pra pós-adolescentes escreverem suas fantasias. Ou adultos publicarem sobre a vida que nunca tiveram e aliviar as frustrações. E fazem de maneira bem porca, sem nenhum respeito pelos leitores. Jurando de pés juntos que a aquela baboseira toda é real, como se fossemos idiotas. E ainda são aplaudidos por isso.
Eu escrevo sobre tudo aquilo que me dá tesão. Todos os fetiches descritos em meus contos são meus fetiches. São histórias que eu gostaria de ler ao entrar em sites como esse. Nos mesmo moldes das que eu lia por aqui antigamente ou nas revistas que eu comprava. Me esforcei ao máximo pra que elas chegassem próximo a qualidade do que eu costumava ler. Não são perfeitas, nem inovadoras, mas se encaixam melhor com a proposta do site. Ao contrário daquela do menininho que sofre bullying e se apaixona pelo garoto novo no primeiro dia de aula (mais de dez mil contos desse tipo ja foram publicados) ou aquele do badboy da faculdade que se apaixona pelo nerdzinho (como um bom besteirol americano) ou qualquer outra porcaria que você consiga escrever com adolescentes de classe média-alta, brancos, malhados, com pais ausentes e que não fazem nada o dia todo! Séries longas de capítulos curtos e quase sem nenhuma informação relevante. Diálogos vazios e personagens sem propósito denunciando uma completa e inegável falta de imaginação por parte do autor…
Agora preciso explicar sobre o que vocês leem e vão ler no meu perfil:
A maioria dos meus contos foram escritas há anos atras. Eu os colocava em um blog, sem muita visibilidade, apenas pra guardá-los em um local fora dos meus HD’s. A maioria dos leitores de lá tinha chegado por acaso. Eu tinha várias ideias e tentava dar seguimento a elas ao mesmo tempo. Tenho muitos textos aqui pois foram escritas de forma simultânea. O que foi um erro, pois em alguns casos as histórias guardam aspectos parecidos. Ou que eu desistia de dar seguimento para elas depois de alguns capítulos. A Iniciação do Tonho é uma delas. Ficou longa demais e eu dei ela por terminada ali mesmo. Talvez um dia eu a continue, talvez não. A trilogia do Jovem Ator foi pensada para ter 3 capítulos mesmo. Eu pensei em escrever sobre a Patrick e o pai dele em outra série de contos, mas nunca aconteceu. Ja a série A Casa da Praia (até o momento não publicada aqui), de fato, está incompleta, mas merece ser lida mesmo assim. Hoje em dia não escrevo mais. Não tenho mais tanto tempo. Ainda guardo minhas idéias, mas não sei quando vou desenvolvê-las melhor. Isso tudo leva tempo e dedicação e não conto com nenhum dos dois agora.
O formato dos capítulos foi pensado para que cada um deles fosse satisfatório por si só. É possível se concentrar neles de forma individual e aproveitar bem. Tenho mais contos One-shot. Assim como pequenas séries, que vou colocando aos poucos e espero que vocês gostem. A maior delas é sobre o Vicente. Um cara chegando na meia idade que foi hétero a vida toda até perceber que gostava de transar com homens. Vou publicar as histórias sobre ele em breve e espero que vocês se divirtam tanto ao ler quanto eu me diverti ao escrevê-las.
Apenas para concluir, todas as histórias e personagens descritos aqui são produto da imaginação. Qualquer semelhança com pessoas, locais ou situações reais é apenas mera coincidência.
Haverá mais contos em breve. Fiquem ligados e continuem comentando!