Meu queixo caiu.
- Você já concordou?
Ele piscou.
- Ainda não.
- Mas vai concordar?
Ele sorriu.
- Você não vai ficar bravo quando eu te comprar um Lexus.
- Eu não quero um Lexus – falei, borbulhando de raiva.
- Você pode ter qualquer coisa que quiser, baby. Imagine a sensação de ir numa concessionária e só precisar escolher a cor predileta.
- Você não está fazendo isso por mim. Pare de fingir que é por mim.
Ele se inclinou na minha direção e beijou meu cabelo.
- Não, estou fazendo isso por nós. Você não está conseguindo enxergar como isso vai ser o máximo.
Um calafrio se espalhou no meu peito e desceu pela coluna até as pernas. Ele não conseguia raciocinar direito até que estivéssemos no apartamento, e eu estava morrendo de medo que Benny tivesse feito uma oferta que ele não teria como recusar. Afastei meus temores; eu tinha que acreditar que Travis me amava o bastante para esquecer as cifras e as falsas promesssas que Benny lhe tinha feito.
- Flor? Você sabe preparar peru?
- Peru? – falei, pego de surpresa pela súbita mudança na conversa.
Ele apertou de leve a minha mão.
- É que o feriado de ação de graças está chegando, e você sabe que meu pai te adora. Ele quer que você apareça por lá, mas a gente sempre acaba pedindo uma pizza e vendo um jogo na TV. Achei que talvez eu e você pudéssemos preparar um peru juntos. Sabe, um verdadeiro jantar de ação de graças com um peru, uma vez na vida, na casa dos Maddox.
Pressionei os lábios, tentando não rir.
- É só colocar um peru numa travessa e deixar assando o dia inteiro. Não tem muito segredo.
- Então você vem? Vai me ajudar?
Dei de ombros.
- Claro.
Ele se distraiu das intoxicantes luzes lá embaixo, e me permiti ter esperanças de que ele percebesse, no fim das contas, como estava errado em relação ao Benny.
*
*
*
Travis colocou as malas na cama e desabou ao lado delas. Ele não tinha mais tocado no assunto do Benny, e eu estava esperançoso de que Vegas tivesse começado a sair de seus pensamentos. Dei banho no Totó, com nojo pelo cheiro de fumaça e meias sujas que ele exalava por ter passado o fim de semana na casa do Brazil. Depois o sequei no quarto com uma toalha.
- Ah! Agora sim! – dei risada quando ele rebolou, borrifando em mim, gotículas de água. Ele ficou em pé, apoiado nas patas traseiras, e lambeu meu rosto. – Também senti sua falta bonitinho.
- Beija-Flor? – Travis me chamou, estalando os dedos nervosamente.
- O quê? – respondi, esfregando Totó com uma toalha felpuda amarela.
- Eu quero fazer isso. Quero lutar em Vegas.
- Não – falei, sorrindo para carinha feliz do Totó.
Ele suspirou.
- Você não está me ouvindo. Eu vou fazer isso. Daqui a alguns meses você vai ver que tomei a decisão certa.
- Você vai trabalhar para o Benny?
Ele assentiu, nervoso, e sorriu.
- Eu quero cuidar de você, Flor.
Lagrimas turvaram meus olhos, sabendo que ele estava determinado.
- Eu não quero nada comprado com esse dinheiro, Travis. Não quero nada que tenha a ver com o Benny, nem com Vegas, nem com nada daquilo.
- Você não via problema algum em comprar um carro com o dinheiro das minhas lutas aqui.
- É diferente, e você sabe.
Ele franziu a testa.
- Vai ficar tudo bem, Flor. Você vai ver.
Fiquei olhando para ele por um instante, na esperança de ver um reluzir de diversão em seus olhos, esperando que ele dissesse que estava brincando. Mas tudo que pude ver foi incerteza e ganância.
- Então por que você me perguntou, Travis? Se ia trabalhar pro Benny não importando o que eu dissesse?
- Porque eu quero o seu apoio, mas é muito dinheiro pra recusar. Eu seira louco de dizernao.
Fiquei sentado por um momento, sem reação. Quando consegui digerir tudo, assenti.
- Tudo bem, então. Você tomou sua decisão.
Travis reluzia de felicidade.
- Você vai ver, Beija-Flor. Vai ser o máximo! – ele exclamou, me puxando para fora da cama e beijando meus dedos. – eu estou morrendo de fome e você?
Fiz que não, e ele beijou minha testa antes de ir para a cozinha. Ao ouvir seus passos sumindo pelo corredor, puxei minhas roupas das cabides, agradecido por ter lugar na mala para a maioria das minhas coisas. Lagrimas de raiva escorriam pelo meu rosto. Eu sabia que não devia ter levado Travis aquele lugar. Eu tinha lutado com unhas e dentes para mantê-lo afastado do lado negro da minha vida e, no momento que a oportunidade se apresentou, eu o arrastei sem pensar duas vezes ao centro de tudo que eu odiava.
Travis agora faria parte daquilo e, se ele não ia me deixar salvá-lo, eu tinha que pelo menos me salvar.
A mala estava tão cheia que por pouco não consegui fechá-la. Puxei-a da cama e passei pela cozinha sem nem olhar pra ele. Desci rapidamente os degraus, aliviado por América e Shepley ainda estarem se beijando e rindo no estacionamento, transferindo a bagagem dela do carro.
- Beija-Flor? – Travis me chamou da entrada do apartamento.
Peguei o pulso de América.
- Preciso que você me leve até o Morgan, Mare.
- O que está acontecendo? – ela me perguntou, notando a seriedade da situação pela expressão no meu rosto.
Olhei de relance para trás e vi Travis descendo rápido as escadas e cruzando o gramado para chegar até onde estávamos.
- O que você está fazendo? – ele perguntou apontado para a minha mala.
Se eu lhe contasse a verdade naquele momento, todas as esperanças de me afastar do Mick, de Vegas, do Benny e de tudo que eu não queria estariam perdidas. Travis não me deixaria ir embora, e, pela manhã eu teria me convencido a aceitar a decisão dele.
Cocei a cabeça e abri um sorriso, tentando ganhar tempo para pensar em uma desculpa.
-Vou levar minhas coisas até o Morgan. Lá eles tem todas aquelas lavadoras e secadoras, e eu tenho uma quantidade enorme de roupa suja pra lavar.
Ele franziu a testa.
- Você ia embora sem se despedir?
Olhei de relance para América e de volta para Travis, me esforçando para chegar à mais uma incrível mentira.
- Ela ia voltar, Trav. Você é tão paranóico – disse América, com o mesmo sorriso indiferente que havia usado tantas vezes para enganar os pais.
- Ah – ele disse, ainda na incerteza. – Você vai ficar aqui hoje à noite? – ele me perguntou beliscando o tecido do meu casaco.
- Não sei. Depende de quando vou terminar de lavar e secar minhas roupas.
Travis sorriu me puxando pra perto dele.
- Em três semanas, vou pagar alguém pra lavar e secar suas roupas. Ou você pode simplesmente jogar fora as roupas sujas e comprar novas.
- Você vai lutar para o Benny de novo? – perguntou América chocada.
- Ele me fez uma oferta irrecusável.
- Travis... – Shepley começou a dizer.
- Não venha pra cima de mim com essa também. Se não mudei de idéia pelo Flor, não vai ser por vocês.
América encontrou o meu olhar e entendeu.
- Bom, é melhor a gente ir, Kevin. Vai levar uma eternidade pra você lavar e secar essa pilha de roupas.Assenti, e Travis se inclinou para me beijar. Eu o puxei para perto, sabendo que seria a última vez que sentiria seus lábios nos meus.
- A gente se vê depois - disse ele. – Eu te amo.
Shepley ergueu minha mala e a colocou no porta-malas do Honda, e America se sentou ao meu lado . Travis cruzou os braços no peito, conversando com o primo enquanto América dava partida no carro.
- Você não pode ficar no seu quarto hoje, Kevin. Ele vai direto pra lá quando sacar o que aconteceu – ela disse, enquanto saia do estacionamento em marcha ré.
Meus olhos se encheram de lágrimas, que transbordavam e caíram pelo meu rosto.
- Eu sei.
A alegria no rosto de Travis desapareceu quando ele viu a expressão no meu rosto. Na mesma hora foi correndo até a janela do carro.
- O que aconteceu, Flor? – ele perguntou batendo de leve no vidro.
- Vai, Mare – falei, secando os olhos.
Eu me concentrei na rua a minha frente enquanto ele corria ao lado do carro.
- Beija-Flor? América para a merda desse carro! – ele gritou, batendo a palma da mão com força no vidro. – Kevin, não faz isso! – ele disse, percebendo o que estava acontecendo, com uma expressão distorcida de medo.
América virou na rua principal e pisou no acelerador.
- Eu vou escutar até o fim da vida por isso... só pra você saber.
- Sinto muito, Mare. Muito mesmo.
Ela olhou de relance no espelho retrovisor e apertou o acelerador.
- Meu Deus, travis – murmurou baixinho.
Eu me virei e o vi correndo a toda velocidade atrás de nós, desaparecendo e reaparecendo entre as luzes e as sombras dos postes da rua. Quando chegou ao fim da quadra, ele virou na direção oposta e seguiu correndo rumo ao apartamento.
- Ele vai voltar pra pegar a moto. Vai nos seguir até o Morgan e fazer uma cena daquelas.
Fechei os olhos.
- Então anda logo. Vou dormir no seu quarto hoje. Você acha que a Vanessa vai se incomodar?
- Ela nunca está lá. Ele realmente vai trabalhar para o Benny?
A palavra ficou presa na minha garganta, então eu só assenti. América pegou minha mão e apertou de leve.
- Você está tomando a decisão certa, Kevin. Você não pode passar por tudo isso de novo. Se ele não quer te ouvir, não vai ouvir ninguém.
Meu celular tocou. Baixei o olhar e vi a cara de bobo do Travis então apertei o botão para ignorar a chamada. Menos de cinco segundo depois, tocou de novo. Desliguei o celular e enfiei na bolsa.
- Isso vai dar uma puta confusão – falei, balançando a cabeça e secando os olhos.
- Não invejo sua vida pela próxima semana ou mais. Não consigo imaginar terminar o namoro com alguém que se recusa ficar afastado. Você sabe como vão ser as coisas, não sabe?
Paramos o carro no estacionamento do Morgan. América segurou a porta aberta enquanto eu entrava com a mala. Corremos até o quarto dele e soltei o ar que vínhamos prendendo, esperamos que ela abrisse a porta. Tão logo ela fez isso, me jogou a chave.
- Ele vai acabar sendo preso ou algo do gênero – América disse. Ela atravessou o corredor e fiquei olhando enquanto ela cruzava, apressada, o estacionamento, entrando no carro no exato momento em que Travis estacionou a moto ao lado dela. Ele deu a volta correndo até o lado do passageiro e abriu a porta com tudo, olhando para o Morgan quando não se deu conta de que eu não estava ali. América recuou com o carro enquanto ele corria para dentro do prédio. Eu me virei olhando para a porta.
No outro lado do corredor, Travis socava a porta do meu quarto, chamando meu nome. Eu não fazia idéia se se Josh estava lá, mas, se estivesse, me senti mal pelo que ele teria que agüentar durante os minutos seguintes, até que Travis aceitasse o fato de que eu não estava ali.
- Flor? Abre a porra dessa porta! Não vou embora até você falar comigo! – ele gritou, batendo na porta com tamanha força que o prédio todo poderia ouvi-lo.
Eu me encolhi ao ouvir a vozinha de rato de Josh.
- QUE FOI?! – ela grunhiu.
Encostei o ouvido na porta, me esforçando para escutar. Não precisei me esforçar muito.
- Eu sei que ele está ai! – ele berrou. – Beija-Flor?
- Ele não... – Josh guinchou.
A porta bateu com tudo na parede de cimento e eu sabia que Travis havia forçado a entrada. Depois de um minuto de silencio, ele atravessou o corredor aos berros.
- Beija-Flor? Onde ele está?!
- eu não sei! – gritou Josh, com mais raiva do que nunca.
A porta se fechou com muita força, e fiquei esperando pelo que ele faria em seguida.
Depois de muitos minutos de silencio, abri uma fenda na porta e espiei pelo amplo corredor. Travis estava sentado, encostado na parede cobrindo o rosto com as mãos. Fechei a porta o mais silenciosamente possível, preocupado que a policia do campus pudesse ter sido chamada. Depois de uma hora, olhei de relance para o corredor de novo. Ele não havia saído do lugar.
Verifiquei mais duas vezes durante as noite e por fim peguei no sono, lá pelas quatro da manhã. Dormi até mais tarde, sabendo que não iria a faculdade naquele dia. Liguei o elular parra verificar as mensagens e vi que Travis tinha enchido minha caixa postal. As infinitas mensagens de texto que ele tinha me enviado durante a noite variavam de pedidos de desculpas a de vários descontrolados.
Liguei para América à tarde, na esperança de que Travis na tivesse cconfiscado o celular dela. Quando ela atendeu soltei um suspiro.
- Oi.
Ela manteve a voz baixa.
- Não contei para o Shepley onde você está. Não quero ele no meio disso. O Travis está louco da vida comigo. Provavelmente vou passar a noite no Morgan hoje.
- Se o Travis não tiver se acalmado... boa sorte ao tentar dormir aqui. Ele fez uma digna do Oscar no corredor ontem à noite. Estou surpresa de ninguém ter chamado os seguranças.
- Ele foi expulso da aula de história hoje. Quando você não apareceu, ele chutou e virou sua carteira e a dele. O Shep ouviu dizer que ele ficou esperando por você depois de todas as suas aulas. Ele está ficando maluco, Kevin. Eu disse a ele que estava tudo acabado entre vocês dois no momento em que ele tomou a decisão de trabalhar para o Benny. Não consigo acreditar que ele acreditou por um segundo que você ficaria de boa com isso.
- Acho que a gente vai se ver quando você chegar aqui. Ainda não posso ir para o meu quarto.
America e eu fomos colegas de quarto durante a semana que se seguiu, e ela se certificou de manter Shepley afastado para que ele não ficasse tentado a contar a Travis do meu paradeiro. Era desgastante tentar não me deparar com ele. Eu evitava a todo custo o refeitório e a aula de historia, e agia com cautela, saindo mais cedo das aulas. Eu sabia que teria de conversar com Travis em algum momento, mas não conseguiria fazer isso até que ele estivesse calmo a ponto de aceitar a minha decisão.
Na sexta-feira à noite, eu estava sentada na cama, sozinho, segurando o celular no ouvido. Revirei os olhos quando meu estomago gronhiu.
- Eu posso ir te buscar e te levar para jantar – me disse América.
Fiquei folheando o livro de história, pulando as páginas em que Travis tinha desenhado e escrito mensagens de amor nas margens.
- Não, essa é sua primeira noite com o Shep em quase uma semana. Mare. Eu dou uma passada lá no refeitório.
- Tem certeza?
- tenho. Fala pro Shep que eu mandei um “oi”.
Fui caminhando devagar até o refeitório, sem pressa alguma de agüentar os olhares fixos em mim daqueles que estavam às mesas. A faculdade inteira estava alvoroçada com nosso termino, o comportamento volátil de Travis não ajudava. Assim que avistei as luzes do refeitório, vi uma silhueta escura se aproximando.
- Beija-Flor?
Parei, alarmado. Travis apareceu sob a luz, pálido, com bolsas escuras abaixo dos olhos e com barba por fazer. Ele estava horrível.
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CONTINUA...
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WILLIAM26: KKKKK acertou de novo.... é o livro é meio que previsível mesmo, mas mesmo assim eu gosto muito, que bom que está gostando.
MARC01Cl: Bom, meu querido, era disso que eu estava falando(por isso que deu uma certa raiva dele), o Travis é ganancioso ama o dinheiro, mas gosta mais do Kevin.... Achei muito idiota da parte dele achar que o Kevin iria ficar numa boa com isso, ele sabe dos traumas e tudo mais, e ainda falava que ia fazer tudo só pelo Kevin, coisa que é mentira, ele poderia até estar pensando um pouco no Kevin mas acho que era mais nele mesmo. Eu até dei risada pela inocência dele kkkkk acha que é fácil fácil assim entrar e sair da máfia a que ele bem entender, tava na cara que não podia confiar no Benny, como se confia em um assassino que se diverte com a desgraça alheia??? O Travis tem mesmo uma auto confiança muito grande, menos quando o Beija-Flor está por perto rsrsrs Massssssssssssss o Travis já voltou atrás, massss pode ser tarde demais ou não, o que você acha que o Kevin vai fazer? O Kevin não é besta não kkkkk Também adoro o Kevin, mas não consigo deixar de gostar mais do Travis, ôÔô tentação hahaha Os outros cara só querem o Kevin pra saber o que o Travis viu nele, td um bando de canalha kkk Ps: cuidado com esse pescoço ai, vai ter um torcicolo maldito daqui a pouco kkkkkkk Beijos meu lindo!!
SAFADINHOGOSTOSOS: vc não gosta mesmo do Travis, né? Tadinho dele kkkk essa história não é tão clichê assim não rsrsrs Se tem uma coisa que o Travis sinta pelo Kevin, é amor, amor meio torto mais ainda sim é amor. Tanto que ele desistiu das lutas, e não o Kevin não vai voltar assim não pro Parker kkkk
CINTIA C: Oi linda, não precisa que agradecer não, beijinhos....
BIBIZINHA2:KKKKK Só vc mesmo kkkk
FLAANGEL: kkkk ainda bem que ele voltou atrás, mas vamos ver se o Kevin ainda vai ficar com ele, e o Mick tem uma lista de inimigos meio grande