AMOR DE PESO - 01X08 - NOVOS AMIGOS

Da série AMOR DE PESO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 6353 palavras
Data: 23/08/2016 01:39:04
Última revisão: 04/03/2025 04:27:07

Pai e Mãe,

Hoje é o grande dia. A primeira coisa que quis fazer ao acordar foi falar para vocês. Estou nervoso, mas sei que os meus amigos estarão ao meu lado. Será que vou conseguir passar por esse ano sem me meter em confusões?!

***

Como de costume, acordei antes das seis da manhã. O hábito de madrugar já fazia parte da minha rotina, mas, naquele dia em especial, havia uma excitação misturada com nervosismo. Era o primeiro dia de aula em uma escola nova, em um estado novo. Levantei-me da cama e fui direto ao banheiro, tentando me arrumar da melhor forma possível.

A escola exigia uniforme, mas eu ainda não tinha comprado o meu. Então, a solução foi improvisar: vesti uma calça jeans azul, uma blusa branca simples e calcei meu tênis branco, que ainda estava impecável. Olhei-me no espelho, ajeitei o cabelo e soltei um suspiro. Tudo pronto, pelo menos na aparência.

Depois do banho, chamei meus irmãos. Pela primeira vez, tive a sensação de que eles eram mais lentos do que o normal. Giovanna saiu do quarto como se estivesse desfilando em uma passarela.

— Vish, coitado — comentou com um tom divertido. — Estou acordada há duas horas. Acha que essa produção acontece sozinha? — disse, descendo as escadas e deixando no ar um perfume adocicado.

Minha casa ficava uma verdadeira bagunça nos dias de volta às aulas. A tia Olívia, que era a responsável por nós, nunca foi a pessoa mais organizada quando o assunto era coletividade. Meus irmãos iam de carona com ela, já que era caminho, e eu seguiria com meus amigos, ou seja, de ônibus.

O lado bom era que qualquer ônibus que passasse pelo centro da cidade nos servia. Encontrei-os no ponto, todos vestidos com a farda da escola. Logo, eu também estaria igual a eles.

Enquanto aguardávamos o ônibus, meus amigos me deram um verdadeiro manual de sobrevivência da Escola Dom Pedro II. Primeira regra: tomar cuidado com a tia Ray, a inspetora. Qualquer deslize e poderíamos pegar uma suspensão. Segunda regra: evitar a sopa de mocotó do refeitório, pois muitos alunos já tinham ido parar no hospital por causa dela. E, por fim, a terceira regra: nunca sentar na frente na aula de matemática. O motivo? O professor cuspia quando falava.

Depois disso, começaram a relembrar algumas das maiores confusões dos anos anteriores. Brutus, por exemplo, jogou um catolé no banheiro feminino, deixando a escola inteira em pânico. Letícia deu um beijo cinematográfico no alto da caixa d’água. Ramona montou um pequeno negócio vendendo respostas de provas. E Zedu... bem, ele quebrou uma janela do segundo ano B com uma bola de futsal.

O ônibus finalmente chegou, e Ramona fez sinal para que entrássemos. Estava lotado. Não havia mais assentos disponíveis, então passamos pela catraca e seguimos até o fundo. A cada nova parada, mais gente entrava, tornando o espaço ainda mais apertado. Foi então que percebi um homem se encostando em mim de um jeito estranho. O desconforto tomou conta do meu corpo. Zedu notou e, sem dizer nada, se colocou na minha frente, me protegendo da situação.

Descemos em um ponto próximo à escola. A rua estava repleta de alunos caminhando na mesma direção. Olhei para os lados e vi que meus amigos estavam todos sorridentes e animados. Queria tanto ter essa confiança deles, mas não conseguia. A escadaria da escola estava lotada. Grupos se abraçavam, falavam alto e trocavam histórias das férias, e ainda nem eram oito da manhã.

Foi ali que comecei a perder meus amigos. Letícia encontrou um grupo de garotas descoladas e se despediu de nós para se juntar a elas. Brutus foi chamado pelos colegas do time de futebol e parou para conversar. Ramona, viciada em selfies, tirou várias fotos na frente da escola antes de surtar ao ver uma professora e correr para falar com ela.

Agora, só restávamos eu e Zedu. Me senti um pouco tonto, como se os rostos ao meu redor tivessem se transformado em vultos abstratos. Zedu percebeu e tocou meu ombro.

— Ei, de boa — disse ele, apontando para um mural na parede. — Ali tem a lista com os nomes dos alunos. Vamos descobrir em qual sala ficamos.

— Beleza — murmurei, seguindo ao lado dele.

De repente, uma voz feminina chamou por ele — ou melhor, por José Eduardo. E então, eu a vi. Ela era perfeita. Cabelos loiros que esvoaçavam com o vento, pele iluminada como se refletisse um brilho próprio. A farda da escola realçava suas curvas, e, por um segundo, me perguntei se ela havia colocado silicone.

Sem qualquer preocupação com o ambiente escolar, ela puxou Zedu e o beijou na minha frente. Um beijo cinematográfico, daqueles dignos de filme adolescente. Meu estômago revirou. Eu queria desaparecer. Já havia perdido o Léo e agora via, com todas as provas possíveis, que Zedu era hétero. E hétero de verdade.

— Que bom dia mais atrevido — Zedu comentou, recuperando o fôlego após o beijo.

— Vai dizer que não gostou? Senti tanto a sua falta. Você nem me ligou — reclamou a garota, ignorando completamente minha existência.

— Ah, queria distância de tudo que me lembrava a escola — respondeu ele, rindo. Então, olhou para mim e fez as apresentações: — Esse é meu amigo, Yuri. Ele veio do Rio de Janeiro e vai estudar com a gente.

— Eita, longe que só! — disse a garota, me cumprimentando com dois beijos no rosto. — Sou Alicia. Espero que goste da nossa escola. Amor, precisamos falar com a Carol. Você acredita que ela passou as férias em Paris? Preciso saber de tudo! Vamos!

E assim, Zedu foi arrastado para longe.

Finalmente, sozinho. Andei até o mural de avisos e comecei a procurar meu nome. Já fui ficando irritado: as letras eram minúsculas e precisei aproximar bastante o rosto para enxergar direito.

— Você devia usar óculos. Parece um míope — comentou um rapaz ao meu lado, com um sorriso divertido.

Virei-me de supetão. Oi, moço. Não pude deixar de reparar: ele era bonito. No braço esquerdo, ostentava uma tatuagem do Pequeno Príncipe cercado por planetas. Usava um alargador discreto na orelha direita e seus cabelos cacheados estavam carregados de creme, provavelmente aplicados às pressas antes de sair de casa.

— Um míope — repetiu, batucando com os dedos indicadores em uma bateria invisível.

— Eu sei o que é míope. E não, não tenho problema de visão — respondi, talvez de forma mais rude do que pretendia. Voltei a atenção para a lista. — Ah, achei... 1º ano B, sala 2.

— É na outra direção — avisou o garoto, com um sorrisinho no canto dos lábios.

— Valeu — agradeci, seguindo na direção indicada.

O garoto tirou um cigarro do bolso e, com um isqueiro, acendeu a ponta, observando a brasa iluminar seu rosto por um instante. Antes que pudesse dar a primeira tragada, tia Ray surgiu do nada, como um raio, e arrancou o cigarro de sua mão. Com um olhar severo, começou um longo sermão sobre responsabilidade e os malefícios do fumo. Depois de encerrar sua palestra improvisada, ordenou que ele voltasse imediatamente para a sala de aula. O menino saiu cabisbaixo, e, assim que sumiu pelo corredor, a zeladora, que assistira à cena de longe, pegou o cigarro confiscado e o aproximou do nariz.

— Até que o cheiro é bom. Depois vejo qual é o gosto. — pensou, guardando-o no bolso de seu jaleco que carregava o símbolo da escola.

Finalmente, cheguei ao lugar onde passaria um ano inteiro de tortura: minha nova sala de aula. Para minha surpresa, era um espaço até agradável. Contava com ar-condicionado e um ventilador de teto, mas mesmo assim, alguns alunos vestiam casacos e outros usavam moletom. Obrigado pelo aviso, pessoal. Se não fosse por vocês, eu congelaria no meu primeiro dia de aula.

Foi então que percebi que o mesmo rapaz que havia me abordado no quadro de avisos também entrou na sala e foi direto para o fundão. Pouco depois, Letícia chegou, indecisa sobre onde se sentar. Ao lembrar da história do professor de Matemática, optamos por ficar no meio da sala. Logo em seguida, Ramona surgiu radiante; acabara de garantir sua vaga no comitê de formatura.

— Meninas. — murmurei, inclinando-me para elas. — Quem é aquele esquisitão? — fiz um discreto gesto na direção do rapaz barbudinho.

— O nome dele é Diogo. Um ogro. Trata todo mundo mal. — cochichou Letícia. Ramona confirmou com um aceno e fez várias críticas ao comportamento dele.

— Ah, eu percebi. — respondi, evitando olhar para trás.

— Ei! — exclamou Brutus ao entrar na sala, chamando a atenção geral. — Vocês me abandonaram!

Ele veio direto para onde estávamos.

— Eu que fui abandonado por vocês! — brinquei, fingindo estar chateado, mas rindo logo em seguida.

— Parem com o drama, os dois. — Letícia revirou os olhos, apontando para mim e para Brutus.

Enquanto isso, em outra parte da escola, meus irmãos também estavam iniciando uma nova jornada. Para eles, a adaptação era fácil, mas para os outros alunos, significava problemas.

No playground, Richard começou a ditar várias regras como um pequeno ditador. Cercado por um grupo de estudantes, parecia um político, fazendo promessas e ameaças. Os outros alunos, confusos, apenas observavam até que, de repente, ele agarrou um garoto pelo colarinho e exigiu uma maçã.

Por sorte (ou não), Giovanna apareceu e tentou intervir.

— O que significa isso? — questionou ela, com as mãos na cintura.

— Nada. — respondeu Richard, apertando ainda mais o garoto.

— Me ajuda! Ele é louco! — implorou o estudante acuado.

— Solta ele. — pediu Giovanna, desta vez revirando os olhos com impaciência.

— Eu só queria a maçã. — explicou Richard, dando de ombros.

— Maçã? Cadê?

— Dá a maçã pra ela. — ordenou Richard ao menino, que prontamente obedeceu, entregando a fruta para Giovanna.

— Obrigada. — ela agradeceu. — Ah, e solta o menino. Agora!

Richard bufou, soltando o estudante com relutância.

— Você é uma estraga-prazeres. — resmungou, cruzando os braços.

Enquanto alguns se divertiam, eu só conseguia pensar nos anos de bullying que me aguardavam. Por vezes, desejava ter a mentalidade do Richard e revidar tudo que fizessem comigo. Mas a verdade é que eu era um zero à esquerda, e o medo sempre falava mais alto. Por que eu tinha que ser assim?

A primeira aula do dia foi Matemática. O professor parecia legal, mas tinha um pequeno problema: era uma verdadeira pistola d'água. Os alunos desavisados sentiram na pele o que era ser "regado". O cronograma de conteúdo também me surpreendeu. A maioria da turma já havia estudado esse material em escolas do Rio de Janeiro. Depois de uma hora de pura ladainha e tédio, o sinal tocou, e todos saíram apressados da sala.

Fiquei sozinho novamente. Meus amigos estavam ocupados com suas coisas, e a vaca da Alicia não soltava o Zedu. Peguei meu lanche — um mingau de mungunzá — e fui para um canto isolado, atrás da quadra esportiva. Não vou mentir: gostava de comer sozinho. Era o momento perfeito para pensar sobre a vida, refletir sobre as minhas decisões e, o mais importante, não precisar me apressar.

Foi então que Diogo apareceu, aproximou-se e me ofereceu um cigarro.

— Quer um?

— Não fumo, obrigado. — respondi sem encarar diretamente.

— E a escola, o que achou? — ele perguntou, acendendo o cigarro e tragando com calma.

— É legal. — murmurei.

Dei uma chance para o Diogo. No fim das contas, eu precisava criar novos laços ali, e, aparentemente, todo mundo respeitava ou temia ele. Poderia ser um bom aliado. O cigarro era um defeito que eu desprezava, mas ninguém é perfeito, né?

Notei que ele usava óculos de grau e fiz uma piada. Para minha surpresa, ele riu. Por um momento, vi um lado diferente dele. De repente, Zedu apareceu.

— Tudo bem por aqui? — perguntou.

— Por que não estaria? Olha só. — apontei para frente. — Sua dona está te procurando.

— Putz, preciso ir. Qualquer coisa, me manda mensagem. — disse ele, apressado.

Diogo soltou a fumaça lentamente e murmurou:

— A tensão entre vocês é palpável.

— Que tensão?

— Você gosta do gatão ali.

— Sai fora, cara! — levantei e fui devolver o prato na cantina.

Enquanto caminhava pelo corredor que levava à cantina, ouvi algumas piadinhas. Era o grupo de futebol da escola. Pelo visto, o ano não seria fácil para mim. Acelerei o passo e entreguei o prato.

Voltei para a sala de aula e não havia ninguém. Sentei-me na minha carteira e fui tomado por um sentimento de solidão. Estava com raiva dos meus amigos, mas, por outro lado, entendia que cada um tinha sua própria vida.

Zedu e Alicia se conheceram na quinta série e logo se tornaram um casal. Na verdade, o Zedu era praticamente o cachorrinho da patricinha. Eles andavam juntos para todos os cantos da escola. Enquanto Alicia conversava com as amigas, meu crush parecia desejar desaparecer, mas, ainda assim, não largava da namorada.

— Aqui está o seu suco — disse Zedu, entregando um copo para Alicia.

— Graças a Deus! — respondeu ela, pegando o copo e tomando um gole. — Meninas, a gente vai para a sala. Beijos! — Despediu-se das amigas e seguiu com Zedu. — Você demorou muito.

— A fila da lanchonete estava cheia.

— E o que você acha de a gente ir para o porão? — sugeriu Alicia, fazendo uma voz engraçada.

— Estou sem camisinha.

— Não tem problema. Eu tomo a pílula — disse ela, terminando o suco e jogando o copo na lixeira.

— Não estou afim.

— Nossa, você mudou depois das férias — reclamou Alicia.

— Sim, as pessoas mudam, Alicia. E, às vezes, isso faz bem — respondeu Zedu antes de entrar na sala.

— Nossa, todo estressadinho...

Zedu entrou na sala de cara fechada. Logo depois, Diogo também chegou e sentou-se ao meu lado. Pediu desculpas pelo comportamento de mais cedo. Para o bem ou para o mal, pelo menos ele estava falando comigo. Conversamos sobre várias coisas, como o fato de ele ser de Belém, gostar de cinema e trabalhar como fotógrafo nas horas vagas.

Apesar da conversa com Diogo, minha atenção estava toda voltada para José Eduardo. Ele parecia realmente chateado com alguma coisa.

Diogo, animado, começou a falar sobre uma exposição de fotografia e me convidou para ir com ele. Nem sei o motivo, mas acabei aceitando. Trocamos números para combinar melhor o rolê cultural.

— Tá tudo bem? — perguntou Zedu assim que Diogo saiu.

— É a segunda vez que você me pergunta isso hoje.

— Não quero que nenhum babaca mexa com você — disse ele, sentando-se ao meu lado.

— Ele só estava sendo amigável.

— Amigável, sei... Precisa tomar cuidado com esse tipinho — alertou Zedu, erguendo a sobrancelha direita e me fazendo rir.

— Relaxa. Se eu precisar, te chamo, juro.

O restante da aula até que foi legal. O professor de artes era muito engraçado, além de bonito. A parte chata? Ter que me apresentar para o resto da turma.

Depois que a aula terminou, seguimos direto para o ponto de ônibus. O Centro de Manaus estava lotado naquele horário. Vi Diogo de relance em um dos ônibus.

Por um milagre, o nosso ônibus não estava cheio. Fomos sentados e confortáveis: Zedu e eu nos assentos da frente, Letícia e Ramona logo atrás. Já Brutus preferiu ficar em pé, alegando que já tinha passado o dia inteiro sentado.

Meus amigos me bombardearam com perguntas sobre o primeiro dia de aula. Nunca falei tanto na minha vida! No geral, a experiência não foi tão ruim. Afinal, teoricamente, fiz até um novo amigo: Diogo.

— Se eu fosse você, teria cuidado com o Diogo — alertou Zedu, passando a mão no meu ombro.

— Ele te fez alguma coisa? — perguntou Letícia, inclinando-se para se aproximar de nós.

— Pode falar, grandão... Se ele te fez algo, eu... — ameaçou Brutus, quase se desequilibrando quando o motorista fez uma curva brusca.

— Calma! Ele foi legal comigo. Vocês sumiram no intervalo, e ele puxou assunto — expliquei. Meus amigos estranharam o comportamento de Diogo.

Como um dia de escola pode acabar com a nossa energia, né? Eu estava exausto. Para completar, o professor de matemática passou uma lição. Ainda bem que eu já dominava o assunto, então seria fácil.

Minha tia decidiu contratar um serviço de condução para os monstrinhos... digo, meus irmãos.

Para economizar, me ofereci para preparar o almoço deles. Mesmo cansado, ainda precisava cozinhar. Na verdade, já tinha deixado tudo preparado na noite anterior. O cardápio: frango, arroz com brócolis e salada. Enquanto esperava os dois chegarem, tomei um banho rápido e vesti roupas adequadas para o calor de Manaus — ou seja, uma blusa larga e uma bermuda velha.

— Estou faminta! — anunciou Giovanna ao entrar em casa, jogando a mochila sobre a mesa da sala.

— Estou faminta também — ironizou Richard, largando a mochila no sofá.

— E como foi o primeiro dia de aula? — perguntei, descendo as escadas.

— Normal. Fiz várias amizades — respondeu minha irmã, indo para a sala de jantar. — Franguinho? Adoro! Frango é uma carne magra — disse ela, sentando-se à mesa e pegando um prato.

— Eu também fiz amizade. Um menino até dividiu o lanche dele comigo — contou Richard, sentando-se ao lado de Giovanna.

— Que legal! Escutem, depois de comer, passem água nos pratos e coloquem na lava-louças. Vocês também precisam ajudar em casa — avisei, enquanto me sentava.

***

Você tem algum talento escondido? A Tia Olívia descobriu que era campeã em evitar o Carlos. Ela fazia de tudo para não estar nos mesmos lugares que ele, mas o estagiário parecia ter um dom especial para dificultar sua vida. Ele estava sempre por perto, como se fosse onipresente. Durante o almoço, Carlos aproveitou para marcar território.

— Você sabe que o voto de silêncio não funciona comigo. — disse ele com um sorriso de canto.

— O que fizemos foi errado. — sussurrou Tia Olívia, olhando ao redor, temendo que alguém ouvisse. — Podemos ser demitidos. Eu tenho três bocas para sustentar.

— O quê?! — perguntou Carlos, confuso, sem entender direito o que ela disse.

Antes que ele pudesse insistir no assunto, Sheila, uma das administradoras da empresa, chegou e sentou-se à frente de Tia Olívia, trazendo consigo uma atmosfera de leveza e descontração.

— Boa tarde! — cumprimentou Sheila animada. — Nossa, hoje o almoço está uma delícia. Agora me contem, como foi Parintins, a ilha do amor?

— Maravilhosa! — respondeu Carlos prontamente, um sorriso estampado no rosto.

Tia Olívia ficou sem palavras e, no nervosismo, acabou engasgando com uma ervilha. Um ataque de tosse tomou conta dela, chamando a atenção de todos ao redor.

— Calma, amiga! — disse Sheila, dando tapinhas leves em suas costas. — Conta, Carlos, como está a terra do boi-bumbá? Eu adoro aquele lugar...

— Ótima! Levei a Olívia para passear por todos os lugares bonitos. Ela deu várias voltas. — soltou o estagiário, para o desespero de Tia Olívia.

— Realmente, é uma cidade encantadora, mas muito pequena. — enfatizou Tia Olívia, ajeitando os óculos nervosamente. — Foi uma viagem curta, bem curta.

— Mas você aproveitou cada momento. Até gritou. — disse Carlos, malicioso, percebendo o erro assim que as palavras saíram de sua boca.

Sem alternativa, Tia Olívia pediu licença e saiu apressada da mesa.

— Gritou? Como assim? — questionou Sheila, franzindo o cenho.

— Digo... quer dizer... gritou quando viu o Bumbódromo. — corrigiu-se Carlos, desesperado.

***

O segundo dia de aula foi tranquilo. Tivemos química, geografia, português e história. Nada de muito interessante, apenas conteúdos que eu já conhecia. Fiquei um pouco decepcionado, pois meus amigos haviam me falado que essa era uma das melhores escolas da cidade. Não me considero um gênio, mas revisar aquelas matérias parecia entediante. O resultado? Acabei cochilando duas vezes durante as aulas.

No intervalo, Diogo me procurou, empolgado, falando sobre uma exposição de fotografia. Também adoro exposições e sempre que posso visito museus no Rio de Janeiro.

— Só não esquece que vamos direto da escola. — reforçou Diogo.

— Sim, já falei com a minha tia e ela deixou. — respondi.

— E não esquece de trazer outra roupa. Ninguém merece ir de farda, né? — brincou ele, rindo e piscando.

Duas aulas de pura chatice antes da tão esperada liberdade. Porém, devo admitir que a aula de história foi fascinante. A professora tinha um jeito único de nos transportar para os acontecimentos passados. Sempre tive o sonho de viajar no tempo e testemunhar grandes momentos da humanidade. Será que sou o único?

As meninas me mandaram um bilhetinho avisando que iam fazer compras no centro, então não poderiam ir até o ponto de ônibus. Esperei pelo Brutus na saída, mas ele me mandou uma mensagem dizendo que ia jogar futebol. José Eduardo simplesmente sumiu do mapa. Então, Diogo me abordou na escadaria do colégio.

— Quer companhia? — perguntou ele.

Fomos caminhando juntos até o ponto de ônibus. Durante o trajeto, conheci um pouco mais sobre ele. Diogo era um cara simples e esperto. Sempre inseria alguma informação interessante na conversa. Contou que tinha família em Portugal e que sonhava em morar em Lisboa com os avós.

— Você não é tão ruim. — comentei, observando-o enquanto esperávamos o ônibus.

— Como assim? — ele perguntou, coçando a cabeça.

— Me disseram para tomar cuidado contigo. — confessei.

— Teu namorado? — questionou Diogo, sua expressão mudando instantaneamente.

— Que namorado? — retruquei, surpreso.

— O José Eduardo. Ele ficou com ciúmes porque me aproximei de você. — afirmou ele com um meio sorriso.

— Deixa de ser besta. Somos amigos, apenas amigos. — respondi, tentando não dar margem para aquela conversa.

— Então quer dizer que eu tenho uma chance? — ele perguntou, se aproximando um pouco mais.

— C-Chan... chance?! — gaguejei, sentindo o rosto queimar. — De quê?!

— De conquistar você. — respondeu Diogo, sem hesitar.

Meu Deus. Aquilo não podia ser real. Ele realmente disse isso? Ele queria me conquistar? Eu nunca o tinha visto dessa forma. Diogo era inteligente, alto, moreno claro, com um rosto maduro, uma barba bem-feita e usava óculos. Um verdadeiro nerd. Mas até aquele momento, nada nele havia despertado algo em mim.

Para minha sorte, os deuses dos desesperados mandaram meu ônibus bem naquele instante. Sem pensar muito, dei um abraço rápido nele e entrei no coletivo. Meu coração estava disparado. O que estava acontecendo? O que os homens de Manaus tinham? Sentei no banco, tentando processar tudo, quando meu celular vibrou. Era uma mensagem do Zedu.

Zedu <3: (mensagem de texto) – Por que você não me esperou?

Yuri: (mensagem de texto) – Esperei e mandei mensagem para você e para o Brutus.

Zedu <3: (mensagem de texto) – Eu te vi com o Diogo na parada. Até abraçou ele.

Yuri: (mensagem de texto) – Sim. Ele me acompanhou já que vocês sumiram do mapa.

Zedu <3: (mensagem de texto) – Eu já te falei sobre ele. Toma cuidado.

Yuri: (mensagem de texto) – Para, Zedu. Ele é meu amigo, pelo menos ele me ajudou. E você nem deveria ficar chateado, porque vive me abandonando.

Zedu: (mensagem de texto) – Tá, Yuri. Você que sabe.

Olhei para a tela do celular, sentindo um nó na garganta. O que estava acontecendo comigo? Com o Zedu? Com o Diogo? Suspirei e encostei a cabeça na janela, observando a cidade passar. Talvez eu precisasse de um tempo para entender tudo isso.

***

Minha primeira discussão de relacionamento com o Zedu aconteceu pelo WhatsApp. Que romântico. Eu simplesmente não conseguia entender a cabeça daquele garoto. Ele não deveria estar tão preocupado comigo; afinal, tinha a própria namorada para cuidar. No entanto, preciso confessar que adorei vê-lo enciumado por causa da minha amizade com outras pessoas. Havia algo de lisonjeiro em sua preocupação desnecessária.

Ao chegar em casa, preparei o almoço dos meus irmãos e, sentindo o peso do dia, decidi tirar um cochilo. Mal sabia eu que, enquanto descansava, minha tia estava embarcando em sua própria confusão emocional.

Naquela tarde, ela convidou Orlando para almoçar. Seu objetivo? Esquecer de uma vez por todas o Carlos. Escolheram um restaurante de comida regional, e Orlando, querendo impressioná-la, teve a sensatez de perguntar qual era seu prato favorito. Ele não sabia que ela era apaixonada por peixe, então me ligou para confirmar a escolha. Tudo correu bem durante a refeição, e o clima entre os dois esquentou. Sentindo-se ousado, Orlando sugeriu um motel. Minha tia, hesitante, mas impulsionada pelo momento, aceitou.

Lá, entregaram-se à paixão e aproveitaram bons momentos juntos. Mas, após o êxtase, veio o peso na consciência. Minha tia sentou-se na beira da cama, mexendo nos cabelos, visivelmente abalada.

— O que está acontecendo comigo? — murmurou para si mesma. — Eu não sou assim. Eu deveria contar para o Orlando? Não, ele vai pensar que sou uma oferecida... E quanto ao Carlos? Meu Deus, o que eu vou fazer? Preciso de um sinal, de uma direção.

Sim, minha tia chamava a atenção de dois homens incríveis, mas estava completamente perdida em seus sentimentos. Eu, por outro lado, não despertava o interesse de ninguém que realmente me interessasse. Ou pelo menos era o que eu achava. No entanto, decidi dar uma chance para a amizade com Diogo. Afinal, eu não queria ficar sozinho.

***

Diogo: (mensagem de texto) – Não esquece de amanhã.

Yuri: (mensagem de texto) – Pode deixar. Já escolhi minha roupa.

Diogo: (mensagem de texto) – Te assustei?

Yuri: (mensagem de texto) – Com o quê?

Diogo: (mensagem de texto) – Em dizer que me interessei por você?

Yuri: (mensagem de texto) – Não.

Diogo: (mensagem de texto) – Ah, tá. Porque não é todo dia que vejo um gordinho tão gostoso.

Yuri: (mensagem de texto) – Então é só sexo?

Diogo: (mensagem de texto) – Não sei. Pode ser, mas também pode não ser. Tive dois relacionamentos até agora e os dois foram com caras gordos. Você daria um ótimo namorado, mas acabamos de nos conhecer.

Yuri: (mensagem de texto) – Entendi, mas o apressado aqui é você.

Diogo: (mensagem de texto) – Não sou apressado. Só fui sincero em dizer que você faz meu tipo. Afinal, o Zedu pode querer antes, e eu preciso garantir o meu.

Yuri: (mensagem de texto) – Para de implicar com o Zedu. Somos amigos e ponto.

Diogo: (mensagem de texto) – Se você diz...

***

Naquela noite, tive um sonho maravilhoso. Sonhei que ficava com o Zedu e o Diogo ao mesmo tempo, e a sensação era incrível. No entanto, minha felicidade durou pouco, pois o despertador do celular tocou, arrancando-me abruptamente daquele momento perfeito. Suspirei frustrado, mas logo me levantei para começar o dia.

Na noite anterior, já havia deixado a comida pronta para os meus irmãos. Tudo o que precisavam fazer era colocar os pratos no micro-ondas e esquentá-los. Assim, eu poderia sair sem preocupações. Escolhi roupas leves, pois sabia que as tardes em Manaus costumavam ser escaldantes. Depois de me arrumar, saí para encontrar meus amigos na parada de ônibus.

Eu estava empolgado demais para esconder minha animação. Contando com entusiasmo, revelei que iria a uma exposição com o Diogo. Letícia, apesar de inicialmente preocupada, achou bonito da parte dele me convidar para passear. Os outros também reagiram, embora nem todos tenham demonstrado o mesmo entusiasmo.

— Amigo, só não te acompanho porque tenho prova de roupa para o comercial. — disse Letícia, com um sorriso animado.

— Vou malhar. Essas crianças não crescem sozinhas. — brincou Brutus, beijando os próprios músculos.

— Tenho medo do Diogo. Não vou não. — soltou Ramona, fazendo uma careta engraçada, como se tivesse acabado de ouvir algo assustador.

— Gente, eu já sou bem grandinho, até demais, pra falar a verdade. Vou ficar bem. Além disso, é apenas uma exposição de fotografia. — tentei tranquilizá-los.

— Deixa ele, gente. Ele sabe o que faz. — disse Zedu de forma ríspida. — Olha lá, o ônibus tá chegando. Vamos.

Ultimamente, Zedu andava muito chato. Na escola, mal falava comigo. Alicia parecia monopolizar todo o tempo dele, e isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Durante o intervalo, sentei-me ao lado de Diogo e aproveitei a oportunidade para conversar sobre a exposição. Ele contou que as fotos eram de um amigo que havia participado de uma excursão pela Amazônia. A forma como ele falava sobre fotografia me deixava fascinado. Seu olhar brilhava de entusiasmo, e eu me pegava admirando a paixão que ele tinha pelo assunto.

— E os teus amigos? — ele perguntou de repente, antes de dar uma mordida no sanduíche.

— O que tem eles? — perguntei, um pouco surpreso com a mudança de assunto.

— Quando a gente foi comprar lanche, eles ficaram olhando pra gente de um jeito estranho. — comentou Diogo, franzindo as sobrancelhas.

— Impressão sua. Eles estavam apenas conversando entre si. E, além disso, eu também preciso fazer novas amizades. Agora, se você não quiser ser visto comigo... — brinquei, adotando um tom dramático enquanto fingia me levantar.

Diogo segurou meu braço e riu, puxando-me de volta para o banco.

— Senta aí. Eu só achei que você poderia se importar com os comentários. — disse ele, com um olhar meio hesitante.

— Hunf. Comentários não significam nada. Meus amigos são legais. — afirmei, dando um sorriso para tranquilizá-lo.

Ele assentiu, mas notei que ainda parecia um pouco pensativo. Mesmo assim, deixei para lá. Afinal, nada estragaria a minha animação por aquele passeio.

***

Durante toda aquela semana, Giovanna traçou uma meta imaginária: entrar para o grupo das meninas populares. Mas, para sua surpresa, tal grupo simplesmente não existia. Determinada, ela passou a observar atentamente o comportamento das colegas, analisando cada uma delas. No entanto, nenhuma parecia boa o suficiente para o que ela idealizava.

Foi durante uma aula de geografia que um episódio inesperado aconteceu. A professora havia passado um exercício no qual os alunos deveriam preencher um mapa com todos os estados brasileiros. Giovanna, sempre ágil e confiante em suas habilidades, terminou a tarefa em tempo recorde. Sentindo-se satisfeita, recostou-se na cadeira, pronta para descansar um pouco.

De repente, uma colega ao lado virou-se para ela e, com uma expressão hesitante, puxou conversa:

— Giovanna… São 33 estados, né?

A pergunta fez Giovanna arquear as sobrancelhas. Ela não conseguiu esconder o choque diante da resposta errada.

— 33? 33? Você só pode estar brincando, né? Nem perto chegou! Deus me livre se esse país tivesse mais estados! A resposta certa é 27. Tá precisando estudar, hein. Depois tira zero na prova e não sabe por quê. E olha que ainda estamos na primeira semana de aula.

Giovanna falou alto, sem perceber que suas palavras poderiam soar ríspidas. Alguns colegas que ouviram a conversa riram discretamente.

A professora, que acompanhava a interação, interveio com um olhar sério.

— Giovanna, isso é jeito de tratar a sua colega?

O tom da professora a fez recuar.

— Desculpa, professora… — respondeu, forçando um sorriso amarelo.

O sinal tocou, indicando o fim da aula, e os alunos entregaram suas atividades antes de sair. No entanto, a professora pediu que Giovanna ficasse um pouco mais. Assim que a sala esvaziou, a professora suspirou e se aproximou.

— Giovanna, a menina que te fez aquela pergunta se chama Cláudia. Ela está passando por um momento muito delicado.

Giovanna cruzou os braços, sem entender aonde aquilo queria chegar.

— Todo mundo tem problemas, professora, mas isso não é desculpa para não revisar o assunto antes da aula… — tentou argumentar.

A professora a encarou com paciência e, com um tom mais brando, explicou:

— Cláudia perdeu os pais recentemente. Desde que as aulas começaram, você foi a primeira pessoa com quem ela tentou interagir.

O impacto daquelas palavras foi imediato. Giovanna sentiu o estômago revirar, como se tivesse levado um golpe invisível.

— Eu… eu não fazia ideia, professora…

De repente, toda a situação adquiriu um peso que antes não tinha. Ela própria já havia passado por algo parecido e, apesar de fingir que aquilo não a afetava, a verdade era que o assunto ainda mexia com ela mais do que gostaria de admitir.

E, agora, sem querer, ela havia sido cruel com alguém que, no fundo, só queria um pouco de acolhimento.

***

Enquanto alguns se arrependiam, outros permaneciam firmes em suas convicções. Tia Olívia, por exemplo, buscava qualquer desculpa para se manter distante de Carlos, mas, ironicamente, o destino sempre encontrava um jeito de colocá-los frente a frente.

Naquela manhã, não foi diferente. Os dois acabaram pegando o mesmo elevador, já que tinham uma reunião marcada no quinto andar do prédio. O ambiente estava silencioso, com apenas algumas outras pessoas ocupando o espaço. No quarto andar, os demais passageiros desceram, deixando Olívia e Carlos sozinhos. Então, sem qualquer aviso, as luzes piscaram e, em seguida, tudo mergulhou na escuridão. O elevador parou abruptamente.

— Isso não está acontecendo! — exclamou Tia Olívia, com a voz trêmula, enquanto tentava conter o pânico. — Socorro!

Carlos, por sua vez, apenas coçou a cabeça e soltou um resmungo.

— Vish…

— A culpa é sua! Você fez isso de propósito! — acusou Olívia, encarando-o como se ele fosse o grande responsável pela situação.

Sem se abalar, Carlos soltou um suspiro e se sentou no chão.

— Claro, Olívia. Eu venho arquitetando essa armadilha há semanas, tudo para ficarmos presos juntos em um elevador.

— Você não vai fazer nada?! — ela insistiu, impaciente.

— Tipo o quê, exatamente?

— Abrir essa porta… ou… sei lá!

Carlos arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços.

— Ah, sim, claro! Você nunca assistiu Premonição? Abrir a porta de um elevador travado é a receita perfeita para o desastre. Prefiro esperar o resgate.

Admitir os próprios erros não é fácil, mas é um dos maiores sinais de amadurecimento. E se havia alguém que sempre prezamos por ensinar essa lição, essa pessoa era a Giovanna. Ela era, sem dúvida, uma das pessoas mais geniosas que já conheci, mas também sabia reconhecer quando estava errada.

Durante o intervalo, Giovanna avistou Cláudia sentada sozinha, afastada do restante dos colegas no refeitório. Após pegar seu lanche, caminhou até a mesa e sentou-se ao lado da menina sem hesitar.

De início, Cláudia estranhou a presença dela, mas, aos poucos, as palavras foram surgindo, e logo as duas estavam conversando como se nada tivesse acontecido. No entanto, na sala de aula, um dos alunos decidiu fazer piada da situação, e foi nesse momento que o lado diva da minha irmã brilhou em toda a sua glória.

Giovanna se levantou com imponência, colocou uma das mãos na cintura e lançou um olhar afiado para o garoto que zombava de Cláudia.

— Escuta aqui, queridinho… — começou, com um tom de voz firme. — Antes de tentar pagar de engraçado, sugiro dar uma olhada nas suas próprias respostas. Eu vi muito bem que a sua também estava errada.

O garoto abriu a boca para retrucar, mas Giovanna não lhe deu chance.

— E, por favor, faz um favor pra humanidade e para o bom senso: dá um jeito nesse teu cabelo de imitação barata do Thiago Iorc e vai procurar algo útil pra fazer.

O silêncio na sala foi imediato, seguido por um coro de risadas contidas. O garoto, sem graça, afundou no próprio assento, enquanto Cláudia esboçava um sorriso discreto.

Giovanna, por sua vez, apenas ajeitou a postura e voltou a se sentar, como se nada tivesse acontecido.

***

Ainda não tinha me acostumado completamente com todos os professores. Enquanto alguns inovavam na metodologia e tornavam as aulas dinâmicas e interessantes, outros pareciam ter parado no tempo, insistindo em métodos ultrapassados e pouco envolventes. Até aquele momento, minha professora favorita era a de História. Ela explorava diferentes recursos, como vídeos, áudios e fotografias, tornando o conteúdo muito mais envolvente. Durante suas explicações, quase não sentia sono, algo raro nas outras disciplinas.

No fim da aula, Diogo mencionou que precisava ir ao banheiro. Enquanto isso, fui praticamente arrastado pela multidão de alunos ansiosos para deixar a escola. Como não queria me perder no meio do tumulto, decidi esperar por ele em uma pracinha em frente ao colégio. Sentei-me em um dos bancos e comecei a mexer no celular, distraído, até que uma voz familiar me tirou do devaneio.

— Não vai falar comigo? — perguntou Zedu, sentando-se ao meu lado com um sorriso de canto.

Levantei os olhos e dei de ombros.

— Claro que sim. Não tenho nenhum problema em falar com você na frente dos meus amigos. — disse, me aproximando um pouco mais.

Ele arqueou as sobrancelhas, intrigado.

— O que isso quer dizer?

Respirei fundo antes de responder:

— Nada. — murmurei. — Nada, Zedu.

Antes que ele pudesse insistir, Alicia surgiu do nada. Esse era um talento dela: aparecer sem aviso prévio. Sem cerimônia, sentou-se no colo de Zedu e começou a mexer nos cabelos dele de forma carinhosa. Não demorou muito para que Ramona, Letícia e Brutus também se aproximassem. Ótimo. Exatamente o que eu precisava: a turma toda reunida bem na hora em que eu estava prestes a sair com Diogo.

— Oi, Yuri. — chamou Diogo, surgindo ao meu lado.

— E aí?! — respondi, tentando manter a naturalidade. Olhei para os outros e fiz as devidas apresentações, mesmo sabendo que eles já se conheciam. — Gente, esse é o Diogo. Diogo, essa é a gente. — Ri da minha própria falta de jeito. — Brutus, Letícia, Ramona, Zedu e Alicia.

— Oi, galera. — Diogo fez uma saudação meio desajeitada e pousou a mão no meu ombro. — Então, vamos?

— Até mais, pessoal. Ah, Letícia, depois me conta sobre o resultado da prova de roupas. — me despedi rapidamente e segui Diogo, sem fazer ideia de para onde estávamos indo.

Ele explicou no caminho que almoçaríamos em um restaurante próximo, onde também trocaríamos de roupa. O lugar era charmoso, aconchegante e não ficava tão longe da escola. Assim que nos sentamos, uma garçonete baixinha e sorridente nos atendeu, entregando os cardápios.

Enquanto analisava as opções, não conseguia entender por que tantas pessoas consideravam Diogo estranho. Para mim, ele era divertido, sempre com uma piada na ponta da língua para qualquer situação. Sua companhia era leve e agradável.

Optei por uma macarronada ao molho branco, que estava simplesmente divina. Diogo escolheu um filé de frango à parmegiana, e comemos enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias. Após o almoço, fomos até o banheiro para trocar de roupa.

Assim que entramos, ele trancou a porta, colocou a mochila no chão e, sem hesitar, começou a tirar a roupa até ficar apenas de cueca. Foi impossível não notar seu corpo bem definido. Além da tatuagem no braço, havia outra perto da virilha, algo que eu não esperava ver.

— Você não vai tirar sua roupa? — ele perguntou enquanto vestia uma calça jeans preta.

Senti meu rosto esquentar. Engoli em seco antes de responder:

— Você pode virar? — perguntei hesitante, revirando minha mochila à procura das roupas.

— Como assim? — ele franziu o cenho, surpreso.

— Eu... eu não estou acostumado. Você pode virar? — repeti, sentindo um nervosismo crescente.

Ele soltou um pequeno riso antes de assentir.

— Ah, entendi. Você é do tipo que tem vergonha do próprio corpo, né? Tudo bem. — disse, dando de ombros antes de se virar e vestir a camiseta.

Respirei fundo, tentando controlar o nervosismo. Meu coração batia acelerado.

— Eu... eu...

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Comentários

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ZEDU REALMENTE MUITO BOBO. NÃO PERCEBE AS COISAS NA FRENTE DO NARIZ.

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Como você escreve bem !!!! Eu não sei o que é desse Diogo, mas espero que não seja cilada pro Yuri. Ancioso pela continuação !

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Hummm se servir pro Zedu se posicionar vou gostar

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Sinceramente, não sei nem o que pensar nesse Diogo, não sei se é uma boa pessoa ou é outro escroto igual a o Leonardo, espero que ele não faça nada contra o Yuri, gordinho delícia.

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