AMOR DE PESO - 01X17 - A BUSCA

Da série AMOR DE PESO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3573 palavras
Data: 28/09/2016 01:56:42
Última revisão: 04/03/2025 06:04:39

Pai e Mãe,

Que noite espetacular! Tá, eu sei... Não deveria falar sobre certos assuntos com vocês, mas estou feliz. Por quê? Ao meu lado dorme o homem mais lindo do mundo. Estou passando por todo esse pesadelo com a pessoa que mais amo e, de certa forma, isso me dá forças para continuar.

***

— Zedu, o que a gente fez? — perguntei, preocupado, porque sabia que o sexo poderia acabar com a minha amizade com ele.

— Você está arrependido? — ele respondeu com outra pergunta, algo que não é indicado quando a outra pessoa está prestes a ter um ataque de pânico.

— A Alicia...

— Eu não estou mais com a Alicia. Terminamos ontem. Isso me rendeu um copo de refrigerante light no rosto. A sensação não é nada boa. E você e o Diogo?

Sim. O Diogo e eu. De fato, nunca namoramos, mas já estávamos juntos há quatro meses. O que a recém-solteirice do Zedu representava? Eu deveria ter esperanças de ter algo com ele? Tantas perguntas flutuavam na minha cabeça, ainda mais agora, quando nossa prioridade era a sobrevivência.

Naquela noite, ficamos em silêncio, apenas nos acariciando. Os sons da floresta eram as únicas coisas que quebravam a quietude. O Zedu estava deitado no meu peito, e aproveitei para acariciar seus cabelos negros. De repente, a chuva voltou a cair e o frio se intensificou.

Caramba, entre todos os dias em que poderia fazer frio em Manaus, os deuses do tempo escolheram justamente esse? O Zedu perguntou se eu estava bem. Respondi que sim. Ele beijou minha bochecha e acariciou meu rosto.

— Você está tão calado. Eu te machuquei? — Zedu quis saber, quebrando o silêncio.

— Não é isso. É que... você...

— Eu?

— Desde sempre, eu quis ficar com você. Mas parecia tão impossível.

— O quê?

— O fato de nós dois ficarmos juntos — respondi, tentando ser o mais claro possível.

— Yuri, desculpa. Eu sinto o mesmo por você, mas sempre tive medo de ser...

— De ser? — perguntei, mesmo já sabendo qual seria a resposta dele.

— Tenho vergonha de ser gay — a voz de Zedu soou triste e baixa. Eu não imaginava que uma pessoa tão alegre como ele passava por uma tempestade tão forte.

— Não é fácil, mas eu prefiro ser provocado todos os dias pelo Lucas, pelo Vando e pelos outros do que esconder quem realmente sou. Aprendi isso da pior maneira.

No meio da nossa conversa, o vento começou a soprar mais forte, e a água escorria por todos os lados. A gente se abraçou com mais força, na esperança de espantar o frio que nos atingia. Sério, não imagino passar por uma desventura dessas com outra pessoa.

O Zedu não era um cara forte. Seus 70 quilos bem distribuídos não eram eficazes contra a baixa temperatura. Por outro lado, os meus 100 quilos me faziam sofrer menos, então eu o abraçava da melhor forma que conseguia.

Na floresta, todos os sons ganham uma proporção assustadora. Um trovão ecoou pela mata e nos assustou — e, cara, como assustou! Quase gritei, mas precisei ser corajoso pelo José Eduardo, que parecia mais apavorado que eu.

— Se você gostava de mim, por que... por que está com o Diogo? — ele perguntou, depois de se recuperar do susto.

— Porque ele me aceitou. O Diogo é mais próximo da minha realidade.

— Como assim? — ele perguntou, afastando-se um pouco.

— Zedu, olha para mim. Olha para você. Eu sou gordo e feio. Você é bonito, atlético e simpático. Acho que, se a gente namorasse, as pessoas iam pensar que você é louco.

— Yuri — Zedu falou, tocando meu rosto e rindo. — Você é lindo. O peso é apenas uma questão de gosto. Por exemplo, o Diogo e eu gostamos. Muitas pessoas se atraem por gordinhos.

— Você fala do Diogo, mas teve a Alicia por anos — soltei, me arrependendo em seguida.

— Verdade. Eu não fui sincero com ela, mas, ao mesmo tempo, ela é a última coisa que me preocupa em relação à minha orientação.

Ok. A Alicia não era mais um obstáculo na vida do Zedu — na verdade, na minha vida. O Diogo era um caso à parte, mas ele sabia que meu coração pertencia a outra pessoa, apesar de eu sempre negar. O que o futuro reservava para nós? Será que seria apenas mais uma ficada, como aconteceu com o Léo?

***

A tia Olivia passou parte da noite desacordada. Durante um bom tempo, Carlos ficou ao seu lado para garantir que ela estivesse confortável. Quando despertou, estranhou estar em um leito de hospital.

Carlos explicou toda a situação, e tia Olivia não conteve as lágrimas. Ela temia pela minha vida, afinal, nunca fiquei tanto tempo sem dar notícias.

Minha tia desmaiou e passou parte da madrugada inconsciente. Quando despertou, percebeu Carlos dormindo em uma cadeira ao seu lado. Ele acordou assim que notou que ela estava consciente.

— Por quanto tempo fiquei desacordada? — perguntou a Carlos.

— Cinco horas — respondeu ele com a voz rouca.

— Cinco horas? — Tia Olivia se assustou e tentou se levantar da cama. — Precisamos ir até a polícia!

— Ei, calma — disse Carlos, tentando contê-la. — O capitão dos bombeiros deixou um rádio conosco. Assim que as buscas começarem, eles nos avisarão e marcarão um ponto de encontro.

— Meu Deus, Carlos… — Tia Olivia caminhou até a janela e observou a chuva que caía intensamente. — Ainda está chovendo tão forte… Será que eles estão bem? O Yuri é muito frágil.

— Olivia, você vai se surpreender com o Yuri. Além disso, ele não está sozinho. Mais tarde, irei ao escritório entregar alguns documentos. Já falei com as meninas, e o Richard e a Giovanna estão bem. Vai dar tudo certo. Agora, por favor, descanse — pediu Carlos, guiando a namorada de volta para a cama.

— Carlos, obrigada. Você é o melhor — agradeceu titia, abraçando-o com força.

***

Acordei com frio, muito frio. Nem parecia Manaus. O céu ainda estava escuro. Toquei em Zedu e percebi que ele tremia; além disso, parecia febril. Fui até uma parte afastada para fazer xixi e encontrei uma lona grande. Levei-a até onde Zedu dormia e o cobri com aquilo. Não era um cobertor, mas ao menos nos manteria aquecidos. Abracei Zedu o máximo que pude.

Na manhã seguinte, acordei com dores intensas nas costas. Levantei-me e respirei fundo.

— Ei, tudo bem? — perguntou Zedu, sentando-se com dificuldade e limpando os olhos.

— Estou sim. Meu corpo está dolorido, mas nada demais.

— Eu que o diga — respondeu ele, tirando a lona de cima das pernas. Seu olhar se encheu de pavor. — Merda. Olha a cor da ferida.

A perna de Zedu estava ficando roxa, e o torniquete que eu havia feito não segurava mais o sangue. O chão estava todo sujo. Não tínhamos mais tempo a perder; ele precisava de ajuda médica urgente.

Tentei usar o ambiente a nosso favor, mas nada naquela área parecia útil. Subi o monte que sustentava os restos mortais da velha ponte. Encontrei um elevador manual e testei sua resistência com alguns objetos para simular o peso de Zedu. Para minha surpresa, a estrutura aguentou.

Fiquei animado e não perdi tempo. Convencer José Eduardo a aceitar o plano demorou um pouco, mas eu precisava da cooperação dele para sairmos dali. Assim que ele entrou no elevador, subi até a parte superior da estrutura. No caminho, o maldito barranco me fez cair e ralar o joelho.

A dor não era urgente. Pelo menos, não a minha. Zedu estava cada vez pior. Comecei a puxar a corda do elevador. Confesso que, no início, não foi tão pesado quanto imaginei. Aos poucos, ia conseguindo erguer o elevador manualmente.

Zedu murmurava palavras de incentivo, e achei aquilo fofo da parte dele.

Esquece o que eu disse sobre o peso. De repente, meus braços começaram a tremer. Minhas forças estavam no limite. Parei por um instante para recuperar o fôlego e voltei a puxar. Fechei os olhos, esvaziei a mente e continuei, ignorando as dores e o sangue que começava a escorrer das minhas mãos.

— Eu vou conseguir! — gritei aos prantos, lutando para não desistir.

Quando a estrutura finalmente chegou à parte superior, ouvi um barulho estranho. Percebi que o peso havia diminuído. Aos poucos, soltei a corda. O elevador não desceu, o que significava que o trabalho estava concluído com sucesso.

Deitei-me no chão, de braços abertos, aproveitando cada respiração profunda.

Zedu se arrastou até ficar deitado ao meu lado. Nenhuma palavra foi dita, mas eu podia sentir a gratidão dele. O céu estava nublado. Alguns pássaros sobrevoaram nossas cabeças.

Por um instante, imaginei como seria ter o poder de voar. Isso ajudaria bastante.

***

Nos momentos de desespero, não conseguimos tempo para pensar, mas existem pessoas que se superam e controlam todas as suas emoções. A tia Olivia foi até casa apenas para trocar de roupa e obrigar meus irmãos a irem para a escola. Mesmo contra a vontade, Richard e Giovanna decidiram obedecer ao comando dela, pois não queriam causar mais problemas.

Naquela manhã, os noticiários só falavam dos dois estudantes que estavam perdidos na floresta. Ramona e Letícia também foram para a escola. Alguns alunos, inclusive Brutus, se aproximaram para saber informações sobre nós.

"Que tragédia!" "Eles vão aparecer." "Vou orar por eles." Esses foram alguns dos comentários.

Apesar da preocupação dos meus colegas, alguns conseguiam ser podres. Como, por exemplo, João, que aproveitava cada momento para fazer uma piada infeliz – um verdadeiro projeto de Vando.

— Soube que eles estavam se pegando na floresta. — soltou João, rindo.

— Cala a boca, babaca! — esbravejou Letícia.

— Está preocupada? Eu soube que, ontem, o Zedu te chutou. — comentou João, achando uma forma de provocar Alicia.

Por algum motivo, Diogo se meteu, e uma pequena confusão se iniciou. Os dois quase partiram para as vias de fato. Graças a Deus, tia Ray apareceu para salvar o dia. Agora, além do nosso desaparecimento, os alunos passaram a comentar sobre o término entre Alicia e Zedu.

— Ei, não fica triste. — pediu Diogo, pegando no ombro de Alicia.

— Mesmo magoada, o Zedu ainda é importante. Estou fazendo papel de trouxa? — ela perguntou, sentando-se na escadaria do colégio.

— Não sei, Alicia. Realmente, não sei. — foi a única forma de consolo que Diogo encontrou.

***

Sede, fome, cansaço e vontade de fazer o número dois. O Zedu, coitado, não tinha mais forças, e precisei carregá-lo pelo resto do caminho. Cara, ser forte nessas horas é uma bênção e uma maldição: só eu podia carregar o Zedu. Estava suado e fedido — muita informação, eu sei, mas essa era a realidade. Daria qualquer coisa para ter acesso a um banheiro.

Chegamos a uma área descampada onde havia uma pequena cabana. Deixei o Zedu sentado e fui verificar. Não achei sinal de pessoas, então logo pensei que estivesse abandonada. Dentro, também não encontrei móveis, apenas louças empoeiradas. Juntei algumas vasilhas antigas e as deixei do lado de fora para encher com a água da chuva. Pelo menos, de sede a gente não morreria.

Acomodei o Zedu na parte mais limpa da casa. Acho que, antes de ser abandonada, aquele espaço deveria ser a sala. O assoalho de madeira fazia um barulho estranho, quase um gemido. Embora Zedu e eu estivéssemos na merda, achávamos um jeito de manter o bom humor e a esperança.

— Essa casa parece ter vida própria, né? — perguntei a ele.

— Tá tão abafado aqui. — Zedu comentou, tirando a camiseta.

Fiz a mesma coisa. Afinal, com o Zedu eu não conseguia ter bloqueios. Ele ficou impressionado com a quantidade de hematomas e feridas no meu corpo. Zedu fez carinho em mim. Confesso que tremi nas bases — o toque dele conseguia despertar todos os meus poros.

— Eu tô morrendo de fome. Ainda tem alguma coisa? — ele perguntou, fazendo carinho nas minhas costas.

— Eu vi um pé daquela fruta roxa… Como é o nome?

— Jambo. — Ele respondeu com um sorriso estampado no rosto.

— Isso, jambo. Vou pegar algumas. — Falei, me levantando com muita dificuldade.

Você já viu o Indiana Jones? Sempre corajoso e com suas roupas de explorador. A tia Olivia poderia ser uma versão feminina dele. Ela estava pronta para desbravar a caverna do tesouro perdido. No início da tarde, a equipe de resgate se encontrou em frente ao parque. Eles percorreram o igarapé e encontraram o graveto que deixei marcando nossa localização.

O capitão mostrou o tecido e, na hora, titia lembrou da camiseta que eu estava usando na manhã em que desapareci. Segundo os bombeiros, aquilo era um bom sinal e poderia ajudar nas buscas. Uma equipe se preparava para sair, então tia Olivia e os pais de Zedu decidiram embarcar para ajudar.

Minha tia estava vestida para explorar a caverna do tesouro perdido. Ela encontrou os pais de Zedu no parque, e eles foram até o ponto de encontro. Percorreram o rio, e um dos bombeiros avistou o graveto com parte da minha camisa.

Já a missão de cuidar dos meus irmãos ficou com o Carlos. No horário certo, ele chegou à escola deles. Ao avistarem o namorado da tia Olivia, os dois correram e fizeram algo que desarmou Carlos: um forte abraço. Infelizmente, ele não tinha nenhuma boa notícia. Eles seguiram para casa tristes.

— O que vocês querem almoçar? — perguntou Carlos, deixando as chaves do carro na mesa.

— Estou sem fome. Eu como algo depois. — Disse Giovanna, subindo as escadas.

— E você? — Ele quis saber de Richard, que estava sentado no sofá.

— Carlos, o Yuri está morto?

— Não, claro que não. Ei, não se preocupa. O Yuri vai dar um jeito. Espero que amanhã a gente tenha uma boa notícia. — Carlos consolou Richard, sentando-se ao seu lado e fazendo carinho em sua cabeça.

— Quando meus pais morreram, a tia Olivia demorou para me contar. Eu não quero perder o Yuri. — Richard abraçou Carlos e começou a chorar.

— Ei, campeão, não fica assim, por favor. Vai dar tudo certo, viu? Vamos fazer assim: você sobe e toma um banho. Depois, a gente conversa mais. — Pediu Carlos, afagando os cabelos do meu irmão.

— Tudo bem. — Richard concordou e subiu as escadas.

— Eita, Carlos, que situação… — Ele comentou para si mesmo.

***

Será que fiz bem em não aceitar o pedido de namoro do Diogo? Afinal, ele sempre esteve ao meu lado. Naquela tarde, Diogo foi até o nosso lugar especial e relembrou todos os bons momentos que passamos juntos. A surpresa do dia ficou por conta da presença de Brutus.

Diogo é um ótimo amigo, entretanto, como inimigo, ele consegue se superar. Ele recordou todas as coisas que Brutus fez comigo e tentou sair para evitar problemas. Brutus o segurou e lhe deu um forte abraço.

— Eu... eu não sei o que fazer... — confessou Brutus, chorando.

— Olha, cara, eu não quero confusão... — Diogo deu um jeito de afastá-lo.

— Eles eram meus melhores amigos. Eu os decepcionei.

— Você deveria dizer isso a eles. — afirmou Diogo, tirando os óculos e limpando-os com um tecido.

— Se acontecer algo com eles... eu...

— Bruno, você teve a oportunidade e só fez merda atrás de merda. Se algo acontecer com o Yuri ou o Zedu, tenho certeza de que eles não gostariam que você derramasse uma lágrima.

— Você sabe o quanto é difícil?

— O quê? Não ficar ao lado dos seus amigos? Das pessoas que te apoiam? Não sei, Bruno. — Diogo aumentou o tom de voz; ele costuma agir assim quando fica nervoso.

— É Brutus.

— Pouco me importa. — Diogo virou-se de costas para Brutus, apesar de querer dizer poucas e boas.

— Vocês não entendem...

— Olha, Brut... digo, Bruno — falou Diogo, voltando e aumentando o tom de voz. — Eu não me interesso pelo teu drama familiar. O Yuri e o teu suposto melhor amigo estão perdidos, feridos ou, quem sabe, mortos. Pega essa tua autopiedade e enfia no rabo. Você acha, realmente, que a gente dá a mínima para o que você sente? — disse, empurrando Brutus, que não reagiu. — Você acha que tem alguma relevância? — empurrou-o novamente, desta vez com mais força. — Você é um merda, que fez o Yuri sofrer. Sabe o quanto é difícil para ele? Sabe?! — Diogo empurrou Brutus, que caiu no chão. — Quer saber? Você não vale a pena. — Então, Diogo saiu, deixando Brutus chorando.

***

Caramba! Nunca fiquei tão feliz ao comer frutas. Acho que devorei uns nove jambos. A fruta lembra uma maçã, mas sem o sabor doce. De acordo com Zedu, jambo com sal é a combinação perfeita. Descansamos para poupar energia e fiz uma varredura na área da cabana. Nenhum sinal de vida.

Depois de comer, Zedu passou mal e vomitou bastante. Sua febre só aumentava e, para piorar, uma forte chuva caiu, com direito a raios e trovões. Aproveitei a situação a nosso favor: levei Zedu para fora da cabana e tomamos banho. Lavei tudo o que pude. Naquele momento, a última coisa que passou pela minha cabeça foi sexo.

Zedu não falava nada, mas, dentro de mim, eu sabia que ele estava sofrendo — e muito. Seus lábios tremiam, seu olhar parecia distante, e o ferimento continuava sangrando. Usei uma cortina antiga para enxugar nossos corpos. Depois, obriguei Zedu a comer algumas frutas. Seu corpo precisava de energia.

— Pronto. Podemos descansar um pouco — falei, deixando Zedu confortável, mas percebendo que ele estava chorando. — Ei, o que houve?

— Eu não quero morrer, Yuri.

— Não vamos. Nem eu, nem você — tentei ser forte, mas me emocionei.

— Tá doendo muito. Eu não queria ser frouxo, mas tá doendo.

— Você não está sendo frouxo. Para, por favor, não fala assim.

— Desculpa. Eu estou cansado, Yuri. Não posso continuar.

— Eu não vou sozinho! — gritei, tentando me controlar para não assustar Zedu. — Não posso ir sozinho. Eu não vou conseguir sem você.

Esgotados em todos os sentidos, nos abraçamos e choramos por alguns minutos. Eu tentava distrair Zedu de todas as formas. Peguei seu MP3 antigo e sugeri que ouvíssemos música no aleatório. Deitei ao lado de José Eduardo e dei play. Para nossa surpresa, a primeira canção que tocou foi Digimon Digitais. Sim, a música da Angélica.

***

Digimon, digitais

Digimon são campeões

Digimon, digitais

Digimon são campeões

***

— Sério? — brinquei, olhando para Zedu e levantando minha sobrancelha esquerda.

— Que foi? Eu tive infância, ok? — murmurou Zedu, encostando a cabeça no meu ombro.

Começamos a cantar juntos, sem nos importarmos com a dor e o cansaço. Engraçado, eu não assisti tanto ao anime Digimon, mas lembrava da famosa música. Segurei meu microfone imaginário e fiz meu show ao lado de Zedu.

***

Zedu e Yuri (cantando junto com Angélica):

Digimon, digitais

Digimon são campeões

Digimon, digitais

Digimon são campeões

Basta o perigo chegar

Eles virão pra salvar

São os amigos da paz

Os Digimons são demais

Digimon, digitais

Digimon são campeões

Digimon, digitais

***

Os bombeiros seguiam as pistas que deixamos. Minha tia e os pais de Zedu ainda tinham esperanças, não queriam pensar no pior. O responsável pela busca disse que acampariam naquela clareira. Minha tia é tudo, menos uma pessoa da floresta; levou vários produtos para facilitar sua vida.

Um inseto enorme entrou na barraca da titia. Como se fosse um ninja, ela pegou um spray e aniquilou o coitado. No meio do caos, Teresa, a mãe de Zedu, riu da habilidade da tia Olivia. Elas sentaram na cama inflável e começaram a conversar sobre a nossa amizade.

— Eu agradeço muito ao Zedu, Teresa. Ele é um garoto sensacional. O Yuri melhorou muito depois que o conheceu — garantiu tia Olivia, pegando nas mãos de Teresa.

— O Zedu é assim. Um menino de coração aberto. Eu espero que eles estejam bem — disse Teresa, chorando e sendo consolada pela titia.

Nossa casa parecia uma zona de guerra. Carlos era um homem esforçado, bom negociante e ótimo em lidar com clientes, mas criança não era sua praia. Mesmo tristes, meus irmãos continuavam verdadeiras pestinhas.

A casa de Olivia também estava um caos. Giovanna e Richard não colaboravam.

— Eles fizeram essa bagunça toda? — Carlos pensou, desesperado.

— Carlos, a janta tá pronta? Estou preocupada com o Richard, ele não comeu nada — falou Giovanna, sentando-se ao lado de Carlos.

— Ele poderia aproveitar a falta de fome e não bagunçar tanto — murmurou Carlos, cruzando os braços.

— Você disse algo? — perguntou Giovanna.

— Não. Vou comprar algo para vocês — respondeu, saindo da sala, desesperado.

O peso das nossas escolhas aparece, de uma maneira ou de outra. Ramona estava em casa, deitada, fazendo um dever da escola. Enquanto olhava fotos antigas em suas redes sociais, aproveitou para criar a #ForçaZeduEYuri. Muitas pessoas aderiram, espalhando mensagens de solidariedade. De repente, uma notificação apareceu na tela do celular.

Brutus (mensagem de texto): — Fala comigo, por favor.

— Será que eu respondo? — Ramona tentou escrever uma mensagem, mas apagou em seguida. — Droga. Droga. Eu não vou responder. Não vou.

Naquela madrugada, Zedu acordou delirando e falando coisas desconexas. Nunca me senti tão assustado e impotente. Eu não sabia o que fazer. A única solução foi abraçá-lo e torcer para que o pesadelo passasse. Aos poucos, ele se acalmou e dormiu novamente.

Na manhã seguinte, tomamos água e comemos algumas frutas. Encontrei um carro de mão enferrujado, mas que seria útil para carregar Zedu. Depois de algumas horas caminhando pela floresta, chegamos a uma clareira e encontramos outro prédio abandonado.

— Que merda! Não conseguimos sair desse lugar! — gritei, chorando.

— Yuri... estou passando mal... — Zedu não aguentou e começou a vomitar.

— Meu Deus — falei, segurando sua cabeça.

Zedu desmaiou, e sua ferida voltou a sangrar ainda mais. De repente, dois cachorros apareceram, e meu coração disparou. Peguei um pedaço de ferro que estava jogado no chão, enquanto os cachorros se aproximavam.

— Vão embora! — gritei, segurando a barra de ferro. — Merda! Merda!!!

Os cachorros correram em nossa direção. Me preparei para atacar.

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Comentários

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Nuss! Cada vez melhor e mais intenso! Simbora!

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Massa, acho q os cachorros eh o resgate assim espero.....sei q quando voltarem pra realidade tudo vai ser diferente, tenho medo por eles, mas to curioso pra ver o desenrolar dos fatos

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MUITA TRAGÉDIA. ISSO É BOM PRA FORTALECER OS LAÇOS DELES. VAMOS VER SE VAI DAR RESULTADO.

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#maravilha_de_conto vc escreve muito bem cara, nota 10. continua logo!!!

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A cada postagem curto mais esse conto.Yuri cresceu.muito a meu ver...

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Amando esse conto...To com pena do Brutus. Tomara que ele acorde pra vida e reconquiste seus amigos💜💜💜

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Aaaaahhhh eu quero gritar hahahhaha, nossa pensei que tinha sido o último capítulo, mas que bom que não foi, amo esse conto, #ForçaZedueYuri

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