- Viaaaaaaaaaaaaaaaaaadoooooooooooo? – Eu ouvi lá do meu quarto
Eu desci correndo por que eu já sabia quem estava na porta.
- VIAAAAAAAAAAAAAAAAADOOOOOOOOOOOOO!!! – Ela gritava feito uma louca
- Maluca! Para de gritar!
- VIAAAAAAAAAAAADOOOOOOOOOOOO!!!! – Ela me agarrou e começamos a pular
- O que é isso?
- VIAAAAAAAAAAAAAADOOOOOOOOOOO!!
- Ai, para de gritar!
- Viado, tô tão feliz!
- Tá, me conta o motivo e para de gritar e pular feito uma louca.
- Viado, viado, viado, viaaaaaaaadoooooooooo!!
- Jujuba, fala logo!
- Viado, eu vou ter... eu vou ter...
- Vai ter o que, mulher?
- UM FILHOOOOOOOOOOOOOOO!!!! A SOPHIE VAI TER UM PRIMINHO!
Eu fiquei parado, não tive reação.
- Jujuba...
- VIADO! EU VOU TER UM FILHO! EU VOU TER UM FILHO! EU VOU TER UM FILHO! - A cada palavra ela ia reduzindo a felicidade – EU VOU TER UM FILHO! EU vou ter um filho! Vou ter um filho! – Ela começou a chorar
- Ju... – eu a abracei
- O que eu vou fazer com um filho?
- O Jean já sabe?
- Não! Eu peguei o resultado do exame agora... Amigo, ele mora em outro pais. Como eu vou criar essa criança?
- Ai, Ju...
- Amigo, como eu fui burra? Meu Deus, como eu fui burra! Por que eu não me cuidei?
- Um filho também não é o fim do mundo, Ju.
- Eu sei que não! Mas eu vejo o trabalho que tu tens com a Sophie. Eu não tô preparada pra isso!
- E tu achas que eu estava preparado para a Sophie? Tu achas que eu queria ter filho tão jovem? As coisas acontecem na hora certa, Ju. Nada é por a caso nessa vida!
- Amigo, eu não sei cuidar de bebe!
- Ju, tu és mulher! Tu tens a natureza a teu favor. Eu nunca soube cuidar de bebe, mas quando eu me vi com minha filha no meu colo, eu tive que aprender. Não te preocupas com isso, vamos nos preocupar em contar para o Jean. Tenho certeza que ele vai ficar feliz.
- Eu já não tenho muita certeza...
- Por que não?
- A gente mora em países diferentes, Antoine!
- Jujuba, olha pra mim.
Ela me olhou.
- Ju, tu vais ter um bebe. Ponto! Não adianta ficar chorando, tu vais querer abortar?
- NÃO, CLARO QUE NÃO! – Ela disse assustada
Comigo é logo no tratamento de choque.
- Então, se não vais abortar, aceita. Tu vais ser mãe! Olha que coisa maravilhosa.
- Antoine, tu não estás entendendo... como eu vou criar sozinha essa criança?
- Juliana, é o seguinte, PARA DE FRESCURA, PORRA! Tu ainda nem falaste com o Jean, não sabes o que ele pensa sobre filhos. A primeira coisa que tu tens que fazer é conversar com ele, depois tu podes sofrer feito uma louca.
- Não precisa ser grosseiro, eu tô grávida, eu tô sensível.
- Eu mereço, senhor... eu mereço! Se isso já era louca e fresca com o forninho vazio, imagina agora que ele ta cheio ?!
- Amigo, me abraça!
Eu abracei minha maluquinha mais amada do mundo.
- Espero que essa criança não puxe a loucura da mãe, meu Deus. Se não, estaremos todos ferrados com duas Jujuba na face da terra.
- Seu viado insensível, tu vais levar porrada se começar a falar mal do teu afilhado antes dele nascer.
- AAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIII EU OU SER O PADRINHO?
- Claro, né viado? Achava que eu ia chamar quem? O bombadão sinistro? Tá louco?
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH A GENTE VAI SER CUMPADRE E CUMADRE!
- Nós já somos, idiota!
- SEREMOS DUPLAMENTE CUMADRE E CUMPADRE.
- Tá mais para cumadre e cumadre, né?
- Vai te foder, Jujuba!
########
- Oi, Ju! – Eu tinha ligado para minha irmã
- Oi, viado!
- Tá mais calma?
- Tô!
- Falou com o Jean?
- Claro que não! Não vou dar uma notícia dessas por telefone, né?
- E tu vais falar com ele quando?
- Ele tá chegando aqui esse final de semana, aí eu converso com ele.
- Que bom! Já começaste teu pré-natal?
- Vou essa semana com meu médico.
- Me avisa que eu vou contigo.
- Tu vais estar trabalhando, viado.
- Eu dou um jeito, me avisa que eu vou.
- Tá bom!
- Bom, só liguei para saber como tu estavas.
- Eu tô bem, amigo.
- Então tá bom, fico aguardando tua ligação, tá?
- Tá ok! Eu te aviso. Beijo.
- Outro.
- Por que tu tá querendo saber se ela conversou com o Jean? Aconteceu algo? – Bruno e eu estávamos no nosso carro, ele estava me levando para a escola
- Eu não te contei?
- Com certeza, não!
- Amor, a Jujuba tá grávida.
- O QUÊ? – Ele arregalou os olhos de forma tão engraçada que eu quase morro de tanto rir – Tu tá rindo de quê?
- De ti! Se tu tivesses visto a cara que tu fizeste...
- Gente, eu não imagino a Jujuba como mãe. Ela vai criar um monstro desbocado, agressivo e louco.
- Credo, Bruno, ela não é assim...
- Unrum... tá bom!
- Ela cuida direitinho da Sophie.
- É e ensina para ela palavrão e técnicas de pegar homens. Quem ensina isso a um bebe?
- A Jujuba, ora! E a Sophie é tão pequenina que tu achas que ela entende? É claro que se a Sophie já estivesse grandinha ela não iria ensinar essas coisas.
- Tenho pena do Jean. Já pensou se nasce uma menina igual a mãe? Mais uma Jujuba? Quem aguentaria?
- Eu vou ter que aguentar, afinal vai ser minha afilhada.
- Sério?
- Sim! A Jujuba já me disse que serei eu.
- Que legal, amor! Quer dizer que ela ainda não falou com o Jean?
- Não, e como ela é louca, ela já estava imaginando que vai criar o filho sozinha...
- É muito doida mesmo! – Ele disse estacionando o carro no pátio da escola.
- Tchau! – Eu dei um beijinho rápido nele, como eu fazia todos os dias quando ele ia me deixar no trabalho – Cuidado, tá?
- Tá, bom! Até mais tarde!
- Até!
Eu sai do carro e entrei na escola, fui direto para a minha sala e ministrei minhas aulas.
- Olha aí, lá vai o viadinho...- Eu estava saindo da sala de aula e escutei um aluno engraçadinho falar.
- Por acaso vocês estão falando comigo, rapazes?
- O quê? Não professor, imagina...
- Vocês estão falando de quem, então?
- Daquele menino ali. – Eles apontaram para um rapaz, mas eu sabia que era comigo, não era a primeira vez que eu os ouvi falar aquilo.
- Me acompanhem até a direção, rapazes.
- Não professor, imagina... não era com o senhor.
- Não me importa se era comigo ou não, vocês estão sendo preconceituosos, vocês sabem qual a metodologia da escola em relação a isso, não é?
- Sabemos sim, senhor.
- Ótimo! Isso me polpa vários minutos de explicação. Me acompanhem, por favor.
Eu levei os engraçadinhos para a sala da diretora.
- Boa tarde, professora!
- Boa tarde, professor Antoine. Entre!
Eu entrei com os dois e ela logo disse:
- O que vocês aprontaram dessa vez Augusto e Leonardo?
- Estavam sendo preconceituosos, professora. Eles disseram que era com um colega, mas eu tive a ligeira impressão que eles estavam falando comigo. Mas, não importa se era comigo ou com um colega, o que importa aqui é que eles estavam desrespeitando uma outra pessoa sem nenhum motivo. E pelo o que eu sei, essa não é a primeira vez.
- Não, não é não. Esses dois tem uma longa ficha aqui comigo, não é rapazes? Obrigado, professor. O senhor já pode ir.
- Ok! Obrigado, professora.
Era desde cedo que a gente tinha que começar a educar essa molecada e se os pais não ensinam, eles precisam aprender na escola ou na rua com alguém ainda menos intolerante que eles.
Saindo da escola eu chamei um taxi e fui para a casa da Mamam, a Sophie estava lá. Bruno estava no hospital e só sairia no outro dia. Ele teria um plantão bem extenso, graças a Deus os plantões dele tinham reduzido, mas como médico oncologista, ele sempre tinha plantões noturnos.
- Oi, filha! – Eu disse pegando minha princesinha no colo – Conta pro papai o que tu fizeste.
- ABEUDEUBAIEBIDEUABDUEUBAUDEUAB
- Essa menina vai falar pelos cotovelos que nem o pai! – Mamam disse me dando um beijo na testa
- Quem disse que eu falo muito?
- Eu, meu amor! Quando tu eras criança, às vezes eu tinha vontade de te amordaçar.
- Ai, credo, Mamam!
- Meu filho, tu não paravas de falar um segundo. Deixa a Sophie crescer que tu vais ver...
- Eu vou te aturar, né filha? Papai não vai querer te amordaçar, papai não é desnaturado como certas mães por ai.
- Me respeita, moleque! – Ela me deu um tapa na cabeça e a Sophie caiu na gargalhada
- Aíiiii!!! Cadê o Papa?
- Tá no escritório ainda.
- Huuuum...
- Vais ficar pra jantar?
- A senhora vai deixar eu ir embora agora?
- Não!
- Então, sim!
- Acho bom!
- Como se eu tivesse escolha...
- Só assim pra tu ficares com a tua família, agora.
- Mamam, eu tenho casa, filho, marido, trabalho... Não dá para eu ficar todo dia aqui, né?
- É... concordo, mas uma vez ou outra não mata, né?
- O que temos para jantar?
- Maniçoba, vatapá, caruru...
- E a senhora jura que eu vou comer isso?
- Deixa de ser fresco, moleque!
- Isso aí engorda só de pensar!
- Eu já preparei as tuas frescurisses também! Enjoado!
- É por isso que eu não fico. A comida ultimamente aqui entope todas as artérias do corpo de uma pessoa.
- Deixa de frescura, Antoine!
- É sério, Mamam! Vocês estão se alimentando muito mal.
- Estamos nada!
- Quando vocês tiverem algum problema de coração não me chamem, viu? Cadê meus irmãos?
- Ainda não chegaram da escola.
- Mas como não? Quando eu sai da escola não tinha mais alunos lá.
Depois que Thi e eu começamos a trabalhar na escola, Mamam transferiu meus irmãos para lá. O Thi era professor deles.
- Eles foram para a casa de uma amiguinha da Anne.
- Huuuum... E o Gui quis ir?
- Por incrível que pareça, ele quis, sim.
- Eles vêm jantar em casa?
- Vêm! Daqui a pouquinho eles estão chegando, teu Papa vai busca-los.
- Atah!
- E aí? Como tá em casa? Melhorou?
- Melhorou, sim. Nós conversamos e nos entendemos.
- Que bom, chéri. E tu estás melhor?
- Ainda estou cansado, mas agora é um cansaço normal.
- Tu sabes que tu não precisas trabalhar na escola, né? Tu tens a vila, tu tens o restaurante e ainda tem o Bruno.
- Eu sei, mas eu vou falar para a senhora a mesma coisa que eu falei para o Papa: vocês não me criaram para ser vadio. Então, eu vou trabalhar sim! Amo o que eu faço!
- Ai, tu não mudas mesmo!
Meus pais nunca aceitaram muito eu querer ser professor, ainda mais de francês/português. Eles não entendiam o motivo de eu querer ensinar a língua que eu falo. Eles diziam que se eu quisesse ser professor na França, eles me dariam todo apoio, mas ser professor no Brasil eles eram sempre contra.
Nós ficamos conversando até Papa e meus irmãos chegarem.
- Mano, eu fiquei sabendo que tu mandaste o Augusto para a direção. – Anne disse enquanto jantávamos
- Nossa, como a fofoca rola rápido entre vocês, viu?
- Tu mandaste?
- Mandei!
- Por que?
- Por que ele me chamou de “viadinho”.
- O quê? Como foi isso?
Eu contei a história para eles.
- Aí, eu queria ter visto essa cena!
- Deixa de ser fofoqueira, menina.
- Antoine, esse menino é um porre. Ele enche o saco de todo mundo. Tu estás sendo adorado, por que ele levou uma senhora suspenção. Se ele não melhorar, na próxima ele será expulso da escola.
- Sério? Gente!!
- Sério!
- Como estão as aulas?
- Bem legais! As aulas do Thi são bem melhores que as aulas do professor da outra escola. Ah, metade das meninas da minha turma dá em cima dela. Quando elas souberam que a gente era da mesma família, elas fizeram de mim a queridinha da sala.
- Olha só... quer dizer que tu chegaste ontem e já és a queridinha?
- Se fosse só eu, né? Mamam, os alunos são loucos pelo Antoine. As meninas descobriram que ele era meu irmão e me fizeram ainda mais queridinha. Todo mundo fala bem de ti lá, mano. E tu sabes que todo mundo sabe que tu és gay, né?
- Sei, sim. Alguns alunos descobriram com o Bruno indo me deixar ou me buscar na escola, elas me viram com ele e descobriram. Aí, foi que nem um pavio de pólvora. Espalhou rapidinho.
- Elas te defendem com unhas e dentes, nunca vi. Elas me contaram da tua festa de aniversário, eu disse para elas que teu aniversário era só no final do ano e eu quase apanhei por isso. – Ela disse rindo
- Aaaaah, é que erraram a data do meu aniversário no mural da escola, aí os alunos fizeram uma festa surpresa para mim. Eu não quis falar para eles que meu aniversário era só no final do ano...
- Pois então, agora me avisa sobre essas coisas, por favor... Não quero apanhar de graça.
- Isso tudo aconteceu lá na escola? – Gui perguntou
- Claro, besta! – Anne respondeu
Como ele era do Ensino Fundamental, ele não tinha acesso às fofocas do Ensino Médio.
Nós jatamos e foi muito bom. Anne comeu da comida que a Mamam fez para mim, ela disse que queria comer como eu, que já estava cansando das comidas que a Mamam estava fazendo ultimamente.
- Tu estás ficando fresca que nem o teu irmão! – Mamam disse emburrada
- Melhor do que a senhora que tá querendo ficar gorda – Anne era assim, ela falava sem medo da reação da Mamam
- Respeita tua mãe, menina! – Papa disse de forma firme
- Eu não a desrespeitei, Papa! A senhora sabe que eu não a desrespeitei, né?
- Sei, sim!
O jantar em família foi ótimo. Há muuuuuuuuuuuuuuito tempo não tínhamos um jantar como aquele. Ele me fez recordar da época que eu ainda morava com meus pais. Me fez lembrar da minha adolescência complicada. Me fez lembrar de tantas coisas boas...
Papa só foi me deixar em casa às 23h. Sophie já estava dormindo no meu colo. Foi uma noite extremamente agradável. Ao chegar em casa, eu coloquei a Sophie na cama, quando o Bruno não dormia em casa, ela sempre dormia comigo. Tomei um banho, me deitei e dormir com minha filhota. Eu senti algo estranho, senti algo ruim, mas resolvi não acreditar, assim eu não atrairia nada. Mas, geralmente, eu nunca me engano em relação a esses sentimentos...