Matthew - senhor pai? (disse o filho educadamente).
Joseph - não sabia que estava com visitas.
Matthew - o sr sabia sim pai. Lembra que eu fiquei de receber o Felipe hoje?
Joseph - Hum. (disse ele fazendo pouco caso). Por um momento eu havia esquecido. Quero que você der uma analisada nesse processo. É um pouco urgente.
Sr Joseph veio em direção a mesa e entregou o envelope ao filho.
Assim que ele parou a nosso lado minha mãe desmaiou.
- Mãe. (gritei e me joguei no chão para ampará-la).
Caí ao lado do corpo de minha mãe e tentava anima-la com leves tapas em seu rosto.
- Mãe, acorda! (gritava a seu lado).
Rapidamente, Matthew saiu do conforto de sua poltrona e veio para junto de mim.
- que diabos tem essa mulher? (disse o sr Joseph, olhando de cima para baixo).
Matthew - pai, peça que o enfermeiro de plantão venha ate minha sala o mais rápido possível. (disse o homem verificando os batimentos do coração da minha mãe).
Uma sensação ruim se instaurava naquela sala. Sr Joseph saiu pela mesma porta por onde havia entrado momentos antes e solicitou que a secretária, Camila, providenciasse um enfermeiro. Depois disso não vi mais o homem pela empresa.
- Mãe, pelo amo de Deus, acorda! (Eu já estava prestes a chorar).
Matthew - calma Felipe! (disse Matthew tentando me dar força). Foi apenas um desmaio. Deve ser a pressão dela!
Eu confirmei com a cabeça, mas no fundo eu não estava nenhum pouco calmo. Só eu, ali, sabia dos esforços de minha mãe, e de sua saúde debilitada.
- Abra um espaço pra mim sr Matthew. (disse um homem de calça social e camiseta azul).
Matthew - claro. Vem Felipe. (disse ele me dando sua mão para que eu levantasse do chão).
O homem de calça social e camiseta azul começou a examinar minha mãe.
- Ela já desmaiou outras vezes? (disse ele arregalando os olhos da minha mãe, que ainda estava desacordada).
Eu - de minha lembrança essa é a segunda vez. (Lembrei do dia em que tentei matar o José).
O homem abriu uma maleta, branca, e começou a realizar alguns procedimentos ali mesmo. Não demorou muito e minha mãe começou a voltar a si.
Mãe - não, Felipe, não! (dizia ela ainda com os olhos fechados).
Eu - eu to aqui mãe. (dizia tocando com minhas duas mãos em seu rosto, gelado).
Mãe - não! eles não podem tirar você de mim.
Minha mãe falava coisas que naquele momento não faziam sentindo.
Eu - ninguém vai me tirar de você, mãe! ( eu tentava acalmá-la).
- Ajudem-me a senta-la na cadeira. (disse o jovem enfermeiro).
Eu - beleza! (falei passando meu braço por trás das costas de minha mãe).
Matthew também deu um apoio pelo outro lado.
- No três (disse ele).
E assim fizemos. Quando chegou no número três a sentamos na cadeira.
Eu - mãe? (falei olhando em seus olhos que já estavam abertos).
Mãe - Filho?
Eu - ta tudo bem? A senhora desmaiou. (falei passando as mãos em seu rosto).
Mãe - não filho. Não ta tudo bem não. Acho que é minha pressão... (dizia ela esfregando a mão no peito). Vamos embora daqui filho. (disse ela tentando se levantar, mas foi impedida pelo enfermeiro).
enfermeiro - A senhora não tem condição de sair agora não. Primeiro vamos até a enfermaria pra auferir sua pressão.
Mãe - não precisa.
Eu - claro que precisa mãe, a senhora não esta bem!
Mãe - já estou melhorando. (disse ela pondo-se de pé).
Matthew - tem certeza? (disse Matthew sentado sobre a mesa).
Mãe - tenho. (disse ela olhando para Matthew, mais que o normal).
Eu - então a senhora já pode assinar o contrato, mãe? (perguntei com medo da resposta)
Minha mãe fez um silencio.
Matthew - senhora? (Matthew tentou lhe entregar o documento).
Minha mãe não estendeu o braço para recebe-lo e continuava calada. A atitude da minha mãe era um tanto estranha.
Eu - mãe? O contrato ainda não foi assinado.
Mãe - eu não vou assinar esse contrato, Felipe. (finalmente pudemos ouvir sua voz).
Eu -como não vai assinar? (falei sem acreditar no que acabara de ouvir).
Mãe - vamos esperar mais um pouco. Não falta muito pra você se formar. (dizia ela segurando minhas mãos).
Eu - o pouco na nossa situação é muito, mãe.
Matthew - senhora, desculpe me meter, mas a senhora esta tirando uma grande oportunidade do seu filho crescer.
Mãe - você tem filhos? (disse ela, séria).
Matthew - não senhora. Eu não tenho filhos. (disse Matthew, calmamente).
Mãe - então no dia que você tiver os seus, você vai saber o que é melhor pra eles.
Eu - mãe? (falei a repreendendo). A senhora ta sendo grossa com alguém que ta apenas tentando nos ajudar.
Matthew - deixa Felipe. Sua mãe ta nervosa.
Mãe - me desculpe, me desculpe. (disse ela quase suplicando). Eu não queria ter falado assim com o senhor.
Matthew - não tem problema, senhora.
Eu - e o contrato, mãe? (falei pegando das mãos do Matthew).
Mae - sobre isso eu não irei voltar atras. (foi sua ultima palavra antes de sair da sala quase correndo).
Eu - desculpa aí cara, e obrigado pela tentativa de me ajudar. (falei com a voz falhada do choro).
O cara segurou pelo meu braço quando eu ia saindo da sala.
Matthew - espera. (disse ele).
Eu - oi. (respondi com ele ainda agarrado a meu braço).
Matthew -Fabrício, por hora você pode voltar a seu setor. (foi a primeira vez que ouvi o nome do enfermeiro).
Fabrício - tudo bem sr Matthew. Qualquer coisa é só chamar.
Matthew - pode deixar. (disse ele enquanto o funcionário saia da sala).
Eu - o que foi sr Matthew?
Matthew - Felipe, senta aqui ''rapidão''. (disse ele finalmente me soltando).
Sentei de frente para o homem.
Matthew - quando você ira completar a maior idade?
Eu - o senhor fala os 18 anos?
Matthew - exato.
Eu - daqui a dois meses.
Matthew - dois meses! (disse ele pensativo passando a mão no queixo).
Eu - o sr esta pensando em algo pra mim?
Ele balançou a cabeça que sim.
Matthew - posso confiar em você? (disse ele me olhando fixamente).
Eu - claro. (falei voltando a ter esperança).
Matthew - você topa trabalhar pra mim sem carteira assinada?
Eu - topo. (falei sem pensar duas vezes).
Matthew - você esta entendendo né!? Eu só vou assinar sua carteira quando você tiver ficado de maior. Enquanto isso eu vou te entregando o dinheiro em mãos.
Eu balançava a cabeça confirmando tudo o que ele dizia.
Matthew - mas o que será que sua mãe vai pensar disso tudo?
Eu - por enquanto eu acho melhor ela não saber né!?
Matthew - eu também prefiro. Pelo menos por enquanto.
Eu - e quando eu posso começar?
Matthew - que tal amanha?
Eu - fechou. Qual o horário?
Ele voltou a passar a mão no queixo.
Matthew - depois da sua aula. Pode ser?
Eu - o senhor quem manda.
Matthew - então fica combinado dessa forma. (disse ele me cumprimentando).
Eu - amanha eu to aqui sem falta.
O homem riu.
Matthew - ta certo. Agora corre ou você não consegue acompanhar sua mãe.
Eu - beleza! (falei levantando da cadeira).
Matthew - Felipe! (disse ele me chamando mais uma vez).
Eu - senhor?
Matthew - seus documentos. (ele esticou a mão e me entregou).
Eu - obrigado! Até amanha. (falei rindo).
Matthew - ate amanha! (disse ele retribuindo o sorriso.
xxXXXXX
Encontrei minha mãe do lado de fora da empresa.
Eu - Mãe! (falei assim que a vi sentada em um banco).
Mãe - já tava ficando agoniada aqui sem você.
Eu - o que ta acontecendo hen mãe?
Mãe - não ta acontecendo nada meu filho. Só que não acho justo você ter que trabalhar tão novo.
Eu - e por que só agora a senhora chegou a essa conclusão? Ontem, a noite, quando eu falei do emprego a senhora ficou super feliz.
Minha mãe enrolou e não conseguiu dar uma resposta convincente.
Mãe - é melhor a gente ir pra casa. Eu ainda tenho que trabalhar. (disse ela afim de evitar a conversa).
Eu - eu vou ficar aqui pelo centro mesmo, mas acompanho a senhora ate a parada. (falei quando já estávamos caminhando).
Mãe - o que tu vai fazer aqui pelo centro?
Eu - o Otávio vai pegar alta hoje, e eu vou ficar aguardando.
Mãe - que bom meu filho, diga pra ele que eu to rezando por sua recuperação.
Eu - digo sim.
Mãe - antes que eu me esqueça, amanhã nós temos uma audiência marcada com o defensor publico.
Eu - amanha? Pra que? (falei sentando, no banco do ponto de ônibus, junto de minha mãe).
Mãe - tem que ver direitinho como vai ficar aquela tua prestação alternativa. O Juiz vai dizer pra nós adonde tu vai ter que cumprir a pena.
Eu - Porra! (falei coçando a cabeça). Eu sabia que eu tava esquecendo de alguma coisa.
Mãe - mas não pode. Tem que levantar as mãos pra os céus e agradecer por você não ter ficado presso.
Eu - a senhora tem razão. Vai comigo?
Mãe - vou sim.
Eu - hen mãe, a senhora pode fazer uns bolinhos de chuvas, no domingo?
Mãe - bolinho de chuva? (disse ela estranhando).
Eu - isso.
Mãe - ta desejando é?
Eu - to mermo. (menti).
Mãe - posso, mas tu vai buscar?
Eu - vou pedir pra alguém passar lá, domingo bem cedo.
Mãe - ta bom filho. (disse ela dando um beijo em minha testa enquanto acenava com a mão para o ônibus).
Eu - se cuida ta bom!?
Mãe - você também filho.
Eu - bença!
Mãe - Deus te abençoe!
Minha mãe subiu no coletivo e eu fiquei parado olhando-a partir.
Tirei o celular do bolso e não tinha nenhuma ligação do Otávio. Enquanto esperava por noticias dele, resolvi ir no calçadão comprar umas roupas para estrear no meu trabalho novo.
xxXXXX
Já pela tarde a ligação, que eu tanto esperava, aconteceu.
*****
Eu - fala manin.
Otávio - mano? Ta aonde?
Eu - to aqui pelo centro, e tu?
Otávio - acabei de sair do hospital.
Eu - como tu ta se sentindo? (falava sentado em um banco de uma praça).
Otávio - mais ou menos mano. Acabei de discutir com meu pai.
Eu - ainda com a ideia de sair de casa?
Otávio - claro mano. Tu acha que tinha condição de continuar morando com meu pai, depois do que ele te fez?
Eu - independente de qualquer coisa ele é teu pai, velho.
Otávio - nada justifica. Agora eu queria dar uma descansada, como é que a gente combina pra ir pro apê?
Eu engoli a seco.
Otávio - vei?
Eu - oi mano?
Otávio - onde é o apê?
Eu - faz o seguinte. Tem como tu vir aqui pelo centro, e a gente conversa?
Otávio - tem sim. Em qual lugar do centro tu ta?
Eu - to na praça da bandeira.
Otávio - beleza! Em meia hora eu chego aí.
Eu - ta certo.
Otávio - falou. (disse ele desligando a ligação).
*****
Aquela meia hora parecia não ter fim. Como eu iria justificar a meu melhor amigo que eu não tinha alugado apê, nem iria morar com ele?
xxxXXX
Estava comendo uma pipoca quando um onibus parou um pouco mais a frente e avistei Otávio descendo lentamente.
- Otávio. (gritei levantando a mão).
O cara sorriu e caminhou em minha direção.
Otávio - e aí mano.
Eu - e aí velho, vai me dar nenhum abraço não?
O cara me deu um abraço meio sem jeito.
Otávio - esses poucos dias que passei no hospital pareciam anos.
Eu - eu imagino. (falei lhe oferecendo o saco com pipocas).
Otávio - o que é isso? (disse ele olhando para dentro do saco)
Eu - é minha piroca desfiada. (respondi rindo).
Otávio deu um soco em meu ombro.
Otávio - ta ligado que nós vamos passar por um momento de turbulência né!? (disse ele levando a pipoca à boca).
Eu - mais? (perguntei tocando em seu braço engessado).
Otávio - meu pai disse que se eu levasse essa ideia a serio eu poderia esquecer que ele existe.
Eu - caralho velho. E o que tu pensa sobre isso?
Otávio - eu já esqueci que tenho pai. (disse ele com a voz tremula).
Eu - mano, você precisa repensar sobre isso.
Otávio - não tenho mais nada a pensar. Eu já tenho dezoito anos e preciso encarar a vida adulta. (Ele me olhou, sério).
Eu - e o que tu vai comer? Vai dormir no chão? E as contas de água, energia? Tu acha que vai ser moleza?
Otávio - foda-se tudo isso. (disse ele um pouco emputecido). Esse mês já temos a moradia garantida. No próximo, a gente se vira.
Ele me olhou e eu fiquei mudo.
Otávio - né!? (disse isso voltando a sorrir).
Eu - tem um problema mano. (falei lhe encarando).
Otávio - qual?
Eu - eu não vou morar com você.
O sorriso do meu amigo se desfez.
Continua...