*Pessoas lindas, eu sei que esse conto era pra ter saído mais cedo, mas por motivos de força maior não consegui escrever nada no dia de ontem e hoje estou terminando de escrever agora... Então me desculpem por não responder os comentários, eu sei que é super chato quando o autor não faz isso, mas realmente hoje não tem como, no capítulo de sábado eu compenso vocês! Beijos, seus lindos e muito obrigado por todo o carinho que venho recebendo! Vocês são fantásticos! <3
CAPÍTULO – 06
Durante a noite Fred estava apavorado, chorou e sofreu por antecipação, tanto tentou que conseguiu romper a costura a custo de rasgar uma parte dos lábios. A dor excruciante quando isso aconteceu lhe arrancava lágrimas dos olhos, sentia como se a boca toda estivesse envolta por esponja e um ardor forte em toda a área se fazia sentir. Tentou gritar, mas sentia cada vez mais que aquilo lhe rasgava a carne da boca e decidiu parar por ali, sua única chance é que Beto sentisse pena dele e com isso o matasse logo, pois sabia que jamais seria liberto. Mas ao menos não sofreria dentro daquela parede a pior das mortes.
As horas passaram rápido, como era de se esperar já que Fred rezava para que os minutos passassem cada vez mais arrastados. Ele estava quase desmaiando de dor quando ouviu o barulho da porta, levantou a cabeça sabendo que seu destino seria selado naquele momento. Um fio de esperança nasceu quando ele não ouviu Betão descendo e o elevador ser acionado, talvez Cristóvão tenha vindo verificar se sua ordem fora realmente cumprida e assim o salvaria.
- Bom dia Fred! – Betão falou atrás das sacas de cimento e de alguns tijolos.
Ele tentou gritar, a todo custo Fred tentou rasgar aquela linha não importando a dor que sentiria. Conseguiu desfazer mais alguns pontos e o sangue espirrou no chão.
- Por favor... – Se engasgou com o próprio sangue.
- Eu achava que você gostava de dor, pelo menos de infligir dor nos outros – Falou enquanto jogava os sacos de cimento no chão tirando-os do pequeno elevador. – Quantas vezes depois que o meu avô saiu de perto e você me fez implorar por misericórdia? Hein? – Betão se aproximou.
- Verrrme – Fred falou rangendo os dentes, com o ódio lhe tomando.
- Fui, mas vou me livrar de você, do meu avô e depois vou ser o que eu quiser! – Beto falou sorrindo.
- Tu acha que aquele viadinho ainda tá te esperando? – Conseguiu falar com dificuldade.
- Não sei, mas isso não importa. Ele volta pra mim mesmo se estiver com alguém... – Falou de forma segura.
- Beto, Beto... – Fred chamou com um pingo de esperança, Betão se virou pra ele e cruzou os braços lhe encarando.
- Diz verme! – Betão sentiu um prazer doentio naquilo.
- As coisas não precisam ser assim... Eu posso te dar todo o dinheiro que...
- Burro, tu acha que eu me privaria o prazer de te aniquilar por causa de dinheiro? – Betão riu e Fred não sabia se sentia mais raiva ou medo. De repente um soco na boca de Fred terminou de macerar aquela carne já muito maltratada e o prisioneiro sentiu a maior dor até então. Com uma marreta Beto destruiu uma parte da parede que era oca, viu que o espaço era apertado e lembrava o armário no pátio.
- Vamos começar? – De um pulo Beto estava na frente do homem, segurou com uma mão em seu pescoço e apertou, viu o olhar esgazeado de sua vítima, o desespero, a certeza de que estava morrendo e logo depois viu os olhos turvando e a inconsciência chegando, foi só então que soltou, viu que o homem respirava com dificuldade, rapidamente Beto retirou-o das correntes presas à parede, alcançou as outras e prendeu os pés e as mãos do homem. Dentro do pequeno espaço Fred foi colocado, uma fita foi colocada em sua boca que não aguentaria mais nenhum ponto e então Betão começou a levantar a parede, lentamente esperando que antes do último tijolo ser encaixado o homem acordasse para lhe dar uma última olhada em seu rosto. Então quando mais da metade da parede já havia sido refeita Fred acordou e como um porco começou a grunhir, seus olhos imploravam por misericórdia, mas aquele artigo estava em falta. Beto terminou de fechar a parede, quando estava no último tijolo ele disse:
- Agora a primeira parte está completa, vamos pra segunda! – E colocou o tijolo, ali ele enterrava não só o carrasco que por muito tempo lhe maltratou livre e impunemente, mas enterrava junto o homem fraco e dominado que apanhava em desespero para manter o amor de sua vida a salvo. Saiu daquele porão sujo e fedido de tanto trabalhar, mas poderia sair pulando de tanta felicidade. Os dias foram passando cada vez mais rápido, mais e mais missões começaram a chegar às mãos de Cristóvão e Beto as desempenhava sem questionar, queria que o avô acreditasse piamente que ele estava novamente dominado e sem esperança.
Em uma das missões o dever e Beto era sequestrar o filho de um político de Minas Gerais, iria sequestrar um garoto de 14 anos para que o pai desistisse da candidatura, algo que era quase uma especialidade para Cristóvão. Quando viu que a segurança do garoto era feita por dois homens que pareciam não lutar nem karatê, ele apenas aguardou que os pais saíssem, rapidamente ele conseguiu adentrar na mansão, encontrou o quarto do garoto e mesmo o vendo espernear e chorar o colocou para dormir sem muita dificuldade.
Dirigiu-se ao sítio que havia alugado para ser o cativeiro. Na metade do cominho temeu estar sendo seguido, mas o carro seguiu por outro caminho, pelo retrovisor viu que o garoto acordava e estava desesperado, Beto desceu o gorro para que sua identidade fosse preservada. Chegaram ao local, ele puxou o menino com cuidado, não havia a necessidade de machuca-lo ou amedrontá-lo. Trancou o menino em um dos quartos e então foi verificar o que podia fazer para os dois comerem. A casa já tinha os mantimentos necessários para uma semana, se precisasse de mais depois veria o que fazer. Foi então que um barulho do lado de fora da propriedade chamou sua atenção, ele engatilhou o revólver e foi verificar o que se passava, viu um vulto, mas não conseguiu um bom ponto para atirar.
Foi indo em direção ao local em que viu o vulto, baixou novamente a máscara e ficou se perguntando se havia deixado algo passar quando sequestrou o moleque. Então o estranho se apresentou, todo de preto e mascarado.
- Que você quer? – Beto gritou apontando a arma para ele.
- Você! – Beto ia atirar, mas o estranho tirou a máscara e o susto foi inevitável.
- Rômulo? – Beto falou assustado por ver o rapaz ali, ao olhar seu rosto percebeu que ele não usava mais o cabelo rente ao couro cabeludo, agora estava um pouco maior, o rosto havia suavizado bastante e isso lhe dava outro ar.
- Eu mesmo, senhor sequestrador! – Falou sorrindo, o momento de descontração morreu ali e Beto voltou a apontar a arma para o rapaz.
- Pera aí! Você veio a mando de quem? – A mira de Beto estava direcionada a perna do ex-soldado.
- Do teu franguinho! – Rômulo jogou a sua arma nos pés de Beto, a menção ao apelido de Ricardo lhe desnorteou um pouco e ele tirou o dedo do gatilho – Baixa aí a arma, cara! – Rômulo levantou a mão espalmando-as.
- Explica isso primeiro... – Beto mandou, ainda apontando a arma.
- Ele me contatou, quer que eu te resgate! – Beto engoliu em seco.
- Como assim cara? Quanto mais tu fala, menos sentido faz essa historia.
- Beto, eu passei o dia inteiro num ônibus, estou moído, será que a gente pode ao menos sentar?
Betão estava assustado, não pela missão em si, mas porque havia retornado ao hábito de desconfiar de tudo e de todos, várias possibilidades passaram pela sua cabeça, inclusive Rômulo ainda estar a serviço de Cristóvão.
- E então desconfiado? – Rômulo perguntou impaciente.
- Tira a arma do tornozelo, então. – Rômulo sorriu e retirou a arma do local indicado, novamente espalmou as mãos.
- Cara tu tá muito desconfiado! – Rômulo reclamou.
- É por isso que ainda estou vivo! – Veto rebateu.
- Pega essa sacola então e revista – Rômulo jogou uma mochila nos pés de Beto e o mesmo a abriu com cuidado, viu que havia uma muda de roupas e um notebook.
- Leva – Entregou a Rômulo.
- Vamos lá, temos muito o que conversar.
Os dois seguiram lado a lado para dentro da casa, Beto foi conferir se o garoto ainda estava no quarto e logo depois de verificar isso ele voltou ao encontro do amigo.
- Cara, que história é essa que o Ricardo te mandou aqui? – Perguntou ao sentar de frente para o rapaz.
- Depois que eu fui libertado, fiquei um tempo sem saber bem pra onde ir, comecei a fazer alguns pequenos serviços para juntar dinheiro, me estabeleci e em seguida comecei a oferecer meus serviços como assassino de aluguel...
- Cara tu voltou pra essa vida? – Beto parecia decepcionado.
- Eu só mato quem merece! – Rômulo falou – Não pego qualquer trabalho, primeiro eu pesquiso bem o alvo e se eu ver algo muito fodido... Bom, eu vou lá e mato. – Ele se explicou.
- Não vi ainda a diferença de quando tu estava lá na chácara. – Beto falou acusador.
- Eu vejo, eu mato os canalhas como o teu avô e o Fred, tu nem imagina quantos escrotos existem como eles por ai! – Rômulo falou de maneira grave.
- E como o Ricardo entra nessa? – Beto sentia o peito bater mais forte cada vez que pensava em seu franguinho.
- Ele me achou por meio de um figurão pra quem eu fiz um trabalho aí, pediu que eu te encontrasse e eu já o vi pessoalmente. – Quase uma taquicardia.
- Como ele está? – Beto perguntou afobado.
- O cara tá bem, mas deve andar trabalhando muito porque anda com uma cara de cansado... – Rômulo falou – Você quer vê-lo?
- Deixa de brincadeira Rômulo, ele mora em Salvador – Beto meneou a cabeça negativamente.
- Eu tirei algumas fotos dele antes de vir pra cá! – Rômulo mexeu na mochila, puxou um envelope de papel madeira e lá de dentro tirou as fotos de Ricardo, Beto pegou-as com a mão tremendo, a respiração descompassada, a vista turva e ele olhou cada uma com atenção, em todas Ricardo estava de terno e gravata, em algumas com o óculos escuro, mas mesmo com aquele ar de homem sério, mantinha em si as feições de menino por quem Beto se apaixonou, ele fez um carinho na imagem como se estivesse olhando o seu amor cara a cara. Olhou para Rômulo e levantou, de costas ele abraçou as fotos e permitiu que duas lágrimas escorressem de seus olhos, a dor da saudade aumentou ainda mais, a dor da separação chegou às raias do absurdo e ele sequer pensou.
- Me dá o número dele! – Beto falou limpando o rosto com as costas da mão livre.
- Cara, espera um pouco...- Rômulo sentiu pena de Beto.
- Me dá! – Betão estendeu a mão.
Rômulo discou o número de Ricardo que estava gravado em sua agenda como “Ricardo do Betão”, ele riu para si mesmo, pois aquilo lhe fez sentir bem.
- Alô? – Betão reconheceria aquela voz mesmo que cinquenta anos tivessem se passado.
- Franguinho? – Ele falou como se perguntasse, sentiu seus olhos marejarem. O silêncio foi ensurdecedor, conseguiam ouvir até a estática do telefone. Beto não sabia mais o que dizer, de repente toda a coragem e a urgência com que teve de ligar para Ricardo sumiram e ele se sentiu inadequado, sentiu medo de prejudicar Ricardo de alguma forma, seu peito se comprimiu.
- Meu amor? – A voz de Ricardo veio com o som de choro, tremendo, embargada e solene,
- Oi... – Havia tanto o que ser dito, mas por telefone tudo pareceu idiota e sem propósito.
- Onde... Onde você está Beto? Meu deus, meu amor. Que saudade! – Ricardo chorava livremente. – Me diz que você está bem, por favor!
- Estou, estou sim, se acalma franguinho, por favor! – Novamente Beto se virou para que Rômulo não o visse chorar.
- Onde? – Beto considerou um pouco.
- Melhor eu te dizer pessoalmente! – Beto falou firme.
- Você vai voltar? – A respiração de Ricardo chegava a falhar tamanha a emoção que sentia.
- Vou e logo! Me espera! – Betão falou como se implorasse.
- É a única coisa que eu faço meu amor... – Ricardo se descontrolou, chorou de soluçar e Beto que tinha aguentado as maiores dores, não conseguiu resistir naquele momento e ruiu. O choro foi desesperador, os dois sabiam que o momento do reencontro estava próximo e tudo aquilo deixava a distância ainda mais dolorida.
- Eu volto logo, franguinho, mas agora preciso ir! – Betão assegurou.
- Não... – Ricardo pediu sentindo a dor da separação reaparecer com força total. – Por favor, Beto!
- É preciso Ricardo, mas confia em mim, agora eu não demoro mesmo! – Falou assegurando.
- Beto... – Havia algo entalado há muito tempo em sua garganta – Desculpa por te fazer voltar! – Mais uma vez ele explodiu em choro, convulso, dolorido e sofrido.
- Eu nunca te culpei, amor! – As lágrimas desceram no rosto de beto novamente, mas eram de felicidade também. – Até mais, meu franguinho – Beto falou no tom que sempre falava com ele.
- Só mais uma coisa – Ricardo respirou fundo – Dessa vez, mata aquele velho! – Disse e engoliu em seco.
- Pode deixar, depois dessa ele não vai mais ser um problema! - Betão assegurou novamente. – Franguinho, te amo! – Ele disse.
- Eu também meu Beto! – Ricardo falou lutando para segurar as lágrimas.
Desligaram a ligação em seguida, Beto olhou para o lado e viu Rômulo sorrir. Entregou o seu celular e sentou de frente para ele.
- Tá tudo bem? – Rômulo colocou sua mão em cima do pulso de Betão.
- Sim... – Rômulo permaneceu alguns dias no local com Beto o ajudando naquela missão, diariamente eles conversavam, Beto quase sempre falava sobre Ricardo e Rômulo sobre Sarah, naquele período eles dois se conheceram de fato. Por fim os dois se despediram quando o homem decidiu que o sequestro já durava tempo demais e desistiu da candidatura. Beto retornava para a chácara do avô já na cidade ele andava num taxi, vinha cansado daquela última missão, mas decidido a por em prática o plano de matar o avô, para o que pretendia um mês era suficiente, entrou na propriedade e estranhou o carro chique parado na frente da casa com dois homens enormes a montar guarda ali.
Porém a mesma satisfação que sentiu ao castigar Fred, só que ainda mais forte e antecipada lhe percorria o corpo inteiro como uma descarga elétrica. Olhou para aquela chácara e se perguntou quanto ela valeria, mesmo com a casa queimada... Entrou no escritório de Cristóvão, depois de bater e ouvir a ordem.
- Bicho, chegou na hora certa! –Cristóvão estava com um homem sentado de frente para ele, Beto não conseguiu ver de quem se tratava, mas devia ser alguém importante para que seu avô o tratasse de maneira cordial. – Veja, é ele! – O homem misterioso finalmente o olhou.
- Bom, parece ser uma boa mercadoria, mas tenho minhas dúvidas... – O homem olhava Beto como se este fosse apenas um objeto.
- Ele é bom, se quiser fazer um teste pode ser agora! – Cristóvão assegurou e mandou que Beto acompanhasse o homem. Chegaram os três ao pátio e lá fora dois homens vestidos de seguranças estavam em volta de um carro importado.
- Daniel! – O homem gritou e o moreno se aproximou. – Nós vamos fazer um teste e ver a habilidade desse rapaz, vamos lá! – O homem moreno tirou o paletó, a gravata e a camisa. Logo depois os sapatos e a calça, ficou apenas com uma cueca boxer igual ao dos lutadores de MMA. Beto não entedia nada, mas julgou ser parte de mais uma missão estapafúrdia que o avô arrumava.
- Vai bicho, mostra o que você sabe fazer! – Cristóvão mandou e Beto entendeu o que estava acontecendo ali. Quando percebeu o moreno já lhe acertava o rosto com força, um soco certeiro o fez ficar desorientado e o gosto de sangue tomou sua boca, ele colocou o boné pra trás e tirou a regata, quando o moreno veio ao ataque novamente Beto interceptou o golpe e segurou o golpe com uma das mãos, com a outra um golpe certeiro na garganta do oponente o apagou. O homem caiu no chão prostrado e inconsciente fazendo barulhos como se fosse um chiado.
- Impressionante! – O homem de terno se aproximou de Beto e foi tocar em seu braço ao que ele reagiu segurando a sua mão.
- Calma, rapaz. – O homem falou em tom de advertência.
- Deixa de ser burro animal – Cristóvão rugiu – Esse agora é seu novo dono! – Beto olhou desesperado para o avô como se aquilo não fizesse sentido.
- Isso mesmo, te comprei por dois anos! – O homem informou calmamente enquanto o outro segurança botava Daniel, o lutador, no porta malas do carro.
- Mas... – Betão não entendia nada.
- Seu avô já me disse tudo, vamos lá que ainda hoje você luta! – O homem se aproximou do carro. – Seu avô não matou o rapazinho, mas eu mato na sua primeira tentativa de fazer gracinhas!
- Não... – Beto estava embasbacado.
- O Ricardo é que vai sofrer com isso, é isso que você quer? Vamos logo rapaz, dois anos passam rápido e nesse meio tempo pode ser que o seu avô morra... – O homem disse de forma desafiadora a Cristóvão que se calou. Aquela foi a cena mais surreal que Betão presenciou, mais até do que ser vendido, para fazer sabe-se lá o que.
- Vai logo animal, depois desses dois anos a gente vê o que faz! – Cristóvão bradou, Beto recolheu a camisa que estava no chão, vestiu-a e ficou esperando qual a ordem seria dada em seguida.
- Tenho que admitir você foi bem treinado! – O homem falou – Meu nome é Sampaio. – O homem estendeu a mão e Beto a apertou – Mão gelada, está nervoso?
- É que eu nunca fui vendido antes, não é algo que eu saiba como reagir! – Falou com sarcasmo.
- Muito bem, vamos esclarecer as coisas aqui! – Sampaio se virou para Beto e o carro começou a andar. – Eu comprei você por dois anos, mas se você gostar do que oferecemos lá na república podemos refazer o contrato. E quem sabe você possa ganhar algo daqui pra frente já que dessa vez só o velho é que se beneficiou.
- Eu vou ter que fazer o que? – Beto perguntou curioso e com medo ao mesmo tempo, Sampaio dava mostras de não ser flor que se cheire. Naquele momento a voz de Ricardo soou em seus ouvidos, a vontade que tinha era de matar o homem à sua frente, mas este parecia ser bem articulado, alguém que com certeza não daria um passo tão sério sem que tivesse garantias.
- Lutar! – Sampaio o olhou. – Você terá um quarto seu numa pensão, algumas regalias sempre que ganhar...
- E se eu perder? – Beto o interrompeu.
- Sugiro que não o faça. Lá dentro as perdas não são bem vistas, eu perco dinheiro e paciência com os que perdem... – Ele disse em tom de ameaça.
- Entendi...
- Olha Beto, normalmente eu trato diretamente com cada lutador meu, eles sabem dos riscos que correm quando aceitam lutar pra mim, mas o seu avô te “vendeu” por esses dois anos... E devo dizer que não foi o primeiro, mas pelo que vi você foi bem treinado, não tente nada que te prejudique, pois o primeiro a sofrer seria o promotor, depois você e por último eu cuidaria do seu avô! – Sampaio falou calmamente. – Já tenho homens vigiando o rapaz, assim que assinei o contrato me certifiquei de que ele seja muito bem acompanhado...
- Não precisa mexer com o Ricardo! – Beto gritou.
- Fala baixo, porra que eu não sou o teu avô! – Ele falou seguro. – Uma ligação e eu destruo tudo que você considera precioso. Guarda essa raiva que tu tá sentindo pra mais tarde, no ringue tu descarrega! – Sampaio falou.
Beto estava novamente numa situação complicada, agora não era simplesmente o avô com quem tinha de se preocupar, mas com Sampaio...
“Logo agora que as coisas estavam se resolvendo” – Ele pensou enquanto o carro se afastava da paisagem bucólica da chácara e se aproximava da cidade grande.
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Ricardo não conseguia parar de chorar há mais de três horas, sua cabeça já latejava, mas a felicidade que sentia inundar todo o seu ser era mais forte que qualquer coisa. Ouvir novamente a voz de Beto reacendeu nele a certeza de que todos aqueles anos separados não foram capazes de destruir o sentimento entre os dois.
- Ana? – Ele ligou para a única pessoa que passou em sua cabeça naquele momento.
- Ricardo? Que houve? – Ela perguntou alarmada.
- Ele me ligou! – Ricardo falou segurando o choro e fungando.
- Ele quem?- Um minuto de silêncio entre os dois – O Betão? – Ela estava estática em casa.
- Sim, acabamos de nos falar, ele reiterou que volta. Só tem que resolver algumas coisas!
- Que coisas, meu deus? – Ela estava aflita, sabia o quanto aquela história mexia com o seu primo.
- Não deu pra falar, ele não me disse onde estava, mas me garantiu que não demora! – Ricardo estava com o peito cheio de esperança.
- Ricardo, vem esse fim de semana pra cá, a gente precisa conversar sobre isso. – Ela sorriu – Agora tudo vai dar certo pra vocês, tenho fé! – Ela falou esperançosa.
- Tudo bem, eu vou. A não ser que ele chegue antes... – Ele sorriu como há muito tempo não acontecia.
Naquele fim de semana ele foi visitar a família, conversou com a prima, contou todas as minúcias da ligação, todas as respirações, entonações, conjecturas próprias. Os dois riam juntos de felicidade.
Um mês se passou e Ricardo não aguentava mais de ansiedade, todos os dias escrevia e-mails para Rômulo, o investigador procurava responder com rapidez, mas mesmo assim sentia que havia algo diferente, pois Beto não parecia disposto a esperar muito para voltar a convivência com Ricardo. Resolveu investigar antes de responder o último email de Ricardo, foi até a chácara, circulou por ali, conseguiu rastrear as ligações de Cristóvão e descobriu a verdade. Betão agora lutava num ringue clandestino. Foi até o local e conseguiu assistir a uma luta.
- E agora vocês vão presenciar o nosso Pit Bull! – Dizia um locutor tão sensacionalista quanto o João Kléber.
Rômulo teve que se controlar para não subir ali e arrancar Beto daquela arena. Viu que ele iria lutar contra dois homens enormes, segurou a respiração e acompanhou todos os golpes, poucos chegaram a atingi-lo e em menos de vinte minutos os dois gigantes jaziam desmaiados no ringue.
- Cara, como a gente faz pra falar com os lutadores? – Ele conseguiu se aproximar de um dos homens que estavam fazendo a limpeza do ringue, depois de ver Beto desaparecer como num passe de mágica.
- Ih cara, ninguém fala com eles, só se tu conseguir autorização ali com o coroa – O homem apontou para Sampaio. O choque percorreu o corpo de Rômulo, aquele era Humberto Sampaio! O homem que o vendeu a Cristóvão agora estava controlando Beto...
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