Eu acordei e senti cheirinho de café. Meu coração de repente se alegrou, eu lembrava daquele cheirinho. Ele tinha o hábito de fazer café pra gente. Eu levantei rapidamente da cama, em um pulo só, mas quando eu coloquei os pés no chão, eu lembrei que não poderia ser ele. É incrível como nossa mente prega peças na gente. Por mais que já se passasse um ano, eu ainda sentia todos os dias a esperança de vê-lo novamente.
Eu olhei no quarto da Sophie e ela ainda dormia. Eu desci e fui para a cozinha, lá o Thi fazia café.
- Oi, bom dia! – Ele disse quando me viu
- Oi! Quem te jogou da cama?
- Ninguém! Eu acordo cedo agora.
- No domingo?
- É, no domingo, não. Mas, hoje eu acordei.
- Não precisava, Thi. Não precisava vir pra cá fazer café.
- Eu sei, mas eu quis. Senta aí, já tá quase pronto.
Eu fiz o que ele mandou. Fiquei sentado esperando ele terminar de fazer o café.
- Quer ajuda aí?
- Não precisa! Sei que não sou chef e corro um sério risco fazendo café da manhã para um, mas acho que vai ficar bom...
- Tu conseguiste te achar na minha cozinha?
- Claro! Tu és metódico, então tu sempre guardas as coisas no mesmo lugar e se não é no mesmo lugar, é em um lugar bem parecido, bem previsível. Eu ainda lembro onde tu guardas as coisas.
- Memória de elefante, viu?
Ele sorriu. Ele demorou mais um pouquinho e finalizou nosso café.
- Olha só quem aprendeu a se virar na cozinha. – Disse quando ele colocou o café na mesa
- Pois é, tive que aprender, né? Agora que a mamãe tá namorando, eu fico sozinho em casa. Aí, eu tenho que me virar - O celular dele tocou – Espera aí um minutinho deixa eu atender. É o Heverton.
- Tá bom! – Eu continuei tomando café tranquilamente
Ele foi lá para a área externa e atendeu o telefone, ficou um bom tempo para lá. Foi o tempo de eu terminar meu café e de a Sophie acordar, então eu subi e fui pegar minha filha. Quando nós descemos, Thi já estava tomando o café dele novamente.
- Oi, princesa Sophie! – Ele disse para ela – Vem com o tio, vem?
Ela olhou para ele e grudou no meu pescoço. Quando ela acordava, ela não ia com ninguém, mas ninguém mesmo além de mim. Nós dois éramos o grude um do outro. Deus o livre eu dormir sem minha filha, não conseguia. Mamam sempre tentava leva-la para passar um dia na casa dela, mas eu não deixava de jeito nenhum.
- Ela não vai contigo agora, não. Icho é um apego shó com o papai dela, né filha?! – Eu disse dando um cheirinho na bochecha dela – Tá com fome? – Ela só balançou a cabeça
Eu preparei o café dela, com ela no colo, pois eu já era acostumado a fazer isso. De manhã, como éramos só nós em casa, e como ela era bem manhosa pela manhã, eu fazia tudo com ela grudada em mim. Eu fiz uma vitamina para ela, eu não gostava de dar mingau para ela, pois esses mingaus industrializados vêm muita besteira junto. Eu fiz uma vitamina e fiz um sanduiche para ela. Após estar pronta, eu sentei e a coloquei no meu colo. Ela foi tomando o café dela.
- Cara, como tu consegues fazer tudo isso com ela no colo? Parece até índio, meu. – Thi disse rindo
- Quando tu tiveres filhos, tu vais entender. – Eu sorri também – E aí, tudo bem com o Heverton?
- Tudo, sim!
- Não tiveste nenhum problema por estares aqui?
- Não! O que tu vais fazer mais tarde?
- Acho que vou para a casa da Mamam.
- Vamos almoçar fora?
- Não! Eu já te aluguei demais.
- Até parece... Vamos!
- Não, Thi! Acho melhor não.
- Poxa, tu vais me deixar sozinho mesmo?
- Ô engraçadinho, tu tens teu namorado, liga pra ele e o convida para almoçar.
- Enjoado! – Ele disse fazendo careta
Sophie e ele terminaram de tomar café, ele fez questão de arrumar tudo.
- Tu tens certeza que não queres ir almoçar?
- Tenho, sim! Vai lá, vai!
- Tá bom... – Ele suspirou e me abraçou – Tchau!
- Tchau! Bom almoço!
Eu passei o dia em casa, na verdade. Nem fui para a casa dos meus pais. Eu já estava acostumado a ficar só com a Sophie em casa. No finzinho da tarde Dudu e Pi trouxeram lanche e nós lanchamos juntos. Eles ficaram até umas 20h conosco e depois foram para casa. Na segunda feira, eu não fui trabalhar pela manhã, eu troquei de turno com o Pi. Eu fui a concessionária comprar meu carro, já estava tudo pronto. Eu iria comprar meu carro. E assim eu fiz, comprei meu carro. Escolhi um Golf preto. Eu iria busca-lo no outro dia, pois ainda precisava ser emplacado.
Agora, eu iria parar de depender dos outros e de ficar andando de ônibus ou de taxi pela cidade. Como eu havia trocado de turno com o Pi, naquele dia, a Sophie teve que dormir com a Mamam, à noite era bem complicado dela ficar na casa da avó, pois ela era acostumada a dormir comigo, Mamam me ligou várias vezes na noite, pois a Sophie não parava de chorar. Infelizmente, eu não pude sair do restaurante, estava lotado e eles dependiam de mim. Mamam teve que acalmar a Sophie sozinha.
No outro dia eu fui trabalhar pela manhã normalmente e após o almoço eu fui pegar meu carro. A primeira coisa que eu fiz foi pegar minha filha na casa da Mamam e dar umas voltinhas com ela. Era com ela que eu dividia os poucos momentos de felicidade que eu tinha. Eu passei no centro comercial da cidade e comprei logo uma cadeirinha para ela, e já instalei no carro. Quando o Dudu e o Pi viram eu chegar de carro em casa, eles fizeram a maior festa.
- Aêêêêêêêêêêêêêêêêê!!! Já era hora de ter teu carro! – Dudu veio me parabenizar
- Só falta eu, agora. – Pi disse me abraçando e roubando a Sophie da cadeirinha
- Tu já colocaste até cadeirinha para ela?
- Claro! Ela que é minha passageira, ora.
- Tá certíssimo, primo!
Thi passou de noitinha em casa, e trouxe a Jujuba e a Bruninha junto, para ver meu carro também.
- Aaaaaah viado, eu preciso dar uma volta nesse possante!
- Que possante que nada!
- É lindo esse carro, amigo!
- É, né? Eu fiquei louco por ele também.
- Parabéns, mano! – Thi me abraçou – Fico muito feliz por ti e por mim É CLARO! Agora, eu tenho quem me traga louco de porre para casa.
- Vai sonhando, vai... vai sonhando...
- Vamos dar uma volta, vai... Vamos inaugurar o possante! – Jujuba disse e todos se enfiaram no carro, Jujuba foi na frente com a Bruninha e os meninos atrás se apertando com a Sophie e a cadeirinha dela.
Claro que eu só dei umas voltinhas pelo bairro, eu não era louco de ir muito longe, pegar transito com um bando de gente dentro do carro e mais duas crianças.
- Cara, esse carro é show! – Thi disse
- Deixa de ser besta que o teu é igual!
- Mas o meu é modelo antigo, essa nova versão tá linda demais. Quero um assim pra ontem.
- Besta!
Nós entramos em casa e resolvemos pedir pizza para comemorar. Nós todos estávamos lá como nos velhos tempos, só faltava o Bruno.
- Duas pizzas dão, né? – Pi perguntou
- Dão, sim! – Jujuba falou
- Se fosse o Bruno ele teria pedido umas 20 pizzas. – Eu disse rindo
Era a primeira vez que eu falava assim dele. Era a primeira vez que eu sorria lembrando dele.
- É verdade! – Todos concordaram.
- Ele pedia tanta pizza que ficava para o café da manhã do outro dia. – Eu disse rindo e chorando ao mesmo tempo.
- Oh, amigo, não chora. – Jujuba disse limpando minhas lágrimas
- Não, tudo bem, Ju! Eu tô feliz! De verdade!
Era uma saudade boa dessa vez. Não que as outras fossem ruins, mas as outras sempre envolviam a tristeza de não o ter mais comigo.
- Bom, enquanto a pizza chega, eu vou fazer algo para a Sophie comer.
- Ela come pizza, mano. – Dudu disse
Não, Titio! – Sophie disse
Todos nós caímos na gargalhada.
- Olha aí, olha aí... Ela não come pizza de jeito nenhum, gente.
- O que é que tu fazes com essa menina? – Jujuba perguntou
- Nada! Ela é assim, Jujuba. Eu é que não vou força-la a comer nada. Se ela não quer, ok.
Eu fui para a cozinha e a Jujuba foi comigo. Eu ia fazer uma macarronada simples, a Sophie amava macarronada, de frango, por que ela também não gosta de carne vermelha. Sim, minha filha é muito diferente, quando se fala em alimentação, das outras crianças. Acredito que o exemplo é tudo, sabe? Desde quando ela era bebezinha, ela nunca presenciou a gente comendo besteira. Eu também nunca fui de comprar e nem oferecer a ela, ela sempre comeu comida de verdade. Nunca fui de dar dinheiro para a tia da creche comprar lanche para ela. Eu sempre mandei o lanche dela prontinho. Se era um sanduiche, era um sanduiche saudável. Se era bolo, este também era saudável. Aí está a vantagem de ter um pai chef de cozinha.
Já que eu estava com a mão na massa literalmente, eu fiz logo uma macarronada grande. Eu sabia que os esfomeados, Dudu e Thi, iriam querer. O plano era fazer rapidinho com a ajuda da Jujuba, mas a gente mais conversava do que cozinhava. As crianças ficaram sob a responsabilidade dos tios. Jujuba tinha escolhido dois padrinhos ao invés de ser padrinho e madrinha. Ela com certeza daria um nó na cabeça da filha mais tarde, mas tudo bem.
Thi e eu erámos os padrinhos da Bruninha, então, ela ficou sob completa responsabilidade do Thi. Já a Sophie, ficou grudada com o tio Pipi, como ela o chamava. Quando a pizza chegou, nós já estávamos finalizando a macarronada. E como tanto a pizza quanto a macarronada demoraram, todo mundo estava para morrer de fome.
- Tem vinho aí? – Thi perguntou quando sentamos para comer.
- Tem, mas tu não vais beber, não. – Eu sentei e coloquei a Sophie no meu colo, eu comia e dava comida para ela ao mesmo tempo
- Por que não?
- Por que tu estás dirigindo, ora.
- Eu durmo aqui.
- E por acaso aqui é hotel? – Dudu perguntou, eles se amavam, mas morriam de ciúmes um do outro.
- Dudu, vai encher o saco da Jujuba, vai. Faz muito tempo que vocês não querem se matar.
- Eu tô deixando a macumbeira com as teta arriada em paz por enquanto, ela tem a Bruninha para cuidar, agora.
- Teta arriada tem a tua mãe, filho de puta!
- Ei, olha a boca! – Eu protestei – Agora, nós temos duas crianças, maluca.
- Olha, eu já estava sentindo falta disso aqui, viu? – Pi disse – Há quanto tempo a gente não senta? Todos juntos, eu digo. Quanto tempo a gente não sorri todos juntos?
- Desculpem-me, eu sei que essa ausência toda é minha culpa.
- Não, primo! Não foi isso que eu disse... eu só disse que eu estava com saudade de estar com vocês.
- Eu fui um mala, eu sei.
- Não, tu só estavas sofrendo e todos nós entendemos isso. Mas vamos esquecer isso.... Alto-astral, aqui!
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaah, fofoca, fofoca, fofoca... cês sabem com quem eu encontrei um dia desses no hospital?
- Quem, fofoqueira? – Dudu perguntou
- Vai tomar...
- Jujuba!!!! – Eu a repreendi
- Tá... tá... Bom, eu encontrei com a Loh.
- Quem é essa aí mesmo? – Thi perguntou – Depois que ela se arranjou lá com o ricaço, ela esqueceu de todos nós.
- Tenho que concordar com o Thi, Ju.
- Eu sei, eu sei... Vocês acreditam que ela nem veio falar comigo, aquele projeto de piranha? Eu que tive que falar com ela? Ela ficou toda sem graça.
- Que pena que ela se afastou de nós... eu gostava muito dela.
- Eu também! Ela era a minha coleguinha no meio de um mar de viado.
- Essa não tem jeito! – Eu disse rindo
- Ei, vamos tomar vinho, vai?
- Não! Alguém tem que ir deixar a Jujuba.
- Ah, quanto a isso não se preocupem. Daqui a pouco o senhor meu esposo vem pra cá. Ele me leva.
- Aêêêêêê, pinga liberada! – Thi comemorou
- Olha, só te digo uma coisa, se o Heverton vir aqui comprar briga, eu vou soltar o Sheep em cima dele.
- É capaz dele morder o Sheep e não o contrário. – Thi disse rindo
- Que horror! – Eu disse
- Thi, mas tu não tens sorte mesmo, viu? O que tu ainda fazes com esse menino, ele odeia a gente.
- Jujuba! – Ele disse
- Arra! Eu sabia, eu sabia! Algo me dizia que ele não tinha ido com a minha cara, por isso ele nunca aparece quando estamos todos juntos, né? – Eu disse
- Não era para falar, Jujuba!
- E eu sou baú por acaso?
- Bocuda!
- Por que eu não poderia falar?
- Agora, o Antoine vai encher minha paciência... Eu venho aqui com ele e toda hora ele manda eu ir ver o Heverton por que ele não gostaria de nos ver juntos e blábláblá
- E ele está certíssimo. Ou tu largas aquela bichinha escrota, ou assume de vez.
- Olha, é muito difícil eu falar isso, mas eu concordo com ela. – Dudu disse
- Epa, meu relacionamento não está na roda de conversa, viu?
- Tudo bem! Mas a gente só está te aconselhando, ou assume ou cai fora. – Pi disse
- Até tu, Pierre?
- O que? Estamos todos certos e tu errado. Simples!
- Tá! Vamos encerrar esse assunto.
- Tudo bem! Mas, nós te avisamos... – Pi disse
- Ju, como andam os preparativos para a primeiro aninho da Bruninha?
- De vento em polpa, o Jean está todo animado.
Foi impossível não lembrar do Bruno. O primeiro aninho da Sophie foi especial graças a ele, ele era a felicidade pura naquele dia.
- Vai ser inesquecível! – ela continuou
- O primeiro aninho tem que ser inesquecível mesmo, o da Sophie foi.
- Quero saber cadê o vinho...
- Ai, coisa chata, vai lá na adega pegar.
- Assim que eu gosto!
Thi foi até minha cozinha, pegou o vinho e as taças.
- Tu tá pobre de vinho, viu?
- Eu não tenho o habito de beber, Thi. Então, é raro eu comprar. Eu compro mais para usar na cozinha.
- Tu não eras assim... Antes tu bebias bastante vinho, era a tua bebida favorita.
- Antes eu não tinha uma filha, né? Aí está a desvantagem de morar sozinho, eu não posso beber, por que se eu fico meio tonto, quem cuida dela?
- Chama os amigos para beber, ora. A Jujuba não bebe mesmo, ela olha a Sophie e a Bruninha.
- Olho mesmo!
- Papa, maisi! – Ela estava toda lambuzada
- Filha, tu já comeste bastante. Tá bom, né?
- Maisi, papa!
- Mostra a barriguinha aí...
Ela levantou a camisa e mostrou a barriguinha.
- Caramba, tá um barrigão, agora. Tá bom já!
- Maisi, papa!
- Não pode, filha!
- Puquê?
- Por que se tu comeres mais, tu podes ficar dodói... Aí, o papai vai ter que ir contigo para o hospital, tu vais ter que tomar remedinho. Tu queres ir para o hospital?
- Não!
- Então, vamos fazer o seguinte. O papai guarda um pouquinho pra ti e amanhã tu comes, tá bom?
- Tá!
Ela ficou sentadinha na minha perna e não me pediu mais.
- Vocês sabem o que eu lembrei um dia desses? – Jujuba falou
- O quê? – Dudu perguntou
- Eu lembrei que tu eras todo metido a el comedor na universidade.
Eu cai na gargalhada. Era verdade.
- Não entendi o motivo da risada.
- Mano, é verdade. Tu eras todo, todo na universidade.
- Ah, é, é? – Pi se pronunciou – O que ele aprontava?
- Cada dia era uma menina diferente. – Thi disse
- Ele enchia a boca para falar que nenhuma mulher o prenderia.
- Ele só não esperava que um homem o amarraria – Thi disse caindo na gargalhada e todos nós rimos horrores
- Eu estava esperando a pessoa certa.
- Ah, eu sou a pessoa certa?
- Claro amor! – Ele deu um beijinho no Pi
- Eu tenho certeza que se o Antoine tivesse mais um amigo homem, esse já teria virado viado. Ele converte todos!
- Teu marido é amigo dele, toma cuidado, tetuda! – Dudu disse
- É verdade, Jujuba!
- Querido, ele é amigo dele antes de ti, antes até mesmo de mim. Se fosse para virar viado, já teria virado.
- Quem sabe o que ele fazia antes de ti... Olha, olha...
- Dudu, vai-te...
- Jujuba!
- Aaaaah!!! Vai-te pra puta que te pariu! Pronto, falei!
- Ai Deus, a Bruninha vai aprender a mandar alguém se foder antes de aprender a falar mamãe. – Pi disse
- Fodê! – Sophie falou
Eu me assustei! E rapidamente cobri os ouvidos dela.
- Tá vendo, é por isso que eu não quero ninguém falando palavrão aqui. Eu tenho um gravador em casa, agora. Tudo o que a gente fala, ela repete.
- Desculpa! Desculpa! Desculpa! Esqueci do nosso papagaio. – Pi disse
Nós ficamos conversando e bebendo até tarde, acabou que todo mundo dormiu lá em casa, mesmo a Jujuba dormiu em casa com a Bruninha. Fazia tanto tempo que a gente não tinha uma noite como aquela, que todos se recusaram a ir embora. A Sophie fez a maior festa a noite toda, ela adorava ficar com os tios. Ela passava de colo em colo, feliz da vida.
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Oi, gente! Sei que não estou comentando, mas vocês entendem, né? Eu repito mais uma vez: MUITO OBRIGADO POR TODO O CARINHO! Um beeeeeeeeeeeeeeeeijo enoooooooooooooooorme em todos!