Chegamos cada um com um óculos escuro na universidade. Só faltava um terno preto pra cada, para virarmos “MIB os homens de preto”...e uns alienígenas também.
- Vamos ficar mudos até quando?- perguntou Rebeca- Porque estou louca pra falar da escrotisse que Mauro desferiu pra gente.
- Eu só estava esperando alguém falar...porque estou louca pra xinga-lo- falou Flávia.
- A gente tem Bioética agora. Temos que comparecer. Aquela vaca não escutou eu gritando presença lá do fundão e me deu falta semana passada- sim...quando eu estava nervoso eu xingo tudo e todos.
- Verdade...temos o trabalho dela pra fazer também- completou Alexandra- E ELE está conosco- disse exclamando a palavra.
- Conversamos por whats e quando for a aula de Introdução do Direito, saímos da aula...ninguém merece aqueles slides vagabundos daquele rabugento- disse eu pisando forte
- Você está com a macaca Marcos!- disse Rebeca espantada
- Não é só por causa de Mauro que estou assim- olhei pra ela e completei- e nem com nenhuma de vocês. É com o Yuri. Mas quando sairmos da aula eu conto.
- O que ele fez?- perguntou rapidamente Rebeca
- Depois eu conto- disse segurando um pouco o choro...eu não ia aguentar muito tempo. Eu não sou como meu pai que é forte emocionalmente.
Entramos e logo após responder a chamada daquele ser ruminante da professora de Bioética disse que teria que sair da aula...falei por whats.
Sai do bloco C perdido nos meus pensamentos. Agora a tarde só os cursos de Direito, Medicina, Odontologia e Enfermagem tinham aula. Fui pro bloco F de Economia, que estaria deserto agora. Sentei no chão em um canto discreto onde só o que via, eram árvores.
Ali sentei, tirei meus óculos escuros e chorei. Chorei pelas palavras de Mauro. Pela cena e decepções com Yuri. Pelo meu irmão.
Droga...eu não queria mais voltar para aquele apartamento. Eu não queria ter contato visual com Yuri...e nem verbal.
Eu queria que meu pai estacionasse seu carro aqui em frente da universidade e me levasse pro RS. Sem ter que ir pro apê. Queria descer do carro e encontrar minha mãe brigando com meu pai por ele ter ido no mercado e comprado a marca de leite condensado errada. Queria meu irmão puxando no meu pé a noite pra assistir a vigésima vez Madagascar com ele. Queria meus amigos pra gente sair da aula no meio dia e ir almoçar junto e rir de tudo e todos e depois voltar pra aula na maior preguiça e pra acabar bem o dia fazer o maior fuzuê com eles no ônibus.
Queria reviver tudo isso de volta. Cadê o reset?
Depois de chorar o suficiente, fui ao banheiro lavar meu rosto. Não adiantou muita coisa. Passei na lanchonete do bloco B e comprei algo pra comer...estava a muito tempo sem comer algo. Depois disso me dirigi pra sala. Coloquei meu óculos escuro e entrei. Sentando no meu lugar de costume.
Talvez eu não tenha aproveitado nada daquela aula.
Na aula de Introdução do Direito fizemos o combinado. Ficamos até os 30 primeiro minutos da aula. E fomos saindo um de cada vez. Todos para uma área bem tranquila da universidade. Mauro não apareceu nas aulas...era esperado isso. Deixaria elas falarem dele, pra daí, eu contar de Yuri.
Após elas falarem de Mauro (eu não falei nada além de “sim, aham, não, quem sabe”), todas as 3 se calaram e me olharam me senti mal de novo e tudo aquilo tinha voltado. Começou a escorrer uma lágrima de novo. DROGA!
- Mds Marcos...o que esse garoto fez?- perguntou Rebeca preocupada. Peguei o celular com a foto e mostrei pra ela. Dei o celular na mão dela - Mds!
- Isso é meu quarto e minha cama- disse olhando pra baixo na tentativa de conter a droga daquelas lágrimas.
As outras viram e foi um show de expressões e consolo e palavras de ódio contra Yuri.
- Eu não sei se consigo olhar pra cara dele...e se eles estiverem lá ainda!?- falei mais calmo com Alexandra e Flávia ao meu lado e Rebeca a conselheira em minha frente.
- Você tem que enfrentar a situação viado!- disse enfática
- Para de me chamar de viado...
- É isso que você está parecendo. Um viadinho...já chorou...já te consolamos e agora chega. Honre a cueca que você veste e enfrente! É ele que tem que chorar e ele que tem que ficar envergonhado. Você vai sair por cima dessa ainda...você vai sambar na cara desse safado.
- Mas como?- ela tinha certa razão nisso...não ia adiantar ficar chorando pitangas
- Escuta o que você vai fazer. Você vai deixar ele mal pelo silêncio.
Não vai puxar assunto e vai encurtar as conversas quando elas forem necessárias.
Farei um mantra desse ensinamento da Rebeca. Mal pelo silêncio. Acho que eu faria a mesma coisa sem seu conselho, mas ela me dizer isso, foi tipo um aval...uma permissão. Uma certeza que atingiria meu objetivo. Talvez eu fosse um pouco vingativo...mas esse é o preço. Mas iria tirar uma casquinha também. Eu não estava mais tão triste...ódio estava me consumindo de novo.
Não quis a carona da Rebeca...iria voltar a pé. Pensando no que ia fazer.
A cada degrau que subiu me dava um misto de ansiedade, receio e raiva. Cheguei em frente da porta. Olhei no celular antes. No whats tinha 3 mensagens dele. Perguntando onde eu estava...isso a 2hrs e 30min atrás. Foda-se. Nem tinha visualizado.
1,2, 3.
(nota do autor): seria muita filha da putagem eu parar aqui né!? Haha
Entro respirando fundo...que nervoso. Situação comparada a entrar na sala de aula pela primeira vez. Ou ser o cara que vai apresentar um trabalho na escola antes de todo mundo.
Organizado. Tudo estava como antes. Espero que meu quarto não esteja como antes. Depois que faço barulho com as chaves ele surge da penúltima porta do pequeno corredor. Era seu quarto. Pelo menos não iria ter que ver aquela cena nojenta de novo.
- Oi, tudo bem?- algo de diferente havia em sua voz
- Tudo- ele sentou em uma cadeira da mesa. Estava sem camisa e de cueca vermelha. Eu nem estava ligando mais pra isso. Só sentia repulsa de olha-lo- Se divertiu enquanto estive fora?- perguntei me encostando na pia da cozinha, ainda com a mochila nas costas.
- Ahhhhh...hum...eu- visivelmente ele não esperava essa pergunta. Iria adaptar o jeito de ser que Rebeca me ensinou.
- Eu sei que sim- disse passando por ele e batendo minhas mãos em suas costas- Um tempo prazeroso!- me dirigia ao meu quarto quando ele perguntou:
- E esses chupões no seu pescoço?- perguntou ainda de guarda baixa
- Assim como você tem Monica, eu também tenho com quem dar uns pegas hahaha- essa foi bem forte...eu sei. Eu iria dar a entender que eu sabia (e eu sabia mesmo) e depois usar a técnica do silêncio.
Meu quarto estava com a porta aberta. Assim como deixei ontem à tarde. Mas logo veio aquela cena em mente. Nojo.
Eu nunca encostava minha porta. Sempre aberta. Só a do banheiro eu fechava. Mas naquele momento eu fechei a porta e fiz questão de chavear fazendo barulho com a chave, para ele ouvir. Essa era a intenção.
Tudo estava como estava quando deixei. O que me deixava com mais raiva porque se ele estivesse bêbado ele ia lembrar de todos os detalhes? O banheiro também. O box estava seco. Pelo menos aqueles nojentos não mexeram aqui.
Tomei um banho pra pensar no que acabei de presenciar e ver como ia me comportar a partir disso.
Retirei aquele lençol e a fronha do travesseiro. Pode ser criancice o que iria fazer, mas não conseguiria dormir em cima daquilo de novo. Coloquei numa sacola transparente e sai do quarto. Ele estava no mesmo local, olhando pro nada.
- O que vai fazer com seu lençol?- perguntou quando passei por ele. Parei em frente da porta e contei um episódio da minha vida pra ele, que iria a dar a entender o porquê daquilo.
- Ano passado meu irmão pegou meu notebook e ficou mexendo nele. Fui pegar de volta e como ele não queria me devolver eu dei um tapa meio forte na sua mão. Ele foi direto contar pra minha mãe, e como meu pai estava perto, acabou ouvindo também. De punição, passei o dia, das 06:40 da manhã até às 19:15 da tarde capinando a plantação do meu pai. Com duas pausas de 15 minutos. Eu usava uma camiseta velha pra fazer aquilo. E quando acabou e tirei ela de mim, fedia suor...sujeira. E sentindo o cheiro desse lençol o aroma da minha camiseta daquele dia me vem à mente- contei essa história e desci pra jogar no lixo aquilo.
Voltei e ele não estava mais lá. Devia estar no quarto. Entrei no meu e senti vontade de tacar fogo naquele colchão. Ou melhor, dar pra algum morador de rua. Mas como ia pedir dinheiro pra minha mãe pra comprar um novo? Ia ter que enfrentar. Na verdade eu nem cheirei o lençol...eu só inventei que fedia. Não fedia no sentido literal, mas no simbólico sim. Demais.
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Agradeço: Hello 👌 ,maiki y^o^y ,Tozzi,Yon_Boy ,Sr.Malfoy,magus,samhunt ,henrinovembro,NiKolas V.!,Bruno Jovovich , M@rcinho ,shacka , K-elly ,Marimarina ,Ru/Ruanito ,Atheno ,VictorNerd,nayarah,Plutão ,Diego21 ,mathsxd ,Geomateus,Udinov , Zhane, Marcos Costa , i!want!you!P@#&%!!!,Flor de maio, Augusto 2016.
Diego21: não se preocupe...juan e flávia contribuíram mt pouco pra história...quase nada. e n entendi sua pergunta...haha sorry!
Desculpe atrasar hj. Ultimo dia aqui no RS antes de voltar pra SP.
Adoro vcs <3...bem vindos os novos :)