- Papa! – Eu acordei com a Sophie quase comendo meu nariz, pois ela estava com o rostinho beeeeem próximo do meu
- Oi, filha!
- O shorurá! – Ela me deu o celular
- O que foi?
- Fez pilinlin.
Eu verifiquei e tinham algumas mensagens.
“OIII!! TUDO BEM?” - Thi
“OIIIII!!” – Jujuba
“OIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII” – Jujuba
“Ô CARALHO RESPONDE A PORRA DA MENSAGEM!” – Jujuba
“AI MEU DEUS... TÁ VIVO?” - Jujuba
“TÁ TUDO CERTO, MEU PROFESSOR VAI CUIDAR DE TUDO LÁ” – Pi
“TU VIAJAS EM DUAS SEMANAS” – Pi
Eu quase enfartei com essa.
“OIII! CADÊ TU?” – THI
“VIADO DO CARALHO, EU VOU ARRANCAR TEU PAU SE TU TIVERES MORRIDO”- Jujuba
“VIADO, EU TO BEM, EU SÓ DORMI”- Mandei para a Jujuba
“OIIIII! DESCULPA, EU ESTAVA COCHILANDO” – Mandei para o Thi
“TU QUERES ME MATAR? COMO ASSIM VIAJO EM DUAS SEMANAS? TÁ LOUCO?” – Mandei para o Pi
O único que logo respondeu foi o Thi.
“TÁ TUDO BEM?”
“TÁ, SIM! E CONTIGO?”
“BEM TAMBÉM!”
“VOU DAR UMA PASSADINHA AÍ CONTIGO”
“AI, THI, ACHO MELHOR NÃO. TENHO UMAS COISAS PARA ORGANIZAR AQUI...”
“HUUUM... TÁ BOM, ENTÃO”
Ele não me mandou mais mensagens. Ninguém me mandou mais mensagem, na verdade. Eu me levantei, mesmo meu corpo pedindo para ficar deitado... Eu tinha que cuidar do jantar, pois minha barriga doía de fome. Fui para cozinha e meus dois seguidores vieram juntos, Sophie e Sheep.
- Papa, quicho?
- Isso é cenoura.
- Pode cumê?
- Pode, filha!
Eu cortei a cenoura beeeeem fininha para ela, e ela pegou e começou a comer. O engraçado é que a cenoura cozida ela não comia, eu tinha que engana-la.
- É gostoso, Sophie?
- É!
Ela saiu correndo com o Sheep logo atrás dela. Eles ficaram brincando lá pela cozinha enquanto eu cozinhava. Após eu terminar de fazer nosso jantar, eu dei um banho nela, pois ela estava cheirando a Sheep. Nós jantamos e ficamos assistindo filmes infantis, ela na verdade. Eu já não aguentava mais assistir tanto filme infantil, tanta galinha pintadinha, tanto Xuxa só para baixinhos, ela assistia direto. Eu já sabia todas as musiquinhas.
Como nós acordávamos bem cedinho, ela dormia bem cedinho também. Ela nunca foi uma criança de dormir à tarde, ela ficava pescando, mas não dormia a danada. Eu também nunca forcei. Às 21h/21h30 ela já estava dormindo. Eu sempre tinha um tempinho para mim já que ela dormia cedo. Eu fiquei deitado, na sala de vídeo ouvindo música. Eu gostava de fazer isso, isso me relaxava.
“OII!” – Thi mandou mensagem
“OIII!”
“TUDO BEM AÍ?”
“TUDO SIM E AÍ?”
“BEM TAMBÉM...”
“PENSEI QUE ESTAVAS CHATEADO POR NÃO TERES VINDO AQUI”
“E ESTAVA MESMO!”
“E JÁ PASSOU?”
“JÁ MAIS OU MENOS!”
“O QUE FAZES?”
“NADA! TÔ DEITADO... É RUIM FICAR AQUI SOZINHO”
“OOOOW, TADINHO DELE! HAHAHA”
“NÃO RI DE MIM!”
“ISSO É CRISE DO FILHO ÚNICO, THI!”
“NÃO É, NÃO!”
“SE TU TIVESSES MAIS UNS DOIS OU TRÊS IRMÃOS TU NÃO TE SENTIRIAS ASSIM, TU DARIAS GAÇAS A DEUS POR ESTAR SOZINHO”
“NÃO! NÃO GOSTO DE FICAR SOZINHO! COM OU SEM IRMÃO. E TU, O QUE ESTÁS FAZENDO?”
“NADA TAMBÉM! SOPHIE DORMIU AGORA A POUCO E EU ME DEITEI PARA DESCANSAR UM POUQUINHO”
“NEM TE VI, HOJE”
“POIS É...”
“TU ESTÁS CHATEADO?”
“EU? NÃO! POR QUE?”
“SEI LÁ... TÔ COM A IMPRESSÃO DE QUE NÃO QUERES ME VER”
“É IMPRESSÃO TUA, BESTA”
“HUUUUM... FIZ ALGO DE ERRADO?”
“NÃO, BOBO! COMO TU FALASTE, ISSO É SÓ IMPRESSÃO TUA”
“TA BOM... TUDO CERTO PARA O NOSSO JANTAR?”
“AMANHÃ, NÉ?”
“ISSO, ISSO!”
“TUDO CERTO! QUER DIZER, EU NÃO FAÇO A MINIMA IDEIA DO QUE FAZER PRA GENTE COMER, MAS TA CERTO. HAHAH”
“EU LEVO O VINHO!”
“POR FAVOR... POIS EU REALMENTE ESTOU POBRE DE VINHO”
“OLHA, MINHA MÃE DEU O AR DA GRAÇA”
“OOOOW O NENEM ESTAVA COM SAUDADE DA MAMAE”
“SEM GRAÇA!”
“VAI LÁ CURTIR A MAMAE, DEPOIS NOS FALAMOS”
“TA BOM! BEIJO”
“BEIJO”
Eu me divertia com o Thi, como ele era filho único ele sempre foi muito paparicado pelos pais. Então, ele sempre teve a crise do filho único. Tudo na cabeça dele é muito fácil, ficar sozinho é um sacrifício, ele se magoa facilmente, é manhoso... Ele sempre foi um bebezão, na verdade.
Eu fiquei ouvindo minhas músicas e não se passaram nem 30min ele voltou a me mandar mensagem.
“TÁ AÍ AINDA?”
“TÔ!”
“MINHA MÃE SÓ VEIO BUSCAR UMAS COISAS DELA”
“AAAAH TADINHO DO NENEM! HAHAHA”
“SEM GRAÇA, ANTOINE! MUITO SEM GRAÇA!”
“HAHAHAH PRA MIM TEM GRAÇA”
“AGORA ELA FOI DE VEZ PARA A CASA DO NAMORADO”
“MARIDO, NÉ THI?”
“N-A-M-O-R-A-D-O!”
“HAHAHAAH... VAI TE ILUDINDO! ”
“TO COM SAUDADE DE TI... CHATO!”
“EU? CHATO? QUE CALUNIA! HAHAHA TBM ESTOU DE TI!”
“FALASTE COM A JUJUBA, HOJE?”
“ELA ME MANDOU UMAS MENSAGENS, EU RESPONDI, MAS ATÉ AGORA NÃO SEI O QUE ELA QUERIA”
“HUUM... DEVERIA SER ALGUMA MALUQUICE”
“OU NÃO... ELA SÓ TEM MANDADO MENSAGEM ULTIMAMENTE QUANDO TEM ALGUM BABADO”
“VOCÊS SÃO LOUCOS!”
“E TU NÃO ÉS?”
“CLARO QUE NÃO! EU NÃO FICO ATRÁS DE BABADO”
“THI, TU ÉS O MAIS CURIOSO DE NÓS”
“UNRUM, É... SOU EU SIM. TU ESTAS FALANDO DE TI, NÉ? SÓ PODE! AHHAHA”
“AH, EU TENHO QUE TE CONTAR UMA COISA”
“CONTA, UÉ”
“AMANHÃ TE CONTO, POR QUE AGORA EU JÁ TÔ INDO DORMIR”
“MAS JÁ? NÃO VAAAAAAAI!!”
“EU VOOOOOU, SIM! AMANHÃ TEMOS TRABALHO! BEIJOOOO! BOA NOITE! DORME BEM!”
“AAAAAH!! TA BOM, ENTÃO! BEIJOOO! DORME BEM TBM!”
Eu percebi que EU estava sorrindo. EU estava feliz em falar com o Thi. Eu queria falar com ele. Mas eu não podia. Não podia esquecer o Bruno. Não podia enganar o Thi e não podia faze-lo sofrer. Eu gostava demais dele para eu ser o motivo do sofrimento dele. Eu não podia deixar nenhum sentimento além da amizade despertar em mim. Eu não tinha esse direito... Eu fui dormir angustiado, novamente.
#####
Eu saí correndo do restaurante para pegar a Sophie na casa da Maman, eu tinha que passar no supermercado e comprar os ingredientes para fazer nosso jantar. Eu tinha que conversar com o Thi, eu precisava deixar as coisas claras para ele e para mim também. A gente já tinha passado por aquilo, eu sabia onde iria parar. Eu não queria mais parar de falar com ele, eu não queria passar por tudo o que passei.
Passei no supermercado, comprei tudo o que precisava e voei para casa. Deixei a Sophie assistindo filme na cozinha mesmo, pois assim eu poderia ficar de olho nela. Fui logo adiantando as coisas. O Thi chegou logo depois de mim trazendo umas cinco garrafas de vinho.
- Tu queres me deixar porre, né? Só pode!
- Claro que não! Claro que a gente não vai beber tudo, já trouxe pra deixar aqui pra ti. Por que essa tua adega dá vontade de chorar.
Eu só fiz rir para ele e continuei cozinhando.
- Me passa um avental aí, deixa eu te ajudar.
- Tem um bem ali, olha. – Eu disse apontando para a lateral da geladeira
- O que eu posso fazer?
- Podes ir cortando esses legumes. – Eu dei uma bandeja repleta de legumes para ele cortar
Ele sentou no balcão e começou a cortar.
- Falastes com a Jujuba?
- Não! Eu deveria falar com ela?
- Não!
- E por que tu estas me perguntando se eu já falei com ela? Acho que já a segunda vez que me perguntas isso...
- Só curiosidade, ué. Vocês sempre se falam, acho estranho quando não se falam.
- Desde ontem que não nos falamos.
- Estranho isso, hein?
- Ah, quando a gente ta com filho bebe é assim mesmo...
- O que tu querias falar comigo?
- Eu queria falar contigo?
- É, tu me falaste que tu querias me contar uma coisa...
- Aaaaaaah, é verdade.
- O que é?
- Talvez eu vá para a França.
Ele parou de cortar os legumes e ficou me olhando.
- Tu estás brincando, né? – Ele disse rindo
- É... não, Thi.
- Antoine, quem é que vai para outro continente de um dia para o outro?
- Eu?
- Não, isso é uma daquelas tuas pegadinhas. Não vou cair dessa vez!
- Thi, eu tô falando sério. – Eu disse rindo dele
- Tá vendo, tu estás até rindo.
- Eu tô rindo do jeito que tu estás falando. Mas é verdade, sim. Eu vou para Paris daqui duas semanas.
- Tu vais fazer o que lá, Antoine? – Ele foi mudando a expressão sorridente para uma expressão fechada, triste
- O Pi me inscreveu num curso de novas técnicas em gastronomia. Vou estudar na universidade que ele estudou.
- E por que ele não vai?
- Mas por que todo mundo quer se livrar do Pi, gente?
- Por que não queremos que tu vás para lá. Quanto tempo?
- Seis meses.
- SEIS MESES? – Ele deu um pulo da cadeira, assustou até a Sophie que estava quietinha assistindo os filmes dela
- É, seis meses!
- É muito tempo! Muito tempo! Manda o Pi!
- Ele não pode ir! – Eu disse rindo – Ele tem o Dudu, e o Dudu está trabalhando aqui, não pode deixar tudo e ir para lá.
- E por que tu tens que largar tudo e ir para lá?
- Thi, pensa bem... o que eu largaria? Eu tenho meu trabalho, ok? Mas eu estou viajando por ele. Eu tenho a Sophie, e ela com certeza vai comigo. O que me resta? A casa? O carro? A casa e o carro o Pi e o Dudu cuidam para mim. Não tenho nada que me prenda, aqui. É mais lógico eu ir.
Ele me olhou tão tristinho.
- Tá... – Foi só o que ele disse voltando a cortar os legumes de cabeça baixa.
Durante todo o tempo que eu cozinhei nós não trocamos uma palavra sequer. Terminando de cozinhar, eu levei a Sophie para lavar as mãozinhas e sentamos à mesa para jantar. Jantamos em silencio. Ele não falava nada, não levantava a cabeça para nada. Terminando o jantar nós ainda ficamos um pouco na sala de vídeo.
- Thi?
- Oi?
- Vou lá em cima fazer a Sophie dormir, tá?
- Tá! Eu te espero aqui.
- Não queres ir pra casa? – Eu perguntei por que ele não estava muito para conversa
- Não, eu te espero.
- Tudo bem!
Sophie deu um beijo no Titi e nós subimos. Ela demorou um tempão para dormir. Quando eu voltei para a sala de vídeo, ele estava deitado no sofá com o braço direito cobrindo os olhos.
- Ta acordado? – eu cutuquei levemente o braço dele
- Oi! To, sim!
- Vai pra casa, Thi. Tá tarde.
- Tu não me queres aqui? – ele disse olhando nos meus olhos, eu via tristeza ali
- Claro que eu quero, Thi. Mas eu estou vendo que tu estas cansado. – Ele respirou fundo – A gente precisa conversar...
- É, eu estava querendo conversar contigo mesmo...
Eu sentei ao lado dele, mas ele virou de frente para mim ficando na posição de meditação, eu fiz igual a ele, ficamos face a face.
- Thi... – eu comecei mas ele me interrompeu
- Posso falar primeiro? – a voz dele era doce, suave, triste
- Pode, sim...
- Antoine, eu pensei que eu nunca mais te falaria isso, eu jurei para mim mesmo que não te incomodaria com esse assunto, mas eu sou fraco, não consigo – ele respirou fundo – sabe, eu tentei ser feliz. Eu tentei seguir teus conselhos, eu tentei ir atrás da minha felicidade. Eu tentei namorar mulheres, tentei namorar com outros caras, mas com ninguém dá certo. Eu sei que isso é egoísmo meu, eu sei que eu não deveria te falar nada disso. Tu sabes o quanto tu és importante para mim, né? – eu só balancei a cabeça positivamente, eu meio que sabia o que vinha pela frente – Eu nunca quero te perder, eu jamais quero que tu saias da minha vida. Que isso fique bem claro! Eu tentei evitar isso o máximo possível. Eu tentei não sentir nada do que eu estou sentindo, mas eu cheguei a conclusão que eu nunca deixei de sentir isso. Durante todos esses anos, esse sentimento ficou dentro de mim e não importa o que eu faça, ele vai sempre permanecer aqui. Eu sei que eu te trai quando a gente estava junto, eu sei que eu não merecia nem que tu falasses comigo. Tu não sabes como eu sou grato por tu teres aceitado minha amizade novamente. E eu to com tanto medo de estragar isso novamente, Antoine – ele começou a chorar – Cara, eu não sei mais o que eu faço. Eu sei que não é o momento para isso. Eu entendo por tudo o que tu estas passando. Não pensa nem um minuto sequer que eu não te entendo, tá? – nós ficamos mais ou menos uns 10 min sem falar nada, somente um olhando para o outro – Antoine, eu te amo. E eu descobri que eu não tenho a capacidade de deixar de te amar. Eu sei que talvez tu não sintas a mesma coisa por mim, eu sei o quanto tu amavas/amas o Bruno, eu via isso. Não pensa que eu não respeitava o relacionamento de vocês. Eu sempre respeitei, eu era amigo de verdade do Bruno e eu era feliz com a felicidade de vocês. Logo no inicio foi bem difícil, é claro. Mas, quando eu vi o quanto ele te fazia feliz e quando eu pude conhece-lo de verdade e pude perceber o cara fantástico que ele era, eu resolvi matar qualquer sentimento que existisse dentro de mim. Para mim, tu eras meu amigo, meu irmão. Mas eu não consegui, Antoine! Eu não consegui! – eu limpei as lágrimas dele – Pode até ser loucura minha... Mas, eu pensei que talvez eu pudesse tentar novamente, sabe? Talvez eu pude te fazer feliz novamente. Se eu conseguisse isso, eu jamais, jamais faria o que eu fiz no passado. Eu não conseguiria te perder novamente. Não sei se tu gostas de mim, mas eu acho que sim. Eu sinto que sim... nem que seja um pouquinho eu sei que sim... – Ele parou de falar e ficou olhando para baixo chorando
- Thi... – ele me deu um beijo tão repentino que eu não tive nem como desviar, foi só um selinho – não! – eu o afastei carinhosamente – eu não posso, Thi! Não posso, desculpa! – Ele baixou a cabeça, eu peguei no queixo dele e a ergui – Eu não quero sair da tua vida, entendeu? E nem quero que tu saias da minha. Mas, o que a gente viveu ficou no passado, Thi. Eu não posso trair o Bruno, não posso fazer isso. Desculpa... Eu gosto demais de ti, tu sabes disso. Eu posso gostar de ti um pouquinho mais que um amigo, mas eu não posso sentir isso. Não posso, Thi. Me desculpa, por favor.
Ele me olhou tão triste. Era isso que eu não queria, eu não queria ve-lo triste.
- Tudo bem! – Ele limpou as lágrimas – Desculpa pelo beijo.
- Tudo bem! Não fica triste, por favor!
- É meio difícil...
- Eu não quero que nada mude entre a gente, viu?
- Não, não vai mudar. Mas, me dá só um tempinho, tá? Deixa só eu me organizar de novo. – ele chorava ainda – Que droga! – Ele deu um murro no sofá – Por que eu não consigo te esquecer? Por que eu não posso ser feliz com outra pessoa? Por que, Antoine? Eu quero te esquecer, eu quero te ver somente como amigo, mas eu não consigo. – Ele estava abrindo o coração dele para mim, ele estava me mostrando tudo o que ele havia guardado todos aqueles anos e eu não podia abrir o meu para ele – Eu não queria te incomodar com isso, não queria mesmo. Não quero que nada atrapalhe nossa amizade, mas eu não consigo. Eu já fiz de tudo, mas todos os dias eu penso em ti. Todos os dias eu quero fazer alguma coisinha para te fazer feliz. Às vezes eu fico pensando em como eu poderia arrancar um sorriso teu, por que eu amo te ver sorrir. Só de estar contigo me faz bem, por que tu és uma pessoa especial demais, Antoine. Me diz, o que eu posso fazer para te esquecer? O que eu faço – ele colocou a mão no coração – para tirar isso daqui de dentro? O que eu faço para esquecer tudo o que eu sinto?
- Eu não sei te dizer, Thi! – Eu já estava chorando junto com ele, mas eu chorava por que eu não aguentava ve-lo daquele jeito
- Agora, tu vais ficar longe de mim durante seis meses...
- Isso vai ser bom, a gente vai poder esquecer isso tudo.
- Não, Antoine, tu não entendes. Não importa o tempo que eu fique longe de ti, eu nunca vou te esquecer. Tu és o meu primeiro amor. Falam que o primeiro amor a gente nunca esquece, mas eu nunca pensei que isso fosse tão verdade.
- Thi... – eu o abracei, fazia tempo que eu não sentia o cheiro dele
- Não vai para Paris, por favor...
- Eu tenho que ir... Vai ser bom, tu vais ver.
- Nunca é bom ficar longe de ti...
Nós ficamos em silêncio.
- Tu tens medo de ficar comigo? Tu tens medo de que eu repita os meus erros? Eu mudei, Antoine, eu não sou mais aquele Thiago...
- Eu sei, Thi! Eu vejo que tu mudaste, eu vejo isso...
- Eu quero te fazer feliz, eu quero fazer a Sophie feliz...
Até então, eu ainda não tinha pensando na minha filha. Seria bom para ela, seria bom para nós, ter com quem contar além de mim. NÃO! Éramos só nós dois contra o mundo. Só nós dois!
Eu não respondi nada. Ele me olhou mais uma vez muito triste. Ele levantou, eu levantei junto com ele.
- Pra onde tu vais? – eu perguntei
- Para casa!
- Não, não vai! Fica aqui!
- Ainda pouco tu querias que eu fosse para casa...
- Ainda pouco tu não estavas assim, fica aqui Thi, dorme aqui. Amanhã cedinho tu vais.
- Não, eu vou agora. É melhor!
- Ai, Thi, desculpa! Eu não quero te ver assim...
- Vai passar! Tchau! – Ele me abraçou e ficou me olhando e de repente, novamente, ele me deu mais um beijo, mas dessa vez não foi um selinho, foi um beijo de verdade. – Desculpa – ele disse quando se afastou de mim – eu precisava roubar esse beijo pela última vez.
Ele me deu as costas, me deixando sem reação. Ele foi até o carro, entrou, eu abri o portão e ele partiu. Eu entrei em casa e fui para o meu quarto. Naquela noite eu demorei demais a dormir...