AMOR DE PESO - 01X15 - GORDINHO ENCRENCADO - PARTE 1

Da série AMOR DE PESO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3391 palavras
Data: 19/09/2016 20:50:49
Última revisão: 04/03/2025 05:43:36

Pai e Mãe,

Engraçado como algumas coisas funcionam na vida, né? Já se passaram três meses desde que cortei relações com o Brutus. Ele também se afastou da turma. Acabei me tornando muito amigo do Diogo e, sinceramente, não sinto falta deles. O bullying continua, mas em menor escala. O jeito é levantar a cabeça e seguir em frente.

***

Comecei uma rotina de exercícios com a ajuda do Diogo. O problema é que meu corpo estava exausto. Naquela manhã de segunda-feira, acordei com dores nos ombros e nos pés. Para completar a minha "maravilhosa" vida, um temporal estava se formando em Manaus. Olhei pela janela; poucas pessoas passavam pela rua, e meu único desejo era voltar para a cama.

Desde o dia em que me desentendi com o Brutus, minha tia passou a me levar para a escola. Cheguei cedo e, mesmo com o guarda-chuva, fiquei completamente encharcado. Na entrada, encontrei Zedu, também todo molhado. Cara, ele era muito lindo. Os cabelos úmidos caíam sobre o rosto, e o tanquinho se destacava sob a roupa grudada no corpo. Eu devia ser a pessoa mais resistente do mundo.

— Oi. — Diogo disse, tocando meu ombro.

— Nossa! — falei, assustado, perdendo Zedu de vista.

— Que foi?! Tá com medo do teu namorado? — perguntou ele, sorrindo.

— Que namorado? Eu sou solteiro, meu filho! Agora, meu amigo que não deu sinal de vida…

— Esses exercícios acabam comigo, Yuri. Sério. — Diogo reclamou, caminhando comigo em direção à sala de aula. — Sem falar nesse trabalho gigantesco de química. Você conseguiu terminar?

— Semana passada. — Meu sorriso foi inevitável, afinal, o trabalho tinha sido passado há duas semanas.

Chegamos ao pátio, onde os alunos assistiam ao jornal local, da Rede Amazônia, afiliada da TV Mundo. A jornalista mostrava o estrago que a chuva estava causando em várias áreas da cidade: árvores caídas, casas alagadas, trânsito caótico e igarapés transbordando. De fato, os dias chuvosos em Manaus eram um pesadelo.

Apresentadora: — E o tempo chuvoso continuará em Manaus durante todo o fim de semana. As autoridades pedem que a população tenha cautela e evite áreas próximas aos igarapés. Para qualquer ocorrência, ligue para o número da Defesa Civil que aparece na tela.

Os meus amigos acabaram se molhando por causa do temporal. O Zedu, por exemplo, teve todo o cuidado, porém foi atingido por um carro. No caso, a roda do veículo passou por uma poça e espirrou água nele.

— Merda de carro. — esbravejou Zedu, todo ensopado, enquanto recebia ajuda de Alicia, que, por sinal, estava impecável.

— Como você consegue chegar assim com o mundo caindo lá fora? — perguntou meu amigo, sentando-se e tirando a meia encharcada.

— Sou menina. — Alicia falou ao ver Ramona e Letícia também molhadas. — Bem, elas são exceção.

— Que ótimo. Planejava correr neste fim de semana. Quero estar preparado para a maratona na Ponta Negra. — reclamou Zedu, torcendo as meias.

— Pega. — Alicia tirou da mochila uma farda e duas meias rosas. — Vai ficar apertado, mas é melhor do que pegar um resfriado. Vá ao banheiro. Te encontro na sala.

Na sala de aula, as coisas estavam diferentes. Brutus passou a ficar mais perto de João e Lucas, os dois babacas da classe. Ramona ficou triste, pois sentia saudades do amigo, apesar de não querer admitir. Ela o via pelos corredores, na sala e no bairro, mas, ainda assim, continuava magoada pelas coisas que ele havia dito sobre mim.

Queria não me sentir culpado. Afinal, antes de eu me mudar para Manaus, a amizade deles só crescia. Talvez tudo fosse melhor se eu não tivesse entrado naquele avião. Eles ainda seriam amigos e não sentiriam minha falta.

Você sabe qual é o tópico mais usado para se aproximar de outra pessoa? O clima. Brutus esperou Ramona sair do banheiro e ofereceu uma toalha limpa para a amiga. Será que aquilo era uma oferta de paz?

— Chuva forte, né? — perguntou Brutus, sem ter coragem de olhar para Ramona.

— Sim. — Ela concordou, enquanto secava os cabelos.

— Ramona. — Brutus respirou fundo antes de fazer sua pergunta. — Por quanto tempo você vai me dar esse gelo? Já faz tempo e eu...

— E você o quê? — ela perguntou, cortando-o. — Você pensou antes de dizer aquelas coisas horríveis para o Yuri? Ou em como seus amigos mexem com ele todos os dias? Você sabia que, um dia desses, inventaram uma mentira sobre o Zedu? Eu não te reconheço, Brutus. Só fica longe de mim. — Ela falou, devolvendo a toalha para Brutus e virando de costas para retornar à sala.

— Você era a minha melhor amiga. — Brutus sussurrou, segurando o braço de Ramona.

— Falou tudo: você era. Não te reconheço mais. Brutus, a vida nos dá escolhas, algumas mais difíceis que outras. O Yuri é um garoto tão legal, sensível, e passou por tantas coisas na vida. De verdade, eu esperava mais de você. Agora, com licença. — Ramona se transformou em uma verdadeira metralhadora e, sem querer, deixou Brutus ainda mais confuso.

Quem estava feliz da vida era Letícia. Seu relacionamento com Arthur só crescia. Minha amiga recebeu o pedido de namoro em tempo recorde. Ela até começou a participar das produções amadoras dele. Letícia já foi espiã, odalisca, feiticeira e feirante.

Os dois trabalhavam bem juntos. Arthur era cheio de ideias inovadoras. Nós saímos juntos algumas vezes, mas, pelo visto, ele estava fazendo bem para Letícia.

— Adorei a gravação hoje. Ficou muito legal. — falou Letícia, guardando algumas maquiagens na bolsa.

— Obrigado. — Ele disse, se aproximando e beijando Letícia. — Obrigado por ser minha primeira fã. Inclusive, neste final de semana, vou participar de uma exposição. Você quer ir? Aproveita e conhece meus amigos.

— Ah, legal. Finalmente vou conhecer seus amigos baladeiros. Você já conheceu a maioria dos meus. — ressaltou Letícia, abraçando Arthur.

— Vou logo te avisando: o meu povo é muito alternativo. Do tipo que dorme abraçado com árvore, anda pelado na natureza e conversa com os elementos da terra. — Ele explicou, dando uma risada amarela para a namorada.

— Sou muito compreensiva, Arthur. Não se preocupe. — garantiu Letícia.

***

Após muita enrolação e lágrimas, a tia Olivia escolheu seu pretendente. Claro que ela ficou com o Carlos. No início, o Orlando não entendeu muito bem, mas acabou deixando a titia em paz. Inclusive, o estagiário dela passou a ser uma presença constante em casa.

Aproveitei os dotes do Carlos para alguns trabalhos, como, por exemplo, trocar a calha danificada, pendurar alguns quadros na parede da sala e arrumar a pia da cozinha. Sim, além de namorar a titia, o Carlos se tornou nosso faz-tudo. Afinal, toda relação tem seus bônus e ônus.

No sábado, eles decidiram dormir juntos. O plano era o Carlos sair às 6h, assim ninguém desconfiaria. Mas a tia Olivia acordou assustada e, praticamente, jogou o namorado da cama. Ainda sonolento, ele se levantou e vestiu as roupas.

Como dois espiões, Carlos e tia Olivia desceram as escadas e se despediram. Titia o convidou para o cinema, pois queria aproveitar ao máximo a companhia dele. O que não fazia muito sentido, já que os dois trabalhavam juntos.

— Qual filme vamos assistir? — perguntou Carlos, abotoando a camisa social.

— Vamos ao cinema? — perguntou Giovanna, levantando do sofá e assustando os dois.

Sim, eles foram pegos no flagra. Giovanna havia acordado cedo para assistir a uma transmissão da Katy Perry no YouTube. A tia Olivia queria se enterrar, pois Giovanna começou a fazer várias perguntas.

— Pode ser um filme de romance? Detesto essa massificação dos heróis. São apenas homens com roupas de plástico.

— Quero assistir "A Filha do Satanás 4 - Entranhas Sangrentas"! — gritou Richard, saindo da cozinha, para o desespero da titia.

— O que vocês estão fazendo acordados a essa hora? — ela perguntou, mas se surpreendeu ainda mais quando me viu saindo da cozinha, vestindo meu avental do Mickey.

— Caramba, fiz pouco café — reclamei, voltando para a cozinha.

— Que merda! — pensou tia Olivia, olhando para Carlos. — Crianças, o que vocês estão fazendo aqui?

— Hello? A gente mora aqui — soltou Giovanna.

— Reformulando a pergunta: por que vocês acordaram tão cedo?!

— Tia, além da live da Katy Perry, hoje é dia de irmos ao Parque do Mindu. O Diogo vem nos pegar daqui a pouco. Vem logo tomar café.

— Carlos, vou ter que te chamar de tio? — perguntou Richard.

Desesperado, Carlos pegou os sapatos e andou em direção à porta. A chata da Giovanna pediu para que ele abotoasse a camisa direito. Não me imagino nessa situação, ainda mais com duas crianças inconvenientes. Senti compaixão, então o convidei para tomar café conosco.

— Espero que o meu leite de búfala esteja gelado — soltou Giovanna, entrando na cozinha.

— Ela toma leite de búfala? — perguntou Carlos para tia Olivia.

— É mais saudável — respondeu ela, arrumando a camisa do namorado.

— Sabe o quanto isso é caro?

— Claro que sei. Preciso comprar dois pacotes por mês. Ainda bem que só ela gosta — afirmou titia.

Café, pão, queijo, leite de búfala e torta de climão. Durante o café da manhã, pude notar o constrangimento da minha tia, mas ela já estava namorando o Carlos há bastante tempo. Nada mais justo do que a gente conhecê-lo também.

Para dar uma folga aos pombinhos (e mais tempo também), tive a brilhante ideia de ajudar Giovanna em um projeto da escola. E, claro, chamei o Diogo para a missão. Ele não demorou muito para chegar. Seguimos para o Parque do Mindu, que não ficava muito longe de casa.

No jornal local, a previsão anunciava chuva forte durante a tarde, o que tornava a tarefa ainda mais difícil. Era minha primeira vez no Parque do Mindu e, cara, que lugar mais lindo! Os cenários do Amazonas são os melhores, isso eu não posso negar.

— Nem sei por que preciso tirar fotos dessas plantas estúpidas — reclamou Giovanna, passando protetor solar no rosto e nos braços.

— Vale nota? Você precisa de bastante pontos em Ciências.

— Uma coisa inútil, Yuri. Quando, na vida real, vou precisar de conhecimento sobre plantas e árvores?!

— Ela tá certa — ressaltou Diogo, ficando do lado da Giovanna.

— Ei, você precisa ficar do meu lado.

— Eu estou sempre. O problema é que algumas matérias são desnecessárias. Quando vou precisar saber quanto vale o X? — indagou Diogo, fazendo uma careta engraçada.

— Vocês falam isso porque são péssimos nessas matérias — falei, rindo.

— E Educação Física, Yuri? — Giovanna pegou pesado com a pergunta, e levei um tempo para responder.

— Qual é, gente? Futebol nunca vai ser útil na vida real — inventei, andando na frente deles.

Richard estava chateado. Ele havia deixado em casa sua caixinha para capturar insetos. Começamos a coletar o material para o trabalho da Giovanna, quer dizer, o Diogo e eu, porque os meus irmãos ficaram brincando e matando tempo. Só não reclamei porque adoro esse tipo de atividade.

Após alguns minutos, terminamos de registrar as plantas e decidimos fazer um piquenique. Olhei no celular e ainda faltava um pouco para a chuva começar. Várias nuvens carregadas cobriam o céu, mas minha intuição dizia que dava tempo.

Escolhemos o lugar mais bonito para o piquenique. Levei todos os alimentos em uma bolsa térmica e trouxe uma toalha de mesa para cobrir o chão. Sentamo-nos e, para minha surpresa, o Zedu passou correndo por nós. Ele só parou porque a Giovanna chamou sua atenção.

Chegamos cedo ao Mindu e levamos material para o piquenique. Eu sempre achei algo mágico o jeito como esse lugar parece respirar. Não sei se é o vento que balança as folhas das árvores ou o som distante das crianças correndo, mas esse lugar tem uma energia que me faz sentir melhor.

Manaus é uma cidade barulhenta, cheia de carros, motos e gente apressada. Mas aqui, no meio dessa área verde, tudo parece mais calmo. O Parque do Mindu é como um refúgio, um pedaço da natureza que resiste no meio do concreto. Eu amo isso. Amo saber que, mesmo em uma cidade grande, ainda existem lugares onde posso ouvir o canto dos pássaros e sentir o cheiro da terra molhada depois de uma chuva rápida.

Vejo algumas pessoas correndo na pista de cooper, outras fazendo alongamento perto do lago. Tem sempre alguém se exercitando, tentando cuidar do corpo e da mente. E as crianças... ah, as crianças são as mais livres. Elas correm, riem, brincam de pega-pega, como se o parque fosse um mundo inteiro só para elas. É bonito de se ver.

Às vezes, eu fecho os olhos e só escuto. O som das folhas sendo pisadas, o barulho da água do lago, o riso de alguém ao longe. É como se o tempo desacelerasse, mesmo que por alguns minutos. Eu me pergunto se as outras pessoas que estão aqui sentem o mesmo. Será que elas também percebem o quanto esse lugar é especial?

— Yuri. — Diogo me tira do devaneio. — Quer um copo de suco?

— Ainda não. Preciso ajudar a Giovanna com o trabalho. — respondi e olhei para o céu.

Infelizmente – nem acredito que estou dizendo isso –, o tempo estava fechando. O Zedu também estava lá, correndo. Nossa, nem preciso dizer o quanto ele parecia espetacular correndo.

***

Ramona e Letícia decidiram ir a um salão de beleza novo. Um dos atendentes era gato, e elas logo ficaram de olho nele. Mas, apesar de tudo, Ramona ainda se sentia muito triste com o comportamento de Brutus.

— Olá! Tudo bem, meninas? — Julian, o cabeleireiro gato, pegou nos cabelos de Letícia e sorriu. — Olha que coisa mais linda! Se todos os cabelos fossem iguais ao seu, o mundo seria um lugar muito melhor.

Ele se virou para Ramona, pegando uma mecha de seu cabelo.

— E este aqui? Parece uma seda! Vocês têm certeza de que ainda não fizeram nada nos cabelos?

— Você é muito gentil. Mas, de verdade, eu preciso fazer uma hidratação — disse Letícia.

— Eu queria cortar dois dedos. — Ramona olhou diretamente para Julian, quase como uma psicopata. — DOIS DEDOS!!!

— Sim... eu... eu... entendi — Julian engoliu seco. — Você é bem decidida. Gostei. Deixa eu pegar meu material.

Eu adoro inventar coisas novas para fazer com meus irmãos, mas, sinceramente, o climão entre aquelas criaturas era evidente. Zedu, Diogo e eu sentamos lado a lado. Preferi focar nas comidas deliciosas que levei para o piquenique: bolo, salgadinhos, sanduíches, frutas e sucos. Claro que, antes, a Giovanna tirou diversas selfies.

No Mindu, conseguimos tirar muitas fotos para o projeto da Giovanna e, então, decidimos estender a toalha de piquenique e curtir aquela manhã agradável. Mais uma vez, levei bolo, salgadinhos, sanduíches, frutas e sucos, mas, antes de tudo, minha irmã precisou tirar exatas 2.304 selfies.

— Então, você vem sempre aqui, Zedu? — quis saber Giovanna.

— Corro aqui sempre. Tem trilha, então posso melhorar meu desempenho. Além disso, é um bom lugar para refletir sobre a vida.

— Ei, Richard! — chamei a atenção do meu irmão, mas percebi que ele não estava por perto. — Cadê esse menino?

— Deve estar atrás de algum animal peçonhento por essa mata — Giovanna odiava as manias do Richard.

Moleque chato. Levantei com certa dificuldade. Quando fico sentado no chão por muito tempo, minha perna começa a formigar, então saí mancando atrás do Richard. Deixei Zedu e Diogo com a Giovanna. Eles ficaram sem assunto, então a traste número dois decidiu brincar um pouco.

— Diogo, vem cá, conta pra gente. Como é ficar com o Yuri? Quem é o ativo e quem é o passivo? — ela soltou a pergunta, e Diogo quase vomitou o suco na cara do Zedu.

Nenhum sinal do Richard. Procurei por quase 15 minutos. Aquele demônio em forma de gente não estava em canto nenhum. Ninguém correndo, chorando ou lamentando. Nada.

Meu coração começou a apertar. Voltei e avisei os meninos que Richard havia desaparecido. O Zedu foi até a administração, e um dos guias nos acompanhou pela trilha principal. Liguei para a titia, que não demorou a chegar.

"Como ele sumiu? Esse lugar é muito grande? Existem animais aqui dentro? E se foi algum predador sexual?" Mil questionamentos passavam pela minha cabeça.

— Giovanna, preciso que você vá em casa. Deixei meu celular e a carteira lá. Saí com tanta pressa que acabei esquecendo — pediu tia Olivia, olhando para Diogo. — Você pode ir com ela?

— Claro — Diogo se prontificou a ajudar, acompanhando Giovanna.

Eu estava desesperado. Prometi que cuidaria do Richard e, agora, ele havia desaparecido desse jeito. Segui com um dos guias pela trilha principal, e Zedu foi junto comigo. Já Carlos e tia Olivia seguiram pelo caminho alternativo.

Apesar do clima europeu, a parte interna da trilha estava pegando fogo. Minha camiseta estava molhada de suor. A todo instante, o Zedu me oferecia água ou perguntava se eu conseguia continuar.

Descemos vários degraus de pedra e chegamos a uma área cheia de fitas amarelas. Segundo o guia do local, o igarapé transbordava e enchia o terreno de lixo.

— Infelizmente, a maioria dos igarapés de Manaus estão poluídos. — disse o guia, apontando para frente.

Realmente, uma floresta tão bonita estava morrendo devido à ação do ser humano. Nunca vi tanto lixo entulhado no mesmo local: garrafas, copos de plástico, televisão, geladeira e sofás. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma placa que dizia: "Cuidado com os jacarés". Como assim, jacarés?

— Esses jacarés já mataram alguém? — perguntei em desespero para o guia.

— Não, nunca tivemos nenhum tipo de situação assim. Calma, o teu irmão está bem. Vamos encontrá-lo. — Ele tentou me tranquilizar.

— Yuri, o Richard está bem, ok. — Zedu falou, pegando no meu ombro com a mão direita e usando a esquerda para limpar o suor da minha testa.

Tia Olivia teve várias lembranças ruins da época em que mamãe estava grávida de Richard. Afinal, não foi uma gestação comum. Meu irmão quase morreu ao nascer, porém superou as expectativas dos médicos e cresceu saudável.

Ela começou a repetir que era uma mãe horrível. Carlos a tranquilizou com um forte abraço, afinal, o tempo era um recurso precioso em casos de crianças desaparecidas. Eles seguiram o guia, sempre chamando pelo nome do meu irmão.

— Seu menino é aquele loirinho? — questionou o guia, apontando para frente.

— Richard! Richaaaard!! — Tia Olivia não sabia se corria ou gritava, mas acabou correndo em direção a Richard.

No fim das contas, Richard não estava perdido. Sabia muito bem como sair da trilha alternativa. Nos braços, segurava um pequeno filhote de macaco. O animal havia quebrado uma das patas e não conseguia subir nas árvores.

Primeiro vieram os abraços e palavras de carinho, depois, o sermão de quase cinco minutos. Tá, certo que Richard é uma criança, mas ele precisava entender o significado da palavra "limite".

— Tia, não grita. A senhora está assustando o Chico. — Richard falou, olhando para o macaco.

— Tá certo. Família reunida, mas vamos sair daqui. Odeio florestas. — disse Carlos, pegando no ombro da titia.

— Vamos, antes que comece a cho... — Titia foi interrompida por um forte trovão que ecoou pela floresta.

Quase gritei de susto por causa do trovão. Zedu, o guia e eu fomos surpreendidos por uma forte chuva e um vento que fazia as árvores balançarem. De repente, um grande tronco caiu no chão. Zedu me empurrou e caímos de um barranco.

Naquele momento, não senti nada. Apenas fiquei preocupado em proteger minha cabeça. Tentava parar de rolar, mas não conseguia. Maldita gravidade. Consegui ver Zedu de relance, batendo a cabeça várias vezes.

Mato, pedra, barro e lixo. Rolei mais longe que Zedu, talvez por causa do peso. Não conseguia respirar, mas meu corpo não doía. Devia ser a adrenalina correndo dentro de mim. Levantei com uma agilidade que normalmente não tenho e cantei parte da música da Xuxa para verificar alguma lesão.

— Cabeça, ombro, joelho e pé, joelho e pé. — Pensei.

Ok. Menos mal. Tudo está no lugar e sem machucados aparentes. Olhei para o lado e encontrei Zedu desmaiado. Corri e o coloquei em uma posição mais confortável. Afinal, a água começou a encher o buraco onde caímos.

— Zedu, por favor, acorda. — Pedi, balançando Zedu.

— Ei! — gritou o guia. — Vocês precisam sair daí!

— Meu amigo está inconsciente. Ele precisa de ajuda! — Gritei.

— Yuri. — Zedu falou meu nome, abrindo os olhos e parecendo confuso. — O que aconteceu?

— Aconteceu que caímos num...

Fiquei mudo. Não conseguia emitir mais nenhum som. Ajudei o Zedu a ficar de pé e apontei para frente. Havia dois jacarés de tamanho médio nos encarando. O Zedu segurou minha mão, e ficamos sem saber o que fazer.

— A gente tá sangrando — Zedu falou, ofegante. — O sangue tá chamando a atenção deles.

— Merda. O que vamos fazer? — perguntei, olhando para os jacarés que se aproximavam.

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Comentários

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HUMMMMMMMMMMM. MUITAS EMOÇÕES. ASSIM QUE GOSTO.

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Massa, o conto !! Ansioso pela continuação.... as coisas estão meio estranhas entre a turma....e essa queda do Zedu e do Yuri promete...eu acho

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