Pai e mãe,
Vou virar comida de jacaré. Pelo menos vou morrer ao lado do Zedu. Mas que morte horrível e impactante! Será que vai doer?
***
Pouco a pouco, os jacarés se aproximavam de nós. O Zedu ficou na minha frente e pegou um graveto para tentar afugentar os animais. Olhei em volta para encontrar uma rota de fuga, e o único jeito era escalando outro barranco, mais alto do que aquele em que caímos.
A forte chuva atrapalhava nossa visão e enchia, com uma velocidade assustadora, o local onde estávamos. A água já batia em nossos joelhos. O Zedu gritava com os jacarés, achando que, assim, eles iriam embora, mas eles apenas se aproximavam ainda mais, usando a água a seu favor.
— Corre!!! — falei, puxando o Zedu para a direção oposta aos jacarés.
Mesmo sem entender, ele me seguiu, e tentamos subir o barranco íngreme. Fui primeiro, consegui segurar em uma raiz de árvore, virei para trás e estendi a mão para o Zedu. Eu não pude acreditar no que vi: um dos jacarés mordeu o pé direito do Zedu.
Eu nunca tinha estado em uma situação dessas, de vida ou morte. Não sou a pessoa mais indicada para tomar qualquer tipo de decisão drástica, mas, ao segurar a mão de Zedu e vê-lo em dor, pensei rápido. Agarrei um pedaço de ferro que estava ao meu lado e o taquei na cabeça do animal.
Infelizmente, a mordida no pé de Zedu causou um grande ferimento, mas não tínhamos tempo para ficar parados. Bati pela segunda vez na cabeça do jacaré, com mais força e urgência. Finalmente, ele recuou e se juntou aos outros.
Com uma força descomunal, consegui puxar o Zedu para perto de mim. Ele estava em choque, não conseguia chorar nem gritar, apenas tremia e olhava assustado na minha direção. Tive que tomar a dianteira e ajudá-lo na subida.
Eu já tive várias ideias de merda durante a minha doce existência, mas essa foi, sem dúvida, a pior de todas. Com pressa, devido ao ferimento do Zedu, não olhei para onde estávamos indo. Foi então que um pedaço de terra se desprendeu e nos lançou dentro de um igarapé.
Dessa vez, não doeu tanto, mas não foi fácil. A correnteza nos levou rio abaixo e, para minha surpresa, consegui ver vários jacarés no trajeto. Com dificuldade, nadei até Zedu. Bati várias vezes em pedras pelo caminho; uma delas acertou minha costela. Apaguei por poucos segundos e quase me afoguei, mas o Zedu me puxou.
— Nós vamos morrer!!! — Zedu gritou, pela primeira vez, desde a mordida.
— Para com isso! — gritei, engolindo um pouco de água.
Estávamos à mercê do rio, que nos arrastou por um longo trajeto. Me separei do Zedu duas vezes e sempre precisei nadar para perto dele. O rosto dele não conseguia esconder o medo, então comecei a gritar palavras de encorajamento: "Vamos conseguir!", "Tenha fé!", "Precisamos ser fortes!". Acho que nem eu mesmo acreditava naquelas palavras.
A chuva só piorava, e os raios também se faziam presentes. O guia chegou com dificuldade à administração, e minha tia se assustou ao ver a perna do homem quebrada. Ele sentou-se e avisou o que havia acontecido. O chefe do parque ligou imediatamente para o Corpo de Bombeiros para relatar a situação. Titia saiu correndo em direção à trilha, mas foi impedida por Carlos.
— Você não pode ir.
— Carlos, eu preciso ir. É o meu sobrinho. Me solta. — Ela pediu, chorando e assustando Richard.
— Pensa direito. A chuva está muito forte, por favor. Eu vou. Fica aqui.
O desespero pode mudar o rumo das coisas. Giovanna e Diogo chegaram com os documentos da tia Olivia. Eles a encontraram chorando no chão e correram para saber o que estava acontecendo.
— O que aconteceu com o Richard?
— Não foi o Richard. — Explicou Carlos, tirando uma das blusas e saindo para encontrar os outros guias do parque.
— Quem? — Perguntou Giovanna para tia Olivia, quase chorando.
— Yuri. Ele caiu em um rio cheio de jacarés. — Tia Olivia disse, tirando os óculos e enxugando as lágrimas.
Não há como manter a calma em um momento de desespero. Zedu e eu tentávamos alcançar a margem, mas não conseguíamos enfrentar a correnteza. Depois de um tempo, a água ficou mais tranquila, e conseguimos chegar ao leito do rio. Ficamos deitados na lama, descansando, até que Zedu se levantou e tentou correr, com medo dos jacarés.
Levantei-me, pois a adrenalina ainda corria pelo meu corpo, e o ajudei. Acho que ele ficou traumatizado por causa da mordida, mas quem não ficaria?
— Yuri, vamos sair daqui, por favor, por favor. Estou implorando. — Pediu Zedu, chorando e andando com dificuldade.
— Zedu, estou aqui. Vamos para uma parte mais alta.
Chegamos a uma área cheia de pedras e, devido ao ferimento, Zedu não conseguia andar. Ele ainda estava assustado por causa dos jacarés, então, eu o segurei no colo e atravessamos o terreno acidentado.
As mãos dele envolveram meu pescoço, e nossos olhos se encontraram por alguns segundos. Tentei ser a pessoa mais corajosa do mundo para acalmar Zedu. Encontrei um rochedo enorme e o coloquei em cima para verificar seus ferimentos.
— Ele fez um estrago. Vai embora antes que apareçam outros. — Pediu Zedu, tremendo de frio.
— Não fala besteira, José Eduardo. A gente vai ficar bem. O guia já deve ter falado com as autoridades, e logo virão nos resgatar.
O jacaré deixou uma grande mordida no pé dele. A força foi tanta que o tênis de Zedu já não estava mais lá. As marcas estavam na parte de trás da perna, mais conhecida no Amazonas como "batata da perna".
Achei que ficar ali poderia ser perigoso, pois o leito do rio não estava tão longe, e os jacarés poderiam aparecer. Zedu levantou-se com muita dificuldade, deu dois passos e caiu no chão.
— Zedu! — Gritei e corri para ajudá-lo. — Vem. — Disse, o levantando.
— Eu não vou conseguir andar, Yuri. Eu não quero parecer frouxo, mas está doendo muito. — Ele disse, chorando.
— Ei. — Falei, pegando delicadamente o rosto de Zedu. — Você já viu o meu tamanho? Eu consigo te carregar fácil, José Eduardo. Só precisamos cobrir seus ferimentos.
Tirei minha blusa e arranquei as mangas para fazer um torniquete.
Cara, sério. Nunca mais vou falar mal das aulas de educação física. Lembrei de todos os ensinamentos sobre torniquete e consegui fazer um "meia-boca". Usei o tecido da minha camisa, gravetos e folhas. Vi, de relance, Zedu mordendo a mão para não gritar e chamar a atenção de animais.
Tentei ser forte, juro, mas, enquanto fazia o torniquete, lágrimas desciam pelos meus olhos. Aquilo estava fora da minha realidade e, graças a Deus, eu não havia esquecido coisas importantes, como a aula de sobrevivência.
Não sou uma pessoa forte emocionalmente, mas ver Zedu sofrendo, de certa forma, me machucava também. Ele tentava passar uma segurança que não existia. Se pudesse trocar de lugar com ele, eu o faria sem pensar duas vezes.
Os bombeiros chegaram para realizar as buscas. Carlos já havia olhado o local onde caímos, mas os jacarés ainda estavam lá. As águas já haviam tomado conta da área, mas os bombeiros conseguiram encontrar o tênis de Zedu boiando.
— Vocês conhecem aquele tênis? — Perguntou um dos bombeiros para Carlos e Diogo, que acompanhavam o trabalho de busca.
— Sim. — Diogo mal conseguia formular uma frase, pois sabia o que aquilo podia significar. — Esse tênis é do meu colega. É um tênis de corrida. Ele...
— Senhor! — Gritou outro bombeiro, chamando a atenção de todos. — Houve um deslizamento naquele barranco atrás, encontramos marcas de pegadas. Acho que eles subiram, mas podem ter sido arrastados pelo barro e caído no rio. Já acionamos o auxílio aquático.
— Ok, obrigado. Vamos preparar o pessoal! — Gritou o bombeiro que estava ao lado de Carlos e Diogo.
— Tem algo que podemos fazer? — Quis saber Carlos.
— Ter fé. Mas, só o fato de eles terem escapado dos jacarés já é algo positivo. Com licença. — Disse o bombeiro, falando em um rádio portátil. — Atenção, quero aquele tênis que está na água. Verifiquem a área para outras pistas. Ah, liguem para o Ibama, parece que tem um macaquinho com uma das patas quebradas.
Tia Olivia avisou os pais de Zedu sobre o desaparecimento do filho. Ulisses e Teodora ficaram em choque ao verem o tênis do filho caçula.
— Comprei esse tênis ontem. Eu... — Teodora não conseguia falar e foi amparada por titia.
— Calma, amor. Por favor. — Pediu Ulisses, tocando no ombro da esposa.
— Ter calma, Ulisses? Como eu posso ter calma? O nosso filho está perdido nessa floresta!
***
Notícia ruim chega rápido, né? Ramona e Letícia voltaram do salão e decidiram lanchar na padaria. Dona Helena, proprietária do local, avisou sobre o nosso desaparecimento, e elas seguiram para o Parque do Mindu. Nem se importaram com os cabelos que tinham acabado de fazer.
A chuva prejudicou o início das buscas; os bombeiros estavam tendo cautela para que outros acidentes não acontecessem. Enquanto isso, nós nos abrigamos dentro de uma parte fechada da floresta. Pela primeira vez, senti frio em Manaus. O Zedu tremia também, então ficamos protegidos debaixo de uma árvore.
— Yuri, quero me desculpar com você. — Soltou Zedu, encostando a cabeça no meu ombro.
— Por quê?
— Por ser um babaca contigo. Por não ter sido mais duro com o Brutus. Por não evitar que as pessoas te machucassem. Eu sinto muito. Desculpa por ser fraco.
— Bem, pelo menos você não se afastou de mim.
— Eu não poderia. Você é o meu melhor amigo. — Zedu segurou minha mão, e nossos dedos se entrelaçaram.
— Zedu...
— Oi, Yuri?
— Estou com medo. — Falei, apoiando minha cabeça sobre a dele, que continuava repousada no meu ombro.
— Eu também. — Ele respondeu.
Os jornais começaram a noticiar o desaparecimento de dois estudantes no Parque do Mindu. Brutus ficou chocado quando viu nossas fotos na televisão, porém decidiu não ir até o parque.
Naquela tarde, ele havia combinado de jogar com os colegas da escola. João ficou feliz quando viu a notícia do meu desaparecimento.
— Os gays merecem morrer. — Ressaltou João. — Pena que o Zedu está no meio.
— Credo, João. — Disse Lucas, repreendendo o amigo. — Nem parece que é da igreja.
— Verdade, o Yuri é uma boa pessoa. — Brutus também me defendeu.
— Vão ficar do lado do maricas? — Perguntou João, deixando o controle no chão.
— Não. — Falaram Lucas e Brutus ao mesmo tempo.
— Uma pena se ele morrer. Nem vamos fazer o trote. — João falou, pegando o controle de volta e chamando Lucas para uma disputa de futebol.
A culpa é um sentimento que cresce aos poucos. Brutus seguiu para o banheiro e ficou olhando seu reflexo. Ele lembrou da conversa que tivemos no dia em que dormimos juntos na minha casa.
— Ei, grandão, acha que essa roupa tá legal para seduzir a Ramona? — Ele perguntou, mostrando a peça.
— Não. — Respondi, rindo.
— Tu vai é assustar a menina. — Afirmou Zedu, jogando um travesseiro na direção de Brutus.
— Não, Brutus. Deve ter algo no teu guarda-roupa que não te deixe com cara de caminhoneiro.
— Olha o meu Instagram. Tenho roupas maneiras. — Brutus pegou o celular e mostrou suas fotos mais recentes. — É muito complicado esse negócio. Ela devia gostar de mim pelo que eu sou.
— Brutus, você é o cara mais legal que eu conheço. Não precisa mudar nada. Vai de coração aberto e chama a Ramona para sair.
— Obrigado, Yuri. Você é um bom amigo. — Brutus me agradeceu.
***
Eu também queria voltar ao passado e evitar me meter nessa confusão. Cinco horas já haviam se passado. A adrenalina não existia mais dentro de mim, mas, pelo menos, a chuva não era mais uma ameaça. Zedu estava sofrendo por causa da perna, então decidi traçar um plano.
— Subimos o rio pela margem. Não devemos estar longe — sugeri para Zedu, que achou o plano arriscado, principalmente por causa dos jacarés.
— Deve ter outro jeito — falou Zedu.
— Os jacarés são perigosos, mas, se a gente seguir pela floresta, podemos nos perder ainda mais.
— Eu sou um peso morto. Se você me deixar...
— Para! — gritei, assustando Zedu. — Eu não vou te deixar. Isso não é uma opção, Zedu.
— Olha para mim, Yuri — ele disse, chorando. — Não posso te ajudar. Eu... eu...
Não sei o que deu em mim, mas dei um tapa no rosto de Zedu. Ele tocou a bochecha, que ficou vermelha, respirou fundo e, para minha surpresa, me agradeceu. Então, tive a ideia de deixar sinais pelo caminho, como João e Maria.
Desci até a margem do rio, onde havíamos chegado naquela região, peguei um graveto e escrevi no barro: ESTIVEMOS AQUI. FOMOS PARA ESSA DIREÇÃO. Desenhei uma seta enorme para que a ajuda pudesse nos rastrear. Em seguida, finquei o graveto no chão e coloquei meus óculos escuros.
A entrada do Parque do Mindu estava lotada de pessoas, entre curiosos, imprensa e bombeiros. Letícia e Ramona tiveram que usar a criatividade para entrar. Elas encontraram Diogo na entrada da administração do parque, e ele explicou tudo o que havia acontecido.
Minhas amigas encontraram Richard e Giovanna sentados em um banco, enquanto aguardavam novidades. Emocionadas, se aproximaram e os abraçaram.
— Meu irmão vai morrer — disse Giovanna, abraçando Letícia.
— Calma. Vai dar tudo certo, querida — Letícia tentou tranquilizá-la.
Depois de um tempo, os bombeiros decidiram iniciar as buscas pela água. Desesperada, tia Olivia queria ir junto, mas pensou em meus irmãos. Por sorte, Letícia e Ramona se ofereceram para cuidar deles. Diogo tentou ir com o grupo formado pelos bombeiros, mas não conseguiu uma vaga.
— Diogo, você pode levá-los. Juro que vou te manter informado — pediu tia Olivia, pegando as mãos de Diogo.
— Claro, Olivia. Por favor, qualquer informação me avise.
— Pode deixar — ela garantiu. Então, virou-se para Giovanna e Richard. — Crianças, vocês vão com as meninas. Por favor, se comportem.
O grupo dos bombeiros contou com a ajuda de tia Olivia, Carlos e os pais de Zedu. Eles partiram em um pequeno barco. No coração de cada um, a esperança continuava forte. Naquele momento, desistir não era uma opção.
Dentro da floresta, Zedu e eu caminhávamos em passos lentos. Ele estava muito debilitado e pedia para parar de tempos em tempos. Eu agradecia, pois conseguia descansar um pouco. Afinal, carregava dois pesos: o meu e o dele.
— Sabe, você é a única pessoa com quem eu queria passar por uma situação dessas — Zedu falou, rindo e chorando ao mesmo tempo, o que me fez rir e chorar também.
— Eu também.
— E o Diogo? — Zedu perguntou, sem fazer contato visual.
— Zedu, o Diogo não é você. Não sei o que acontece dentro de mim, mas, quando se trata de você... eu não sei explicar. Você é a minha pessoa — falei, passando o braço em volta do pescoço dele.
— Vou descansar um pouco — Zedu se apoiou em mim. De repente, lembrei de Richard e comecei a chorar.
— O que foi? — ele se virou para mim.
— E se o Richard morreu?
— Não. Como você mesmo disse, o Richard é inteligente. Ele está bem.
— Espero que sim — abaixei um pouco a cabeça e fiquei perto demais de Zedu.
— Vai dar tudo certo — Zedu também se aproximou, e nossas testas se encontraram. Eu conseguia sentir sua respiração ofegante.
Distrair meus irmãos não era uma missão fácil, ainda mais durante uma crise. Letícia, Ramona e Diogo tentavam encontrar maneiras de evitar que eles vissem os noticiários. Giovanna foi mais fácil de lidar, enquanto Richard, meu irmãozinho, deu trabalho para Diogo.
Richard se sentia culpado por me colocar em uma situação de perigo. Olhando para seus brinquedos, pensava em uma forma de ajudar no resgate, mas nenhuma ideia surgia. Além disso, ele estava com fome e, naquela circunstância, não conseguia bolar nada.
A noite chegou, e a floresta ficou mais escura. Graças a Deus, conseguimos encontrar uma velha estrutura de madeira e nos abrigamos nela. Parecia ser uma espécie de ponte antiga, mas, para nós, serviria como refúgio. Esvaziei os bolsos da minha bermuda e encontrei alguns bolinhos. Dei dois para o Zedu, comi um e guardei os outros dois para mais tarde.
— Obrigado. — Zedu agradeceu, me fazendo rir.
— Qual é a graça? — ele perguntou, encabulado.
— Quando você não se desculpa, você agradece. Esquece, besteira da minha cabeça. — Expliquei, passando a mão nos cabelos dele.
A floresta ficava cada vez mais escura, e barulhos estranhos começaram a nos deixar assustados. Nossos celulares estavam sem bateria. Eu torcia para que fosse apenas isso, pois não queria ter que comprar outro telefone. Zedu tirou do bolso um MP3 que pertencia ao seu pai, daqueles antigos que também funcionavam como pen drive.
— Será que ainda funciona? — ele perguntou, balançando o MP3.
— Zedu, se nossos celulares estão mortos, então acho que isso também está. — Mal terminei a frase, e o MP3 ligou.
— O que você disse? — Zedu me provocou, e pude ver seu sorriso graças à luz azul que saía do visor do aparelho. — Quer ouvir música?
— Deixa eu ver na minha agenda... Claro, tenho um tempo livre. — Eu estava deitado ao lado do Zedu, mas me aproximei um pouco mais dele. — Nossa, você tá quente. Amanhã a gente precisa sair dessa floresta.
— Pode só aproveitar a música comigo?
— Tá, papai. — Brinquei, pegando um dos fones e colocando no ouvido.
— 1, 2, 3 e já. — Zedu falou como se estivesse comandando a decolagem de um foguete da NASA.
A música "Na sua Estante", da Pitty, começou a tocar. Essa canção falava muito sobre sentimentos.
O Zedu sempre foi especial para mim, desde o primeiro momento, um verdadeiro anjo na minha vida, apesar de tudo. Lembrei da primeira vez que o vi: ele estava se equilibrando na corda do slackline no CSU. O seu sorriso conseguia despertar uma porção de Yuris dentro do meu peito.
— Zedu. — Falei, virando de lado e olhando para ele. — Eu... eu sempre gostei de você.
— Eu também. — Ele respondeu, se virando para mim.
— Não, Zedu. Eu sempre gostei de você de outra forma.
— Yuri... — Zedu murmurou, chorando. — Eu também. — Ele se aproximou e ficou me olhando.
Enquanto isso, meus irmãos não conseguiam dormir. A culpa ainda pesava no coração de Richard. Meu irmão caçula foi até o quarto de Giovanna, que chorava, lembrando das vezes em que tinha sido grossa comigo.
— Giovanna. — Ele disse, entrando e abraçando nossa irmã.
— Ei, não chora, por favor. — Pediu Giovanna, emocionada. — Richard, a culpa não é sua.
Nos meios de comunicação, a única coisa de que se falava era sobre os garotos desaparecidos na floresta. Brutus assistia ao noticiário, que relatava as buscas, e viu uma imagem minha e do Zedu. João e Lucas começaram a fazer comentários gordofóbicos, então Brutus saiu da sala e entrou no banheiro.
— Desculpa, amigos. — Disse Brutus, olhando-se no espelho e chorando. — Eu sou fraco, não consigo...
Tia Olivia estava exausta, mas encontrou apoio em Carlos. O responsável pela operação avisou que eles iriam acampar para descansar. Isso significava que, pelo menos naquele momento, as buscas seriam interrompidas.
— Precisamos ter fé. — Teodora abraçou tia Olivia, que chorava e lamentava.
— Eu tenho. Eu tenho...
— Vai dar certo. — Carlos segurou o ombro de tia Olivia. — A gente vai encontrar esses meninos.
— Eu sei... — Titia não conseguiu terminar a frase e desmaiou, sendo amparada por Carlos e Teodora.
Naquele momento, eu já não me importava com nada. Se fosse morrer, faria aquilo que sempre sonhei. Aproximei minha boca da de Zedu, esperei que ele recuasse, mas não—pelo contrário. Nos beijamos pela primeira vez, e aquilo não era um sonho ou fantasia.
Começamos a intensificar os beijos. Ele passou as mãos pelo meu corpo, e eu o beijei no pescoço, explorando cada parte daquele deus grego que tanto amava.
— Yuri... Yuri... — Zedu sussurrava entre um beijo e outro.
— Não, não fala nada. Apenas me beija. — pedi, enquanto o beijava.
— Você não sabe o quanto esperei por isso. — ele confessou, me abraçando e chorando.
Após um dia estressante, Diogo precisou dirigir até sua casa. No caminho, encontrou Alicia na frente da casa de Zedu. Ela explicou que não havia ninguém lá e que não conseguia pedir um carro pelo aplicativo.
— Entra. Vou te dar uma carona até em casa.
— Obrigada. — Ela disse, entrando no carro e colocando o cinto de segurança.
— Você mora onde?
— No Dom Pedro.
— É o meu caminho. — Diogo falou.
— Diogo... — Alicia parecia tensa e preocupada. — Será que eles estão bem?
— Estão, sim. Eles são amigos, vão conseguir. Precisamos ter esperança.