CAPÍTULO 8: MARINA
Se a Maria Clara pensou que eu fosse facilitar pra ela, ela estava muito enganada. Eu ja sou uma pessoa antipática, admito, mas nessa noite em especial eu estava pior. Ela se esforçava para puxar assunto e eu não dava a mínima pra ela.
Porém, tinha uma coisa que eu precisava saber. Desde o dia que a Maria Clara pirou no restaurante eu não conseguia esquecer o nome que ela me disse em meio ao choro. Sandro. Alguma coisa me dizia que esse homem tinha feito algo de muito ruim para ela. Perguntei quem era o tal homem, mas ela mudou de assunto. Como se não bastasse a abusada ainda me beijou. Foi um beijo devastador. Não tinha nada de carinhoso e gentil naquele contato de nossas bocas, mas mesmo assim eu gostei.
Eu não podia ser tão fácil assim. Precisava agir e rápido. Então foi aí que eu mordi aquele lábio com toda a força. Ela deu um gritinho de dor e depois ficou limpando o sangue com a mão. Senti vontade de rir, mas me contive.
Quando ela voltou a me olhar parecia está um pouco irritada e foi então que tudo desandou.
- Você se acha superior, né?!
- Eu não me acho superior. Eu sou superior!
- É mesmo? O que é ser superior pra você? Torrar a grana dos seus pais com roupas e sapatos caros? Você é uma pobre coitada. Uma garotinha mimada sustentada pelos pais.
Aquelas palavras me atingiram em cheio. Doeu, doeu demais. A forma com que ela cuspiu aquelas palavras deixava claro que essa nossa aproximação era um erro. Ninguém nunca tinha falado comigo daquele jeito. Naquele tom firme e sério. Me olhando tão profundamente.
Não deixei que ela percebesse que tinha me atingindo. Peguei a primeira coisa que tinha na minha frente que por acaso era a taça de vinho e joguei o líquido em seu rosto.
Saí daquela casa cega de raiva. As malditas lágrimas teimavam em descer. Na rua não passava nenhum táxi. Maldita hora que fui bater meu carro. Eu não podia ficar na frente da casa daquela mulherzinha idiota, ainda mais chorando. Comecei a descer a rua andando e isso aumentou ainda mais a minha raiva. De repente um carro parou ao meu lado, sequei as lágrimas e então encarei o motorista.
- O que você quer?
- Te dá uma carona.
- Eu te pedi alguma coisa? Não quero nada que venha de você e nem da sua patroa.
- Se eu fosse você eu entrava no carro. Ou você prefere ir andando e pegar um ônibus no final da rua?
Pegar ônibus? Só de pensar naquela gente pobre amontoada um em cima do outro naquele espaço minúsculo me dava calafrios.
- Só vou entrar porque não nasci pra pegar ônibus, mas eu não quero assunto com você.
- Sim, senhora.
Entrei no carro sem olhar pro Fabio, não queria que ele reparasse que eu havia chorado. Encostei minha cabeça no banco, fechei os olhos e pensei em tudo o que a Maria Clara havia me falado. Eu sei que eu não deveria me importar com a opinião dela, mas eu não estava conseguindo evitar, eu realmente estava me importando. Ela só podia ter jogado algum tipo de feitiço em mim.
Abri meus olhos no susto assim que o Fabio parou o carro. Olhei em volta e não reconheci o lugar.
- Por que parou?
- Porque chegamos ao nosso primeiro destino.
- O que?
- Vamos.. Desça do carro.
- O que você pretende fazer?
- Relaxa bruaca.. Eu não vou fazer nada com você não. Só parei porque vi que estar irritada e pensei em pararmos e tomarmos um Chopp pra você se acalmar um pouco.
- O que você disse? Bruaca? Bruaca é aquela sua patroa.
Eu tinha que parar de dar assunto pra esse tipo de gente. A criatura me chamou de bruaca e depois ficou rindo da minha cara.
- Vamos logo Marina. Desça desse carro. Prometo que não vou ser chato.
Com muito custo desci do veículo. Queria acabar logo com aquilo para mim poder ir para casa. O bar era localizado num bairro de classe média alta, então vocês ja podem imaginar que era um bar muito bem frequentado.
Pedi uma garrafa de whisky e comecei a virar um copo atrás do outro. Eu precisava acalmar o turbilhão de sentimentos que estavam em mim e a bebida rapidamente fez com que eu me sentisse bem melhor.
Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça infernal. Não fazia a mínima idéia de como eu havia chegado em casa. Eu sabia que o Fabio tinha me conduzido até em casa, disso eu não tinha duvida. Mas como eu cheguei ao meu quarto e ainda troquei de roupas eu não me recordava.
Desci as escadas e encontrei minha mãe sentada na sala lendo um livro sentada no sofá.
- A senhora não devia está no trabalho?
- Boa tarde pra você também mal educada. Você passou muito mal ontem depois que chegou e fiquei preocupada com você. Por isso aproveitei o horário de almoço e vim ver como você está.
- Ja bebi antes mãe.
- Eu sei, mas eu nunca te vi do jeito que estava ontem.
Eu devia esta muito mal mesmo. Eu não lembrava de quase nada da noite passada. Algo me dizia bem la no fundo que eu havia feito uma grande merda. O que me restava era esperar as consequências da noite anterior.
- Eu estou bem mãe, não precisa se preocupar.
- Você está com algum tipo de problema filha? Pode falar comigo.
Oi? Minha mãe so podia ta louca. A gente nunca foi de conversar. Ela era minha mãe, mas não era minha amiga.
- Não. Por que da pergunta?
- Por nada.
Eu precisava urgentemente saber o que ocorreu na noite passada e so havia uma pessoa que poderia me dizer. O Fabio.