Ficamos nos olhando esperando quem tomaria a primeira decisão.
- Desculpa, eu não queria atrapalhar ...
- Não, Não! - Victor se levantou acompanhado da garota - Eu não sabia que você viria agora.
A garota estava confusa. Ainda arrumava o cabelo quando o Victor foi leva-la até o elevador.
Até que ela era bonita. Loira, 'gostosa' e esses outros adjetivos nojentos.
Fui pro meu quarto tentando não pensar no que tinha acabado de ver.
Minutos depois, Victor entrou nele.
- Desculpa por aquilo - disse ele.
- Tá tudo bem - falei - A casa é sua .. - sorri tentando parecer o mais natural possível.
Ele não respondeu mas ficou me olhando daquele jeito dele.
- Eu ... eu vou dar uma revisada na matéria - menti.
Ele assentiu e saiu do quarto.
*
- Então, ela é uma mãezona. - disse o Vinicius.
Estávamos no carro dele estacionado em frente à faculdade.
- Ela não falou do marido mas falou muito do Lucas. É tão estranho que ela tenha que passar por isso.
- O Lucas disse que talvez ela esteja sendo ameaçada. - falei.
- E não podemos denuncia-lo?
- Acho que ela tem medo - olhei pra ele - Imagina se ele for solto dois dias depois.
- Ah é.
Ficamos quietos por alguns segundos.
Diferente do carro do Victor, aquele carro não tinha cheiro nenhum.
Vinicius acariciou a cabeça.
- Que foi?
- Dor de cabeça - falou.
- Constante?
Ele riu.
- Tá tudo bem, médico - sorriu - São normais.
*
As aulas foram tranquilas.
Lucas cada vez mais se abria conosco, o que era ótimo. Disse que até voltava mais feliz pra casa.
Fiquei muito contente.
Vinicius me levou em casa.
Nossa amizade também estava crescendo.
Ele me contava coisas banais, que pra ele pareciam importante e isso me fazia sorrir.
Nos conhecemos do nada, e de repente saiu uma amizade.
Quando cheguei em casa, o Victor estava sentado na sala, com a TV desligada.
Ele estava pensativo.
- Tá tudo bem? - perguntei assim que fechei a porta da sala.
- Tá - ele se levantou - Você não me disse como foi na casa do seu amigo.
- Ah é ...
Fui pra cozinha, com ele me seguindo.
Pensei se deveria contar pra ele. Mas que diferença poderia fazer?
- Encontrou com o pai dele?
- Não - bebi um pouco de água - O pai dele não estava lá.
- Ah, então é pai dele ...
Assenti.
Ele me olhou como se esperasse o resto da história.
- Problemas de família - falei.
Meu bolso vibrou. Era o meu celular tocando.
Era aquele número privado de novo.
- Alô?!
Eu podia sentir claramente alguém do outro lado da linha.
- Olha aqui, isso não tem graça ok?! Já chega!
Victor me olhou.
A pessoa continuava em silêncio. Interrompi a ligação.
- O que foi?
- Um número desconhecido me ligando - falei - Todo dia, toda hora.
- Muda de número uai.
Já havia pensado naquilo.
- Meu pai vai ficar preocupado, vai querer saber porquê.
- E ele deve ficar preocupado? - perguntou ele me olhando fixamente .
- Claro que não! - falei - É uma brincadeira idiota.
*
A semana passou e não recebi nenhuma ligação.
Lucas estava mais 'aberto' e sua mãe mais feliz.
O pai dele havia feito uma viagem a trabalho, o que deu uma alívio para os dois.
Victor e eu não nos falávamos muito bem. Não sei dizer bem o porque.
Em compensação Vinicius e eu nos falávamos todos os dias. As vezes ele parecia meio longe, e outras que nem me ouvia, mas depois ele sorria como se nada tivesse acontecido.
- Eu gosto muito de você, sabia? - me disse ele ao telefone.
Eu estava sozinho em casa. Victor havia ido jogar futebol em pleno domingo.
- Não com duplo sentido, mas com respeito sabe?
Sorri.
- Sei - pausa - Eu tambem gosto de você.
- E o Victor?
Aquela pergunta me pegou de surpresa.
- Tá jogando futebol - falei.
- Não foi isso que perguntei ...
- Não entendi sua pergunta.
- Eu presto muito a atenção em você - disse ele - Muito mesmo.
- Eu sei, você me ama, qual a novidade?
Ele riu.
- Na faculdade, quando ele passa por nós ... Você o olha.
Gargalhei.
- Ah para! Que argumento mais ridículo - falei rindo - Eu olho porque os olhos foram feitos pra isso.
- Sei ...
- Tá com ciúme? - perguntei
- Não quero que você se decepcione.
Não consegui achar palavras para aquela afirmação.
- Tá tudo bem Vini - falei - Eu sou blindado.
Ele riu.
*
Era segunda. Victor estava trabalhando, chegaria em poucos minutos.
Sozinho, eu pensava em arrumar um emprego. Eu precisava do meu próprio dinheiro, e não ser sustentado pelo meu pai o resto da vida.
Meu celular tocou. Era a Ana, namorada do Vinicius.
- Oi?
- Gabriel! - ela riu - Atrapalho?
- Não, não - sorri - Pode falar.
- Você está ocupado agora?
- Também não.
- Pode me encontrar naquele restaurante que almoçamos outro dia? Queria conversar com você.
Fiquei nervoso.
- Claro - falei tenso.
Combinamos o horário e desliguei.
Pensei em inúmeras possibilidades pra esse encontro, mas não achei nenhuma plausível.
Tomei banho e me arrumei rapidamente.
Cerca de 1 hora depois, estava sentado de frente para a Ana no restaurante.
- Obrigado por ter vindo - disse ela.
- Não foi nada - falei - Mas então?
Ela percebeu minha tensão.
- Não precisa ficar nervoso - riu - Eu acho que não né ...
- O que aconteceu?
- O Vinicius anda meio disperso sabe? - disse - Não sei se é a faculdade, o trabalho ... Não sei.
Assenti.
- Dia desses estávamos conversando alguma coisa e ele ficou quieto do nada. Perguntei o que era, ele disse que havia esquecido o que ia dizer. Aconteceram algumas outras vezes - falou - E sem contar a dor de cabeça, constante.
Assenti novamente.
- Eu queria que você me ajudasse. Só pra saber se devo me preocupar - ela sorriu - Acho que não, mas é melhor prevenir não é?
- Sim, claro - falei.
Eu, como futuro médico, sabia que aqueles sintomas não eram legais e nem normais.
- Ele ouve você - disse ela - Me ajuda?
- Claro que ajudo - falei - Pode contar comigo.
Meu celular vibrou.
Era uma mensagem do Lucas.
"Você contou pro Tiago? Meu Deus, ele veio me perguntar se eu estava bem!!!"
- Tá tudo bem? - Ana me olhava curiosa.
- Tudo ótimo - menti.
*
Cheguei em casa como um foguete.
Victor estava na cozinha. Havia feito compras e estava guardando-as no armário.
- Você contou pro Tiago?
Ele se virou pra mim.
- O que?
- O que eu disse pra você, sobre o Lucas ... Você contou pro Tiago?
Victor fechou e abriu os olhos, depois me olhou constrangido.
- Não era pra ele ter falado nada.
Passei a mão nos meus cabelos. Fazia isso quando ficava nervoso.
- Pelo amor de Deus - falei.
- Porra foi sem querer - disse ele levemente alterado.
- Sem palavrão - pedi - O Tiago perguntou se ele estava bem - comecei a rir - Ele estava de brincadeira né?
- Não sei ...
- Como não sabe?
- Eu não estou na cabeça dele uai - disse.
- Vê se não espalha mais isso - pedi.
- EU JÁ PEDI DESCULPA - disse ele visivelmente irritado.
Ele ficava mais bonito irritado.
- Tá nervoso? - perguntei calmamente.
- Claro que não - falou com a cara fechada.
- Não parece.
- Mas não tô.
- Tem certeza? - a intenção era irrita-lo.
Ele veio pegar algumas coisas que estavam em cima da mesa.
- Absoluta.
- Pensei que tivesse ...
Ele me olhou.
- É? - se aproximou de mim - Porque?
Não respondi.
O cheiro dele era tão bom que dava raiva.
- Tá com medo?
Sorri.
- Nunca.
- Você está distante - disse - Só sai com seu novo amiguinho.
- Ah, então é ciúme? - não era pra eu ter dito aquilo, mas saiu.
Ele riu.
- Agora é comediante também?
- Aprendi com você - sorri de volta e me afastei dele.
*
Eu estava sem fome e sem sono.
Olhei no meu celular. Eram 2:15 da manhã.
Havia combinado de encontrar o Vinicius no parque central amanhã/hoje.
Estava ansioso pra falar com ele porque também havia ficado preocupado.
Esses sintomas podiam indicar tanta coisa ...
Estava escuro no quarto. Entrava somente a luz que vinha da rua.
Minha cabeça passeava por todas as situações que deveriam ser resolvidas.
A minha, claro. Lucas e sua família, e agora do Vinicius.
Sempre gostei de ser cercado de pessoas, de amigos. Geralmente os problemas deles, se juntavam aos meus. Como agora.
Me levantei pra beber água. Ainda estava escuro quando passei pelo corredor.
Acendi a luz da cozinha.
O silêncio era quase insuportável.
Bebi a água e apaguei a luz.
Enquanto passava pela sala, no escuro ouvi um barulho.
Quase imperceptível.
Tão baixo, que só uma pessoa no meio do silêncio da madrugada poderia ouvir.
Um tiro.
Fiquei imóvel.
O barulho parecia vir de longe e ao mesmo tempo de perto.
Meu coração palpitava mais rápido.
Era um tiro, eu tenho certeza. Não podia dizer de onde, mas era.
Com minhas pernas tremendo, voltei pelo corredor e por impulso entrei no quarto do Victor. Acendi a luz.
- Victor - chamei.
Ele demorou alguns segundos pra entender que eu estava ali no seu quarto.
- Oi? Gabriel? - ele rapidamente se sentou na cama. Ele estava de bermuda, sem camisa.
Eu ainda permanecia, tremulo , na porta.
- O que aconteceu? - ele se levantou e veio até mim.
- Eu ouvi um tiro - sussurrei.
- Que? - ele fez minha ideia parecer idiota.
- Eu ouvi, tenho certeza!
- Gabriel, era um sonho - disse ele sorrindo .
- Não, não era. Eu ouvi Victor, eu ouvi.
Comecei a tremer mais ainda.
Ele percebeu meu nervosismo.
- Calma Gabriel - pediu colocando a mão na minha nuca.
Sua mão era quente.
- Victor eu ouvi - falei - Eu fui beber água e quando passei pela sala eu ouvi.
Ele passou por mim e foi até a sala.
Acendeu as luzes e ficou quieto, tentando ouvir alguma coisa.
Enquanto eu estava encostado na parede da sala, Victor foi até à cozinha. Ficou uns 4 minutos por lá.
Voltou e fez que não com a cabeça.
- Nada - disse ele me olhando como se eu estivesse sonhado.
- Eu ouvi Victor ... - saiu uma lágrima dos meus olhos - Eu ouvi ... Foi baixo mas pareceu tão perto ...
Victor veio até mim e me abraçou.
Ele estava extremamente quente. Meu corpo ficou mole ao sentir aquele toque.
Ele era mais alto, então teve que se curvar pra me abraçar.
- Eu acredito em você - disse no meu ouvido.
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Oi gente! Desculpa por não ter postado ontem. Tive um simulado pra fazer e me atrasou. O CAP ficou meio pequeno mas espero que gostem. Bjs.
PS : Sobre o conto que vocês estão citando, não achei ele também, deve ter sido excluído. A história era ótima e fico feliz com a comparação hahaha.