VISÃO DO VICTOR.
Acordei cedo, tinha que ir trabalhar.
Ontem a noite tinha sido uma loucura.
O Gabriel conseguia acabar comigo de todas as formas possíveis.
Aquela boca, aquele sorriso ... Puta merda, só de pensar fico maluco.
Me arrumei rapidamente, porque não podia me atrasar.
Antes de ir, passei no quarto dele. Gabriel dormia tranquilamente, como se nada o perturbasse. Eu queria que realmente fosse assim.
Saio de casa com meu carro, escutando uma música qualquer e pensando em como as coisas aconteceram tão rápido.
O Gabriel não sabia, mas eu e o pai dele conversávamos regularmente.
Ontem mesmo nos falamos. Ele fazia perguntas perguntando se ele estava bem, ou se tinha acontecido alguma coisa estranha.
Ele havia me explicado o porque do Gabriel ter vindo pra cá, mas nunca tocamos no assunto. Talvez ele pense que eu não saiba.
Se o pai dele ligar, não sei o que farei. Não quero mentir, mas ele me pediu uma semana pra resolver algumas coisas. Prometi dar-lhe essa semana.
Cheguei no meu trabalho, era uma pequena empresa de tecnologia. Só trabalhava ali pra conseguir pagar a faculdade.
Lia alguns relatórios mas não conseguia me concentrar. Meu pensamento sempre ia de encontro ao Gabriel.
A manhã passou e finalmente chegou a hora do almoço.
Decidi ir até o hospital onde o Vinicius, amigo dele, estava.
Estava curioso em conhece-lo. Já tinha o visto algumas vezes na faculdade, sempre rodeado de amigos.
Fui até meu carro, no estacionamento e segui para o hospital.
Na recepção a moça me explicou mais ou menos onde eu deveria ir.
Segui o que ela disse e em um dos corredores encontrei o Lucas, falando ao celular.
O comprimentei com a cabeça e sorri. Ele sorriu de volta, e apontou para a porta do quarto.
Agradeci.
Ele era gente boa. Pelo menos era o que o Tiago tinha falado.
Tiago estava tão confuso que me ligou há duas noites, chorando, perguntando o que estava acontecendo com ele.
Eu disse que não podia responder por ele.
Quando ele me disse que estava possivelmente apaixonado pelo Lucas, o questionei perguntando se não seria pena.
Ele pensou e disse que não. Não era pena. Ele simplesmente não conseguia explicar.
A partir daquele momento ele teve certeza do sentimento.
O medo inicial dele era de que o Lucas não acreditasse, mas acho que eles já resolveram isso.
Entrei no quarto.
Gabriel estava sentado na cama dele, foi a primeira coisa que percebi.
Ele me viu e ficou surpreso.
- Oi - falei com ele. Logo depois olhei pro Vinicius - Ei cara? - sorri.
- E aí? - ele me respondeu com um sorriso, feliz.
Gabriel se levantou e veio até mim.
Beijei-lhe a a testa, depois a bochecha.
O rosto dele ficou vermelho.
Me aproximei do Vinicius.
- Tá tudo certo? - perguntei.
- Tá tudo sobre controle cara - disse - Não sei porque eles ficam tão nervosos.
Ele estava incrivelmente tranquilo.
Ele segurava um livro nas mãos.
- Meu Deus, Isso é a Bíblia do futebol? - perguntei pegando o livro das mãos dele - Puta merda, quero muito ler.
- Eu te empresto - ele sorriu - Quando... Vocês sabem né ...
Eu ri.
- Esse livro é o ápice da literatura futebolística - falei
Gabriel sorria, aparentemente não entendendo nada que eu falava.
- Gabriel casa com esse cara agora! - disse o Vinicius sorrindo.
Gabriel me olhou, vermelho. Pisquei pra ele.
Conversamos sobre futebol e o nosso amor pelo Cruzeiro.
Gabriel foi pra janela. Parecia preocupado com alguma coisa. A última coisa que eu queria era vê-lo preocupado.
Prometi a mim mesmo que hoje a noite ligaria pro pai dele e diria que ele estava recebendo ligações estranhas.
Minutos depois, Tiago e Lucas entraram no quarto.
Conversamos mais um pouco depois saímos.
Era o meu horário de almoço, então não pude demorar.
Dei um beijo rápido no Gabriel, e voltei pro trabalho.
*
Pra minha surpresa, ganhei uma "promoção" no trabalho. Subi um nível, e ganharia um pouco mais. Fiquei tão feliz que queria contar pro Gabriel.
Mandei uma mensagem dizendo "FUI PROMOVIDO! VAMO COMEMORAR!"
"HAHA QUE LEGAL! NÃO VOU NA FACULDADE, TO CANSADO" - respondeu.
"TÁ BOM, A GENTE COMEMORA EM CASA" - mandei.
Ele respondeu com um OK.
O resto da tarde se arrastou. Acho que era porque eu estava doido pra chegar em casa.
Quando cheguei, subi rapidamente e abri a porta do apartamento.
Não a tranquei, e deixei minhas coisas sobre o sofá.
Gabriel saiu da cozinha e se assustou com minha chegada.
- Não ouvi você chegar - disse ele com a mão no coração.
- Te assustei? - perguntei me aproximando dele.
- Um pouco - falou.
Segurei seu rosto em minhas mãos.
Ele ainda usava a roupa do hospital e aparentava estar muito cansado.
Beijei-lhe a testa depois a boca.
Porra, como ele beijava bem. Sentia um misto de sensações.
- Foi promovido? - perguntou.
- Sim! - sorri - Vamos brindar.
Fui até a cozinha e coloquei uma taça de vinho pra mim e uma taça de água pro Gabriel.
Fui pra sala.
- Toma - entreguei a água.
- Vamos brindar a que? - perguntou.
- A nós - sorri - E a minha promoção, claro.
Ele sorriu envergonhado.
O observei atentamente, gostava de Fazer isso.
Ele bebia um pouco da água quando arqueou a sobrancelha.
- Para de me olhar assim - pediu.
Sorri e continuei o encarando da mesma forma.
Aquele rosto, aquela pele ... Aquele sorriso. Todos juntos em uma pessoa só. Nunca pensei que isso fosse capaz.
- Isso é uma aposta? - perguntou ele.
- Que?
- Você e eu ... O Tiago com o Lucas ...?
Me aproximei dele e sorri.
- Você acha que eu seria capaz disso?
- Não foi isso que eu perguntei - me encarou.
- Não - falei colocando minhas mãos em sua cintura - O Lucas é um arrependido apaixonado e eu sou um apaixonado arrependido.
- Arrependido por que? - perguntou.
Apertei um pouco mais sua cintura, ele deu uma leve tremida.
- Por não ter te beijado antes, abraçado antes ... - falei - Por não ter te tido antes.
Ele me estudava. Tentando pegar um pouco de mentira, talvez.
Mas não achou. Nunca falei tanta verdade na vida.
- Isso me lembra um música - falei.
- Que?
Soltei ele, dei um beijo em sua testa, e fui pro meu quarto.
- Gosta de Jorge e Mateus? - perguntei do quarto.
- Um pouco - respondeu.
- Vou colocar um música.
Liguei o radio que tinha no meu quarto e pluguei o cartão de memória. Tinha algumas músicas do Jorge e Mateus, que eu gostava bastante.
- Vai dançar comigo hein ... - gritei rindo.
Ele não respondeu.
"Talvez não tenha entendido" - pensei.
Tirei meu tênis e a camisa, fiquei só de calça.
Voltei pra sala e Gabriel não estava mais lá.
A taça com sua água havia caído sobre o sofá, e o molhou.
A porta da sala estava aberta.
Fiquei sem reação por uns 5 segundos.
Fui correndo até o corredor. Os outros apartamentos estavam silenciosos.
Tentei pegar o elevador, mas alguém o usava.
Alguém que queria levar o Gabriel de mim.
Rapidamente corri para a escada de incêndio.
Nunca havia corrido tantos andares.
Minha respiração estava pesada e minhas pernas doíam.
Sem camisa e descalço, cheguei ao primeiro andar no momento em que o elevador se abriu.
Uma moça, com roupa de malhar saiu e sorriu pra mim.
Percebeu minha cara de preocupação e se afastou, assustada.
Pus as mãos na cabeça e mordi os lábios.
Aquilo não podia estar acontecendo.
Meu Gabriel, havia sido levado da minha casa.
******
Ficou pequeno? Ficou pequeno.
Sorry, mas esse tamanho foi preciso. Foi uma introdução ao que virá. Vi que estão gostando, mas estão tristes pela possível morte do Vinicius.
E então, morre ou não morre? O que vocês acham que vai acontecer?
Bjs.