AMOR DE PESO - 01X21 - EMPURRADOS DO ARMÁRIO

Da série AMOR DE PESO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 4229 palavras
Data: 17/10/2016 22:48:56
Última revisão: 04/03/2025 07:14:30

Pai e Mãe,

Tive um encontro perfeito com o Zedu. Acho que vocês gostariam dele. Muitas coisas mudaram dentro de mim nos últimos meses. E a melhor parte? Estou gostando dessas mudanças. Na verdade, estou adorando.

***

A escola teria uma premiação para homenagear os melhores alunos. Os professores seriam os responsáveis por analisar quem estava se destacando dos demais. Não queria ser presunçoso, mas, dentro de mim, algo me dizia que eu poderia ser escolhido. No fim das contas, três professores me selecionaram. Todos ficaram felizes quando anunciaram meu nome nos alto-falantes do colégio.

— Um verdadeiro talento, parabéns! — Brutus gritou, me abraçando.

— Eu queria ser destaque em artes, mas nem para isso eu sirvo. — Letícia lamentou enquanto tirava o frasco de remédio da bolsa e tomava uma pílula. — Acho que deveríamos comemorar, tipo, uma festa!

— Eu concordo. Ainda mais porque pode ser meu último evento em Manaus. — Diogo falou, deixando todos surpresos. — Consegui uma vaga em um colégio de Portugal.

— Ótimo, então uma comemoração dupla. — Zedu se adiantou, pegando no ombro de Diogo e fingindo um choro.

— Poderíamos fazer um "encontrinho" em casa. Meu pai vai viajar. — disse Ramona, sentando-se ao lado de Letícia.

— Festa! — gritaram Brutus, Letícia e Zedu, em uma sincronia de dar inveja.

Sim, Ramona. Infelizmente, a festa vai acontecer na sua casa e, em menos de dois minutos, toda a sala ficou sabendo. Zedu e eu aproveitamos a distração dos nossos amigos para ir ao banheiro. Tá, não precisa me julgar, mas sou um adolescente em desenvolvimento, ou seja, os hormônios falam mais alto.

Ficar com Zedu era maravilhoso. Gostava de sentir cada parte do seu corpo, ainda mais quando sua pele tocava a minha. De repente, escutamos vozes vindo de fora e nos refugiamos em um dos boxes vazios. Como o espaço era limitado, a gente se sentiu como sardinhas dentro de uma lata.

Eu não resisti e beijei Zedu no banheiro. A Alicia estava do lado de fora, e nós nos beijávamos do outro lado. Ele era irresistível. Eu o amava e, infelizmente, não podia falar do meu amor para os outros, seja pelo fato de estar namorando outra pessoa, seja porque Zedu não era assumido.

Já vivi vários momentos constrangedores na minha curta existência, entretanto, nada me preparou para aquela situação. Um dos alunos utilizou o box ao nosso lado e, aparentemente, estava com problemas estomacais. Aconteceu uma sinfonia de peidos e gemidos.

O seu José Eduardo é o tipo de pessoa que adora ter acessos de riso nas horas mais inapropriadas. Enquanto o aluno fazia seu "serviço" e gemia, Zedu não aguentou e começou a rir. Tive que tapar sua boca, pois, caso contrário, alguém poderia nos flagrar.

— Eu juro por Deus que vou ficar um mês sem te beijar. — cochichei no ouvido dele, que tentou segurar o riso.

— Eu vou... eu vou...

— Puta merda, literalmente. — falei quando, além dos sons, passamos a sentir a "situação" do colega.

***

A vida pode ser tão contraditória, né? Enquanto eu sofria por causa da dor de barriga de alguém, o Carlos tentava escolher um perfume para a tia Olivia. Ele cheirou todas as opções do catálogo, mas nada lhe agradou. Apesar de gostar da titia, algumas coisas o incomodavam, principalmente quando se tratava de trabalho.

Minha tia e Carlos continuavam firmes. Algumas coisas o incomodavam, principalmente quando se tratava de trabalho. Afinal, não é todo dia que um estagiário namora sua chefe.

— Carlos, o documento 349 já está disponível no sistema? — perguntou tia Olivia, entrando apressada na sala e ligando o computador.

— Sim. — Carlos respondeu, fechando o catálogo de perfumes.

— Ai, amor... digo, Carlos.

— Amor? — perguntou o estagiário, levantando-se e indo em direção à namorada.

— Carlos, por favor. Estamos na empresa. Você precisa concluir o estágio, e eu, manter meu emprego. — Titia tentou repreendê-lo, mas não pôde esconder o fato de que o chamou de "amor". — Ah, hoje também tenho um jantar com o grupo de direitos humanos. Só confirme o horário.

— Claro. Que roupa devo vestir? — ele quis saber, pegando o bloco de notas e a caneta.

— Carlos, o encontro será com vários diretores. — Tia Olivia pensou nas palavras certas, mas elas não vieram.

— Entendi. Eu sou o seu estagiário.

— Obrigada pela compreensão. Juro que, neste fim de semana, retribuo.

Algo inédito aconteceu em nossa casa: Richard recebeu um coleguinha da escola. Eu não sabia se ficava preocupado ou feliz, mas deixei os dois na sala e subi para terminar um trabalho. Para relaxar durante as atividades, gosto de ouvir Oasis, diferente dos meus vizinhos, que preferem cantores mais peculiares, como Marília Mendonça ou Gusttavo Lima.

Preciso confessar uma coisa: eu sempre esqueço que tenho dois irmãos. Sério. É como um bloqueio não intencional. Enquanto ouvia "Little By Little", do Oasis, Giovanna entrou fazendo uma confusão. Aparentemente, ela precisava ensaiar para o espetáculo Romeu e Julieta, mas Richard não a deixava em paz e, nesses momentos, eu me lembrava dos meus dois irmãos.

Buscava ser sempre imparcial com eles, principalmente devido ao forte gênio de Richard e Giovanna. Era quase como uma briga de titãs que, nesse caso, mediam menos de 1,50 metro de altura. Parei para ouvir todo o drama de Giovanna e, por um instante, achei que a música do Oasis combinava com sua história.

— Yuri. — Giovanna falou, batendo o pé no chão. — Tira o Richard da sala ou conto tudo para o Diogo.

— Contar o quê? — perguntei, levantando uma das sobrancelhas como uma forma de enfrentá-la.

— Que tu escolheu ficar com o Zedu.

Não sei qual foi minha reação à ameaça da Giovanna, mas creio que se parecia com a de um personagem de desenho animado. Como essa pirralha teve coragem de me desafiar?

— Cuidado, irmão. Boca aberta, entra mosca.

Pensei em várias maneiras de puni-la, entretanto, nenhuma terminava com a Giovanna viva. Respirei fundo, busquei o auxílio de todos os chakras existentes dentro do meu corpo e andei em direção ao meu computador. Giovanna acompanhou com aquela expressão horrível de deboche.

— Giovanna, querida irmã, eu não queria fazer isso, mas estou sendo obrigado, juro. — Disse, abrindo o notebook e acessando uma pasta criptografada.

— O que é isso? — ela perguntou, curiosa.

Quando meus pais morreram, fiquei com os celulares deles. Nos arquivos, o que mais encontrei foram momentos constrangedores dos meus irmãos. Mantive isso em segredo, pois sabia que, um dia, esses vídeos e fotos poderiam ser úteis. Cliquei na pasta "Giovanna" e abri um vídeo.

Nas imagens, meu pai mostrava a luta que foi para Giovanna tomar uma vacina. Minha irmã fez o maior escândalo, enquanto os enfermeiros tentavam aplicar a injeção. Em determinado momento, Giovanna chutou o rosto de uma das enfermeiras e saiu correndo sem as calças.

Confesso que, em parte do vídeo, tive vontade de chorar. Dava para ouvir a gargalhada do papai. Giovanna teve a mesma reação que eu. Com a mão direita, fechei sua boca, que estava aberta.

— Como você viu, irmã querida, sou ótimo em guardar segredos também. Já pensou se o Richard...!!! — gritei e continuei em tom normal: — Descobre? Richard!!!!

— Yuri, eu não sei de nada. Eu não sei de nada.

Para o desespero de Giovanna, Richard não demorou a aparecer. Nós três ficamos nos olhando por alguns segundos. Então, meu irmão perguntou o que a gente queria. Inventei uma desculpa qualquer, mas ele viu o vídeo e quis saber de quem era aquele bumbum na tela do notebook.

— Não é de ninguém. Ei, preciso que você vá estudar no seu quarto. A Giovanna precisa ensaiar para a peça — expliquei para Richard.

— E era preciso fazer esse escândalo todo? — ele perguntou.

— Ai, meu ombro. Deve ser porque me perdi na floresta e quase morri. Ainda bem que você está vivo, né? — usei um método diferente para chantagear meu irmão.

— Tá, eu vou para o meu quarto. Quero mostrar minha coleção de aranhas para o Jonas — disse Richard, saindo correndo.

— Yuri, valeu — agradeceu Giovanna, com outro tom. — E o vídeo, tipo... será que você poderia apagar?

— Claro que não. Lembra dele, tá? — ameacei, piscando e sorrindo.

— Ei, eu não sou louca. Jamais contaria para o Diogo.

— Contar o quê? — perguntou Diogo, nos assustando.

Pânico gay!!! Pânico gay!!! Giovanna e eu nos olhamos e não conseguíamos pensar em nada. Ok, Diogo ainda era meu amigo, mas eu não estava pronto para contar sobre minha relação com o Zedu.

— Que ela te admira muito. Vai, peste — inventei, levantando-me e empurrando Giovanna em direção à porta do meu quarto. — Tchau, peste.

— Tchau, sou uma peste — disse Giovanna, saindo do quarto.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei a Diogo, enquanto fechava a porta.

— Estava passando e decidi falar com meu amigo.

— Entendi. Chegou em boa hora. Estou com dificuldade nesta lição de Biologia.

— Como assim? O CDF da escola está com dificuldade? — ironizou Diogo, apertando minha bochecha.

— Idiota. Menos sarcasmo e mais ajuda, por favor.

***

O ódio pode nos levar a caminhos extremos. João e Lucas estavam esperando o momento certo para atacar. Eles sabiam que era necessário ter cuidado para me prejudicar. Durante a aula de educação física, eles se aproximaram de Alicia.

A patricinha continuava em seu caminho de redenção e nem imaginava que seu ex já havia encontrado um novo amor. Durante as atividades, Alicia aproveitava para retocar a maquiagem quando foi abordada por seus colegas.

— Alicia! — João a chamou, quase cantando. — Eu não quero ser fofoqueiro, mas você percebeu que, desde que o Zedu te chutou, ele está mais próximo do Yuri?

— Como assim? — perguntou Alicia, guardando o batom na bolsa.

— Quer que eu desenhe para você? Não seja idiota. Olha como o Yuri olha para o Zedu. — afirmou João, apontando para frente.

Nesse exato momento, Zedu fez um gol, e nós estávamos na arquibancada torcendo. Ele se aproximou, e eu lhe entreguei uma garrafa de água. Não demorou para Alicia resolver a equação. Ao perceber a expressão da patricinha, João iniciou seu ataque pelo lado mais sensível: o amor de Alicia por Zedu.

— O Zedu nunca faria isso. Ainda mais com o Yuri.

— Bem, eu só queria te avisar, mas, se eu fosse você, não o confrontaria agora. Ele vai negar. Usa a cabeça. Me faz entrar na festa da Ramona, e eu te ajudo a provar. — disse João, entregando um cartão com seu contato para Alicia.

Escola, namoro (escondido) e família. Esses elementos me faziam feliz, porém estavam tomando uma parte enorme do meu tempo. Eram tantas atividades que acabei esquecendo o ensaio com o Diogo. Recebi uma ligação de George, peguei algumas roupas e segui para o estúdio. Fiquei impressionado com o capricho do cenário.

Para o ensaio LGBTQIA+, o conceito eram os meses do ano. Diogo e eu pegamos o mês do Natal, ou seja, o cenário mais fofo de todos. A equipe de fotografia estava atarefada, então, além de modelo, resolvi ajudar e aprendi bastante sobre ensaios fotográficos. Antes do ensaio, enviei uma mensagem para Zedu, mas ele não viu. Provavelmente, estava na fisioterapia.

George me deixou responsável por fazer o registro das fotos do casal de abril. Nunca fiquei tão nervoso. Os modelos estavam em um cenário que lembrava uma floresta (gatilho). Eles usavam roupas indígenas, com direito a cocares e pinturas. Pensei em desistir, mas Diogo acabou sendo um ótimo incentivo, sempre com suas frases clichês de superação.

Diafragma? Ok. ISO? Ok. Regra dos terços? Ok. A iluminação ajudava na composição do cenário, e deixei os modelos livres para posarem. Sim, aprendi bastante sobre fotografia nos últimos meses e, apesar do nervosismo, consegui tirar ótimas fotos. Pelo menos, o casal aprovou.

— Bem, agora é a vez do fotógrafo modelar. — Diogo anunciou, como se fosse algo bom.

— Acho que devemos nos trocar, né? — perguntei, mais nervoso do que deveria.

— Sim, infelizmente a gente não pode usar o mesmo banheiro como da última vez. Agora que você é um rapaz comprometido. — disse ele, tentando me provocar.

— Larga de ser besta. Eu não estou namorando. Diogo... — Pensei com cuidado nas palavras. Por um segundo, quase contei sobre meu relacionamento com Zedu, mas não queria fazer nada precipitado. — Você sabe que foi importante na minha vida. Mas temos planos diferentes. Em breve, você vai para Portugal. A gente se curtiu, conseguimos ter o nosso tempo.

— Relaxa, Yuri. Eu estou bem com isso. Você é solteiro. Pode namorar com quem quiser. Eu vou me trocar no escritório do George. Até depois. — anunciou, antes de pegar a mochila e sair.

Para a sessão de fotos, comprei um suéter vermelho com detalhes de árvores de Natal, bonecos de neve e doces natalinos. O Diogo ficou muito fofo com um suéter de tricô verde, com desenhos das renas do Papai Noel. Jonas deu o toque final ao nosso look: dois pares de meias vermelhas com várias bengalas de Natal.

Não vou mentir, o nosso cenário foi, de longe, o mais bonito. Tudo bem que aquilo não era a personificação do Natal, mas Hélder pensou em todos os detalhes para deixar as fotos em um ambiente aconchegante. George apareceu e deu algumas instruções, como passar naturalidade e tentar não olhar para as lentes da câmera.

Do nada, surgiram gorros natalinos e duas xícaras fofinhas. Na história que George criou, Diogo e eu éramos um casal curtindo o Natal em um chalé. Até uma janela falsa Hélder providenciou. Segundo Jonas, George adicionaria um fundo falso na edição.

Por algum motivo, Diogo me deixou nervoso. Aquela proximidade disparou meu coração. Um calor tomou conta do meu corpo... ou seriam as luzes do estúdio? Tiramos várias fotos. Em uma delas, George pediu que Diogo tocasse meu rosto. Ele sorriu e fez o que o fotógrafo mandou.

— Ei, Yuri. É apenas um ensaio. — garantiu, sorrindo.

— É apenas um ensaio. — repeti, tentando acalmar meu coração, que batia forte.

— Isso é tudo, pessoal! — gritou George. — Bom trabalho, meninos.

— Amor. — Jonas pegou no ombro de George. — Os outros modelos chegaram.

— Finalmente. Ei, Yuri, acha que pode me ajudar com mais fotos? — perguntou George, tirando o cartão da câmera e entregando para Jonas.

— Claro, eu vou adorar.

Meu primeiro e único dia como modelo passou tão rápido que nem tive tempo de saborear o status do mundo fashion. Tirei o suéter e vesti uma camisa mais confortável. Fiquei responsável por fotografar os meses de maio e junho. Nunca imaginei, em toda a minha existência, que um dia me interessaria por fotografia. Aquilo me acalmava de uma forma estranha.

Meu dia estava tão corrido que esqueci de ajudar o pessoal na casa da Ramona. Nem conversei direito com meus amigos e precisei "voar" com o Diogo para o local da festa. Quando chegamos, a galera já havia montado parte da aparelhagem. O Brutus trouxe uma quantidade exagerada de bebidas. Já a Letícia ficou responsável pela comida, então comprou vários salgadinhos e bolachas.

A Ramona, apesar de preocupada, adorou a nossa presença. Afinal, quando o pai viajava, ela ficava sozinha. A Letícia apresentou o Bernardo, amigo do Arthur, e juro que senti um clima diferente entre ele e Ramona. Quem não gostou nada da história foi o Brutus, que ficou na defensiva.

— Quando ficar sozinha, me liga. Te faço companhia. — Bernardo começou pegando pesado e tirou um riso abafado de Ramona.

— Ei, ei, ei. Ela não precisa, tá? — disse Brutus, tentando parecer tranquilo com a situação. — Eu faço rondas aqui quando o pai dela viaja.

— Mas o que uma criança pode fazer? Eu já tenho 18 e posso resolver tudo.

— Atrevido! — pensou Brutus, ficando vermelho de raiva.

— Cuidado, Brutus. Não vai explodir. — comentou Letícia, rindo.

— Explodir por quê? — ele perguntou, coçando a cabeça.

— Por ciúmes da Ramona.

— Letícia! — repreenderam Brutus e Ramona.

— Bernardo, é brincadeira dela. Brutus e eu, tipo, somos só amigos. — disse Ramona, para a decepção de Brutus.

— Somos? — ele questionou.

— Xi. Torta de climão. Deixa eu sair daqui. — Letícia deu dois passos e se desequilibrou. — Ei, estou bem. Quero água. Essa dor de cabeça de novo. — Pegou sua bolsa e foi em direção à cozinha.

Eu não sabia que ter amigos era tão divertido. Em Manaus, consegui ter dois grupos e me sentia bem com ambos. Com George, Jonas e Hélder, eu podia pedir conselhos sobre o universo gay; já com meus amigos do bairro, podia ser apenas um adolescente. Me considerava a própria Hannah Montana, pois tinha o melhor dos dois mundos.

A noite chegou e todos nós nos arrumamos para a festa. Ramona preparou um jantar para os mais íntimos antes da chegada dos convidados. Pela primeira vez, tomei vinho tinto e adorei o sabor adocicado. Lá pelas 22h, os primeiros convidados começaram a chegar. O Zedu se atrasou por causa da fisioterapia e pediu desculpas. Percebi que ele foi seco comigo, mas Ramona acabou tirando toda a minha atenção.

Eu gostei do Bernardo, mas, cara, a seleção de músicas dele é horrível. Não gosto de julgar o gosto musical de ninguém, longe de mim, mas o DJ precisa ser democrático. Graças a Deus que a Ramona se distraiu com o amigo do Arthur, e eu pude conversar com o Zedu.

— Ei, bonitão. Vem sempre aqui? — perguntei, me segurando para não beijá-lo.

— Sério, Yuri? — ele perguntou, mostrando uma foto minha e do Diogo no ensaio do George.

— Eu posso explicar.

— Eu preciso ficar um tempo sozinho, Yuri. Depois conversamos. — Zedu acenou para Brutus e foi em sua direção.

Que merda. Como as coisas saíram do controle desse jeito? Fiz o ensaio com as melhores intenções, mas parece que alguém acabou machucado nessa história. Ainda bem que eu não era o único com problemas. Letícia ingeriu o remédio com álcool e achou divertido fazer um strip-tease em cima da mesa de jantar.

Alguns garotos começaram a aplaudir, para o desespero de Arthur, que logo tirou a namorada daquela situação embaraçosa. Com muita dificuldade e contando com a ajuda de Bernardo, ele conseguiu fazer Letícia ficar mais tranquila. Nesse instante, Bernardo iniciou sua pesquisa de campo.

— Ei, Arthur. A Ramona é solteira? Acho que não tem problema a gente ficar, né? — ele perguntou antes de apontar para frente e mostrar ao amigo que Letícia estava fazendo pole dance em uma árvore de plástico.

— Amor! — Arthur exclamou, levando Letícia para perto de Bernardo.

— Cara, ela é solteira, sim.

— Vou investir. Boa sorte com a Joana Cana Brava. — Bernardo ironizou e saiu em direção à Ramona.

Sabe por que eu gosto dos gays? Eles são diretos. Tipo, quando gostamos de alguém, dependendo da situação, não enrolamos tanto para uma declaração. Bernardo ficou rondando Ramona como se ela fosse uma presa prestes a ser abatida.

Do outro lado da sala, Brutus conversava com Zedu, porém, percebeu uma movimentação diferente. Seu coração bateu mais forte quando Bernardo ofereceu um drink para Ramona. A tensão foi tamanha que Brutus nem escutou o melhor amigo filosofando sobre a vida e quase saindo do armário.

— Vou já. — Ele anunciou para Zedu e andou em direção ao rival. — Ei, Bernardo? As pick-ups estão sozinhas?

— Estava cumprimentando a anfitriã. — Piscou para Ramona e voltou para o posto de DJ.

Os problemas do coração estavam afetando a todos naquela festa. Minha situação ficou ainda mais complicada quando Alicia chegou. A patricinha ajudou João e Lucas a se infiltrarem na casa de Ramona. Ela aproveitou que Zedu ficou bebendo sozinho e deu o bote. Mesmo um pouco alto, meu namorado conseguiu resistir aos encantos da ex.

Aos poucos, a turma foi se juntando em uma mesa próxima ao bar improvisado. Confesso que tomei mais drinks do que gostaria. O álcool sempre me pegava legal. Geralmente, eu ficava o bêbado engraçado, mas ao ver Zedu ali na minha frente, minha garganta começou a fechar e meus olhos ficaram marejados.

De repente, Bernardo colocou para tocar "Don't Look Back in Anger", do Oasis. Tantas opções e ele faz isso comigo? Essa canção meio que se tornou nossa. Enquanto fingíamos normalidade, a voz de Noel Gallagher conseguia penetrar no meu coração.

— Ei, está tudo bem? — Perguntou Diogo, pegando no meu ombro.

— Sim. É que a vodka me pegou de jeito. — Disfarcei, mas chorava por dentro.

— Então, Diogo e Yuri, vocês ainda estão namorando? — Quis saber Alicia, com um sorriso no rosto.

— Nunca namoramos. — Disse Diogo, curto e grosso. — Agora, o Zedu te chutou, né?

Sim, Alicia escutou aquilo que mais temia. Ela não era mais namorada de Zedu e muitas dúvidas surgiram em sua cabeça, ainda mais depois do comentário feito por João. Ao ver Zedu se aproximando, Alicia pegou o copo, fingiu tropeçar e derramou parte da bebida no ex-namorado. Em seguida, iniciou-se um tumulto e alguém jogou vinho em mim.

Caramba! Minha camiseta branca ficou vermelha por causa do vinho, e Zedu tinha dificuldades para abrir os olhos devido à vodka que Alicia derramou nele. Diogo pegou um lenço, mas o estrago já estava feito. Alicia fingiu preocupação e ajudou Zedu.

— Gente, se quiserem, podem se lavar no meu banheiro. — Sugeriu Ramona, tentando não rir da situação.

— Não precisa. — Soltei, um pouco mais grosso do que queria soar.

— Precisa sim. Vamos?

Ramona foi na frente e eu ajudei Zedu a subir. Ela nos deixou sozinhos em seu quarto. Tirei a camiseta e levei meu namorado até o banheiro para lavar o rosto. Não nos falamos, mas não pude deixar de notar que Zedu estava chorando.

— Desculpa por ter agido igual a um babaca. Tudo isso é novo para mim. — Ele soltou, sem olhar na minha direção.

— Zedu, eu já tinha combinado esse rolê com o Diogo. Juro que esqueci de te avisar. Eu escolhi você. — Falei, pegando em seu ombro e beijando sua nuca.

— Yuri, você é tudo. Você é a voz na minha consciência, a razão pela qual acordo todos os dias para estudar, o amigo que me escuta e sabe os meus segredos mais profundos. Você é tudo. Desculpa, primeiro por ter feito você esperar e, também, por parecer tão inseguro.

Zedu, seu bobão, eu te amo. Um beijo foi inevitável. Os lábios dele tinham gosto de limão e álcool. Acho que os meus também. Ele explorou cada parte do meu corpo, afinal, eu estava sem camisa, e não demorou muito para Zedu tirar a dele.

Só não esperávamos que João e Lucas estivessem assistindo a toda a ação do lado de fora. Eles pegaram uma escada e a posicionaram bem em frente ao quarto de Ramona. "Pode subir", escreveu João para Alicia, que prontamente reuniu meus amigos e disse que tinha uma "pequena" surpresa para eles.

Meio sem entender, Brutus, Letícia, Ramona e Diogo seguiram Alicia para o segundo andar. A patricinha estava tremendo, pois não queria que João estivesse certo. Ela segurou a maçaneta da porta e hesitou um pouco, mas acabou abrindo e flagrou a pegação entre Zedu e eu.

Olhei para frente e, automaticamente, meus olhos se encheram de água. Zedu não percebeu de imediato, então continuou me beijando. Juntei todas as forças dentro de mim e o empurrei para longe. Ele tropeçou, mas conseguiu manter o equilíbrio. Alicia começou a bater palmas e Zedu ficou desesperado, principalmente quando viu Diogo, Brutus, Letícia e Ramona.

Tentei tirar Zedu de cima de mim. Ele não saiu. Meu coração começou a acelerar forte. Juntei forças e o joguei para longe de mim. Ele quase caiu da cama. Meus olhos continuavam fixos, Zedu olhou para trás e ficou congelado. Ramona, Diogo, Alicia, Brutus e Letícia estavam nos olhando também.

Peguei a blusa e vesti do avesso mesmo. Diogo partiu para cima de Zedu, mas foi contido por Brutus. Alicia iniciou uma sessão de ofensas que, juro, não lembro de nada. Apesar de triste, eu ainda estava sob efeito de álcool.

— Diogo, eu posso explicar.

— Explicar o quê? Você sabe que o Zedu só está brincando com você, né? Quer saber? Vocês se merecem. — Diogo falou antes de sair do quarto de Ramona.

— Droga! — Gritei, indo atrás de Diogo.

Zedu continuava em estado de choque, enquanto Alicia fazia um escândalo no quarto. Ele apenas chorava. Cansada da voz de Alicia, Letícia pegou na mão de Zedu e saiu correndo do quarto. Mesmo sem entender o plano da amiga, Ramona ficou na frente da porta para impedir que a patricinha os seguisse.

Música alta, pessoas dançando e luzes cintilantes. Perseguir Diogo não foi a melhor escolha, pois o álcool dentro de mim estava no ápice. Entre vultos e rostos distorcidos, consegui encontrá-lo. Ele parecia chateado demais e, mesmo assim, decidi me aproximar.

— Diogo, espera. — Pedi, pegando com força no ombro dele.

— Yuri, chega! Eu não quero saber das suas desculpas.

— Eu sempre amei o Zedu, ok? Desde a primeira vez. — Expliquei, ainda segurando o braço de Diogo. — Eu nunca te dei esperança de nada. Eu não queria que você descobrisse assim. Vamos conversar...

— Vai pro inferno! — Ele gritou, me empurrando.

Esse era para ser um dia perfeito, mas acabei jogado no chão e juro que senti o cheiro de vômito. As pessoas nem ligaram para o meu estado e continuaram a dançar. Já Letícia conseguiu encontrar um refúgio para Zedu no escritório do pai de Ramona. Porém, ela acabou passando mal e foi socorrida pelo namorado.

— Que merda! — Gritou Zedu, aos prantos, andando de um lado para o outro.

— Zedu, graças a Deus. — Disse Ramona, entrando no escritório.

— Ramona! — Zedu correu na direção da amiga e a abraçou.

— Zedu, sinto muito que tenha sido dessa maneira. Eu sinto muito.

— Eu não sei o que fazer. Eu não sei. — Ele confessou, chorando.

— Vai ficar tudo bem. — Ramona não conseguiu conter as lágrimas e chorou abraçada a Zedu. — Vai ficar tudo bem.

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Comentários

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cara, nao para de escreve por favor, tu tem um puta dom

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cara, nao para nunca, por favor

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EU acho é pouco. Yuri e Zedu é legal? É.....mas eu acho que ele deveria ficar com o Diogo, nem sempre quem nosso coração diz amar eh a pessoa certa. Bem, agora que tudo foi por agua abaixo quero ver como vai ser daqui para frente....mta confusão pela frente...

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BEM FEITO ISSO OCORRER. SE TIVESSEM CONTADO ANTES NADA DISSO TERIA OCORRIDO. MAS FORAM TENTANDO ENGANAR TODO MUNDO. ISSO NUNCA IRIA DAR CERTO.

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