Voltei: Há! Olha a hora. Olha o dia. Plena sexta-feira a noite, quando todos devem estar em suas noitadas de quase sempre. Eu particularmente acabei de terminar um relatório de 68 páginas para a aula de amanhã a tarde e sacrifiquei a balada para escrever e postar esse capítulo aqui para vocês. Além do mais, mesmo estudando Engenharia Civil, não tenho "estruturas" para uma have. Entenderam a piada? Eu ri muito. Desculpa novamente não responder os comentários, mas pelo meu desgaste mental, não me aventuro a responder por medo de falar algo indevido. Prometo que domingo eu volto viu. Boa leitura a cada um ♡♥♡♥
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Em BH comprei um celular com câmera 5mp. Tirei fotos de tudo e de todas as cidades, lugares, restaurantes e lojas aonde fomos durante nossa ida ao sul. Pegamos a BR-381 e nossa primeira parada foi em Varginha. Tirei fotos das estátuas de ET' s, a Nave Gigante localizada no meio da cidade e compramos umas lembrancinhas divertidas. Depois de umas horas vagueando por lá, seguimos viagem. Entramos no estado de SP, lá paramos na Capital e compramos roupas para frio na 25 de Março; logo voltamos à estrada mas dessa vez eu dirigia pois Caio estava cansado. Pegamos a BR-272 e nos depararmos com um aguaceiro sem precedentes próximo à Itapetinga. Paramos em Itaporanga, na divisa de São Paulo com Paraná, em uma hotelaria modesta e gostosa. Caio reclamava das fotos que eu tirava para postar no Face. Tais como de nós dois no carro, eu abraçando ele, nossas comidas, as paisagens, as cidades lindas e tudo mais.
Caio rabugento enquanto esperávamos nossa comida em um restaurante da cidade: Dá pra parar de tirar tanta foto? - disse de fronte a mim.
Chovia forte e um frio fazia-se presente e eu tremia dos pés a cabeça, mesmo estando com 2 camisas, um short, uma calça, meias e tudo mais. Falei: Pára, amor. É pra registrar cada momento juntos.
Ele: Tu sabe que não gosto de ficar tirando fotos e nem expor a gente.
Eu: Eu sei, grandão. Mas quero ter nossos momentos registrados no meu coração e no meu celular. - peguei o celular e tirei uma foto de mim mesmo. Nesse tempoa palavra selfie ainda era desconhecida por muitos, mas já se falava bastante dela nas redes sociais.
Caio: Hum... sei não. Tava pensando em até excluir o face.
Eu olhei pra ele: Oshe... Obrigado - agradeci à garçonete que trouxera nossas comidas. - Por quê?
Caio olhou estranho pro prato, como se achasse a quantidade de comida muito inferior: Já disse, não gosto de fotos nossas circulando por aí.
Eu: Se você quiser eu excluo a minha também, sem problema - falei com um tom desanimado bem perceptível.
Caio: Não, né amor. Mas só tô pedindo pra maneirar nas postagens. Toda hora tem uma foto nossa lá.
Eu: Tá bom, vou maneirar. Mas sabe, aquele dia que você colocou "relacionamento sério com Fernando" foi o mais foda da minha vida. Quase chorei.
Ele rindo e apontando o garfo para mim: Cê é babaquinha né, truta.
Eu: Sou teu babaquinha - com a perna, procurei a coxa dele e fiquei sarrando.
Caio: Não me tenta, que te como lá no carro antes de chegar no hotel. - Falou cafajeste.
Depois de enchermos o bucho, fomos pro carro em meio à chuva e aproveitamos que não tinha ninguém por ali e transamos no banco de trás, comigo morrendo de frio e sendo esquentado pelo corpão de Caio. No outro dia entramos no PR e o clima esfriava à medida que avançávamos ao sul. Não passamos por Curitiba, lamentei por isso, mas vimos cidades pacatas e vilarejos que pareciam pertencer à algum lugar da Europa. Compramos mais roupas para frio em União da Vitória e eu amei ver as pessoas todas estilosas com casacos, luvas, moletons, gorros e cachecóis para lá e para cá. Mesmo com sol, a temperatura era mínima. Seguimos a marcha de carro e eu já me sentia estranho pelo fato de não sentir mais o calor abrasador das demais partes do Brasil. Entramos na linda Santa Catarina e fizemos uma parada num restaurante de Catanduvas. Achei a cidade um espetáculo e as pessoas bem receptivas. O sotaque característico e a forma de falar mais suave, mais educada, menos rude como paraense fala e menos junta como é o caso dos mineiros, fez com que eu me sentisse ainda mais fora do país. Passamos rápido por Campos Novos e Lages, para então (finalmente) entramos em RS. Na altura de Vacaria o pneu do carro furou. Caio o trocou e aproveitou que não passavam muitos carros para fazermos algo caliente. Mesmo com uma temperatura baixa, ele abriu o zíper da calça e transamos - ainda vestidos - atrás do carro sem que alguém nos víssemos. A boca quente dele no meu cangote esquentando a área era por demais deliciosa. Mais um local acrescentado à lista, sem mencionar as várias posições realizadas dentro do nosso carro emprestado; como à que o banco do motorista é reclinado, até se tornar uma espécie de cama, e nela se deita Caio, enquanto eu fico sentado de costas pra ele olhando para frente, em um sobe e desce ritmado ou em umas estocadas fortes do quadril dele sobre minha bunda.
Por fim chegamos à linda e fria Caxias do Sul. Quem não sabe, essa é uma das cidades mais fantásticas do estado do RS e de grande importância para o serto agrícola da região, com um valor histórico inestimável. Nela se realiza, a cada dois anos, o Festival da Uva onde se comemora os dois elementos responsáveis pelos primeiros ciclos econômicos de Caxias do Sul: a uva e o vinho. Em 1972, a festa foi marcada pelo fato de sua transmissão em todo Brasil ser em cores, inaugurando as programações coloridas no país. Teve visitantes históricos como Getúlio Vargas, que veio ao evento especialmente para inaugurar o Monumento Nacional ao Imigrante, e tendo cometido o famoso suicídio meses depois, em agosto, no Rio de Janeiro. Não vou me aprofundar sobre o assunto, pois o mesmo é vasto, mas se um dia vieram em RS, visitem Caxias do Sul. Ok?
Passamos por uns pontos turísticos da cidade e pelo fato de estar caindo uma chuva horrível não paramos em nenhum, seguindo assim imediatamente a um hotel e reservar um quarto para nós. Depois fomos mais ao sul da cidade, num bairro pacato de classe média, com poucas lojas e mais residências com árvores típicas da região em suas calçadas. Minha mãe não sabia que estávamos na cidade, eu queria fazer uma surpresa, portanto decidi mentir - quando ela me ligou dois dias antes - sobre o fato de ainda estar em BH.
A chuva se transformara em um chuvisco chato e Caio dirigia moroso enquanto eu olhava as casas ao redor: É por aqui, só não lembro onde.
- Vamo logo ligar pra tua mãe e perguntar - propôs Caio impaciente.
Eu: Não! Calma que eu vou lembrar. Vira aqui.
Eu queria fazer uma surpresa. Porém, tapado como sou, eu havia esquecido onde ficava a casa que costumava ser nossa quando meus pais viviam ali e que agora pertencia à minha tia, a qual convencera a dona Neide a mudar de um extremo ao outro - do norte ao Sul. Foi quando chegamos em uma rua com uma ladeira consideravelmente íngreme que lembrei... alí era a rua certa. Subimos por ela e chegamos ao alto e lembranças vagas foram surgindo, afinal faziam uns 15 anos que eu não ia por aquelas bandas. A medida que o carro avançava, vagaroso, eu falava "caramba, foi aqui que... e olha, amava aquela árvore e..., caramba, o barzinho do tchê". Chegamos à uma casa bem bonita, simples e típica do sul: sua metade era constituída por alvenaria bruta, sem reboco, com tijolos bem juntinhos e lindinhos; ripas bem distribuídas faziam o primeiro e segundo andar com o tenhado - em A - todo de telhas de barro já desgastadas. Na frente, um muro baixo, com muitas trepadeiras davam ao lugar um ar de tranquilidade, e juntando com as árvores que rodeavam a morada tudo ficava melhor. Caio parou, descemos ambos com guarda-chuva e fomos até o portãozinho com as dobradiças enferrujadas e eu o abri. Olhei pra Caio e uma felicidade vingativa tomou conta de mim, pois ele transparecia medo uma vez que "agora" o mesmo estaria em local desconhecido com os "meus" parentes. Ri e peguei a mão dele.
Eu: Vem.
Caio: Agora entendo como tu se sentiu na fazenda do biso. Caralho, tô com medo.
Eu: Não disse, viu como é ruim, zé-buceta. Aprende.
Caio: E se eles estranharem nossas mãos dadas?
Eu gargalhei: Ora ora. O grandão todo destemido tá arregando? - ele riu vacilante.
Caio: Bora logo, tá muito frio.
Eu peguei a mão dele que estava enluvada, assim como a minha, e entramos de vez. Um cachorro latiu na parte de trás da casa e eu bati na porta.
*
Minha mãe: E como está seu pai?
Eu: Melhorou e muito mãe. Tava naquele lance de jogo e tudo, mas parou e a padaria tá indo bem de mais.
Ela me olhou bem fundo nos meus olhos, como toda mãe faz, e eu senti desconforto: Quero a verdade. Por quê não me contou soubre você ter sofrido aquilo?
Eu gelei... teria que contar. Há uma hora atrás, quem abriu a porta foi ela. Quase teve um treco e chorou horrores. Estava toda lindinha, com uma caneca de chá na mão e um gorro na cabeça. Minha mãe se parecia muito comigo: baixinha, cabelos lisos à altura do ombro, rosto de mãe com rugas de mãe, uma tranquilidade na fala e serenidade singulares. Minha mãe sempre foi uma pessoa de boa, que entende e gosta de entender. Além de tudo é teimosa como eu, pois quando conheceu meu pai aqui no sul e o mesmo a chamou para o Pará, quando ambos eram jovens, ela foi mesmo sob protesto e desagrado de toda a família, não ligou pras críticas ou coisa do tipo. Ela era determinada, como eu. A abracei e segurei o choro. Mentira, lagrimei um pouco, porque sentia muita falta dela. Ficamos abraçados por uns bons 5 minutos e eu não quis mais largar. Estávamos nós três num corredor longo e Caio pigarreou. Minha mãe o viu e foi até ele abraçar. Ele teve que se curvar um pouco enquanto ela falava "mas tá tão grande. Meu garoto, como você está?" Não sei se conhecem uma pessoa que fala de forma calma, lenta e agradável; bom... minha mãe é assim. A casa, ao contrário do lado de fora, estava quente e logo tirei meu casaco e luvas. Fomos por um corredor até uma sala redonda e agradável. Lá estavam meu tio gaúcho Marcos, minha tia Tchesca, meu primo magrelo e alto Wender, a namorada dele, minha tia G (dona da casa) e outras pessoas as quais eu não sabia quem eram. Todos nos cumprimentaram e vi Caio acanhado. Meu tio me deu um abraço de urso e quase morri. Na minha infância eu era para ele como filho. A gente era carne e unha. Lembro que quando passei as férias aqui e depois uns anos por conta de ter gostado do lugar, ele e eu jogávamos video game, ele me ensinou a andar de bik, a paquerar as "chinas" da redondezas e tudo mais. Meu tio do coração.
Falei de mais, falei com todos e todos reclamaram sobre eu não ter avisado sobre a chegada. Meu primo Wender puxou um assunto com Caio sobre futebol e logo ele estava mais solto. A julgar pela descontração, percebi que ninguém ali sabia sobre meu namoro, e tive certeza quando minha tia falou "seu amigo é de onde mesmo, Nando?".
Depois chegaram umas primas e mais primos meus. Samanta, uma gordinha de 19 anos me abraçou entusiasmada, pois quando kids ela nutria um sentimento forte por mim. Eu tinha apelidos ali também. "Pitoco, Indinho e Laa-Laa". Laa-Laa era mais conhecido. Meus primos e eu, quando crianças, adorávamos Teletubbies e cada um era um personagem. Meu primo Juan era o Tinky-Winky, minha prima Samanta Dipsy, nosso caçula Italo a Po e eu o Laa-Laa. Levamos tão a sério que só nos chamávamos assim. A chuva não parou e ficamos conversando amigavelmente, ora eles me mostrando a casa, ora as fotos deles no notebook e tudo mais. Não era um lugar rico como a fazenda dos Calsons, mas era hospitaleiro, humilde e bom.
Meu tio Marcos contava uma história para Caio e ele ouvia atento: A china nem quis charlar mais eu, rapaz. Fiquei ruim dos coração - Caio ria e minha mãe me chamou na cozinha. Lá tinha uma mesa de madeira comprida, um fogão de 5 bocas enorme, geladeira simples, um balcão de mármore junto com a pia e tudo mais. Era hora da verdade. Falei que não queria preocupar ela, e ela disse que ficou aflita quando soube pelo meu pai que eu fora espancado. Que sentiu de alguma forma, um aperto no coração.
Minha mãe: Eu quase voltei. Tu não imagina a angústia que senti, meu filho.
Contei tudo, da surra, dos traumas, das recuperações, da audiência, da minha crise com Caio e de alguma forma contei sem querer sobre André. Levei um susto quando ela riu e disse "eu sabia", olhou pras mãos e eu perguntei: Sabia?
Ela: André desde o dia que mudou pra nossa rua não desgrudava de ti. Um vez ele perguntou "tia, o Fernando pode ir brincar?" e eu falei que você estava doente. Esse menino ficou preocupado e toda hora ia em casa perguntar se você estava melhor. Tu tinha pegado uma gripe. E então ele trouxe uma flor e teu pai viu e disse que não se dava flor pra amigos. Ele ficou envergonhado e correu pra casa dele. Um rapazinho engraçadinho e muito apegado a você.
Eu ri: Que gozado; eu não sabia disso.
Ela acompanhou meu riso: Quando você começou a namorar com o Caio, eu vi ele mudar e desconfiei, ele estava triste e quando perguntava de você... sim, ele perguntava. Então, eu falava que tava tudo bem e ele ficava alegre e triste ao mesmo tempo.
Eu: O que devo fazer? Me afastar dele?
Ela pegou minha mão: Faz o que seu coração manda, desde que não seja na maldade, faça o que você quer.
Eu: Sinto tanto sua falta.
Ela: E eu de você. Será que esse frio gostoso não te convence de ficar aqui?
Eu: Prefiro o calor e umidade do Norte.
Minha mãe: Aqui tem boas faculdades e Caio e você podem morar aqui perto.
Eu: Mãe, amo o Pará, embora deteste o calor abrasador de lá. Mas mesmo assim; minha vida é lá.
Minha mãe: Vocês estão bem?
Eu: Eu amo ele, mãe. Mais do que tudo.
Ela: Se ele te faz bem eu fico bem. Eu amo vocês dois. Cuida de Caio, ele é um garoto iluminado.
Eu ri: Eu sei, as vezes acho que não o mereço, sabe? Ele é muito perfeito mesmo sendo imperfeito.
Minha mãe: Ninguém é perfeito, mas tem pessoas que sabem estar nesse nível.
Eu: E a senhora e o pai?
Ela levantou e pegou um pouco de água: Passado. Não volto mais... decisão tomada - falou e tomou um gole.
Eu: O pai se arrepende tanto. Mas fazer o quê... ah, obrigado - peguei o copo de água e bebi.
Ela falou: Meu filho, as vezes a gente fica por amor. Mas as vezes a gente se vai por amor. As vezes a gente segura por amor e outras vezes a gente deixa ir por amor.
Eu: Uau... essa foi bacana. Vou por no face.
Tirei fotos com ela, postei no Facebook. As fotos minhas com ela, foram as únicas onde André comentou. As demais, de antes, de mim e Caio na estrada, ele nem sequer curtia. Ficamos para um jantar dos deuses. Caio foi até o mercado mais meus primos comprar umas coisas e eu não saía do lado da minha mãe. Umas duas primas não desgrudavam do meu namorado e logo senti ciúme. Meu primo mais novo, Juan (o Tinky-Winky) me mostrou suas invenções na garagem da casa. Ele queria ser um engenheiro mecânico e vi futuro no garoto pois muitas das suas invenções era pra lá de engenhosas. Resignada, minha mãe deixou eu ir pro hotel mais Caio e me fez jurar que passaríamos pelo menos uma semana ali. Claro que ficamos bastante tempo. Amei as roupas de frio, o modo sulino de viver, as maneiras de driblar o calor, casas com aquecedores à gás ou lenha, o charme da serra e tudo mais. No hotel, Caio era cheio de mimos comigo e eu para com ele, nosso clima de casal em viagem de lua de mel era forte e intenso; para mim foram os momentos mais incríveis da minha vida esses em Caxias do Sul. Com o passar dos dias, as chuvas foram diminuindo e pude aproveitar o lugar. Fomos convidados para um almoço na casa de um outro tio meu e lá estariam meus avós por parte de mãe. Ambos de personalidade forte e severa, criados no campo, mas nos trataram bem e ficou visível que ambos desaprovavam minha escolha de viver no Pará longe da família e mãe.
Caio: Não precisamos contar que temos algo. Eles parecem ser menos compreensíveis - disse ele preocupado quando chegamos (com minha mãe, meus tios e primos) ao almoço.
Eu: Falamos disso ontem... eles tem que saber. Não gosto quando falam "teu amigo é bacana, Fer", ou "vocês devem pegar muitas gatas lá no Pará". Eu não gosto que tratem você como meu amigo, pois tu é mais que isso.
Caio receioso: Tu acha uma boa ideia contar?
Eu: Cadáveres andam?
Ele deu uma cutucada nas minhas costelas e riu divertido: Vingança né, tampinha. E tu tá gato nesse suéter de lã. - E eu me achava gato mesmo nas roupas de frio. Embora fizesse sol, a sensação era de uns 10°C fáceis.
Eu: E você, cara... tá muito gato.
Caio: Vamos transar no banheiro da casa dos teus avós?
Eu: Depois de eu dizer que somos namorados?
Ele: Deus! Já disse que não precisa falar nada.
Eu: Medroso.
O almoço foi a base de chimarão, Vaneirão e diversão (rimas). O churrasco estava divino e as conversas com gírias gaúchas me fazia dar boas gargalhadas. Então, quando a maioria se encontrava na mesa, eu levantei e falei rápido que Caio não era meu amigo e sim meu namorado: Caio e eu somos namorados, me passa a maionese.
Falei como se fosse a coisa mais natural do mundo. Se aceitaram ou não, não falaram na nossa cara, e tampouco manifestaram algo homofóbico na hora, porém senti alguns mudarem com relação as conversas. Minha mãe ficou do meu lado e disse: Meus dois filhos.
Alguns primos pediram explicação e logo expliquei. Samanta ficou em êxtase e disse que já sabia pois minha mãe falara pra ela há algum tempo. Outros parentes não viram problema e levaram na naturalidade. Não sei o que era, talvez o tamanho de Caio, que fazia as pessoas não manifestarem seu desagrado sobre o fato de ter dois gays perto deles. Enfim... Uma semana de abraços calorosos de minha mãe, recordação e lembranças com ela e meus primos, um passeio por todos os lugares lindos da cidade, o modo de falar engraçado do povo dali e seus costumes diferentes. A despedida foi um aguaceiro de choro da minha mãe que disse para eu sempre ir visitá-la e não demorar. Com a Hillux de Albert, seguimos para Santa Catarina e em Criciúma deixamos o carro na casa de um tio de Caio, pai de Albert. Dali fomos por aeroporto e reservamos duas passagem para Poa-São Paulo-Belém. Dois dias depois de me despedir de minha mãe na fria Caxias do Sul, eu entrava no meu apê em Belém com Caio do meu lado. As malas de roupas novas e vários presentes e lembranças trazidas de várias cidades para nossos amigos e pais. Comprei um kit-men para meu pai com um relógio, carteira e barbeador elétrico. Ele amou. Comprei roupas bacanas pra ele e tudo mais. Para Lise foram tantas coisas que nem lembro quantos presentes dei. As lembrancinhas eu coloquei na sala, quarto e cozinha. Como os quadros de família, umas mini esculturas de anjos etc.
O calor de Belém era sufocante e logo voltei à minha rotina normal. Caio iria logo logo fazer um curso administrativo e trabalharia com o pai, parou de querer ir pra baladas e passou a ser mais caseiro. Na padaria do meu pai, a clientela estava demasiada boa, e eu me sentia empenhado a trabalhar pois minha vida se encontrava numa fase feliz. As brigas não mais existiam e quando uma queria começar, eu abraçava meu grandão e terminávamos na cama ou com carícias. Nossos amigos iam sempre em casa jogar vídeo game ou conversar, assim como meu Sogro e meu pai, ambos em uma excelente fase. Minha sogra não mudara e pelo que eu soube, a mesma ainda queria me ver morto. André sumira, não vi o vi mais, stalkeei o Facebook dele para ver se o mesmo estava namorando alguém. Nada. Ele tirara uma foto recente e vi que o cara se encontrava mais malhado... mais gato... mais macho. Agosto passou voando e setembro veio moroso e preguiçoso, sem nenhuma novidade ou mudança. Foi então, em uma noite de quarta, quando Caio fora me buscar na padaria, usando um short de treino, uma camiseta colado ao corpo, tênis, suado e com o costumeiro boné, que algo me pegou de surpresa. Desconfie a princípio do silêncio de Caio, não era comum dele ficar tão calado, assim como não era comum eu ficar calado por sentir que ele não queria papo. No carro, ele dirigiu e não olhou para mim, que o fitava estudando-o quieto. Então me inclinei para ele aproximei a boca da sua bochecha e dei um beijo rápido. Voltei pro meu lugar rindo maroto e ele me fitou e riu. Então voltou a atenção para onde dirigia e ficou calado.
Eu: Aconteceu algo, amor?
Ele calado.
Eu olhei pra frente e não precionei ele. Quando ele ficava assim era porque um problema "com ele" havia acontecido, em muitas das vezes esse problema tinha um nome: Helena. Eu ficava na minha e esperava ele falar algo quando quisesse, e ele amava isso. Quando desabafava agradecia por eu não ter feito perguntas. Chegamos ao nosso prédio e eu verifiquei meus bolsos em busca das chaves de casa, não achei e fiquei receoso por ter deixado na padaria, quando achei no bolso traseiro, Caio falou:
- Tenho que dizer um lance, Amor.
Eu olhei pra ele e fiquei preocupado. O tom eu conhecia, era o tom de "fiz merda, amor". Eu: Diga, mano.
Ele tirou o cinto e ficou de frente pra mim e contou rápido: A tua amiga lá, aquela meio doida... isso. A Kelly. Quando eu fui te buscar vi ela fazendo caminhada e resolvi dá uma carona até a casa dela, porque ela disse que mora perto da padaria. E aí no carro ficamo conversando e tudo mais.
Eu o olhando fundo nos olhos: Prossiga.
Ele olhou para baixo: Aí deixei ela frente da casa dela e...
Eu: Desembucha.
Caio me olhou: Amor, ela pegou na minha perna, disse que eu era gato e sentia que eu ainda gostava da fruta. Tentou me beijar, mano!
Eu levei um susto com o tom surpreso e se não fosse trágico seria cômico o modo dele falar. Ele prosseguiu: Sei que ela é tua amiga, só que eu dei um chega-pra-lá nela e disse que eu era comprometido. O pior é que ela riu quando eu falei isso e disse que não entendia o que eu tinha visto em...
Ele ficou irado e não conseguiu terminar, eu peguei na sua mão: Fala, amor. Pode falar tudo.
Ele olhou pra mim: Ele te chamou de bicha, ela... Ela disse que não sabia o que eu via em ti. Falou mais umas merdas e eu expulsei ela do carro e chamei ela de biscate. Ela não queria descer e eu desci do carro e tirei ela a força. Depois fui até ti.
Eu: Uau. Que coisa.
Caio: Fiquei grilado por ela ser sua amiga.
Eu: Não é mais, eu não conhecia esse lado dela. - Kelly sempre brincava comigo sobre roubar Caio de mim, mas eu jamais entendi aquilo como algo sério. Para mim não passavam de brincadeiras bestas.
Caio: Desculpa, amor.
Eu fiquei surpreso: Pelo o quê, oshe?
Caio baixou os olhos: Eu ofereci a carona. Talvez tenha dado a impressão errada.
Eu: Caio, tu não tem culpa nenhuma, minha vida.
Ele: Cara, eu me segurei quando ela falou mal de ti.
Eu vendo sua raiva crescer: Calma, cara. Hey... calma. Isso lá importa pra mim? Não a outra face de Kelly, o que importa é sua atitude em... em me amar, acho.
Caio rio: Só queria te pedir pra não ser amigo dela.
Eu pisquei os olhos: Tu acha então... peraí. Tu tá temeroso por pensar que vou ficar com raiva de você por isso, por eu ser amigo dela e ser depois disso tudo?
Caio: É.
Eu gargalhei. Claro que não, né. Pelo amor de Deus! Claro que não. Eu jamais ficaria com raiva de ti... claro que não. Que absurdo, Caio.
Caio: Eu te amo, pow.
Eu: E eu também, sr. White. Agora vamos esquecer essa amiga Judas e vamos pra nossa toca de amor.
Caio: Boa ideia. Vamo que tô varado de fome.
Já lá em cima, no nosso apê, ele perguntou se eu estava bem. Disse que sim, mas ele me conhecia. Sabia que eu estava pensando sobre isso. Porra, a Kelly! Que Judas! Eu iria falar com ela, e a mandaria tomar no cu. Caio pediu para deixar para lá, pois isso não se devia dar atenção, pelo contrário, deveria ser esquecer. Uma semana se passou e eu não vi Kelly. Quinta-feira de manhã, Caio saíra para ir até sua mãe e eu fiquei em casa sozinho olhando as fotos no notebook que tirei na minha viagem com Caio. Umas 400 fotos de nós dois juntos. Foi quando tudo aconteceu. Eu recebi uma, duas, três, quatro e mais notificações no Facebook do nada. Não dei atenção e continuei a olhar as fotos e separar as melhores para fazer um álbum. Então meu celular tocou na cozinha. Levantei para ir atender e então o telefone da sala tocou também. Estranhei aquilo e peguei o celular. Era Lise.
Eu: Oi.
Lise do outro lado da linha: Nando? Tá tuido beim?
Fiquei alarmado com seu tom preocupado: Está sim. Aconteceu algo?
Um frio percorreu toda minha coluna quando ouvi o telefone da sala continuar a tocar e o tom de Lise. Já imaginei o pior. Meu coração acelerou, e eu tremi. Lise: Nando, aconteceu.
Tudo girou. Caio. Meu pai. Seu Cá. Será que algum deles... Eu corri pra sala e atendi o telefone. Alô, - falei rápido.
Era André: Fernando, onde tu tá? - perguntou preocupado.
Eu não respondi imediatamente, mas se Lise sabia de algo e André também, então tinha algo a ver com meu pai. Então alguém bateu na porta de casa e ouvi a voz de Pedro. Ele entrou todo preocupado e quando me viu, com os dois aparelhos nos dois ouvidos, com Lise dizendo algo e André perguntando algo, e eu não ouvindo ambos, ele disse.
Pedro: Fica tranquilo, mano. É mentira.
André falou preocupado: Não faz nada, tô indo pra aí.
Lise: Fer, não se preocupi e se acalmi.
Não entendi nada e mais notificações do Facebook chegaram e deixei os telefones de lado. Era algo relacionado ao Facebook. Pedro chegou perto e disse que não era melhor eu ver, que ele já ia ligar pro advogado dele. Diabólicamente nem dei atenção pra ele e peguei notebook. Abri a página do face para ver algo de ruim, pois tinha algo de muito ruim. 48 notificações sobre uma foto. Pedro chegou mais perto e disse: Não olha, Fernando.
Alívio; não era nada relacionado a algo de ruim com meu pai. Nem ninguém que eu conhecia e amava.
Choque; uma grade com 5 fotos minhas e de Caio, juntos, estava sendo comentada, quem postou me marcou e não reconheci o perfil da pessoa. Na foto havia um título acima da grade me fez perder o chão pois nele li e descobri que eu tinha AIDS.
Continua...
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Tenso heim. Esse capítulo foi três em um, resumi o máximo e ficou legal. Gosto de coisa grande, mas não de coisa morosa ou arrastada. Então está aí. Espero que tenham curtido. Esse lance da AIDS foi bem hard, no próximo capítulo eu explico. Volto logo, prometo e agradeço o carinho e paciência de todos. Queria pedir desculpas pra um grupo de amigos e dizer que gosto muito deles e que estou bem. Enfim... flw, pro cês.