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Encostado no parapeito da janela do quarto do hotel em que se encontrava, Fred acendia outro cigarro e olhava para a vista da cidade. Na verdade, não conseguia ver nada. Só pensar. Pensava no que faria agora que se tornou órfão. Seus pais eram tudo em sua vida. Tudo o que ele havia conquistado espiritual e materialmente se devia ao fato de ter tido uma estrutura familiar boa. Não negava que também se esforçou pra se tornar o que ele havia tornado, mas pai e mãe são figuras importantes na vida de qualquer pessoa. Ao mesmo tempo em que gostaria de ir dar o última adeus à eles, não queria ter que lembrar dos dois num caixão rodeado de tristeza pelos cantos. Não sabia o que fazer. Não sabia pra onde correr.
Humberto tinha saído de perto do primo apenas para ir ao banheiro. Quando estava voltando para o quarto no encontro de Fred, parou um pouco atrás dele e colocou as mãos nos bolsos observando-o. Não sabia o que fazer para tirar a dor que o loiro sentia. Afinal, cada um tem o seu jeito de sentir. Mas queria a todo custo tentar fazer algo para que o primo ficasse melhor na medida do possível.
Fred deu a última tragada no cigarro e o apagou, gaurdando-o em seu porta-cinzas. Quando virou viu que Humberto estava olhando pra ele com ar de preocupado. Fred deu os ombros e foi em direção à cama. Sentou e se encostou na cabeceira, cruzando as pernas e colocando um dos travesseiros no meio delas. Humberto foi e sentou junto dele, só que mais para o fim do colchão. Ficaram ali, se olhando.
-Fred?!
O loiro desviou os olhos.
Humberto se aproximou e pegou a mão do primo.
-Fred, você está bem? Eu estou preocupado!
O loiro respirou fundo.
-Eu não sei o que eu estou sentindo, Beto. Estou eufórico, ao mesmo tempo triste, cansado. Sinto um espaço oco dentro de mim. Não sei dizer ao certo.
Humberto tentava decifrar o primo.
-Eu só preciso sair daqui. Andar sem rumo um pouco.
-Pra onde quer ir? É só me falar que eu levo você.
Fred sorriu em tom de deboche.
-Eis a questão, Humberto. Eu não sei. Só sei que não consigo mais ficar aqui nesse quarto, nem nesse hotel.
-Tudo bem! Nós descemos, eu faço o check-out e nós vamos pra onde você quiser ir. Eu só quero que você fique bem. E também veja que eu vou estar aqui cem por cento somente pra você.
Fred não conseguiu segurar o choro. Não sabia ao certo o porquê estava chorando. Mas as lágrimas saem quando nos faltam palavras, certo? Humberto o abraçou forte, trazendo sua cabeça para seu peito. Ficaram ali por alguns minutos até o loiro levantar e ir para a janela ascender outro cigarro.
-Meu loiro, então eu vou descer, faço o nosso check-out enquanto você termina o seu cigarro e daqui saímos ok?
-Ok Beto. Eu te espero.
-Eu não vou demorar, disse Beto indo para a porta do quarto.
Fred terminou o cigarro, foi ao banheiro, lavou o rosto e olhou para si mesmo. Estava um trapo, pensou. Ficar naquele quarto sozinho fez com que o loiro começasse a ter falta de ar. Precisava sair dali. Enxugou o rosto, voltou para o quarto, pegou sua bolsa e saiu. Descendo para o Hall, encontrou o primo na recepção. Foi para perto dele.
Humberto não havia notado a presença do loiro, mas quando o viu, ficou surpreso pela rapidez em descer. Certamente Fred não queria ficar sozinho.
-Já desceu meu loiro?
-Sim. Ficar lá sozinho me deu desespero, - disse o loiro, sem nenhuma emoção em sua voz.
-Bom, eu já estou terminando aqui. Por que você não vai entrando no carro? - O manobrista já o estacionou lá na frente.
Fred olhou para a porta de vidro da entrada e viu o carro do primo estacionado como ele havia dito.
-Tudo bem. Espero você lá. - e saiu.
Humberto estava chateado com toda a situação que nem ouviu a recepcionista falando.
-Perdão Moça, o que disse?
A mulher loira da recepção sorriu.
-Perguntei se o senhores tiveram uma boa estadia, senhor?
-Ah sim, -disse Beto colocando a mão na cabeça. - Foi ótima, obrigado.
-Imagine! E se me permite senhor, vocês formam um lindo casal.
Humberto sorriu, surpreso. Poderia dizer que eram apenas primos. Mas não achou que aquilo seria relevante para a conversa, visto que ela só queria parecer gentil.
-Obrigado… - disse Humberto olhando em direção ao crachá dela. -...Natália!
-Disponha senhor. Tenham um. Ótimo dia.
-Obrigado, igualmente. - disse Humberto saindo.
……..
O Enterro de Desirée e Gian Carlo já estava em execução. Todos presentes no velório, exceto Ariel, Samantha, Dante, Henrique e Alessandra estavam ali. Rogério estava despedaçado. Mal conseguia parar em pé. Estava abraçado com Thiago que também estava aos prantos. Pillar finalmente demonstrava um choro. Mas era um choro contido, como se quisesse escondê-lo. Pela primeira vez na vida pensou no sobrinho em forma de carinho e respeito. Perder os pais não é fácil, ainda mais quando se perdem os dois de uma vez. E por mais que ela relutasse em admitir, Fred e estava tendo tudo o que precisava ter com Humberto. Olhou para o marido e conseguiu sentir sua dor. Foi em direção à ele e o abraçou. Rogério ficou surpreso com a esposa, mas retribuiu o abraço. Era um momento muito difícil para todos eles.
Na sala onde ocorria o Velório, Ariel e Samantha conversavam de um lado enquanto do outro conversavam Dante, Alessandra e Henrique.
-Você vem pra casa com a gente Ariel! - disse Samantha.
-De jeito nenhum, Sá. Não quero incomodar vocês. Aliás eu já fiz uma reserva num hotel.
-Cancele a reserva meu bem! Você vai pra casa com a gente sim. E tem mais, o Fred vai querer te ver quando ele for pra casa.
-Tudo bem! - disse Ariel dando os ombros sabendo que não haveria como rejeitar. - Mas você acha que o Fred vai pra sua casa?
-Eu não sei! Mas sei que ele não vai querer ir pra casa dele. Então, uma hora ou outra ele vai aparecer em casa com o meu irmão.
-Tem razão. Estou com tanta pena dele, Sá. Mas não pena no mau sentido. E sim aquela sensação de querer ajudar mas não saber como.
-Eu te entendo Ari. Também estou sentindo isso. Mas agora o que nós podemos fazer para ajudar é estarmos todos juntos pra quando o Fred aparecer. Ele vai precisar de nosso apoio. Principalmente do seu que o conhece tanto.
-É verdade. Mas apesar de todo o nosso apoio, nenhum deles é mais importante pro Fred do que o do seu irmão. Aqueles dois nasceram um pro outro, só pode. - disse Ariel sorrindo.
-Com certeza, - sorriu Samantha. - Eu nunca vi uma relação mais verdadeira que a deles. Meu sonho é que eles fiquem juntos pra sempre. Foram realmente feitos um pro outro. Só espero que nenhuma piranha tente entrar no caminho deles - disse Samantha olhando e apontando com a cabeça para Alessandra.
Ariel entendeu do que Samantha falava.
-Quem é ela, Sá?
-Ela é filha de uma casal de amigos dos meus pais. A minha mamãezinha querida, como sempre, está tentando empurrar alguém para o Beto. E não poderia ter escolhido uma pessoa “melhor” do que a Alessandra. Afinal, ela é do nosso “meio”.
-Já entendi. Sua mãe, como sempre querendo arrumar uma namorada pro Beto. E vem sempre com aquela conversa de que “ele já passou da idade de se casar, e ter filhos”.
-Exatamente Ari. Ela realmente não tem jeito. Eu já desisti dela à muito tempo! - disse Samantha sorrindo.
…
Humberto tinha acabado de sair do hotel e foi em direção ao carro. Abriu a porta e viu Fred sentado no banco do passageiro com um cigarro entre os dedos, pra variar. Entrou e sentou no banco. Fechou a porta. Tirou os óculos e olhou para o primo. Fred se sentiu observado por Humberto. Olhou para o primo.
-O que foi Beto?
-Nada! Só estou esperando você dizer pra onde quer ir.
Fred olhou para frente. Respirou.
-Beto. Eu te amo. Eu te amo muito. E eu confio em você. Vá pra onde você quiser. Vá pra sua casa, pra outra cidade, pra onde quiser. Só não quero ir pra casa dos meus pais. Não estou pronto.
-Eu também te amo Fred. E estarei com você, pelo resto da nossa vida. - disse Beto pegando a mão de de Fred deixando um beijo nela.
………..
Boa noite pessoal. Ótima leitura pra vocês. Prometo não demorar mais. Beijão.