Fernando - é isso aí Gabriel. Pra cima deles com tudo. Vamos colocar pressão que eles tremem.
Eu apenas confirmei com a cabeça. Aquilo foi um balde de água fria. Minha vontade era sair do jogo e ir pra minha casa caminhando.
Por que será que entre todos do time, ele foi o único que não me abraçou? Será que ele já tinha observado meu desejo nele, e queria evitar qualquer contato físico entre a gente? Ou será que a criação que ele tinha o impedia de abraçar um gay?
Recomeçou a segunda partida, e eu já não me sentia mais tão disposto, no entanto, não iria estragar a pelada por causa do amor que eu sentia por um cara que nem notava minha presença.
Ganhamos mais uma cerca, dessa vez com um gol do Fernando e outro meu... E mais uma vez aquelas mãos grandes fez cafuné em minha cabeça.
Eu fazia esforço para não desabar ali mesmo. Gostar de alguém e não ser notado, ou ser notado como ''o melhor amigo do meu irmão'' não era nada bom.
Após a quarta partida seguida, eu já estava acabado e a noite pra mim definitivamente não havia sido proveitosa.
- Coloca alguém aí no meu lugar. (falei dirigindo-me ao meu amigo Victor).
- Já vai parar? (ele perguntou).
- to cansado. Vou tomar uma água e dar uma mijada.
Fernando passou as mãos em meus ombros, e se intrometeu na conversa.
- bora só mais uma? ( No fundo eu sabia que ele havia gostado do meu futebol. Mas pra mim não era suficiente).
- Tô aguentando mais não cara. To morto.
- a última. Depois a gente vai pra casa.
Aquele '' a gente vai pra casa'' me deixou animado.
- Beleza. Vou fazer esse sacrifício. (falei sorrindo).
- é isso aí. Bora jogar.
Fernando parecia animado. Eu, idem, sqn.
Logo no primeiro lance, o Victor levou uma bolada no estomago, e este caiu no chão procurando o ar. Fernando, e eu- naturalmente - corremos para socorre-lo.
Fernando, que tinha técnicas de primeiro socorros, começou a fazer uma massagem cardíaca no peito do irmão. Já eu, que não tinha técnica de porra nenhuma, tirei minha camiseta e comecei a abana-lo.
Um aglomerado se formara ao redor do garoto, e eu comecei a pedir que as pessoas se afastassem. Em certos momento eu fui até grosseiro.
- Me ajuda a levar ele pro carro. (disse Fernando me olhando).
- Ajudo sim. (falei deixando cair minha camiseta no chão).
Os outros amigos do Fernando também ajudaram, e em pouco tempo estávamos no estacionamento. Alguns curiosos, ainda nos acompanharam. Fernando se despediu de alguns amigos e entramos no carro.
- E aí. Ta melhor? (perguntou no banco de trás, com Victor deitado no meu colo).
O cara apenas balançou a cabeça que sim.
- Se quiser parar pra pegar um ar, tu fala mano. (disse Fernando ao volante. Pablo estava a seu lado).
Victor nada respondeu. Meu amigo fechou os olhos e eu percebi que ele não estava bem. Desde que havia conhecido o Victor ele era assim: Sempre que sentia algo se isolava do mundo. Era como se ele não curtisse ser cuidado ou então não queria dar trabalho a ninguém.
Victor era totalmente diferente do irmão. Ele era muito branco, cabelo liso, porém bagunçado, não tinha pelos no corpo ou rosto, lábios rosados, aprox. 1,76 de altura, 74kg, seus olhos eram castanhos na mesma tonicidade que o cabelo.
Chegando ao apartamento, Victor já se sentia bem ao ponto de subir andando. Pegamos o elevador e todos tinham o maior cuidado com meu amigo.
- Gabriel, tu pode ficar com ele enquanto eu tomo um banho? (perguntou Fernando, deixando o irmão na cama).
- vai lá. (falei).
- Vlw. ( foi somente o que ele respondeu antes de sair do quarto).
É estranho quando você gosta de uma pessoa, e ela te dirige poucas palavras. Na tua mentalidade, é como se aquela pessoa não sentisse nada por você... E na realidade, é isso mesmo: Aquela pessoa não sente nada por você, então não tem como existir um dialogo com mais de dez palavras.
- E aí velho, como tu ta se sentindo? (falei sentando na lateral da cama).
- Eu to bem. Vocês que estão dando muita importância para uma simples bolada no estomago. (Victor se revirou na cama).
- e tu queria o que? Ficou se contorcendo no chão parecendo uma galinha. (falei sorrindo).
- Claro ué. Me faltou o ar.
- então caralho, como tu não queria que tivéssemos ficado preocupado? Tu ficou da cor dessa cortina. (falei apontando para a cortina da janela do quarto do Victor).
- tu vai dormir aqui? (disse ele mudando de assunto).
Balancei a cabeça que não.
- Por que? (perguntou curioso).
- Tenho que passar em casa pra ver como ta tudo por lá. Saí na hora da formatura, e meus velhos devem ta preocupados.
- Liga pra eles ué, diz que vai dormir aqui.
- Não mano. Eu já to mesmo afim de ir dormir em casa.
Esse era o meu plano, mas aconteceu um imprevisto chamado Fernando.
- Gabriel, chega aqui rapidão. (Fernando estava apenas com uma toalha na cintura).
Saí do quarto, eu fui ter com ele na sala.
- Fala aí.
- Tu vai dormir aqui né!?
- né minha intenção não. (falei tentando não olhar para o corpo, molhado, daquele cara).
- quebra esse galho pra mim. Eu preciso sair com urgência, e meus pais não estão na cidade.
O cara pedia com uma cara tão manhosa que não tinha como negar.
- Beleza. Então eu fico.
- Quando eu chegar eu te deixo em casa.
Aquilo me animou. Ir para casa, sozinho, ao lado do Fernando talvez me rendesse alguns pontinhos.
- tranquilo. ( falei por fim).
Fernando foi ao quarto, provavelmente trocar de roupa, e eu retornei para perto do Victor.
O irmão do Fernando parecia dormir, e eu o acordei pra saber se ele não achava melhor tomar um banho.
- queria bater dez horas antes. ( gíria que significava comer).
- quer comer o que? ( perguntei).
- minha mãe já chegou? ( disse me fitando).
- ainda não.
- porra. ( resmungou).
- o que foi?
- minha mãe não deixou comida pronta. (falou fazendo careta).
- e eu aqui? Tô pode?
- Tu vai deixar eu te comer?
- vai tomar no cu caralho. (falei arremessando o celular no meu amigo, que cobriu o rosto com o cobertor).
- vou fazer misto quente. Pode ser?
Meu amigo confirmou que sim, e eu fui ate a cozinha preparar o jantar dele.
xxXXX
- que droga. ( Quando eu passava pela sala, Fernando acabara de entrar batendo a porta, e parecia muito furioso).
- o que ta pegando? (falei demonstrando interesse).
- Minhas camisetas estão amassadas e não tem ninguém no apartamento da minha tia que possa passar pra mim.
- é essa? (falei apontando para uma camiseta social que estava em suas mãos).
- é sim. (disse desanimado).
- eu posso passar se você quiser.
- você sabe passar roupa? ( ele pareceu esperançoso).
- não muito, mas da pro gasto.
- faria isso por mim?
- claro que sim pô. Sem problemas.
- você é demais Gabriel. Vou ficar te devendo essa. (disse arremessando a camiseta e indo, novamente ao quarto).
Vendo que eu estava sozinho, aproveitei para sentir o cheiro da camiseta do cara que eu eu tanto gostava. Quem nunca? Notei que ele já havia a usado outras vezes, pois ainda dava pra sentir resquícios do perfume amadeirado. A maciez daquele tecido era impecável. Segurei o pano forte com as duas mãos e pressionei contra o rosto.
- Gabriel tu já... O que é isso? Que camisa é essa? (disse Victor me flagrando com a camiseta de seu irmão nas mãos).
- é.. é minha. ( respondi suando frio).
- ah sim. ( disse sorrindo).
- Victor? ( Fernando saia do quarto,e já estava quase pronto, só faltava a última peça - a ''tal camiseta''.
- Fala mano. (respondeu Victor de frente para o irmão).
- Tu sabe onde a mãe guarda o ferro de passar? O Gabriel vai engomar minha camiseta, mas eu não estou encontrando.
Victor me olhou e eu entendei aquele olhar. Se até aquele momento ele tinha duvidas, dali em diante não existiria mais.
Continua...