[Ítalo narrando]
- Ítalo? Não, imagina... - Felipe falou enquanto ajeitava sua gravata.
Pude ver a cara de vergonha que os dois fizeram.
- Gente, mil perdões por ter atrapalhado o momento de vocês. É que vim ver como você estava, Clarinha. Precisava conversar contigo.
- Claro, amigo. Alguma notícia do meu irmãozinho? - Clara sentou-se na cama.
- Não, infelizmente. Não posso negar que estou aflito com tudo isso. Dói saber que não posso tirar o Lucas dessa situação. Em pensar que tudo isso é culpa do meu pai... Da Íris, por omissão... É muita sordidez para mim!
- Ítalo, você não pode entregar os pontos - a Clara pegou na minha mão. - Você sabe o quanto o Luquinhas é forte e duro na queda. Ele vai sair dessa, você vai ver. Ele precisa de você para dar suporte a ele. Acredite. Ele vai vencer tudo isso.
As lágrimas vieram como se fossem os meus gritos de socorro. Eu precisava do Lucas. Precisava que ele me ouvisse, mas só poderia falar através das minhas lágrimas. O abraço da Clara me trazia conforto. O nosso amor por ele estava transmitindo energia para que ele acordasse. Eu pensava: "Volta para mim, meu amor. Eu preciso de você".
Após termos chorado e feito uma prece, Felipe pediu para falar comigo em particular. Fomos até o lado de fora do hospital. Nós sentamos em um banco e começamos a conversar.
- Pois não, Felipe. Pode falar.
- Ítalo, você me pareceu assustado quando viu o meu beijo com a Clara.
- Sim, eu confesso, fiquei. Não me leve a mal, mas achei que você fosse gay.
- Dei a entender isso a você? - perguntou sorrindo.
- Sim, você falou da minha relação com o Lucas com um brilho no olhar... Fiquei até pensando que estavas interessado em mim.
- Eu só acho muito bonita a história de vocês. Admiro essa coragem de assumir esse amor sem se importar com o resto do mundo. Meu irmão era gay, mas infelizmente foi vítima de homofobia. Ele era tão jovem... - falou com os olhos marejados.
- Ele morreu? Como assim? - meu semblante agora era de surpresa e tristeza.
- Sim, faz um ano. Por isso resolvi ser delegado, tentar fazer justiça do jeito certo. Antes, eu só tinha pretensão de advogar, até tentar ser promotor - não que tenha desistido -, mas mudei de ideia quando o assassinato do Túlio aconteceu.
- O autor do crime foi preso?
- Sim, e está preso até hoje. Aguarda julgamento. Ele era cunhado do "namorado" do Túlio. Meu irmão tinha dezoito anos quando o conheceu. Começaram a namorar pouco tempo depois. Aí, duas semanas antes do crime, o Túlio descobriu que o homem que amava era noivo de uma mulher. Isso mesmo. O Túlio era apenas o passatempo do Daniel. O cunhado dele, irmão da noiva do Daniel, matou o Túlio quando a história vazou. Foi um crime cruel. Meu irmão foi torturado até morrer. No fim, teve o ânus dilacerado por um pedaço de madeira. Foi horrível.
Felipe começou a chorar. Ouvir o seu relato me fez lembrar do meu pai: ele também cometeu homofobia ao atropelar o Lucas. Até onde chega o ódio de um ser humano a ponto de levá-lo a matar seu semelhante por não concordar com o amor que ele sente por uma pessoa do mesmo sexo? Não falei nada, apenas abracei Felipe.
- Me desculpa se te julguei precipitadamente.
- Não precisa se desculpar. Saiba que eu farei o possível para ajudar você e o Lucas a viverem esse amor. O meu irmão não teve o mesmo destino. O Lucas vai acordar e se recuperar. Vocês ficarão juntos.
- E o que aconteceu com o tal Daniel?
- Ele foi assassinado também. É considerado crime passional. Três famílias foram destruídas, Ítalo.
- Felipe, mudando de assunto... Como está o inquerito?
- Você quer saber sobre o seu pai, não é? É compreensível. Ele é seu pai. Bem, vou ser sincero, acredito que ele pode aguardar o julgamento em liberdade quando eu indiciá-lo. Seu pai é rico, não têm antecedentes, tem residência fixa... Queremos justiça, mas a própria Justiça não se deixa acontecer.
- Apesar de tudo, ele é meu pai. Felipe, muito obrigado por todo apoio. Eu desejo muita felicidade a você e a Clara. Ela se livrou de um encosto. O Bruno é um miserável! O tempo todo ele esteve nos espionando para o Álvaro.
- É uma pena que a Clara sendo tão bacana, tenha se envolvido com alguém como ele. Você me tirou de uma situação bastante constrangedora. Fui eu que tomei a iniciativa de beijá-la. Nem tenho coragem de voltar aquele quarto. Bom, vou precisar voltar para a delegacia, mas avise a Clara que eu volto para vê-la e conversarmos sobre o que aconteceu. - Felipe levantou-se. - Ah, e se ela me der uma chance, vai me fazer muito feliz. Obrigado por torcer por mim.
Eu abracei Felipe e fiquei vendo ele ir embora.
- Dona Clara, pelo sol de Solar, conte-me o que foi isso que presenciei? - falei entrando no quarto.
- Foi inesperado, mas não posso negar que foi bom. Vai ser difícil e doloroso me desapegar do Bruno, mas vou conseguir. O que você acha de dar uma chance ao Felipe?
- Eu acho que você deve dar todas as chances do mundo a ele. Ele pediu para avisar que precisou voltar para a delegacia, e vou te contar um segredo: ficou morrendo de vergonha. Liga para ele mais tarde. Pede para ele vir aqui. Te dou o maior incentivo. Agora, eu preciso voltar para a Luz. Deixei o Tiago tomando conta da pousada sozinho.
- Vai, amigo. E qualquer notícia do Lucas, me avisa.
- Já ia esquecendo... Encontrei o Bruno tomando café no hotel com o Álvaro. É muita canalhice para um só indivíduo. Juntando os dois, então... Pense num lugar carregado de gente que não presta o Resort!
- Nem me fala... Filho de uma mãe! Fiquei sabendo do seu pai. Como você está?
- Nada legal, mas vai passar. Espero que ele pague por tudo. Depois a gente conversa mais.
Beijei a testa da Clara e fui embora.
[Alexandre narrando]
- Como o senhor está, pai? A viagem foi muito cansativa.
- Bem, meu filho. O médico está demorando para trazer notícias do Lucas.
- Também estou impaciente, mas nada podemos fazer além de esperar.
Havíamos chegado a algumas horas, mas ainda não tínhamos nenhuma notícia.
Uns quarenta e cinco minutos se passaram desde a conversa com meu pai. O chão poderia estar riscado de tanto que eu e ele andávamos de um lado para o outro da sala de espera. Mas acredito que teria uma resposta. O médico estava vindo em nossa direção.
- E então, doutor? Alguma novidade sobre o meu neto?
- É cedo para dizer alguma coisa, mas tenho uma notícia...
- Qual? - interrompi o médico. - Desculpe minha ansiedade, mas o Lucas é meu único filho.
- Eu sei, Alexandre. E imagino o seu desespero. É natural. Como eu estava dizendo... O Lucas está fora de perigo. Não sei como, mas ele foi muito bem cuidado em Solar. Sei o quanto o hospital de lá é precário, mas o meu amigo é um bom médico e já tinha me falado o caso do Lucas. Sem querer aumentar a ansiedade, o Lucas já se movimentou. Se continuar nesse ritmo, vamos tirá-lo da UTI em breve.
- Que notícia maravilhosa, doutor! Muito obrigado por tudo o que tem feito.
- É meu dever, Alexandre. Salvar vidas é minha missão. Vou precisar ir embora. Tenho outros pacientes para ver.
- Poderemos vê-lo?
- Doutor César, eu só poderia permitir uma visita por dia, mas como eu conheço o senhor há muitos anos, mais tarde eu libero a entrada dos dois.
- Serei eternamente grato.
- É pela nossa amizade. Com licença...
O doutor foi embora nos dando esperanças de uma melhora rápida do Lucas.
Peguei o celular e liguei para o Ítalo. O telefone estava desligado. Resolvi ligar para a pousada.
- Alô? Oi, Tiago. O Ítalo está por aí?
- Ele foi visitar a Clara no hospital. O celular dele ficou aqui na recepção. Está carregando.
Tiago fez uma pausa.
- O Ítalo está chegando aqui... Vou passar o telefone para ele.
[Ítalo narrando]
- Oi, seu Alexandre. Já estava ficando preocupado. Como está o Lucas?
- Ítalo, meu filho já se movimentou. O médico disse que ele está fora de perigo.
- Graças a Deus! O meu amor vai sair dessa!
Comecei a chorar.
- Sim, meu filho. Ele vai voltar para nós. Avisa aos meninos. Tenho que desligar. Estou indo para a casa do meu pai. Vou tomar um banho, descansar um pouco. Te ligo quando puder.
- Vou ficar aguardando.
- Como está indo tudo por aí?
- Bem, seu Alexandre. A pousada está tranquila, a Clara terá alta amanhã, provavelmente.
- Ótimas notícias então. Tenho que desligar. Tchau.
- Tchau.
Seu Alexandre desligou o telefone.
Fiquei muito feliz com a notícia que recebi.
[Íris narrando]
- A gente pode conversar?
- Se você não percebeu, eu estou indo para a piscina agora - Álvaro falou, ignorando-me.
- Sim, eu vejo, mas temos muito a conversar.
- Não aqui e nem agora. Passar bem.
Álvaro deu as costas e foi em direção a área de lazer do hotel.
[Ítalo narrando]
- Gente, tenho uma ótima notícia: o Lucas está fora de perigo.
Estavam reunidos todos os funcionários da pousada, além da Ingrid e do Victor.
Todos comemoraram e voltaram a trabalhar com mais alegria. Até o dia estava mais bonito em Solar.
- Ítalo, o médico deu alguma previsão de alta?
- Bem, Ingrid, não sei informar. O seu Alexandre estava com pressa. Acredito que antes da nova data do seu casamento ele esteja em casa.
- Nada vai me deixar mais feliz. Quero o meu padrinho no altar.
- Você nem vai acreditar no que eu presenciei no hospital quando fui visitar a Clara.
- O quê? Conta.
- Ela e o delegado estavam se beijando. Tem romance no ar.
- Clalipe! Eu super shippo os dois!
- Ela vai te contar depois, tenho certeza.
- Está tudo dando certo. Vamos voltar a normalidade.
O dia passou muito rápido. O sol se pôs em Solar.
[Álvaro narrando]
- Bruno, você viu o que a maluca fez? Queria que eu deixasse de ir para a piscina e fosse ouvir os chiliques dela. Francamente.
Entrei no banheiro e continuei conversando com o Bruno.
- Álvaro, você nu nesse banheiro... Nós estamos sozinhos nesse quarto...
- Entra aqui. Vamos tomar banho juntos.
O Bruno entrou no box e já foi logo ajoelhando-se e colocando o meu pau na sua boca.
[Ótavio narrando]
- Bom dia. Meu nome é Otávio Corrinje. Gostaria de uma suíte ao lado da do senhor Álvaro Fraga.
- Identidade, por favor. Preciso confirmar sua reserva. Senhor ou doutor?
Entreguei minha identidade a recepcionista.
- Chame-me de doutor.
- Reserva confirmada, doutor Otávio. Sua suíte é do lado esquerdo da do senhor Álvaro. O nosso funcionário o levará até seu quarto.
- Muito obrigado.
Dirigi-me ao elevador e cumprimentei o funcionário que apertou o número do andar.
Cheguei ao andar da minha suíte e pedi para o funcionário do hotel acomodar minha bagagem nela.
Dei-lhe uma gorjeta e fiz-lhe um pedido.
- Você poderia abrir a suíte do Álvaro para mim?
- Doutor, posso perder meu emprego por isso.
- Ele é meu funcionário. Quero fazer uma surpresa. Posso lhe dar uma boa quantia e garanto que não revelo nada a ninguém. Olha aqui - mostrei a ficha do Álvaro que era meu funcionário na empresa -, essa é a ficha dele. Ele trabalha para mim.
- Tudo bem, mas não posso ter problemas.
- Fique tranquilo.
Dei mais uma boa quantia ao rapaz que abriu a porta e se foi.
Ao entrar no quarto, eu ouço alguns gemidos vindo do banheiro. Flagrei o Álvaro sendo chupado por outro rapaz.
- O que está acontecendo aqui?!
- O-Otávio?! Eu posso explicar...
Continua...
Meus amores, pelo mil desculpas por todo esse tempo sem postar. Eu fiquei de férias, de fato, mas nunca vi um dezembro tão agitado como esse. Não tive tempo nem de desejar boas festas a ninguém.
Bem, aí está mais um capítulo. Estamos na reta final do conto. Acredito que teremos no máximo mais doze capítulos. Nos vemos antes do dia 01 de janeiro.
Obrigado a cada um de vocês. Agradeço em especial a Magus, Catita, Red, Cintia e Smile (a mais nova pessoa a comentar). Amo vocês meus leitores fiéis e amigos que sempre comentam e votam. Ao demais, obrigado pelas leituras. Sei que muitos não tem conta na Casa.
Peço desculpas mais uma vez. Beijos.
Meu e-mail: thonny_noroes@hotmail.com