Gabriel... espera! Cap. 19

Um conto erótico de Mark
Categoria: Homossexual
Contém 2428 palavras
Data: 31/12/2016 17:52:34
Assuntos: Gay, Homossexual

Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Apertei com tanta força o frágil copo de vidro em que estava bebendo que ele se partiu em mil pedaços cortando toda a minha mão. Pedro estava distraído até o momento em que viu o que eu tinha feito.

- Meu Deus, Mark! Que porra é essa? Moço, me dá um pano limpo por favor. – pediu ao garçom que passava por ali.

- Desculpe, senhor, acredito que isso não será possível.

- Merda! – gritou exasperado, tirando a camisa e pressionando na minha mão. Seria sexy, se não fosse trágico. Pedro era atleta e mantinha o físico em dia.

Eu continuava absorto naquela cena. Eu assistia tudo em câmera lenta, enquanto Pedro cuidava da minha mão. Gabriel chegou abraçado a uma moça ruiva, encorpada, bonita e sorridente, que não fazia questão de esconder que estava com ele. Ele sorria e a beijava enquanto falava alguma coisa com a Bárbara, até que Pedro me sacudiu.

- Mark, acorda, caralho! Vamo no hospital agora. – e foi só então que eu me permiti sentir toda aquela dor, tanto a da minha mão, mas mais intensamente a do meu coração. Comecei a chorar deixando sair toda a angustia poupada até ali. Pedro me olhava e não sabia o que fazer. Acredito que ele ainda não tivesse visto o casal 20. – Ei, que isso?! Foi só um corte, carinha, vai passar! – e me trouxe para o peito dele. Me permiti encostar a cabeça e acredito que foi nesse momento que ele tenha percebido o que me fez chegar naquele estado. – Masoq, mas, mas... aquele filho de uma puta! – disse enraivecido.

Pra minha sorte, ou não, ninguém havia percebido o que tinha acontecido com o copo e nem com minha mão, porque se alguém me visse chorando poderia jurar que era por causa do corte que eu estava daquele jeito, mas não era bem assim. Eu chorava porque me sentia usado, me sentia envergonhado por tudo o que havia acontecido entre eu e aquele que antes me fazia sorrir, mas que agora era o motivo principal de toda a minha dor.

Chorava porque me sentia sujo, um depravado, como se tivesse sido me dada a escolha de me entregar para Gabriel da forma que fiz. Mas não foi. Ele me escondeu essa parte da vida dele, e talvez eu até tivesse uma parcela de culpa nisso tudo, afinal eu poderia ter investigado melhor. Fui cegado pela boa fé, mas agora nada disso importava mais.

De repente sinto que Pedro me afastou de seu peito e pediu que eu olhasse para ele.

- Ei, olha pra mim, ta bom?! A gente vai sair daqui, vamos ao hospital dar uma olhada nesse machucado e depois você me diz o que quer fazer, beleza? – eu nada dizia. Não conseguia dizer nada racional.

Ele foi me levantando da cadeira e eu me deixando levar. A única saída que tinha passava por eles. Eu não queria que ninguém me visse daquele jeito, então pedi ao Pedro que me desse um tempo para me recompor. Me desgrudei do abraço dele, agradeci pela força, juntei toda energia que eu ainda tinha e decidi passar por eles de cabeça erguida.

Enquanto eu caminhava em direção à saída, o mundo passava em câmera lenta. À medida que eu me aproximava do grupo, vi o sorriso dele se desfazer aos poucos enquanto eu o encarava, sua face mudou de cor e Bárbara então tomou conhecimento do que estava acontecendo.

- Meu Deus, Pedro! O que houve?

- Ele cortou a mão, maninha... a gente vai indo nessa, falou? – ela apenas assentiu com a cabeça e veio em minha direção despedir-se.

- Oh querido, uma pena você não poder mais curtir comigo... a gente vai marcar alguma coisa e pode ter certeza que vamos ter aquela conversa. – eu a abracei, sempre encarando Gabriel, que parecia não acreditar no que via.

Aquele ambiente parecia pesado e era como se um dementador por ali tivesse passado porque todo o ar tinha ido embora. Quando enfim saímos no portal me permiti desabar. Pedro me amparou, não me julgou, me fez cafuné, e só ficou ali me abraçando. O cheiro dele era reconfortante.

Por fim Pedro me levou ao hospital, alguns pontos foram dados e pela minha cara de velório o médico plantonista sugeriu um calmante para que eu pudesse dormir. Agora a pergunta que não queria calar: o que eu diria em casa? “Hey mãe, fui usado por um cara, quebrei um copo e cortei a mão, enquanto eu o via beijando sua namorada.” Não me parecia uma boa ideia.

Pedro, entretanto, tomou a dianteira e ligou para minha mãe informando que naquela noite eu dormiria em sua casa. Dona Sara não tinha problemas em aceitar isso, afinal conhecia o Pedro, sabia que ele era um amigo e, incrivelmente, confiava nele. Coitada! Não queria essa opção mas era isso ou dormir na rua com a mão cortada.

Decidi parar de bancar a donzela ofendida e aceitei o convite do Pedro para dormir em sua casa. Seus pais já me conheciam e não fizeram perguntas quando me viram naquele estado deplorável. Apenas disseram ao filho que os chamassem caso alguma coisa fosse necessária. Eu só pude dizer obrigado e continuar pelo corredor até o quarto do Pedro.

Eu nunca tinha visto aquela parte da casa, apesar dos convites insistentes do Pedro. Parte de mim, naquela época, não queria estar no mesmo ambiente em que ele transava com sua então namorada. Isso seria como jogar gasolina no buraco que havia em meu coração pela dor da rejeição.

Engraçado nisso tudo, se é que existe algo engraçado, é que eu sempre estou nessas situações de fragilidade. Meninos destruindo minhas expectativas, eu me inferiorizando pelos recados que a vida insiste em me mandar. Como se eu nunca fosse bom para nenhum daqueles a quem eu queria, ou como se eles fossem bons demais para mim.

Naquele momento esse era o sentimento: eles eram, afinal, bons demais para mim. Eu, aquele menino ingênuo e fraco, com medo do seu próprio destino, que se escondia às sombras de uma família desunida e desprovida de amor. Exceto pelo meu irmão, claro. É horrível essa auto piedade, eu sei, mas só quem passa por isso mais de uma vez sabe que chega um momento em que você não quer mais, e diz a si mesmo que não é desistir, é simplesmente aceitar o obvio.

Como se isso fosse banir da sua mente toda a vergonha de não ter conseguido o que queria. Eu chorava silenciosamente, enquanto ele, Pedro, só podia fazer o que o momento pedia a ele que fizesse: me abraçar. Estava fazendo às vezes de meu porto seguro e isso estava além de qualquer ressentimento que poderia haver entre eu e ele.

- Ei, você vai tomar o remedinho que o médico te passou e vai apagar.

- Não, Pedro, eu preciso colocar pra fora!

- Não, você não precisa sofrer por aquele babaca que não soube aproveitar a grandeza dos seus sentimentos. Aliás eu também sou um babaca, mas isso é história pra outra noite do pijama. – e foi com essa fala que pela primeira vez em horas eu sorri.

Tomei o remédio e tudo foi escurecendo aos poucos. Dormi. Não sonhei. O remédio talvez nem fosse tão forte assim, já que eu acordei no meio da noite com uma dor de cabeça muito pesada e com braços ao meu redor. Eu conhecia aqueles braços muito bem. Quando me dei conta, estava aconchegado ao peito do Pedro e resolvi que aquela não era hora da minha cabeça ser tão racional como vinha sendo. Bem, nem tanto. Me forcei a dormir para me livrar daquela situação embaraçosa, porém até que gostosa.

No outro dia amanheci um pouco mais leve e Pedro não estava mais de conchinha comigo. Acho que ele deve ter acordado antes e ficou com medo do que eu poderia pensar caso visse a posição em que ele estava deitado ao meu lado. Enfim, sei que ele estava sentado na poltrona meio que me assistindo dormir.

- Ei, bom dia. Como se sente? – perguntou chegando mais perto.

- Nesse momento me sinto nojento, precisando de um banho e de escovar os dentes. – ele sorriu.

- Vem, separei uma toalha e uma escova pra você.

- Não, Pedro, você já fez muito por mim. Será que poderia me levar em casa? Não quero dar trabalho.

- Mas que trabalho, menino? – entrou a mãe do Pedro, dona Vera. – Trabalho nenhum, o Pedrinho me disse que você cortou a mão e que não se sentiu bem por causa do sangue. Ai essas coisas deixam a gente assim mesmo, mas, olha, você pode tomar banho aqui pra gente ir tomar café. Não aceito não como resposta. – olhei dela pra ele e só pude agradecer mentalmente. Envergonhado, cedi aos pedidos.

Depois do banho Pedro me deu uma cueca nova e me emprestou algumas roupas para que eu pudesse, nas palavras dele, ficar mais a vontade. Tomei café com sua adorável família e aquilo foi até reconfortante depois de toda aquela situação.

Voltei para o quarto de Pedro com o intuito de recolher minhas coisas e ir embora, mas ele me seguiu e fechou a porta atrás de si. De acordo com ele aquilo era uma prova de que ele cumpria as promessas que fazia e que iria me consolar a qualquer custo. Pediu que eu contasse a ele toda a história com Gabriel o que eu, claro, fiquei meio com o pé atrás. Sem dar detalhes disse a ele que nos envolvemos, mas que de nenhum de nós havia promessas de compromisso. Essa conversa, inclusive, me fez perceber que eu não estava magoado porque ele “me traiu”, nós nem tínhamos um compromisso. Foi algo de momento, carnal, apenas.

Eu estava triste mesmo porque, na minha cabeça, fui usado por ele só para satisfação de algum desejo louco dele. Estranho, eu sei, assumir no parágrafo anterior que era só carnal e já neste dizer que fiquei aborrecido com isso. Na verdade o que eu quero dizer é que se eu soubesse que ele tinha namorada jamais teria aceitado fazer as coisas que fez, e que ter feito aquelas coisas maravilhosas sem saber que ele já tinha outra pessoa, foi como se ele tivesse traído a minha confiança. Confuso, eu sei.

Ficamos ali por horas conversando e eu gostei de ele ter respeitado o meu espaço, não querer saber nada além do que eu estava lhe contando e, mais ainda, que ele não tentou tirar proveito nenhum da situação.

- Olha Pedro, sou imensamente grato a você por cuidar de mim, me acolher durante essa noite e por me escutado. Nesse momento era do que eu mais precisava mesmo um ombro amigo. – percebi nele uma pontada de frustração quando eu disse essas coisas, mas precisava deixar claro que aquilo não tornava as coisas entre nós mais fáceis. – Se não for abusar, você pode me deixar em casa, por favor?

- Claro! Deixa só eu pegar meu boné.

Ele fica uma gracinha de boné. Parece uma criança enorme. Me levou até a porta de casa e antes que eu pudesse descer deu um beijo no meu rosto. Eu estanquei. Agradeci, de novo, pela noite, pela estadia, pelas roupas e pela carona. Enquanto eu entrava portão à dentro o vi indo embora e, por alguma razão estranha, eu me sentia bem.

- Queria saber se agora vai virar rotina o senhor dormindo fora de casa todos os finais de semana. – era essa a minha recepção assim que entrei casa à dentro.

- E-er, oi pai. Eu machuquei a mão, o médico me disse que eu precisava ser sedado e o Pedro me levou pra casa dele.

- E você tem celular pra que, moleque? RESPONDE! – gritou.

- Ele ligou pra mãe avisando que eu ficaria por lá. – passei a mão enfaixada na testa.

- Some da minha frente, Mark! – foi sua última palavra.

Eu juntei os restos de mim e fui pro meu quarto. Chegando lá meu irmão estava sentado brincando com seus bonecos e se assustou quando me viu.

- Irmão, você machucou igual o Caio? O médico não colocou gesso no seu braço? – e mais uma vez eu precisava juntas minhas energias e conversar com ele. Eu estava só um pouco cansado, mas não podia deixar meu bebê de lado.

- Oh amor, eu só cortei a mão com vidro. Por isso que ele não engessou como fez com o Caio! – ele fazia uma cara muito fofa de quem está entendendo tudo. Brinquei com ele mais um pouco e no fim apagamos os dois na cama.

Minha cabeça ainda doía com as lembranças, meu peito parecia que se abriria como se estivesse sendo rasgado sem anestesia.

Eu poderia escrever linhas e linhas sobre como eu me sentia devastado, mas isso seria mais do mesmo. Já descrevi acima como era estar naquela situação. Em um momento eu estava feliz, me vendo envolto numa trama descompromissada mas que me forçava a deixar de lado a minha zona de conforto. Eu estava indo além do que jamais imaginaria fazendo até ali e eu preciso reconhecer que de como eu era para onde eu estava agora muita coisa havia mudado, e cabia a mim aceitar o aprendizado que aquela experiência estava me proporcionando, junto com as lembranças positivas, ou ficar amuado daquele jeito.

Claro, ainda doía bastante. No outro dia era segunda e eu liguei para o escritório avisando ao meu chefe que naquele dia eu não poderia ir devido ao corte na mão, que maior parte das atividades estavam adiantadas e que eu voltaria no outro dia. Sim, eu tinha um atestado. Não, o corte não foi nada demais, mas eu decidi aceitar aquele dia de folga que me foi ofertado.

Voltei para a cama, onde cochilei por mais uma hora. Acordei com mãozinhas pequenas e gostosas no meu rosto, fazendo carinho, como dizia ele. Que sensação divergente estava dentro de mim por um lado triste por todo o ocorrido, por outro feliz porque ele estava ali para cuidar de mim, mesmo tendo o mesmo nome que meu algoz. Isso não iria ser um problema, afinal eu sabia muito bem diferenciar um do outro.

Descemos para seguir a rotina normal do dia. Ele estava lá todo bonitinho tomando café, de pijaminha, eu nem fiz questão de mudar de roupa. Naquele dia eu estava decidido a não fazer nada e curar a dor moral me divertindo com meu irmão.

Colocamos músicas altas, dançamos no meio da sala, assistimos filmes, desenhos, criamos castelos, matamos dragões, voamos montanhas, deixamos a imaginação nos levar para fora daquela realidade pesada e meio cor de chumbo.

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Comentários

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Continua com a historia, vc é muito bom,

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Oi que bom que vc voltou a publicar o conto. Fiquei muito feliz quando eu vi. Adorei os caps so nao gostei da atitude do Gabrielzao ele foi muito sacana de enganar o mark assim. Feliz ano novo.

RECEITA DA FELICIDADE

Para você ganhar belíssimo Ano Novo... Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependimento pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de Janeiro as coisas mudem e seja claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem que merecê-lo, tem de fazê-lo novo.

Eu sei que não é fácil mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Um maravilhoso Ano Novo para você! bjos

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