[...] De manhã, nova surpresa, só que esta desagradável. Ainda estava dormindo, de conchinha, aconchegado ao meu macho, quando o interfone começou a tocar com insistência. Meio atordoado, abri o monitor do quarto mesmo e vi pela câmara o visitante indesejado. Me abraçando por trás, Denilson perguntou com a voz ainda mais rouca, por causa do sono:
- Quem é essa figura doc?
Meio sem jeito, temendo a sua reação, respondi tentando aparentar naturalidade:
- É o Marcos, meu ex... Não sei o que ele pode ter vindo fazer aqui a essa hora. Ainda titubeante prossegui - Você se importa se eu atender?
O beijo na boca com a costumeira apertada na bunda me tranquilizaram.
- De boa doc, atende o cara, do jeito que tá socando o interfone não sai daqui sem trocar ideia, além do mais os mané lá de baixo já devem ter falado que cê tá em casa.
Enfiei um short de qualquer jeito e fui atender no interfone da cozinha. Marcos parecia bem nervoso e mandei ele subir. Ao abrir a porta, ele foi entrando, praticamente me empurrando pra dentro, e falando sem parar:
- Porra Ramon, que história é essa que o João lá da portaria anda comentando?Ele já me ligou umas três vezes, falando que você tá meio diferente, trazendo uns caras estranhos aqui pra casa.
É, a força do hábito, "aqui pra casa" sendo dito por alguém que saiu de casa sem nem mesmo me dar maiores explicações, levando com ele todas as nossas pretensas amizades, me deixando sozinho a ver navios.
- Escuta aqui Marcos, você não tem nada a ver com a minha vida, e se trago alguém pra minha casa, é problema meu, e não motivo pra fofoca de porteiro.
Fiz questão de frisar "minha vida" e "minha casa", querendo deixar claro que mais nada ali pertencia a ele. O seu olhar era de espanto. Em toda nossa relação, minha índole mais passiva e conciliadora sempre tinha deixado meu ex à frente de tudo. Com certeza ele estava estranhando muito meu jeito de falar.
- Você pirou Ramon?
A alteração de sua voz trouxe pra cena um novo personagem. Usando só uma cueca, Denilson entrou na sala.
Temendo alguma confusão, falei rapidamente para o ex:
- Marcos, é melhor você ir embora...
Alterado, olhando fixamente e com ar de desprezo para o garotão de cueca, ele respondeu secamente:
- Que isso? Quem é esse marginalzinho?
Apreensivo, voltei os olhos para o meu homem, percebendo que ele já estava meio em posição de combate, as pernas fincadas com firmeza no chão, os braços um pouco abertos, e uma expressão fria.
- Marcos, você não tem o direito... Tentei argumentar, mas nem terminei a minha frase, interrompido pelo machão diante de mim, cuja expressão metia medo.
- Fica na sua doc, isso é assunto pra homem.
Diante dessa frase, percebi um meio sorriso de deboche do meu ex, que não teve muito tempo pra se divertir com a situação. Dando um passo atrás, percebeu o avanço do moleque, que foi logo dizendo:
- Esse marginalzinho aqui é o cara que vai te por pra fora. Qual a parte que cê não entendeu sobre limpar o beco?
- Ramon, o que é isso? Como que uma figura dessas pode estar aqui, pelado?
O ar de repulsa do médico metidinho me deu vontade de defender meu amante. Não era justo pra ele ouvir essas coisas. Na verdade, eu estava vendo, incomodado, o meu próprio preconceito materializado diante de mim.
Os momentos seguintes demonstraram mais uma vez como a autoestima do garotão era no topo. Sem perder a posição intimidadora diante de Marcos, ele provou que não precisava de ninguém que o defendesse. Dando mais um passo em direção ao oponente, fazendo com que ele mais uma vez desse um passo pra trás, foi curto e grosso:
- Comequié viado, tu vai sair por bem ou vou precisá te jogá lá fora? O doc aqui já falô que é procê se mandá e se tu não qué ficá com a cara esborrachada ali no corredor, é melhor não perdê tempo!
O sotaque marginal dessa fala me recordou o momento do banheiro, quando o mulato me agrediu. Senti que a coisa ia ficar preta, mas, precavido, Marcos se encaminhou pra porta, sem perder a chance de uma ironia:
- Então tá bom, "doc", boa sorte com suas novas escolhas...
Nem bem Marcos saiu, Denilson me encarou, com o velho olhar vitorioso. O seu sorriso apresentava novamente aquele ar incomodo, que eu não sabia explicar direito, um misto de cinismo e safadeza. Estava claro pelo seu semblante que ele tinha ficado satisfeito com a situação.
Seu instinto predador estava à tona com toda força quando ele começou a caminhar em minha direção. Eu, por outro lado, ainda estava abalado com aquela cena toda dentro de casa. De certa forma me sentia um pouco humilhado pela maneira que o moleque tinha me colocado de lado, como um ser frágil e indefeso, me expondo assim na frente do meu ex. Entretanto, na minha confusão mental, também estava satisfeito por ter me sentido protegido. Aquele garanhão tinha o poder de aflorar em mim a delicadeza que eu normalmente procurava ocultar, com medo de comprometer minha masculinidade.
Sem dizer uma só palavra, meu amante me pegou firme pelos cabelos. O gemido involuntário foi inevitável e, sem perda de tempo, ele foi me arrastando em direção a um dos sofás, onde me jogou com certa brutalidade, dobrando meu corpo sobre um dos braços. A posição fez com que eu ficasse totalmente exposto, e antes que pudesse pensar alguma coisa, já senti meu short sendo arrancado. Sem o menor cuidado, o machão chegou com o pau em riste, devidamente encapado por uma das camisinhas que ele espalhava generosamente por toda a casa.
A meteção foi violenta. Parece que toda a energia acumulada para o combate que não aconteceu estava agora direcionada para o meu cu. Os sons que vinham de trás de mim eram roucos, grunhidos mesmo de um animal satisfazendo seus mais baixos instintos. Eu estava totalmente dominado, e por mais que pedisse pra ele ir devagar, todos os apelos eram inúteis.
Ali, no sofá, Denilson me comeu como quis, até seu cacete engrossar dentro de mim, revelando o gozo que por fim trouxe alívio. Dessa vez ele nem mesmo me beijou. Debruçado, tentando recuperar as forças, só o ouvi dizer:
- Vou tomar um banho doc, prepara o café!
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