ENTREVISTA
- Me fale um pouco sobre você.- Dizia o entrevistador.
Eu o fitava. Deus, como era sensual. Seus lábios finos e rosados me causavam arrepios quando se moviam. Ele estava vestindo uma camisa social branca e as mangas estavam dobradas até a altura dos cotovelos, deixando a mostra seus braços fortes com poucos pelos.
- Senhor Ribeiro poderia responder a minha pergunta?- Aqueles lábios pareciam dançar.
- Sim. Claro. Bem me chamo Arthur Ribeiro tenho 17 anos e estou muito afim desse emprego.
- Presumo que todos que foram entrevistados hoje estão afim do emprego não é mesmo?
Seus cabelos eram castanhos claros. Seu rosto bastante anguloso deixa a mostra o seu maxilar incrivelmente sexy, o nariz parece que foi esculpido por Michelangelo. Seus olhos negros me deixam confuso, não são castanhos escuros como os da maioria das pessoas mas sim negros e enigmáticos.
- Senhor Ribeiro, seu currículo não consta nenhuma experiência anterior. O senhor Miller é uma pessoa muito importante e uma magnata no ramo da saúde e da publicidade. Ele procura uma pessoa que irá cuidar de sua agenda pessoal, acompanhá-lo em eventos, reuniões, viagens. internacionais entre outras coisas. - Confesso que não sabia dessa parte, eu pensei que a vaga seria somente de secretário em algum dos escritórios do senhor Miller.- O que te faz pensar que o senhor Miller deva dispensar os outros concorrentes que tem anos de experiência e alguns até graduação em secretariado e contratar o senhor que tem apenas um curso técnico.
- Senhor eu confesso que não sou o candidato mais apropriado para essa vaga, mas eu posso aprender rápido e ...- Sou interrompido
- Todos que passaram por aqui podem aprender rápido.- Disse ele com sarcasmo nos olhos.- Esse é seu melhor argumento rapaz?
- Senhor eu só quero trabalhar, não ligo para as regalias que esse emprego tem a oferecer.
- O que mais? - Ele pergunta me olhando nos olhos enquanto junta suas mãos encima da mesa e se inclina pra frente deixando seu peito forte e malhado mais próximo a mim.
Desvio os olhos no seu peitoral e encaro seu lindos olhos negros.
- Honestidade e humildade senhor.
- Como?- Ele pergunta como se não tivesse entendido o que falei.
- Honestidade e humildade, as maiores lições que minha mãe me ensinou.
- Você acha que honestidade e humildade são coisas boas a acrescentar a um pobre rapaz como você, - falou dando ênfase ao pobre. - que não tem...- Eu o interrompo no mesmo instante.
- Que não tem onde cair morto. - Vejo seus olhos se abrirem mais que o normal.- É isso que ia dizer não é? - Toda a atração que senti por aquele homem lindo e sensual se esvaiu nesse momento.
Ele fica calado e me olha com desaprovação. Mas agora que eu já comecei e devo terminar.
- Eu posso não ter uma casa bacana e até mesmo um carro, mas aprendi que não preciso dessas coisas pra ser feliz. Eu posso não andar com roupas de marca como as que o senhor está usando, e deve achar que as minhas roupas são trapos de segunda mão. Porque se for isso o senhor está certo, nunca soube o que são roupas novas, dormir em uma casa que não molhe em dias de chuva e até mesmo comer o que me desse vontade, mas se tem uma coisa que nunca me esqueço é que o amor pode superar todas essas coisas. E eu tive isso. Eu amei e fui amado. - Lagrimas começam a escorrer de meus olhos.
Ele permanece ali me olhando. Desta vez com um rosto sem expressão. Me levanto e vou em direção a porta do escritório.
- Volte aqui rapaz ainda não terminamos
- O senhor não tem o direito de mandar em mim. Até onde eu sei não tem nenhum domínio sobre minha pessoa. Eu nunca fui tão insultado como fui hoje aqui. E quanto ao senhor eu desejo que seja feliz com sua mediocridade.
Saio da sala aos prantos. Como pode alguém querer ser tão superior assim. Se pelo menos fosse o próprio Maurício Miller eu até entenderia. Mas um mero empregado. Do que adianta ter beleza se por dentro é apenas um buraco vazio.
Entro no elevador e aperto o botão térreo. Penso no desastre que foi a entrevista. Eu só quero ir ao hospital ver a minha mãezinha.
A dois anos ela vem sofrendo de uma complicação nos órgãos respiratórios que a deixam impossibilitada de tudo e o hospital público não oferece tudo o que ela precisa para o tratamento.
Eu pensei que talvez se fosse contratado, com o salário daria para comprar os remédios que ela precisa tomar.
Mas eu estava muito enganado. Muito mesmo.
Chego ao térreo e saio para fora. O ar parece ser mais limpo sem toda aquela tensão e arrogância que habita naquele prédio. Desejo nunca mais voltar naquele lugar.
Vou andando até terminal de ônibus e pego um que vai direto ao hospital. Preciso ver a minha mãe. Preciso ficar o máximo possível com ela. Algo me diz que ela não irá suportar por muito tempo, e eu já estou me preparando para o pior.