Os dias foram se passando e eu fui organizando tudo, separando o que levaríamos para a França e o que ficaria. Meus pais não falavam comigo, após a “maravilhosa” recepção deles, eles ainda tentaram conversar comigo, mas nós acabamos brigando feio, pois eles não aceitavam de jeito nenhum a minha mudança para a França. O engraçado é que eles estavam super bem com o fato da Anne morar no Rio de Janeiro, logo ela que era toda maluquinha. Eu estava bem preocupado com ela, eu sabia que ela amadureceria para lá, mas eu também sabia que ela apanharia bastante da vida.
Às vezes eu me sentia culpado, pois eu acabava roubando a atenção dos meus pais para mim. Depois que eu tive câncer pela primeira vez, meus pais só tinham atenção para mim e acabavam deixando meus irmãos um pouquinho de lado. Eu ficava chateado, pois eram meus irmãos que precisavam de atenção e não eu. Eu sabia que eles estavam preocupados comigo, o maior medo deles era que eu adoecesse novamente para lá e acontecesse algo e eles fossem os últimos a saber. Nós sabíamos que eu poderia ter câncer novamente, eu fazia tratamento, logo no início, de três em três, e depois de seis em seis meses eu ia ao hospital fazer uma bateria de exames. Eu tinha medo de adoecer novamente. Todos nós tínhamos medo, na verdade.
A Loh nunca me mandou mensagem e nunca nos encontramos, depois daquele dia eu nunca mais a vi, acho até que ela se mudou da cidade, ela me excluiu do facebook, perdemos totalmente o contato. Achei isso muito estranho, pois ela me disse que tudo tinha a ver com o marido dela. Mas eu também não fui atrás dela, ela se afastou, se ela quisesse falar conosco, ela com certeza saberia onde nos encontrar.
Tia Joana sempre vinha em casa, ao contrário do que o Thi havia dito, ela não estava nada diferente. Ela passava bastante tempo com a gente, o que fazia a Maman ficar muito puta da vida. Minha tia (era difícil de chama-la de sogra) estava me ajudando a arrumar tudo, ela não gostava da ideia de irmos embora, mas ela passou a respeitar nossa decisão. Eu ainda, em alguns momentos, sentia uma certa insegurança em me mudar completamente para Amiens, mas a maior parte do tempo eu queria ir embora mesmo, eu cheguei a conclusão que esses pequenos momentos de duvida eram normais.
Em uma manhã, eu resolvi dar uma passadinha no restau. Meus colegas de trabalho me recepcionaram tão bem, mas tão bem que eu já quis entrar na cozinha e começar a trabalhar com eles.
- Chef, graças a Deus o senhor voltou! – Um falou mais alto do que devia – A gente tá quase ficando louco com o Pierre.
- Eu ouvi isso, hein! – Pierre disse
- Deixa de ser cricri, Pi! Eu estava com saudades de todos, pessoal!
- A gente também estava com saudade do senhor! – Aos poucos eles vieram me abraçando e dizendo que estavam loucos pelo curso que eu faria com eles.
Após falar com todos, Pierre e eu fomos para o escritório e passamos a manhã em reunião. Ele me mostrou como o restaurante estava e nós estávamos indo muitíssimo bem. Ele primeiro me mostrou tudo o que ocorreu no restaurante em minha ausência, depois ele me mostrou como estava e quando chegou no como seria... deu problema.
- Antoine, tu não podes me deixar aqui sozinho!!
- Pi, eu preciso!
- Antoine, nós somos sócios, tu não podes sair assim...
- Pi, no inicio era só tu, lembras? Eu nem participava do restau!
- Eu sei, eu sei! Mas a carga era menor! Tu vieste pra cá, nós melhoramos o restau, a clientela aumentou significativamente... e agora tu queres abandonar tudo? Tu queres ir para a França, pelo amor de Deus! Tu sabes que lá não é o paraíso!
- Eu não estou atrás de paraíso, Pi! Eu quero e eu vou me mudar para lá.
- Então é assim? Tu vais fazer um curso para melhorar nosso restaurante e não voltas mais? Quanta gratidão, viu?
- Pi, não é ingratidão... Ah, quer saber, eu tô cansado de repetir a mesma história. Se vocês querem ficar com raiva de mim, ótimo! Mas eu irei me mudar, isso é fato.
- Nossa, Antoine, tu sabes que eu me mudei pra cá mais por causa de ti do que outra coisa. Agora, tu vais embora e me deixa aqui?
- Isso quer dizer que o restau não é problema, né?! O problema é que eu estou deixando vocês aqui...
- Claro, idiota!
- Pi, eu não vou morrer, eu vou só me mudar para outro país.
- Sim, um país que fica milhares e milhares de quilômetros longe daqui.
- Primo, tudo vai continuar igual...
- Ah, não vem com esse papo furado pra cima de mim, não. É óbvio que não vai continuar tudo igual. Tu não vais estar aqui. Nós não vamos te ver todo dia! Tu sabes que o Dudu e eu compramos nossa casa ao lado da tua por causa de ti e do Bruno. – Eu arregalei os olhos – Ai, desculpa...
- Tudo bem!
- Primo, não vai, não! O que é que tem de tão especial lá na França? Tu não conheces ninguém lá...
- Pierre, eu não aguento ficar em Macapá! Será que é tão difícil para vocês entenderem? Tudo aqui, EXATAMENTE TUDO me lembra do Bruno. Eu preciso viver, vocês me fizeram acreditar nisso. Eu tô casado e eu preciso viver minha vida com meu marido, entende? Não posso ficar aqui.
- Primo...
- Não, Pi – eu disse me levantando – Eu tô cansado de todos vocês me criticarem por estar indo embora. Vocês realmente pensam que eu estou fazendo isso com todo o prazer do mundo? NÃO! É claro que eu preferiria ficar aqui, mas ainda não dá. Não dá mesmo. Eu vou para a França! Aceita! Eu volto aqui amanhã para preparar o curso para o pessoal. – Eu fui embora e o deixei sentado sem palavras
Eu fui até a cozinha e me despedi de todo mundo com a promessa de que no dia seguinte eu iria lá para começar os preparativos do nosso curso e aproveitaria e cozinharia com todos eles.
- Traga a Sophie! – Alguém gritou
- Vou trazê-la, podem deixar! Beijo pessoal!
Eu saí do restau e fui para casa. Eu não tinha muito o que fazer e isso me agoniava. Quando eu cheguei em casa, o Thi e a Sophie estavam assistindo filmes. Eu me encostei na porta e fiquei observando os dois. Sophie havia colocado o Thi para cantar a musiquinha do filme que eles estavam assistindo. Eu me controlava para não rir, mas era tão lindo vê-los daquele jeito.
- PAPAAAAAA!!! – Ela pulou no sofá quando me viu
- Oi, filhaaaaaa!!! Eu me deitei junto deles e a Sophie se jogou em cima de mim
- Oi, amor! – Thi me deu um beijo
- Quero sovete, papa!
- Mas uma hora dessas, filha? Não tem sorvete. A gente almoça e depois a gente procura um local onde venda sorvete. Falando em almoçar, vamos almoçar fora?
- Vamos! – Thi concordou – Onde?
- Lá na Orla, quero ver o Rio.
- Tá bom! Mas a gente vai tipo agora?
- É! Eu tô com fome e vocês?
- Eu tô com muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuita fome! – Sophie disse
- Meu Deus, tanta fome assim? Vamos logo, Thi, antes que essa menina confunda meu dedo com uma asinha de galinha. – A sacana pegou meu dedo e mordeu – Ai! Vamos, vamos, vamos!!!! – Eu levantei e a peguei no colo e sai correndo para o quarto, ela caia na gargalhada. Ela tinha dois pais loucos e que faziam as vontades dela.
Nós nos arrumamos e saímos.
- Cadê teu carro? – Eu perguntei para o Thi, pois só naquele momento é que eu percebi que ele ainda não tinha pegado o carro.
- Eu vendi!
- Como assim tu vendeste?
- Ué, antes de eu ir para a França eu vendi.
- Maluco! Por que?
- Por que eu precisava de dinheiro, né amor?!
- Maluco!
- Passa a chave pra cá! – Ele disse
- Nem pensar! Eu dirijo!
- Deixa, eu dirijo!
- Não, senhor!
Ele foi lá atrás com a Sophie, pois nós estávamos sem a cadeirinha para ela. A que tinha já estava pequena para ela e já não a protegia. Eu entrei no carro, dei a partida e fomos para um restaurante que eu gostava muito. Ele ficava na Orla de Macapá, a gente comia vendo o gigantesco Rio Amazonas.
Nós chegamos no restaurante e fizemos nosso pedido, o que havíamos pedido iria demorar um pouco, pois estava bem cheio o restaurante.
- Ai, tomara que não demore muito, eu tô morrendo de fome! – Eu disse
- Eu também! – Sophie disse ao meu lado
- Olá! – Um cara se aproximou da nossa mesa
- Oi! – Thi disse
- Antoine?
- Sim, sou eu!
Ele começou a rir, e eu fiquei até com medo.
- Tu não estás me reconhecendo?
- Desculpa, mas não.
- Eu sou o Pedro...
- Pedro?
- A gente estudou junto.
- Estudamos? – Eu estava com vergonha por não estar lembrando do rapaz
- Sim, nós três estudamos juntos.
- Nós três? – O Thi disse assustado
- Na faculdade, fizemos o curso de Letras juntos. Estudamos quatro anos e meio juntos.
- MEU DEUS! Tu és o Pedro?
- Eu mesmo! – Ele disse com um grande sorriso no rosto
- Cara, tu não pareces tu! – Thi disse levantando e cumprimentando de forma correta nosso amigo, eu fiz a mesma coisa.
- Pedro, me desculpa, mas tu não pareces tu... Não pareces mesmo! – Ele estava um gato, simplesmente um gato
- Pois é, o que 44kg a menos não fazem, não é mesmo?
- Tu eliminaste 44kg? – Thi perguntou assustado – Tu perdeste um Pedro!!!
- Quase isso! – Ele disse ainda sorrindo – Vocês continuam juntos, pelo que vejo.
- Isso!
- E essa mocinha? – Ele disse se abaixando para falar com minha filha
Já gostei disso, eu acho muito bonito quem se abaixa para falar com uma criança, na minha cabeça maluca, isso demonstra que a pessoa quer ter contato com a criança e não se sente superior a ela.
- Oi, eu sou a Sophie! – Ela disse toda mocinha
- Meu Deus! Que menina linda e educada! – Ele disse apertando a mãozinha dela – É um imenso prazer te conhecer Sophie.
- Essa é nossa filha, Pedro. – Thi disse
- Muito linda! Quantos anos tu tens Sophie?
- Eu tenho 3 anos, mas vou fazer 4. – Ela disse como gente grande, Pedro ficou até assustado
- Que legal! Ela é uma mocinha, meninos. Eu tenho uma princesa da idade dela também, na verdade tenho uma princesa e um rapagão. Os dois da idade dela.
- Gêmeos?
- Isso! Estão bem ali – Ele apontou para uma mesa onde estava sentada uma mulher com duas crianças, ele acenou para a esposa que respondeu com um sorriso tímido.
- Família linda! – Eu disse
- Obrigado!
- Vocês já almoçaram? – Thi perguntou
- Não, não, acabamos de chegar.
- Se vocês quiserem, podemos sentar todos juntos.
- Ah, seria ótimo! Vou lá chama-los, então.
Ele foi até onde a esposa e os filhos estavam e o Thi, Sophie e eu trocamos para uma mesa maior, onde coubesse todos nós.
- Antoine, Thiago, essa é a Mirian, minha esposa. Amor, esses são velhos amigos.
- Olá, Mirian! Prazer em te conhecer.
- Oi, coleguinha! – Sophie disse – Eu me chamo Sophie, qual é o seu nome?
- Agatha – a menina respondeu toda timida
- Nossa, mas ela é muito fofa! – Mirian disse – É sua filha?
- Sim, é nossa filha – Thi disse
- Muito linda!
Nós nos sentamos e aguardamos desesperadamente chegar nossos pedidos. Enquanto, atualizava-mos sobre a vida uns dos outros.
- Há quanto tempo vocês não se viam? – Mirian perguntou
- Há bastante tempo! Após o término da faculdade nós ainda nos vimos algumas vezes, mas depois fomos perdendo o contato. – Eu disse
- Essa vida de adulto não é fácil! – Pedro disse rindo
- Ai, tenho que concordar!
- E a Jujuba? Vocês mantiveram contato?
- Sim, sim! Ela é madrinha da Sophie.
- Ah, que legal!
- E o Dudu é o padrinho! – Thi disse
- Vocês mantiveram contato até com o Eduardo? Ele continua maluco?
- Se duvidar até pior! – Eu disse rindo – Ele é meu compadre e mora do lado da minha casa, acreditas?
- Sério? Bom, mas vocês nos últimos semestres se tornaram meio que inseparáveis – Pedro disse para mim
- E seguimos assim!
- Desculpa, mas vocês não se falavam no final da universidade...
- É, não nos falávamos mesmo. Nossa história é looooooonga! – Thi riu – O importante é que casamos.
- Ah, vocês são casados? – Mirian perguntou
- Somos, sim! Estamos há pouco tempo casados, na verdade.
- Bom, há pouco tempo casados no papel – Thi disse – E ele só aceitou se casar comigo por que eu estava sendo quase expulso da França.
- Vocês moram na França? – Mirian perguntou bem animada
- Moramos, sim.
- Ele é francês, amor. Eu tinha uma raiva dele, por que ele só tirava nota alta em todas as disciplinas de francês. Como não tiraria também?
- Ah, tu tinhas raiva de mim? Olha como a gente descobre as coisas depois de velho.
- Olha, tinha mesmo! Tu eras o queridinho dos professores.
- Ah, mas eu estudava feito um desgraçado!
- Isso é verdade! Tu estás dando aula lá para França?
- Não! Na verdade, já tem um tempinho que não dou aula. Eu virei chefe de cozinha.
- Ah, mentira! Tu eras professor convicto, na universidade.
- É... mas virei chefe.
- Ah, tem um restaurante muito bom aqui na cidade, e tem comida francesa. Vocês conhecem? – Mirian disse o nome do meu restau
- Bom, na verdade, esse restaurante é meu. – Eu sorri todo orgulhoso
- Sério? Gente! Olha, teu restaurante é muito bom. Comida e atendimento de primeira!
- Não vou te dar desconto, não, Pedro.
- Ah, droga! – Todos nós caímos na gargalhada
- Em que cidade da França vocês moram?
- Nós morávamos em Paris, mas estamos nos mudando para Amiens.
- Ai, eu sou louca para conhecer a Europa.
- Se um dia forem para lá, nos avisem que a gente leva vocês para fazer um tour de France.
- Ah, que maravilha! Avisamos com certeza, pois apesar do meu marido ter estudado francês, ele não fala nada.
- Tu não falas nada, Pedro? Como assim?
- Ah, tu sabes, né?! Língua é uso, eu não pratico há muito tempo, a gente vai esquecendo aos pouquinhos.
- Tu trabalhas com língua portuguesa?
- Sim, e literatura brasileira e portuguesa também.
- Tu sempre gostaste de literatura.
- É verdade!
Nossos pedidos chegaram e nos almoçamos e conversamos sobre diversos outros assuntos. Mirian estava bem animada em conhecer a Europa, nós decidimos, no final do almoço, de marcar um jantarzinho lá em casa. Eu fiz questão, na verdade, pois eu queria que a Sophie fizesse amiguinhos, ela passava muito tempo só com adultos.
- Bom, então fica combinado assim. – Pedro disse
- Combinado! – Thi se despediu de nosso velho amigo
- Tchau, coleguinhas! – Sophie abraçou e deu dois beijinhos no rosto de cada uma das crianças
- Nossa, mas ela é muito educada! Que lindinha! – Mirian disse se despedindo de mim – Nos vemos na próxima semana.
- Com certeza! Tchau, tchau, pessoal!
Cada um foi para o seu carro, quando nós entramos no carro Sophie logo falou:
- Papa, e o sovete?
- Tu não esqueces mesmo, né?! – Thi disse
- Não!
- Para na sorveteria, amor!
- Pode deixar! – Eu disse
- Eeeeeeee sovete!!!!
Eu saí do almoço muito orgulhoso de minha pequena, ela tinha sido elogiada por nossos amigos. Eu ficava todo bobo quando elogiavam minha filha. Era exatamente o que eu queria, eu queria que minha filha fosse diferente, que tivesse muito amor para dar ao mundo. Eu queria que ela fosse uma pessoa de bem, desprendida de preconceitos, aberta ao mundo e às diferenças múltiplas da sociedade moderna.
Eu parei na sorveteria, nós descemos do carro e a Sophie ia puxando o Thi pela mão. Ela era louca por sorvete. Eu sofria com essa loucura dela, pois eu também era louco por sorvete e se ela comia, eu também comia, lógico.
- Sovete, Papa! – Ela puxava o Thi
Eles foram na frente e eu fui logo atrás. O Thi montou o sorvete da Sophie e o dele e depois eu montei o meu. Nós nos sentamos do lado de fora da sorveteria, ela também ficava na Orla, então, ainda dava para ver o Rio de lá.
- Tá gostoso o sorvete, filha?
- Tá! – Ela estava toda lambuzada, quando ela tomava sorvete eu a deixava se lambuzar à vontade, sorvete bom é aquele que a gente toma com a cara toda.
- Ainda bem que vai ser tu quem vai dar banho nela. – Thi disse tirando o corpo fora
- A gente toma banho, né Sophie? Pode lambuzar, filha!
Foi eu falar e ela se melecou ainda mais.
- Papa, eu quero mais um!
- Filha, teu pai pegou bastante sorvete pra ti, só esse tá bom.
- Aaaah, mais um, Papa! – Ela começou a fazer birra
- Se a gente comer muito o que acontece?
- A gente faz muito coco? – Ela disse toda inocente e Thi e eu não nos aguentamos e rimos demais.
- Também! Se a gente come muito dá piriri na barriguinha, aí vai fazer muito coco mesmo, credo! Aí, como tu vais fazer muito coco, tu vais ficar dodói da barriguinha.
- Não quero ficar dodói!
- Pois é, papa também não quer que tu fiques dodói, por isso que tu só vais tomar um sorvete, tá?
- Aaaaah, papa!
- Eu te dou um pouquinho do meu, mas só um pouquinho - Eu fui dando aos pouquinhos para ela, mas bem pouquinho, até ela esquecer - Ai, eu vou sentir saudade disso aqui. – Eu adorava aquela sorveteria, eu podia sentir o vento forte do Amazonas, podia vê-lo.
Dali eu via o Rio, via a praça que não era muito bem cuidada, mas mesmo assim era bonita. Do nada eu lembrei que foi ali que Thi e eu terminamos. Foi ali que eu havia colocado um ponto final na nossa história, mal sabia eu que era só uma curva no meio do caminho, era só um ponto em seguida.
Enquanto Thi conversava com a Sophie, pois ela não parava de falar um segundo sequer, eu me peguei pensando no humor inerente a vida. Como acontece tanta coisa na vida da gente pra fazer a gente voltar para o ponto de partida? Como a gente apanha tanto para descobrir que tu podes ser feliz com a pessoa que tu menos esperas. Eu não dava mais nada pelo Thi, eu não acreditava que seriamos casados. Quando eu o aceitei como amigo, era assim que eu o via, como amigo, irmão (se é que isso é possível!!! Às vezes eu me acho bem estranho, confesso). Enquanto eu estava com o Bruno, eu jamais olhei para o Thi com desejo, nem após a morte do Bruno eu o via desse jeito. Ele me fez vê-lo novamente e não foi tarefa fácil. É por isso que eu valorizo demais o que temos, acho que não é qualquer cara que faz o que ele fez.
Nós voltamos para o ponto de partida desprendidos de todos os pequeninos problemas que nos cercavam quando éramos mais jovens. O sentimento continuava ali, por incrível que pareça, mas a forma de olhar um para o outro, a intensidade, o respeito, tudo era diferente. Mas, continuávamos iguais (será que é possível de entender isso??). Ele tinha mudado pra caramba, e eu também. No entanto, mesmo com tanta mudança, continuávamos os mesmos, com o o olhar intenso, o toque certo, o beijo certo... Éramos nós novamente. Caminhávamos juntos novamente e eu estava feliz por isso.
Eu estava feliz, por estar com ele, por ele ser tão maravilhoso com a Sophie e comigo. Ele não media esforços para fazer a Sophie feliz, por isso que eu jamais impedi a relação pai e filha deles, por mais que o pai dela seja o Bruno, Thi assumiu o papel muito bem. Como ela era muito pequenina ainda, na época da morte do Bruno, ela assumiu o Thi como pai de fato. Éramos nós três contra o mundo louco. Nossa pequena família. Por tudo isso, muitas inquietações vinham à mente a toda hora: Indo para a França, eu realmente estava pensando neles? Será que eu não estava pensando somente em mim? Eu aguentaria ficar tanto tempo longe da minha família? Da minha cidade que eu amava tanto, mesmo ela sendo atrasada em muitos aspectos? Será que o Thi não sentiria falta de tudo isso também? E a Sophie? Ela cresceria longe de toda a família, isso seria bom? Esses pensamentos sempre vinham a mente com força total. Eu estava confuso, eu queria muito ir, mas eu também queria muito ficar.
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Obrigado pelo carinho, gente! Obrigado mesmo!
Plutão, eu bem que pensei em pelo menos publicar o que estava acontecendo comigo, uma coisinha breve, mas o site apaga se não for capítulo pronto.
Bom, eu estou passando por mais uma sessão de quimioterapia. Meu diagnóstico foi um osteossarcoma com metástase, muito mais severo. Dessa vez ele veio no fêmur. Os médicos não conseguem explicar ao certo, e eu já nem quero mais saber. Eu sempre brincava dizendo que meu corpo era um campo minado, mas agora eu tenho certeza disso. Por enquanto é isso, gente.
Obrigado pelo carinho, obrigado mesmo. Eu pensava que já muita gente já tinha desistido da história, mas obrigado por estarem lendo, mesmo sem comentar.
Beijo em todos!