Eram por volta das 17 horas do dia 27 de fevereiro de 2017. Salvador fervia com mais um dia de carnaval. Porém, não havia clima de festa naquele cemitério. Naquele momento se realizava o sepultamento de Maria Rosa, conhecida como dona Maroca, uma senhora que falecera no dia anterior aos 83 anos – justamente no dia do seu aniversário. Caso raro de alguém que parte na mesma data que veio ao mundo. E ainda mais em pleno domingo de carnaval. Enquanto o enterro se realizava, uma jovem estava ansiosa e apreensiva. Saori era neta da defunta e só queria chegar em casa para visualizar a misteriosa caixa que sua avó deixara para ela um ano e meio atrás, pedindo que ela só abrisse a caixa e visse seu conteúdo após essa partir desta para melhor.
E assim aconteceu. Saori abriu a caixa e viu um caderno comum, desses de espiral. Deu uma rápida folheada e percebeu que havia textos com um monte de datas. Parecia se tratar de um diário. Haviam muitas páginas escritas e percebeu que tudo começara a ser escrito em março de 2010, aproximadamente sete anos atrás. A jovem ficou muito curiosa sobre tudo e resolveu iniciar a leitura no dia seguinte.
Assim que acordou começou a ler. A cada linha, cada parágrafo, seu coração parecia sair pela boca. Era nada mais nada menos que a história oculta da vida sexual de sua querida avó. Ela levaria quase um mês para ler tudo e não conseguia fazer mais nada na vida a não ser imaginar cada ato que aquela senhora fizera durante toda a sua vida e somente ela tomava conhecimento do que ela aprontara.
Voltando ao início da leitura, Saori passou a ler todo o conteúdo que irá perfazer esse conto:
“14 de março de 2010.
Querida Saori. Caso tenha iniciado a leitura agora, é porque já estou em algum lugar do além. Tudo o que lerá aqui pode deixar você totalmente perturbada, pois vai saber sobre exatamente tudo o que fiz durante a vida e que ninguém nesta família sabe, pois dificilmente seu pai, tio e avô detectaram qualquer conduta desabonadora de minha parte a ponto de não fazer um escândalo hollywoodiano. Mas deixo claro que só escrevi esse memorial porque percebi em você uma conduta livre e muito próxima da que eu tive, embora suas ações nesse mundo moderno sejam muito mais aceitas do que quando fiz na minha juventude. Embora nos víssemos muito pouco durante esses anos, sei que, como se diz aqui “nosso santo bateu” e sempre nutrimos uma misteriosa cumplicidade sobre nossas posturas que talvez tenham muito em comum. Você se aproxima muito de mim, ao contrário de sua prima metida a besta. Tudo o que lerá poderá deixar uma péssima impressão sobre mim para qualquer outro membro da família, mas não para você, que apesar de se assustar com minhas atitudes, entenderá ao fim que você pode não ser tão diferente de mim assim. As datas são precisas, pois sempre fui muito metódica e esclareço cada momento da história amiúde. Não se assuste com os termos chulos, afinal é uma outra mulher diferente da que você conheceu que aqui escreve. Não quero me delongar muito nessa introdução, e guarde ele como se fosse um tesouro. Não deixe que minha vida seja exposta por aí, difamando-me em meu descanso eterno. E queime esse caderno quando terminar a leitura”.
Saori já estava com o coração aos pulos ao antever o que continha em todo aquele material. E assim prestou-se a ler atentamente cada vírgula dali em diante (continua)