Ação e Reação - Laços de Sangue - Parte 1 - 2° Temporada

Um conto erótico de William26
Categoria: Homossexual
Contém 10320 palavras
Data: 13/02/2017 00:52:37

Bom dia leitores. Agradeço aos votos e comentários do último capítulo postado, fico feliz que novos leitores comentam cada vez mais. Dessa vez não irei responder os comentários pois estou com pouco tempo e por que vou deixar para responder na 2° parte desse capítulo já que ele está muito grande e decidi separá-lo em 2 pois senão a leitura iria ser muito cansativa. De todos os capítulos esse até agora foi o maior e também é um dos que mais o tio Geovane aparece.

Boa leitura e continuem votando e comentando.

Obs: O capítulo conta com tema abordado na doutrina espírita, quem for contra não leia e quem for por favor leia.

Ação e Reação – Laços de Sangue - parte 1 – 2° Temporada

Já eram quase 6 horas da manhã quando fui acordado com muitos beijinhos e abraços pelo Felipe. Após mais uns minutos na cama ele foi para o banho e se vestiu seu uniforme para ir trabalhar, a camisa xadrez tinha sido trocada por uma preta deixando ele mais bonito ainda. Levei ele até a porta.

- Môr, tem certeza que você não quer ir comigo para o trabalho? Eu preciso de companhia, me sinto tão só – Pediu ele pela terceira vez fazendo uma cara de dó digna de Oscar.

- Não Felipe – respondi firme- eu só iria te atrapalhar e não posso fazer isso, pois lá é seu local de trabalho e não uma área de convívio social – expliquei a ele que emburrou cruzando os braços.

- Porra Fernando, você podia ir comigo – esbravejou ele me dando as costas. Com muita paciência cheguei até ele e cheirei seu cabelo recém lavado, acariciei suas costas e me abraçando nele.

- Olha Felipe, prometo que segunda eu vou contigo, mas só se você não ficar insistindo muito, pensa bem, é teu trabalho amor – ainda era estranho chama-lo assim, prometi a ele que me encarou desconfiado, mas abriu um sorriso. Felipe então me abraçou por trás e apoiou seu queixo no meu ombro.

- Mas como é que eu vou fazer para te lembrar já que não posso ficar insistindo em te lembrar hein môr? - Fitei ele, Felipe quando queria ser bobo conseguia.

- Você vem me buscar segunda de manhã – disse a ele que fechou a cara.

- Não, eu durmo aqui contigo no domingo à noite, vamos junto para o trabalho na segunda de manhã – impôs decidido, pelo jeito não dormiríamos no domingo a noite.

- Tem que me deixar dormir, não adianta vim com essa cobrinha esperta por quê senão não consigo levantar e ir contigo – Felipe me analisou por alguns segundos e então concordou.

Parece que consegui convencer ele que após mais alguns beijos quentes e uns amassos foi para o trabalho com um sorrisinho descarado no rosto. Subi para o mezanino cansado, afinal eu tinha dormido menos de duas horas até então, transamos horas a fio na madrugada, Felipe não me deu trégua, na verdade me deu prazer, esse que retribui a altura.

Voltei a dormir, logo após apagar comecei a sonhar. Eu andava por uma área verde, na verdade uma espécie de parque onde havia muita gente de branco, ao olhar tais pessoas eu era retribuído com um sorriso amigável, elas nada falavam, só sorriam para mim, conforme eu seguia mais a frente notava algumas crianças que me observavam e me chamavam para brincar, sorri, mas não parei. Conforme seguia parei quando presenciei algo que me deixou muito confuso. Próximo a uma cerejeira eu me vi pequeno, com no máximo 5, 6 anos, estava sentado junto com a tia Leticia que vestia uma espécie de túnica branca, ela sorria para mim pequeno e para mim grande, eu pequeno estava jogando dominó com ela. Então fui me aproximando, sentia uma brisa quente e perfumada no meu rosto, quando me sentei eu pequeno me olhou sorriu para o qual retribui e ele se levantou correndo em direção a um lago que tinha perto dali, então como mágica ele desapareceu. Minha tia sorria para mim, eu estava bobo.

- Oi querido – minha tia passou a mão em meu rosto, não era sonho, eu senti numa mão macia percorrer meu rosto com tanto carinho, carinho esse que nem minha mãe me deu. Minha tia sorriu e limpou a primeira lágrima que caiu.

- Tia!... – Não consegui terminei a frase, as lágrimas que escorriam pelo meu rosto involuntariamente ficaram mais forte. Esse sonho era tão real que eu sentia o calor das lágrimas no meu rosto – eu morri? – Perguntei confuso.

- Não querido, você não morreu, não é sua hora ainda – ela sorriu e então eu olhei a toalha estendida e o dominó, me lembro de ela me ensinar a jogar dominó quando eu sentava com ela no jardim da casa para ela pegar sol isso meses antes de morrer quando ela estava já debilitada, lembro que o Marcos e meu tio tinham escola e trabalho e eu ia na escolinha de tarde, então ficava com ela a maior parte do dia.

Depois ela morreu nunca mais joguei, não tive mais vontade, aliás por isso mesmo meu tio baniu dominó da nossa casa e me ensinou o bom e velho xadrez, jogo esse que me acompanha desde então.

- Onde eu estou tia? – Ela sorriu, me pegou pela mão e saiu me puxando sem me responder. Senti uma calma estando com ela.

- Vamos dar uma volta Fernando – sem perguntas acompanhei ela, uma espécie de parque com arvores frondosas, muitas flores, eu seguia por um caminho ladeado de amores perfeito, a calma e a leveza do ambiente invadia meu nariz com cheiro de jasmim e lírio, caminhos ladeados com flores.

- Por que eu estou aqui? – Ela me olhou e novamente sorriu, andamos mais um pouco e então eu paralisei com a imagem que eu vi – isso não está acontecendo – sussurrei pasmo, pois a uns 10 metros de onde estávamos eu me vi pequeno de novo e agora eu estava brincando com um Marcos que tinha no máximo uns 15 anos, nós gritávamos e sorriamos um para o outro correndo na grama verde e lisa. Eu lembro que ele tinha mania de me carregar na garupa, eu esticava os braços como se fosse asas de um avião e dizia que eu podia voar.

- Sabe querido, em algum momento esses dois se perderam, em algum momento por culpa de um deles os laços que os dois tinham foram quebrados, eu não pude fazer nada, eu não estava mais com vocês – ela me olhou, em nenhum momento ela se mostrou triste – mas agora chegou a hora dos dois refazerem esses laços novamente, fortalecê-los, você não acha? – Ela me perguntou, um arrepio subiu nas minhas costas.

- Não é possível – olhei assustado para ela – por que isso está acontecendo tia? – Perguntei, minhas lagrimas caiam e então ela passou o dedo para seca-las.

- Calma querido, não foi culpa sua, também não foi culpa dele, acho que faltou uma educação mais rígida ou um puxão de orelha da minha parte – ela balançou a cabeça negativamente.

- Eu sinto falta da senhora, eu estou sozinho tia... – eu estava abraçado a ela quase em seu colo enquanto ela me acariciava os cabelos.

- Você nunca esteve sozinho eu nunca deixei de zelar por vocês – e então movido pela curiosidade perguntei.

- Tia você sabe da minha mãe e do meu pai? – Ela mais uma vez sorriu.

- Sua mãe não está em um lugar bom querido, ela sofre e muito... – interrompi ela.

- Mas eu perdoei ela e eu estou encaminhado tia – ela acariciou meu rosto.

- Ela não se perdoou e nem aceitou sua morte, para alguns desencarnados Fernando dependendo de como foi o desencarne o espirito não aceita e então vai para um lugar diferente desse aqui, as vezes ainda não pode descansar pois algo lhe prende no plano terreno, não é culpa sua – ela estava séria.

- E o meu pai? – Tia Letícia me olhou.

- Fernando.... – De repente então ela desaparece e um barulho irritante me acorda. Meu celular desperta e meu desejo é que ele exploda, mas ele não quer parar de tocar, não me levanto só procuro olhar onde é que deixei ele me orientando pelo toque lembro que larguei meu aparelho em cima da mesa de estudo. Deixo tocar, pode ser engano, ninguém me liga tão cedo assim a não ser Felipe ou o tio Geovane ou então em casos extremos a Cibele, mas a julgar que Felipe saiu a uns 40 minutos daqui, não é ele com certeza. Passados uns 10 minutos julgo eu o celular volta a tocar, não tem jeito, é melhor levantar a atender, pode ser uma emergência ou alguma coisa importante. Me levanto da cama e corro pegar meu celular que está em cima de mesa de estudo próximo ao guarda roupa. Vejo na tela que é meu tio me ligando, reúno todo o bom humor matinal que tenho a atendo a ligação.

- Bom dia tio – atendo em tom amável.

- Bom dia filhote... – disse meu tio com o tom mais carinhoso possível, mas com receio já que não gostava de nenhum pouco que me ele chamasse assim – dormiu bem? - Perguntou com toda a preocupação que ele tem.

- Estou bem, dormi sim, aliás, hoje não vou me estressar com o senhor me chamando assim – notei que meu tio falava de dentro do carro dele pois conseguia ouvir o som do carro tocando Linger (The Cranberries) , a julgar pela música meu tio estava nostálgico, sempre acontecia isso antes do seu aniversário justamente por ele gostar muito da década de 90.

- Ótimo, vai fazer o que hoje mesmo Fernando? – Perguntou ele se fazendo de desentendido, eu sabia o que meu tio queria com isso, era a maneira de me lembrar sutilmente do meu encontro com ele mais tarde.

- Encontrar o senhor, ou já se esqueceu do nosso compromisso? É a idade chegando tio, está ficando velho – Disparei, ambos rimos.

- Eu vou te dar o velho Fernando, ainda ganho de você na corrida de bicicleta e se bobear consigo te levar na garupa – rebateu ele se defendendo. Acabamos os dois rindo.

- Bobo, sabe que eu ganho de você né tiozão – provoquei ele, geralmente nessa hora meu tio perdia a calma e começava a agir na esportiva.

- Isso é assunto para discutirmos pessoalmente não acha? – Perguntou ele com tom de voz contido, por dentro eu dava risada - estou a caminho do escritório, tenho uma reunião com o pessoal daquela transportadora que eu te falei, mas depois estou livre para passar o dia contigo – afirmou ele com uma voz amável e um certo entusiasmo.

- Que bom, hoje será o nosso dia especial então – fiquei imaginando a cara dele quando desse o meu presente e fiquei triste pelo fato de agora ter um dia específico para vê-lo, antes do Marcos voltar a me infernizar passava todos os dias com ele – dia de tio e sobrinho – sorri.

- É... – Pude notar um tom de tristeza em sua voz.

- Está tudo bem tio? – Perguntei curioso com a mudança repentina em seu tom de voz.

- Sim, não foi nada não... – respondeu ele, o que será que aconteceu?

- Então está bem, vou descer tomar café e lá pelas 9:30 te encontro na rua...- ele me interrompeu.

- Não! Na rua não! – Exclamou nervoso – me encontra no escritório, quero que suba lá e me espere o tempo que for preciso, era só o que me faltava você ficar esperando na rua como se fosse um estranho, não tem o porquê de você fazer isso – argumentou irritado, mas com tom de voz baixo.

Não queria aceitar justamente para não dar de cara com meu primo, essa semana que passou ele tem me ligado, me vigiado e até veio aqui em casa duas vezes, mas quem atendeu foi a Marluce que sempre dava um jeito de despacha-lo.

- Você entendeu Fernando? – Perguntou em tom repreensivo.

- Sim tio, mas eu vou ficar na recepção te esperando, tudo bem? – Perguntei, pude ouvir ele xingar longe do celular.

- Não, quero que me espere na minha sala, tenho uma proposta para te fazer, estamos entendidos? – Não pude declinar, ia ser arranjar discussão desnecessária no telefone.

- Ok senhor Geovane, você venceu – bufei.

- Que bom, então lhe aguardo no escritório, até daqui a pouco – se despede desligando o celular, não me dando tempo de me despedir.

Como teria que encontrar com ele de qualquer jeito e o sono tinha ido por água abaixo, vou até o guarda roupa e separo uma calça jeans azul, uma camisa gola polo cinza escura e meus inseparáveis óculos de grau e vou para o banheiro deixando meus inseparáveis óculos de grau em cima do criado mudo, aliás óculos esse que mudei semana passada já que aumentei o grau das lentes e o antigo estava começando a me incomodar.

O banho acabou se estendendo, pois, além de relembrar o sonho muito estranho que tive também resolvi fazer a barba e me observar na frente do espelho. Notei que meu corpo por causa da academia tinha dado uma afirmada, o resultado me deixou satisfeito, eu não queria emagrecer mas queria dar uma definida. Acho que com 1,75 e 88 kg eu não estava ruim, estava me achando muito gostoso, o peitoral, pernas e braços peludos me davam um charme a mais e estava mais feliz ainda que Felipe me achava gostosos assim, então estava no caminho certo. Sai do banho, me arrumei, coloquei um sapato social e desci para tomar café. Depois que tomei meu café fiquei mais de meia hora conversando com Marluce, avisei que ia sair e que voltaria só no fim do dia, pedi se ela precisava de algo e logo após sai.

Se fosse outro dia, me negaria a almoçar com ele sobre a justificativa de estudo, faculdade ou simplesmente por Marcos ser um empecilho, mas hoje era diferente, justamente pelo fato de que seria nosso dia especial de tio e sobrinho. Queria passar um dia especial com o meu tio já que nos afastamos um pouco pelo fato de não morar mais com ele e por que eu sabia que meu lugar não era mais naquela casa, que meu tio tinha que se dedicar a Marcos. Por mais que tivesse magoa do Marcos ele ainda era meu primo e o tio Geovane seu pai, que ficou privado de conviver com ele durante 5 anos por minha causa, era direito do Marcos ter o pai dele de novo e era meu dever, minha obrigação me afastar. No fim eu até entendi o por que dele não me aturar e querer me tirar da casa deles, uni o útil ao agradável.

Aproveitaria esse almoço para contar ao meu tio que eu e Felipe estávamos namorando, já que eu tenho certeza que Marcos não contou, pois ao contrário meu tio teria me ligado passando um sermão daqueles, mas não ficaria chateado pelo fato de estar namorando outro homem, meu tio me aceitou logo de cara quando descobriu que eu era gay, mas iria ficar chateado de saber pela boca dos outros que eu estava namorando e que ele era o último a saber.

Chegando no edifico onde fica os escritórios e ao olhar para a fachada do mesmo tive uma sensação esquisita, não era saudade, foi mais algo como um mau presságio, um arrepio me subiu a espinha, essas coisas que a gente vê em filme. Subi até o andar em que fica o escritório e ao sair do elevador e entrar na recepção cumprimentei Joyce que me recebeu sorrindo, perguntando por que eu havia sumido sem dar notícias a ela e ao Marlon.

Conversei rapidamente com ela prometendo que antes de sair daria uma pausa para um café com ela e com Marlon e segui para o hall das salas que ficavam um pouco mais a frente, nesse meio tempo rezava para não dar de cara com Marcos o que era uma atitude no mínimo idiota já que eu estava no local de trabalho dele e que uma hora ou outra eu iria dar de cara com ele e no mínimo ser educado e cumprimenta-lo mesmo a contragosto, só para fazer média com o meu tio. De repente dou de cara com Luiz.

- Fernando! – Exclamou animado me apertando em um abraço, será que as pessoas esquecem que um aperto de mão ainda é o cumprimento mais formal que se pode dar em um ambiente profissional – que bom que você está aqui, soube pelo seu tio que você viria e não podia deixar passar a oportunidade de te dar um abraço, vem, toma um golinho de café comigo? – Ele me convidou, depois de pensar alguns segundos acabei aceitando.

Me surpreendi com Luiz, digo com sua aparência, ele trajava um terno bem acertado, de corte italiano com colete e paletó e calça social e gravata preta, camisa social branca, sapato preto brilhando, cabelo penteado e bem perfumado, confesso que Luiz estava um gato no melhor estilo executivo, mas esse gato já não me atraia mais. A verdade é que estava amando e muito meu esquentadinho metido a peão e adorava o estilo de roupa que ele usava no trabalho, Felipe realmente estava mexendo muito comigo.

- Nos vimos semana passada Luiz, tanto na academia como na faculdade, ou você se esqueceu que é meu professor de sexta à noite – disse em meio ao riso a ele enquanto me dava passagem para entrar em sua sala.

- Verdade, olha o exemplo que o seu professor está te dando, não vá comentar na sala de aula hein – ele gargalhou alto me deixando incomodado, pois antes de fechar a porta notei os olhares de reprovação de dois executivos que passavam no momento e que pelas características eram alemães ou escandinavos.

- Aliás, está usando um terno de corte italiano Luiz – cruzei os braços esperando sua reação – não era você que dizia que corte inglês caia melhor no seu corpo? – Perguntei deixando ele sem jeito.

- É que esse tipo de terno me deixa mais comportado e é mais confortável para se usar no dia a dia – me explicou se passando a mão na barriga.

- Luiz, quem são os dois esquisitos estrangeiros que acabaram de passar pelo corredor hein? – Ele olhou para fora discretamente e então voltou sua atenção a mim.

- São os advogados que estavam em reunião com o seu tio, eles são brasileiros mesmo, na verdade gaúchos lá de Passo fundo, conhece essa cidade? – Perguntou ele, como se pelo fato de eu ser do sul do Brasil eu conhecesse o “Sul” todo, mas por sorte conheço a cidade sim, pois tivemos que dormir uma noite lá quando o voo em que eu e meu tio estávamos com destino a Porto Alegre teve que alternar Passo Fundo pois tanto Caxias do Sul como Porto alegre estavam fechados pra o tráfego por causa da cerração, o que fez meu tio quase ter um ataque pois com aquele tamanho todo ele tem medo de avião e também por que perderia a final do gauchão, onde um dos times que competia pela taça era o time de coração dele. Lembro que foi uma viagem legal pois pude conhecer melhor o sul.

- Conheço sim – franzi a testa – meu tio e eu dormimos uma vez lá por que nosso voo que ia a porto alegre não conseguiu pousar nem lá e nem em Caxias do Sul, então alternou Passo Fundo, assim acabamos saindo a noite lá e dando uma volta – expliquei a ele.

- Verdade, você foi por que ele insistiu muito né? – Ele riu, pois era verdade, meu tio me prometeu que se eu fosse com ele me deixaria viajar com a turma da sala nas férias. Voltei para a realidade quando olhei a parede e lembrei de quem era a sala do lado.

- Luiz, o Marcos está aí? – Perguntei indiferente. Ele pareceu pensar em uma resposta adequada.

- Relaxa Fernando, ele não está na sala dele, não precisa desconversar para sair correndo daqui porra! Eu sou uma companhia tão chata assim? Fiquei magoado – disse ele com um olhar sério, mas carinhoso.

- Ele quem? – Perguntei, mas eu sabia a resposta – e não, você não é uma companhia chata – completei fazendo ele sorrir com gosto.

- Marcos – disse baixo – ele está no fórum a essa hora, não volta tão cedo – explicou ele, me deixando mais aliviado.

- Menos mal... – olhei pra Luiz – odiaria encontrar com ele aqui, ele tem me ligado e ido me procurar em casa, não sei mais o que fazer – desabafei com Luiz que me olhou em reprovação.

- Relaxa, ele não é aquele monstro que você imagina – disse Luiz fazendo aspas em monstro o que me deixou com raiva, pois parecia que eu era idiota.

- Vai voltar a trabalhar com a gente Fernando? – Perguntou ele baixinho mudando a conversa – seria bom ter você aqui de novo sabe... aquela secretária do teu tio é muito mal-educada, só é um doce com ele, aliás, muito doce, nem com o Marcos e comigo que somos os gostosões daqui do escritório ela sorri – pois é, pelo visto meu tio tinha gritado aos 4 ventos que eu talvez iria voltar, mas achei foi graça no que ele disse.

- Gostosões! – Exclamei. Pela primeira vez desde que cheguei aqui me permiti a relaxar e ri do comentário dele – vocês está se achando demais não acha não? – Arqueei uma sobrancelha para ele.

- Mas eu sou gostosão – ele me fitou e mordeu os lábios – você mesmo sabe, ou esqueceu aquela noite que passamos juntos, por que eu não esqueci – pronto, a conversa estava saindo do eixo.

- Não esqueci, mas não tenho saudades Luiz – ele ficou sem graça, aliás, muito sem graça, eu permaneci sério – e além do mais já tenho meu gostosão – sorrimos os dois.

- Foi tão ruim assim Nando? A gente se divertiu... – disse com um olhar triste, mas conformado em seu rosto.

- Ruim não foi, mas lembra o que veio depois, todas as confusões o stress... a Stephany... o Marcos que quase descobriu...– ele concordou rindo – foi legal, não irei me esquecer, mas ficou para trás, agora estamos em outra, eu com Felipe e você a cada dia mais encantado pelo Marcos, estou certo? – Luiz engoliu em seco e ficou calado, pela sua reação não tinha como negar, quem cala consente. Joguei verde e colhi maduro.

- Então você sabe? – Disse ele se aproximando de mim e sentando na poltrona que ficava próximo a minibiblioteca que ele mantinha – está tão na óbvio assim? – Perguntou pensativo.

- Sim – concordei, pelo seu semblante triste sabia o que ele estava passando, segurei sua mão e apertei – aquela vez que você me falou eu já desconfiava que era ele, não quis me meter, mas você falar o nome dele e brilhar o olho aqui na minha frente foi a confirmação...- fui interrompido.

- Não me julgue por favor – ele baixou a cabeça envergonhado.

- Não tenho esse direito e nem é essa minha intenção Luiz – tranquilizei ele que me olhava sem graça - você bem sabe que eu sempre defendi que toda forma de amor é válida não é mesmo? Você sabe que isso é impossível né? Digo, Marcos nunca vai ficar com outro homem – Ele concordou com uma expressão triste.

- Eu sou muito idiota né? – Debochou dele mesmo – minha sina é encontrar amores impossíveis, primeiro você e agora seu primo, acho que tenho uma queda por caras grandes e peludos...ou pelos Parcianello... – interrompi ele, mas não sem antes rir do seu pensamento.

- Não te acho idiota, mas agora tenho uma pergunta, posso fazer? – Ele assentiu sem pensar, então perguntei – Luiz, você é bissexual, não é? Você sabe que nem sempre vai se sentir confortável em uma relação com homem e vai acabar procurando uma mulher para satisfaze-lo, não sabe? Ou ao contrário? – Perguntei, pela sua expressão vinha mais bomba por aí.

- Nunca senti tanta atração por mulheres como sinto por homens, claro que namorei algumas, mas faz algum tempo que já não sinto mais atração pelo sexo oposto, digamos que hoje sou sexual, não vou me rotular, vou simplesmente viver – era isso mesmo, Luiz praticamente havia me confessado sua homossexualidade.

- Não se envergonhe Luiz e nem se culpe, o coração é complicado, o desejo sexual mais ainda – alisei seu ombro como forma de apoio – eu não te culpo e não lhe julgo como já te disse agora pouco, mas peço que não crie esperanças...não se iluda – somos interrompidos pela entrada repentina do meu tio que não se preocupou nem um pouco se em pensar se estava interrompendo ou não.

- Filhote! – Exclamou com um sorriso de orelha a orelha, Luiz riu da minha cara, em resposta dei um soquinho em seu ombro – faz tempo que você chegou? Esperou muito por mim? – Me encheu de perguntas enquanto me abraçava.

- Não tio, faz uns 15 minutos que cheguei, acontece que vim dar um oi para o Luiz – nos entreolhamos – acabamos engatando uma conversa calorosa aqui e perdi a noção do tempo – sorri para o meu tio que me analisava como se eu estivesse escondendo a verdade.

- Verdade Geovane, acabei tomando o tempo do Fernando com o meu papo, a culpa é totalmente minha eu assumo – se desculpou Luiz.

- Tudo bem rapazes, sei que são amigos e gosto de ver Fernando por aqui interagindo como antes – ele suspirou, era óbvio que ele ia fazer uma certa chantagem, se não fizesse isso não seria meu tio – vamos para minha sala Fernando? – Me chamou saindo logo em seguida.

- Vou lá Luiz senão ele dá na minha cara ainda – ambos rimos - depois nos falamos, tudo bem? – Perguntei a ele que sorriu e assentiu.

- Sim – concordou - mas por favor Fernando, sobre o Marcos fica só entre eu e você, não quero que ele saiba – Luiz estava preocupado e lógico eu não faria nada para prejudica-lo.

- Relaxa, depois você me conta melhor essa história – assenti e sai da sala seguindo para o início do corredor onde ficava as salas principais, ou seja, e do meu tio e do seu Antônio que estava em São Paulo do, o engraçado foi que não vi a tal da secretária que estava trabalhando para o meu tio e que todos diziam ser entojada, queria muito conhece-la. Apontei na porta e ele usava seu notebook com o modelo de óculos que eu tinha sugerido a ele tempos atrás.

- Posso entrar? – Perguntei batendo no batente da porta.

- Claro que pode! – Exclamou ele alegre – fecha a porta e senta aqui Fernando, assim fica mais confortável para conversarmos – fechei a porta e me sentei reparando melhor em meu tio que trajava uma bermuda jeans azul clara que deixava suas pernas peludas bem evidente, sapatilha azul marinho, camisa gola polo preta e seu relógio de pulso que foi presente de natal do Marcos. Meu tio estava muito gato, convenhamos um tiozão que começava a contar com fios grisalhos e estava vestido de forma casual e ainda por cima bem cuidado, era de parar o trânsito e deixar qualquer mulher louca. Aliás, ainda iria arranjar uma namorada para ele.

- Cadê sua secretária? – Perguntei curioso. Ele desviou a atenção do seu notebook.

- Eu dei folga a ela hoje, o único compromisso que eu tinha era a reunião agora de manhã, então a Joyce encaminhou os advogados para mim – disse ele fechando o notebook deixando seus óculos de descanso de lado e me dando atenção total.

- O senhor está bonito tio, sua feição está ótima – elogiei ele que corou, no fundo o tio Geovane era muito tímido, um urso dócil, acho que esse foi um dos motivos de nunca ter levado uma mulher para dentro de casa para nos apresentar a ela, sua timidez.

- Eu troquei de roupa no meu banheiro aqui após a reunião, aliás, sabia que os advogados que recebi hoje são gaúchos lá de Passo

Fundo Fernando, inclusive torcem para o mesmo time que o meu – ele sorriu pensativo, provavelmente lembrando da nossa viajem frustrada a Porto Alegre, não me surpreendo se parte da reunião não tenha virado assunto de futebol.

- Luiz me falou tio, mas deu tudo certo na reunião, não deu? Ou vocês acabaram falando de futebol a manhã inteira? – Perguntei, meses atrás eu estaria acompanhando essas reuniões com ele, por mais que odiasse eu sentia falta.

- Deu tudo certo, falamos um pouco de futebol sim, mas seria melhor se você estivesse comigo me acompanhando Fernando, lembra de como era bom, você sempre foi mais que meu secretário, era meus dois braços – pronto chegamos ao momento da chantagem emocional.

- E suas duas pernas tio...- completei, ele assentiu - mas você já tem uma secretária, pelo que eu soube ela é bem fechada, mas eficiente, você não pode se prender ao passado tio e nem desvalorizar um profissional por minha causa – percebi seu olhar cair, que droga decidi não queria ver ele triste, decidi reverter a situação - quem sabe eu não volte para cá como estagiário, já pensou - fiz meu tio sorrir dando falsas esperanças a ele, pois não ousaria dividir o mesmo teto enquanto Marcos estivesse trabalhando aqui.

- Seria ótimo, claro faria seu serviço antigo e me acompanharia em reuniões como antes, mas dessa vez iria junto ao fórum e eu te ensinaria tudo sobre a nossa profissão, te passaria alguns casos para me auxiliar além de documentação mais complexa, que orgulho seria para mim, ensinei o Marcos e agora você... – interrompi meu tio, ele estava começando a surtar enquanto fazia planos para mim.

- Calma tio! Tudo tem sua hora, nada acontece por acaso – toquei em seu braço, ele me olhou e riu - Animado para hoje? – Perguntei mudando o teor da conversa.

- Muito! – Exclamou ele – não é todo dia que eu tenho a chance de passar com você, quer dizer, não mais... – senti minha cara queimar e meu coração apertar, além de nostálgico estava sentimental.

- Tio, não fala assim não, você sabe o motivo... – tio Geovane sorriu triste, mas logo desistiu por que viu que não daria certo fazer doce.

- Quer almoçar aonde filhote? – Perguntou todo carinhoso para cima de mim – desculpa, Fernando – corrigiu ele.

-Tudo bem tio...dei de ombros – aonde o senhor quiser, hoje estou por sua conta, faremos suas vontades e vamos ao shopping pois a rosa falou que o senhor está precisando comprar umas camisetas e podemos jogar boliche também – os olhos dele brilharam de novo pois eu e ele cuidávamos um do outro sempre observando do que o outro precisava, mas após falar sobre roupas ele ficou envergonhado.

- Sim, realmente estou precisando comprar algumas peças, mas antes podemos ir naquela churrascaria gaúcha que eu gosto perto daquele posto de combustível na saída pra Araguari, o que você acha? - Perguntei animado. Essa churrascaria era uma das melhores da cidade, uma pelo fato de ter o melhor churrasco da região pois o dono é gaúcho e outra por ser muito bem frequentada e não ser cara como outras tantas por aí que só tem nome.

- Acho uma ótima ideia – concordei animado pois também gostava de almoçar lá – não quero controlar o que o senhor come, mas sem exageros sabe que depois o senhor fica com o estômago pesado e passa mal, principalmente se come carne gordurosa como picanha, costela e granito – alertei ele que me olhou sério.

- Tudo bem, mas mudando de assunto, estou notando que você também está sorridente...está acontecendo algo que eu não sei Fernando? – Ele me analisou, meu tio era um bom observador quando queria, modo Geovane paizão ativado.

- Tio, eu quero te contar uma novidade – ele se aproximou e me encarou deixando os óculos de lado.

- Novidade? – Perguntou se ajeitando em sua cadeira.

- Sim, pelo menos para mim foi – Esbocei um sorriso.

- Sou todo ouvidos Fernando – encorajou ele com um sorriso paternal enquanto segurava minha mão. Respirei fundo.

- Eu estou namorando... – saiu mais rápido e mais fácil do que eu imaginava, ele me encarou surpreso.

- O que? Namorando! – Exclamou com um semblante pesado.

Parece que a notícia pegou meu tio de surpresa mesmo, passaram-se alguns minutos e ainda estávamos um olhando para o outro, não me atrevi a falar nada assim como ele também não se atreveu. Então do nada meu tio levantou, seguiu até o frigobar e de lá tirou uma garrafa de vinho seco tinto e duas taças que estavam gelando. Isso significava uma coisa, iriamos conversar, pois se fosse para comemorar seria o espumante suave que ele sempre tem para quando fecha algum contrato ou recebe um cliente mais pomposo.

Enquanto meu tio manuseava e abria a garrafa com o saca rolha, sua expressão séria me deixava com um misto de vergonha e medo, já que eu não sabia qual seria sua real reação quanto a isso.

- Experimenta Fernando – disse ele me oferecendo uma taça - é tannat, um pouco mais forte que as outras que costumo beber contigo, comprei ontem – disse ele me oferecendo a taça que peguei sem nem titubear.

- Obrigado – levei a boca dando um gole, nem percebi se era forte ou não, simplesmente bebi.

Meu tio estava de pé encostado próximo a janela, ele bebia um gole e olhava a imensidão lá fora, seu pensamento estava longe, notei um sorriso em seu rosto, alguma lembrança feliz.

- Está tudo bem tio? – Perguntei a ele que a me notar veio e sentou do meu lado me lançando um olhar confortador e me abraçando de lado.

- Está, só que você me dizer isso me faz ver que você não é mais uma criança, que provavelmente não sou mais a figura masculina de referência para você, mas acima de tudo me traz lembranças, muitas lembranças... – disse me encarando um pouco triste. Segurei firme em sua mão para mostrar que estava ali, que ele ainda era minha figura masculina de referência.

- Deixa de ser bobo tio, o senhor está com ciúmes? – Perguntei, ele virou o rosto - você sabe que eu amo o senhor como um pai, bem mais do que pude amar meu pai, amor de namorado nunca será que nem amor de família, amor de família é incondicional – ele sorriu, acho que no fim era isso que ele queria e merecia ouvir.

- Não estou com ciúmes – ele cruzou os braços fechando a cara, vou fingir que acredito no que disse - sabe Fernando, por mais que eu tenha ouvido isso, lá pelos idos de 92/93 quando o Enzo me contou que era gay e que ele e Mario estavam juntos – meu tio pausou, me olhou pensativo, temeroso - confesso que ainda assim é estranho ouvir um homem dizer que está namorando outro, que ama outro, mesmo sendo você que já se assumiu a tanto tempo para mim e que aceitei de maneira tão tranquila.

- Você não concorda tio? – Pergunte triste soltando a minha mão da dele, ele me olhou se deu conta que tinha se posicionado mal.

- Não filhote, não estou te julgando, você sabe que eu tenho muito orgulho de você não sabe? – eu assenti, na época que fui “forçado” pelo meu primo a me assumir minha homossexualidade meu tio me apoiou dizendo que me amava e que nada mudaria, mas que eu teria que aprender a lidar com o preconceito de uma sociedade hipócrita baseada em ideias retrogradas como ele mesmo diz - não me perdoaria se lhe fizesse pensar de tal modo, mas como te disse, essa notícia de namoro mostra você está crescendo rápido demais...- ele entrelaçou seus dedos no meu, parecia querer me falar algo a mais.

- Está tudo bem tio? – Perguntei achando estranho seu comportamento, mas vindo do meu tio acaba normal, seu Geovane e sua preocupação - para mim essa coisa de namoro é nova, mas estamos aprendendo juntos... – ele me analisava, seus olhos castanhos estavam um pouco mais claros.

- Bom, e posso saber quem é “ele”, o cara que fez seu coraçãozinho bater mais forte e que te deixou com um sorrisinho sem vergonha no rosto? – Perguntou fazendo aspas, sim ele estava com ciúmes e me deixando completamente constrangido ao falar no diminutivo.

- Primeiro tio, para de falar no diminutivo comigo, é estranho – vi ele ficar um pouco triste – posso até dizer, mas o senhor já conhece ele, aliás, a muito tempo – meu tio franziu a testa em segundos a expressão de clareza e sorriu.

- Bom, se for quem eu imagino – me fitou - é o Felipe, não é? – Perguntou enfim.

- É ele sim tio – afirmei, como resposta tio Geovane gargalhou alto me deixando confuso e um pouco irritado – por que o senhor está rindo? Qual é a graça? – Perguntei de braços cruzados.

- Por que é óbvio demais Fernando! – Ele fez uma expressão engraçada - eu sempre achei que vocês iam acabar namorando, ou pelo menos se dando uns pegas, mas achei que isso fosse acontecer bem antes, só pelo jeito que ele te olhava e pela sintonia de vocês dois juntos...uau...– disse se ajeitando na cadeira.

- O senhor está decepcionado comigo? – Perguntei de cabeça baixa.

- Claro que não! – Exclamou ele me pegando pelo queixo me fazendo olhar para ele – olha para mim Fernando, eu estou muito feliz por ser ele o seu namorado e não um estranho qualquer que você conheceu em uma boate, num chat, bar ou nessas saunas da vida – a palavra namorado saiu da boca dele naturalmente.

- Nunca fui em uma sauna tio, não é por que sou gay que sou dado a frequentar esses ambientes inclusive mal vistos e julgados pela sociedade como lugares de gays, mas não significa que não tenho curiosidade de conhecer – Arqueei a sobrancelha deixando ele sem graça – e na balada também tem gente boa e interessante, o senhor devia tentar ir para conhecer uma gatinha ou uma loba – fortaleci meu argumento arrancando um sorriso dele.

- Desculpe Fernando, não quis ser leviano nem preconceituoso, mas me sinto como se fosse seu pai e um pai só quer o melhor para o filho – meu tio estava impossível, mas daria um desconto, logo mais estaríamos almoçando.

- Sabe tio, se você me falasse há um mês atrás que eu e ele iriamos namorar eu gargalharia alto na sua cara até doer a barriga, mas hoje em dia não me vejo sem ele, é sério, não penso em ficar sem o meu “esquentadinho” e possivelmente ele também não – meu tio franziu a testa e gargalhou.

- “Esquentadinho”? – Ele perguntou sem entender.

- É – dei risada – o Felipe estressa muito rápido tio, parece criança pequena quando contrariada que faz birra e se enfeza, é engraçado de ver eu até pego no pé dele, mas no fundo tem um bom coração além de me entender, ser um bom companheiro. Acho que as suas principais qualidades além dos grandes olhos de jabuticaba é a humildade e inocência e talvez seu jeito bruto de chegar – meu tio me ouvia atentamente e abismado, ele parecia estar preocupado.

- Mas ele é assim contigo? – Perguntou pasmo – birrento, ele te fez mal já Fernando? – Reforçou a pergunta.

- Claro que não tio! – Exclamei – as vezes ele me enche o saco, mas sempre por que eu não deixo ele fazer algo, mas antes de ser meu namorado ele era meu melhor amigo, sempre houve o respeito mútuo entre nós, comigo ele é carinhoso, educado, bruto, safado... – fui interrompido pelo meu tio que pigarreou. Sorri sem graça.

- Você ama ele? – Meu tio perguntou e por um momento parecia que estávamos em um tribunal e ele era o promotor do caso em que eu era o réu. Seus olhos castanho me analisavam, não precisei refletir e nem ter uma crise dramática para responder.

- Amo – a resposta saiu calma, leve, tranquila acompanhada de um sorrisinho bobo – nós já nos conhecemos a tanto tempo tio, inconscientemente nós já namorávamos, já éramos um casal, ele sempre me defendeu, assim como eu defendi ele diversas vezes, nunca o julguei assim como ele não fez, nos respeitamos, nunca ficávamos brigados mais de dois dias – eu sorri - lembra aquela vez que o Felipe criou um caso dentro do avião quando a gente estava voltando de Brasília por que ele ficou com medo do pouso com cerração aqui em Uberlândia, o senhor lembra? Quem acalmou ele? - Meu tio assentiu - Pois é, quem conhece meus gostos, claro tirando você, que sabe que eu odeio comer sozinho, odeio ficar sozinho? Então, nosso relacionamento só subiu alguns degraus, agora rola sexo, carícias e um pouco mais de doce e birra de ambas as partes, além do sexo eu sinto que nós temos uma ligação muito forte tio, acho que ambos nascemos um para o outro, ou talvez seja a ilusão do primeiro namoro sei lá...mas confesso para o senhor que eu estou muito feliz – meu tio ficou envergonhado, sua cara de espanto e a vermelhidão entregavam ele que logo tratou de desfazer o incomodo.

- No fim, acho que ele é a pessoa certa para você – ele sorriu.

- Também acho tio – eu concordei – o senhor sabe que u nunca fui de sair trepando por aí, nem caçando um namorado, já cheguei a pensar que teria algo com um engravatado, mas hoje vejo que eu gosto mesmo é do “caipira” – meu tio riu.

- Sempre gostei daquele rapaz, fazia questão de sua amizade com ele e não digo isso levando em conta o poder aquisitivo dos pais dele, você sabe muito bem que nunca fui de julgar os outros por isso não sabe? – Ele me perguntou e eu assenti, realmente meu tio não era de julgar os outros pelos bens materiais – mas você tocou em um ponto importante, a humildade dele e o caráter, gosto de quem me encara no olho e tem aperto de mão firme, que não tem medo de mim e acima de tudo me respeita. Felipe foi bem educado pelo Carlos e a Letícia, claro que ele é meio bruto – tive que concordar, Felipe não tem medo de mostrar quem é, não se esconde atrás de máscaras e nem de convenções sociais, não se importa de que não está vestido apropriado ou que tem que impressionar alguém, claro eu sou exceção – assim como eu eduquei bem você Fernando, por isso digo que faço gosto desse namoro, também digo que quero ver você feliz, isso é o que importa, se você estiver feliz eu também estou – disse meu tio orgulhoso e com o olho cheio de água, pronto agora eu também estava meio emocionado.

- Tio, obrigado – agradeci já querendo me debulhar em lágrimas.

- É verdade, fiz um bom trabalho contigo, de onde o Enzo estiver ele deve estar muito orgulhoso de você assim como eu, eu agradeço por ter me contado, ter depositado essa confiança em mim – ele limpou o olho. Meu tio e sua emotividade de donzela na tpm.

- Para tio... – disse sem graça - eu queria contar para você pessoalmente e não por telefone, não acharia justo tratar de um assunto pessoal desses com pouco caso com o senhor – justifiquei, ele apenas ouvia atentamente – mas você não ficou chateado comigo não tio, de não ter contado antes? – Perguntei ainda com receio.

- Na verdade não, estou em um pouco enciumado só, pelo jeito que você falou do Felipe– ele deu um sorriso confortante. Abracei ele de novo.

- Obrigado tio – olhei nos olhos dele – pelo apoio, pelo carinho, mas acima de tudo por não me criticar ou me julgar como tantos outros fazem, por me amar... – pronto, agora eu estava emotivo também, tenho que parar com isso. Meu tio me apertou forte.

- Eu não tenho esse direito – ele passou a mão no meu rosto - você sempre vai ser meu filhote, sempre vai ser aquele menininho carente de 5 anos que tinha medo de escuro, por isso vinha dormir comigo, aquele gurizinho que gostava de desenhar os bichinhos que via na TV e fazer meu peito como travesseiro, lembra das historinhas que o tio te contava... – se eu pudesse enfiava a cara no chão de vergonha, meu tio revirou o passado me deixando envergonhado das minhas ações eu não lembrava dessa parte da minha vida, quase senti que estava sendo abraçado pelo meu pai.

- Não fala assim tio, parece que eu ainda tenho 5 anos, só que não, eu vou fazer 20 ano que vem – meu tio me olhou em negação.

- Não se envergonhe dessas lembranças – ele disse esfregando minhas costas - para mim você sempre vai ser aquele gurizinho birrento e teimoso que gostava de assistir Teletubbies, ursinhos carinhosos...interrompi ele.

-Para tio! Eu já entendi – dei um sorriso sem graça, tem coisas que a gente não precisa lembrar. Ele no impulso me abraçou.

- Desculpa... – ele me soltou.

- Eu gosto dos seus abraços de urso – disse me aconchegando nele

- Gosta? – Perguntou com um baita sorrisão no rosto.

- Sim – afirmei – apesar de ser um adulto já, ainda me sinto protegido por você quando me abraça assim – por que eu fui dizer isso. Percebi que meu tio sorria, mas corria algumas lágrimas do seu rosto – não precisa ficar triste tio, não precisa chorar só por que repreendi o senhor – acalmei ele, a sessão novela mexicana teria que ficar para os discursos de aniversário dele.

- Esse choro é de felicidade Fernando, você acabou de me dar o melhor presente de aniversário que eu poderia ganhar com o que você disse – ele me apertou mais roçando sua barba na minha cabeça, quem entrasse iria nos pegar nesse momento muito íntimo e até interpretaria mal.

- Vamos mudar de assunto? – Pedi a ele.

- Vamos – respondeu.

Mudamos de assunto e conversamos sobre várias coisas até que decidimos mudar o papo e engatamos em uma conversa animada sobre futebol, sobre o aniversário dele e sobre como estava meu desempenho na faculdade.

- Sabe quem está chegando hoje á tarde aqui em Uberlândia Fernando? – Perguntou fazendo suspense.

- Não sei tio, quem? – Perguntei curioso.

- O Mario – Respondeu ele numa felicidade que só.

- Capaz! – Exclamei feliz.

- Sim – disse indo até a porta – ele chega as 3 da tarde no voo que vem de Belo Horizonte, inclusive nós vamos buscar ele – disse meu tio.

- Quelo figlio di puttana! (Aquele filho da puta)! – distraido, xinguei em italiano.

- Fernando! – me olhou rápido - não seja boquinha suja, nem em portugês e muito menos em italiano, caspite – ele me repreendeu me olhando com cara feia.

- Desculpa tio, mas ele nem para me avisar – sorri sem graça para ele que me olhava sério.

- Ele me pediu para não te contar, pois nem sabia se poderia vim para cá, foi de última hora – explicou ele.

- Ele só veio por causa do teu aniversário tio? – Perguntei sem entender.

- Não – ele riu - lembra da consultoria que ele fez lá em Belo Horizonte e que eu auxiliei? – Assenti – então, parece que tem mais uma boa parte da documentação para ser analisada, por isso a montadora pediu para ele vir para o Brasil, ele deve ficar mais uns 2 meses aqui em Minas e como só começa a trabalhar na terça – feira da semana que vem ele vai passar o fim de semana aqui com a gente, a sua família postiça com ele mesmo gosta de falar – meu tio sorriu e balançou a cabeça.

- Que bom, mas dessa vez tio, sem Caldas Novas e sem mais surpresas e revelações por favor? – Ele me olhou surpreso, mas assentiu.

- Nossa Fernando, já são quase 11:00 da manhã e nós ainda estamos aqui de papo – disse olhando em seu relógio – vou no banheiro e logo após saímos para almoçar, tudo bem para você? – Perguntou ele se levantando e pegando os óculos.

- Sim tio, vai lá que eu te espero – disse a ele que após prometer não se demorar saiu porta a fora. Acabei me distraindo com Cibele ao celular, estava rindo do barraco que ela me contou que arranjou quando a porta abre abruptamente.

- Pai, a reunião na prefeitura acabou antes e eu... – me assusto deixando meu celular cair no chão. Marcos estava parado na porta com um sorriso contido, se calou assim que me viu, minha cara de surpresa devia estar igual ou pior que a dele – oi Fernando! – me cumprimentou rompendo o silêncio.

- Marcos – respondi sem vontade.

- O que você está fazendo aqui? Cadê meu pai? – Perguntou assustado.

- Eu vim ver meu tio, ou até aqui eu não posso mais vim Marcos? – Perguntei irônico.

- Pode... – afirmou sem graça – claro que pode, mas cadê ele? – Ele parecia estar envergonhado.

Por alguns segundos ficamos em silêncio, apenas um encarando o outro. Por mais que não gostasse de admitir meu primo era muito bonito, na verdade eu parecia uma versão mais nova e um pouco mais baixa dele. Marcos estava perfumado, de sapato social preto, jeans liso azul com cinto marrom, camisa social branca e um blazer marfim e seus inseparáveis óculos escuros, estava bem despojado, mas não era um traje apropriado para ir em uma reunião na prefeitura, pelo menos não na minha opinião.

- Foi no banheiro – me levantei.

- Aonde você vai? – Perguntou tenso.

- Esperar meu tio lá fora, me deixa passar por favor – respondi seco ao passar por ele. Quando fui passar pelo batente da porta sinto sua respiração atrás de mim.

- Fernando, espera? – Ele me segurou pelo braço, nessa hora parei olhei em seu rosto, senti uma certa tensão - nós temos que conversar – sua voz estava embargada.

- Me solta Marcos, agora! – Eu comecei a ficar nervoso, não tinha medo do Marcos, não mais.

- NÃO! – Exclamou alterando a voz.

- EU DISSE PARA ME SOLTAR - foi minha vez de falar alto. Marcos me puxou para dentro da sala de novo, eu me esquivei – VAI SE FERRAR, SEU DOENTE – Marcos me fuzilou com o olhar e então veio com tudo para cima de mim. Com a nossa gritaria meu tio não ouviu e pelo jeito ninguém mas estava no escritório por que senão já teria alguém aqui para apartar a briga.

- Senta nessa droga de poltrona, agora ou... – Ele alterou a voz apontando para onde a pouco eu estava sentado.

- Não – disse cruzando os braços.

- Fernando, você senta nessa porra ou...- interrompi ele.

- Ou vai fazer o que? Vai me bater? – Peitei ele que levantou a mão para mim, não sai do lugar e nem baixei os olhos. Marcos em um movimento rápido me pegou pelos pulos e me empurrou até a poltrona onde sentei, mas por causa da força que ele impôs acabei machucando meu ombro.

- Cala boca! – Exclamou irritado – cala essa maldita boca Fernando, eu estou tentando falar contigo a semana inteira, mas você está fugindo de mim, você não quer me ajudar por quê? – Ele me deu as costas, passava a mão no cabelo e no rosto, estava nervoso e eu com medo do que ele poderia fazer.

- Vai, me bate, não é isso que você faz de melhor Marcos? Seu covarde – Desarmei ele que me olhou arrependido se sentando em frente a mim com as duas mãos juntas, claro sinal de nervosismo.

- Eu só quero falar com você Fernando, me deixa chegar em você, por favor? – Suplicou. No mínimo meu primo era um doente, o que ele ia fazer depois, me matar com carinho.

- Eu não quero falar com você Marcos, eu estou com medo de você, procura ajuda e me deixa em paz porra! – Em um descuido de Marcos eu me levantei e sai apressado, notei que saia um pouco de sangue do meu ombro, desgraçado conseguiu me machucar, mas isso não ia ficar assim.

- Volta aqui porra, não me dê as costas quando eu falar com você – eu apressei o passo e ele veio rápido para cima de mim me pegando pelo braço e me puxando para a sala dele enquanto estapeava ele e tentava me soltar, eu estava em pânico com sua oscilação de humor.

- Me solta porra, você está me machucando para... – pedi a ele com lágrimas nos olhos, vi preocupação em seu olhar.

- Não solto – disse calmo - para Fernando, você só está piorando as coisas porra – Marcos segurava meu braço, mas ele acabou afrouxando – viu como eu posso ser bonzinho? Agora vamos! – Seguimos para a sala dele, eu pensando em uma maneira de me livrar desse bocó quando ouvimos uma risada debochada e um bater de palmas.

- Que cena mais patética essa briguinha de vocês – Claudio estava escorado na parede com uma pistola 9 mm prata apontada para a gente, seu olhar do ódio nos fuzilava. A arma eu reconheci, pois, meu tio tinha uma igual em casa e outra no escritório que ele comprou depois que sofremos uma tentativa de assalto, meu tio aliás, atirava muito bem. Na hora me subiu um arrepio pela espinha, eu entendi o mau pressentimento que senti na hora que cheguei aqui, será que eu iria morrer? Marcos me segurou pelo braço me fazendo colar nele.

- Claudio, cuidado essa arma pode disparar e ferir alguém – tentei argumentar.

- CALA BOCA BIC...- Claudio foi interrompido.

- Qual é Claudio? Está com raivinha do soco que eu te dei e quer se vingar…- interrompi Marcos com um apertão no braço. Claudio estava nervoso, qualquer movimento e poderia ser nosso fim.

- Cala boca machão, é ele que está com a arma, não você – Marcos me olhou, o mesmo olhar que ele me dava a anos atrás – Claudio, o que você está fazendo? Baixa essa arma cara, alguém pode se machucar – Marcos se põe na minha frente servindo como um escudo caso Claudio atirasse.

- Sim, alguém vai se machucar na verdade ninguém sai vivo daqui hoje – afirmou ele apertando os olhos de raiva. Marcos se pôs na minha frente servindo como escudo.

- Fica atrás de mim Fernando – disse baixo.

- O que você está fazendo Marcos? – Sussurrei confuso.

- Fica atrás de mim Fernando, não faça nenhum movimento brusco, eu estou mandando ouviu? – Ordenou ele. Claudio só olhava com um riso na cara, ele parecia estar pirado.

- Mas olha que lindo, o ogro tem coração? Está defendendo o priminho veadinho...que nojo que eu tenho de vocês dois e dessa droga de escritório – Claudio cuspiu as palavras com desprezo.

- Está cuspindo no prato que comeu é? – Tomei coragem e retruquei ele, esse escritório era o ganha pão de muita gente.

- Para Fernando, não provoca – Marcos apertou meu braço.

- Está defendendo mesmo esse veadinho Marcos– Perguntei com raiva.

- Por que você está fazendo isso Marcos? – Perguntei, se fosse morrer antes eu queria saber.

- Estou fazendo o que devia ter feito desde sempre, cuidando de você, te protegendo, não é isso que a família faz? – Perguntou me fazendo arregalar os olhos, eu não estava ouvindo isso. Ouvimos uma imitação de choro ridícula.

- Qual é Marcão? Antes você batia em veado odiava essa raça e agora está protegendo um deles? Não sei não...agora só falta você botar o Fernando de quatro e meter nele dizendo que é carinho de primo – Claudio estava se divertindo com a situação, Marcos estava vermelho e tremia e eu estava me sentindo envergonhado e humilhado na frente dos dois.

- Cala a boca! – Gritou meu primo, com certeza seu grito foi ouvido em outros andares – respeita o Fernando, ele não merece ouvir isso... – Marcos estava vermelho, se Claudio não tivesse armado com certeza seria o fim dele, meu primo provavelmente bateria nele do mesmo jeito que me bateu, seus olhos brilhavam de ódio e eu estava confuso, por que do Marcos me defender? Ele me odeia!

- Nossa! – Exclamou Claudio – não sabia que o Nando era seu ponto fraco, mas bem que eu desconfiava que esse ódio todo era amor, não é como dizem por aí? Todo homofóbico no fim ou é bicha ou adora um veadinho não é mesmo? - Por instinto segurei firme seu braço, ele tremia, nessa hora esqueci de todo o ódio e mágoa que existia entre a gente.

- Então cadê o seu veadinho Claudio? Você não é melhor que eu – Claudio fuzilou meu primo com o olhar, pensei: É o fim do Marcos e depois o meu - sabe de uma coisa, eu amo o meu primo sim, sempre amei, o que fiz foi errado, espero um dia poder ter seu perdão, ele é minha família e eu amo a minha família Claudio – Marco a todo momento olhava para mim e sorria, eu estava congelado, pasmo com o que ele havia falado.

- Nossa Nando – debochou Claudio – se o teu macho caipira não te comer direito tem o teu priminho que vai fazer o papel dele muito bem, apesar que é o mais certo já que nem a namorada ele conseguiu segurar.... – Seu olhar cínico para o meu primo foi o pior.

- Sabe Claudio, acho que você quer dar para mim... – Marcos debochou. Notei que meu tio ouvia tudo escondido atrás de uma das pilastras de

- Cala a boca porra, senão ele atira na gente – argumentei com Marcos que olhou para mim me abraçou de lado e beijou minha cabeça, eu tentei recuar, mas ele me segurava pelo braço.

- Vai dar tudo certo primo – disse ele me olhando nos olhos – ele não vai te tocar – eu com certeza estava bêbado e drogado, Marcos me beijando e sendo legal e carinhoso comigo, mas ai percebi que logo ia morrer mesmo....

- Ei – Claudio chamou nossa atenção – daqui a pouco o Nando te chupa em agradecimento, mas voltando ao.... – Marcos interrompe Claudio.

- Lava essa boca suja para falar do Fernando, quem é você para julgar ele, se acha tão superior, mas eu te conheço desde a faculdade, você não passa de um advogadozinho de merda, que inclusive transou com professores para passar não foi? Acha que eu não sei Claudio – Marcos cuspiu as palavras deixando Claudio nervoso, eu apertei forte seu braço, espiava Claudio segurando a arma e tremendo. A meu ver Claudio não ia atirar, pois se fosse ele já tinha feito isso, na verdade eu via o nervosismo dele.

- É melhor você segurar essa língua dentro da boca Marcos, quem está com a arma na mão sou eu – Claudio então armou o gatilho, andou de um lado pra outro e nos encarou apontando a arma, então cruzou os braços e pôs a mão no queixo pensativo – só estou em dúvida, se mato você antes depois do Fernando, acho que o Fernando vai antes, no fim ainda ajudo o mundo a se livrar de um impuro e amoral e ainda a encontrar o papaizinho dele e.... – Claudio não terminou a frase, foi tudo muito rápido, vi um Geovane com muita raiva avançar pra cima dele desarmando-o e desferindo um muro na cara dele que o fez cair e largar a pistola que após ser disparada foi parar embaixo da mesa da secretária, o disparo não pegou em ninguém mas acertou o vidro da sala do seu Antônio causando um estrago e um barulho que foi ouvido longe. Marcos se jogando no chão comigo para me proteger, tudo tão rápido e mesmo assim tudo em câmera lenta.

- Você está bem? – Assenti. Marcos me olhava preocupado, ele me apertava contra seu peito, eu não tive reação, senti seu perfume misturado ao cheiro másculo de suor leve dele, tanto eu como ele estávamos suados por causa do momento de tensão, por instantes achei seu peito o lugar mais seguro do mundo e então acordei. Olhei meu tio que desferia tapas na cara do Claudio enquanto segurava pelo seu colarinho. Claudio tentava a todo custo se defender, mas não conseguia se livrar do meu tio.

- Desgraçado, vou te ensinar a nunca mais apontar uma arma para alguém da minha família ouviu, maldito? – Me levantei e corri em direção a ele, pela raiva e os golpes meu tio poderia até matar o Claudio.

- Chega tio! – Grito o mais alto que posso, segurando em seu braço o que impede ele de continuar com aquela violência toda, meu tio me encara ofegante, vejo que ele está com o rosto vermelho e sua feição carregada de ódio que ao me ver vai ficando branda até se transformar em um semblante confuso, eu aperto em seu punho fechado, acabou me sujando com o sangue de suas mãos – Chega dessa violência toda, por favor? – Peço puxando ele pela mão e levantando junto com ele. Me abraço a ele, sinto as lágrimas quentes no meu ombro.

- Desculpa – diz se apertando mais a mim.

No chão Claudio me olhava com ódio e nojo e por mais que tentasse odiá-lo eu sentia pena dele, sim pena! Ver ele no chão me fez lembrar de mim na noite que apanhei do Marcos, eu estava machucado e ensanguentado do mesmo jeito.

- Já passou tio – tentei acalma-lo.

Marcos se aproxima com a arma descarregada na mão e então com um olhar vago e assustado ele se aproxima da gente.

- Vem filho aqui filho – meu tio chamou ele e o abraçou. Quando me dei conta Marcos estava abraçado comigo e cheirava meu cabelo. Estávamos os três abraçados.

- Eu consegui te proteger... – ele sussurrou no meu ouvido me deixando extremamente desconfortável.

- Meus meninos, eu não sei o que eu faria se perdesse vocês – meu tio disse alguns depois de alguns minutos de silêncio, estava ficando muito estranho aquilo tudo – eu juro que eu acabava com a raça desse filho da puta – vociferou ele.

- Calma tio, já passou – olhei para ele e me desvencilhei do abraço. Marcos se ajeitou e se afastou para - aliás, belo soco – sorri e dei um soquinho nele que baixou a cabeça envergonhado.

- Bom as aulas de boxe que eu fiz quando era mais novo serviram para alguma coisa - apesar da tensão ali presente nós três acabamos rindo e por alguns segundos esqueci da presença de Marcos que tanto me incomodava – mas violência só gera violência, fiz isso por que foi uma maneira de defender vocês e parar esse doido – disse apontando para o Claudio que agora estava sentado escorado na parede, assim que olhamos para ele seu José o porteiro do prédio adentra o hall acompanhado de dois policiais.

- Senhor, eu ouvi tiros e chamei a polícia – justificou seu José.

- O que está acontecendo aqui? – Perguntou um dos policiais analisando o local enquanto o outro nos encarava.

- Primeiramente obrigado José – meu tio agradeceu o porteiro que acenou e virou para o policial – o que aconteceu aqui foi uma tentativa de homicídio, policial... – meu tio pigarreou.

- Oliveira – disse se aproximando e estendendo a mão para o meu tio.

É pelo jeito o dia especial e o almoço tinha ido por água abaixo, mas o que estava ocupando a minha cabeça agora era o fato do meu primo que me odeia servir de escudo para mim caso eu tomasse um tiro e dizer que me amava e sem contar o sonho muito estranho que tive hoje de manhã. Sem dúvida havia chegado a hora de voltar ao passado, eu teria que conversar com o Marcos, o mais rápido possível!

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Comentários

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William, desculpe a demora, fiquei arrepiada, com o sonho do Fernando, , realmente está na hora dele deixar este ódio pelo Marcos de lado, não estou dizendo que ele deva esquecer o que passou, pois não é fácil, mas conversar e tentar entender o pq da agressividade do Marcos, principalmente qdo ele quer conversar com o primo e o mesmo o ignora. Ansiosa para ver a continuação e desta vez, espero sem o susto de ter um louco homofóbico e invejoso como o Cláudio os ameaçando, tio Geovanne uma gracinha de ursão, que todos se entendam e consigam ser felizes, quem sabe o Luiz não se surpreenda ao ter seus sentimentos correspondidos e tb o tio Geovanne e o Mário não encontrem um novo amor cada. Que você tenha um ótimo feriado de Carnaval. Bjs

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Calma pessoal, no máximo até sexta o outro capítulo vai estar postado.

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Eu n concordo com o que o Valtersó disse é verdade que o Marcos agiu de uma maneira rude mas ele tá tentando do jeito dele meio torto é verdade mas tá tentando consertar tudo o que ele fez espero que agora depois dessa situação ele realmente perdoe o Marcos tenta voltar logo por favor.

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PELO VISTO MARCOS NÃO MUDOU NADA COM FERNANDO. CONTINUA AGRESSIVO, MANDANDO, BATENDO E MACHUCANDO FERNANDO. ISSO TEM QUE PARAR. CERTO FERNANDO EM NÃO ACREDITAR NUNCA NESSE INÍCIO DO 'NOVO' MARCOS. ESSA MUDANÇA DE MARCOS É APENAS PRA INGLÊS VER. CONTINUA O MESMO BABACA DE SEMPRE. E FERNANDO BABACA TB AO REPETIR INÚMERAS VEZES A FRASE 'BATE'. ESSE TIO TB NÃO TEM QUE FICAR RODEANDO FERNANDO. DEIXA FERNANDO SEGUIR A VIDA DELE EM PAZ. QUE DIABOS DE FAMÍLIA É ESSA? EU MESMO RESPONDO: UMA DROGA DE FAMÍLIA!.

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Eita lasquera, quase que acontece uma desgraceira, que fudido esse Cláudio, acho que o Marcos têm um pouco de razão, acho que ele tem uma paixonite por ele e por isso tem inveja do Fernando, que é muito feliz sendo assumido, mas como ele não se assume, tá cheio de raivinha, idiota!!!! Continua!!!! 😍😘👏👏😠😠👀

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Que emoção meu pai, não deixa eles dois ,Marcos e Fernando se relacionarem, trará muitas decepções para os outros, mas concordo que o capítulo ficou perfeito.

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Tava com saudades desse conto..E citar Linger,fala sério..mexeu comigo..

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Adorei aguardando ansiosa para a continuacao desse capitulo mas nao demora muito pra postar plis...abracos

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Nossa esse cap. foi perfeito, grandes revelações, muitas emoções e não demoore a postar o proximo

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Muitas emoções para um capítulo. Poxa, você demora 18 dias para postar e quando lposta, quaseme mata de tanta emoção! Isso não é legal!kkkk Sempre acreditei que o Marcos amava o Fernando (não como homem, mas como família) e que o que fez foi motivado pela sua imaturidade e ignorância. Espero que os dois reatem o relacionamento que tinham antes da revelação de Fernando. Um abraço carinhoso,

Plutão

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