Por não ter dormido como deveria, saí da cama muito antes do que saía em outros dias. Constatei em uma última olhada no relógio antes de sair que estava com tempo sobrando. Muito tempo.
Chaves, celular, carteira, um suéter para o dia que se mostrava frio, mochila nas costas. Olhei a caneca sobre o balcão e terminei, sorrindo, de beber o café que esfriava ali dentro. O recado colado na porta já tinha sido arrancado. O acaso tinha me mostrado que às vezes pode ser um bom negócio andar esquecendo coisas por aí. Talvez propositalmente não funcionasse, mas só talvez. Quase tudo nunca é uma certeza.
Já no consultório, sentei em minha cadeira confortável sentindo o cheirinho suave e refrescante do líquido que eu usara para limpar o balcão. Enquanto o computador preguiçoso se arrastava para concluir a inicialização, saquei meu celular do conforto do meu bolso e disquei os números decorados com pressa.
- Seja rápido, estou terminando uma make arrasadora. – Kath resmungou.
- Ele é casado – eu suspirei do outro lado da linha ignorando seu aviso.
- E quem não sabia disso?
- Eu sei. Repito isso para mim mesmo no intuito de acordar para o erro que isso representa. Mas enfim... Eu o beijei.
- Ai meu Deus! – Ela bradou, incrédula. – Quando isso aconteceu?
- Noite passada – respondi olhando fixamente para a tela azul à minha frente quase me perdendo em lembranças muito frescas.
- E quando você iria me contar? Nós viramos esse tipo de amigos?
- Fala sério, aconteceu ontem à noite e eu estou lhe contando agora.
- Eu deveria estar sendo um pouquinho menos dramática, não é?
- Sim, deveria. – Minha voz saiu apenas como um ruído quase inaudível.
- E agora?
- E agora que eu ferrei tudo. – Quase exaltado, tive que me silenciar por um segundo. – Ele apareceu na minha porta no meio da noite. Eu não consegui não escutá-lo. Eu queria, mas não consegui fazer ele sair dali antes de falar o que tinha ido fazer. – Tudo que eu escutava era apenas o respirar de Kath. – Ele não falou muito, mas eu me sinto tão atraído por ele que não consegui me conter.
- Ele retribuiu o beijo?
- Não... Digo, sim. Foi só um selinho, Kath. Não veja como uma cena grandiosa de um old romance hollywoodiano.
- Você se ferrou inteiro por causa de um selinho? Eu teria transado de uma vez, assim faria maior sentido o sentimento de culpa.
- E eu deveria te odiar – murmurei ouvindo a risada suave do outro lado.
- Escute... – ela prosseguiu tão calma e segura. – Eu não quero que você sinta nenhum tipo de dor ou que fique remoendo o que aconteceu. Tenho certeza que você não procurou por ele. Eu não sei como te ajudar, porque o meu lado aventureira diz pra você viver isso, mas o outro lado, o racional, grita que odiaria estar no lugar da... – Uma pausa longa demais. – ... Você sabe quem. Então é isso: é você e seu juízo. – Ela terminou com um suspiro pesado. Tinha sido tão sincera quanto eu queria que fosse.
- Droga. – Eu também suspirei, porém mais silenciosamente.
- Pense sobre. Agora eu preciso desligar. Você sabe onde me encontrar, não é?
- Eu sei. É claro que eu sei.
- E sempre que precisar, ouviu? Agora divirta-se! – Ela brincou antes de desligar e me deixar sozinho com meus pensamentos, naquele momento consideravelmente mais leve.
Aquele dia passou sem muitas novidades ou animação. Alguns rostos conhecidos em mais uma visita ao dentista, alguns novos nomes por ali e mais uma boa quantidade de crianças choronas. Meu almoço seria solitário e exatamente por isso me rendi à rapidez de um hambúrguer e deliciosas batatas fritas. A alimentação era a última das minhas preocupações.
Naquela tarde eu não tinha o que fazer além de atualizar algumas fichas e agendar algumas visitas e por isso passei boa parte dela vasculhando as redes sociais em busca de sei lá o quê. Nos dias atuais, rolar a linha do tempo das pessoas é tão natural quanto respirar. Parece que jogar opiniões aos ares também. Eu precisei interromper a leitura de um texto no Facebook sobre um dos últimos assuntos bombásticos da semana quando vi duas mãos masculinas e grandes pousarem sobre o balcão. Eu ergui meu rosto ao mesmo tempo que pretendia saudá-lo com um simpático e habitual “boa tarde”, mas minha voz teimou em ficar presa na garganta quando vi a imagem do homem à minha frente.
- David. – Eu sussurrei contente e anestesiado.
- Ezra. – Ele me respondeu com o seu sorriso tão maduro e sedutor. Ainda bem que eu estava sentado.
A imagem dele fazia meu corpo tremer e quando o vi apoiar os cotovelos no balcão, aproximando-se ainda mais de mim, foi aí que tudo desandou. Eu minimizei a tela e voltei toda minha atenção à ele. Pouco do homem que tinha batido na minha porta no meio da noite estava ali, mas isso me satisfazia. Eu estava ainda mais satisfeito em vê-lo atender o meu pedido. O apelo pela sobriedade. Não que ele fosse um compulsivo, mas admitir tal desejo poderia fazer com que a coragem de me ver surgisse apenas com algumas boas doses.
- Dor de dente? Tenho alguns planos para idosos. – Mesmo brincando eu me certifiquei de que as pessoas que esperavam não escutassem minhas palavras. Talvez soasse muito rude.
- Não parece óbvio? – Ele riu com o corpo inteiro. – Além do tal plano, é claro, eu queria ver você e atender aquele seu pedido sobre sobriedade e o que mais você tenha falado. Eu estava alto demais para memorizar qualquer diálogo quando só conseguia enxergar uma parede e depois sua boca, a parede e depois sua boca...
A voz dele me obrigou a parar de olhar ao redor e mirar os olhos que buscavam minha rendição. Eles me diziam mais coisas que a própria boca, que ainda estava torcida em um sorriso de canto. Eu escorreguei meus dedos pela superfície gelada do balcão e deixei que as pontinhas tocassem os dedos dele. O toque acordou o homem para o que acontecia ali embaixo e imediatamente ele retirou os dedos. Eu assustei quando o vi recusar momentaneamente meu carinho, mas ainda em silêncio ele pousou sua mão sobre a minha e acariciou minha pele muito suavemente.
- Como você chegou aqui?
- No bar você me revelou mais do que deveria – ele disse ainda me permitindo sentir o seu carinho.
- É. Quando naquele estado eu acabo falando pelos cotovelos e mais membros.
- Não faça isso parecer algo ruim porque eu gosto que você fale demais. Do quê eu não gosto em você? Gosto até das quase quedas. Foi exatamente por isso que voltei até você, oras.
- Quer estar por perto quando eu sair do quase e meter minha fuça no chão? Quanta maldade, meu Deus.
Ele riu e soltou minha mão ao perceber que aquele toque tinha ultrapassado alguns limites e se estendido por muito tempo. Ele até ousou olhar ao redor para ver se ninguém tinha notado tamanha proximidade.
- Sem quedas, por favor. Deixe-me dizer algo: você quebrou um padrão quando invadiu meu táxi tão desastrosamente e eu gostei da nova ordem estabelecida. Quem anda na rua tomando café numa caneca e ainda a esquece no banco de trás de um táxi?
- Se seus olhos não lhe entregassem tanto eu diria que isso tudo é puro deboche.
Ele gargalhou mas logo tomou o controle de seu próprio riso. Todos tinham notado a presença do homem que continuava colado ao balcão, debruçando-se em minha direção. Se ele quisesse discrição teria que se esforçar um pouquinho mais.
- Eu até queria debochar de você, mas a idade traz sinceridade. Essas coisas ficaram para os jovenzitos. Mas escute, quando eu te verei novamente? Não me diga que vai dar o troco e me procurar somente depois de algumas semanas.
- Esse momento não é suficiente? – Eu brinquei.
- Só pode estar maluco... – ele sussurrou em minha direção, quase projetando seu rosto ainda mais para frente.
- Diga você. Quando nos veremos?
- Na sua saída. Eu posso te esperar lá embaixo? Diga que sim – ele adiantou.
- Esses encontros começarão a ficar arriscados – eu analisei ainda em tom de segredo.
- Está tudo bem – me tranquilizou procurando novamente por meus dedos para o carinho que me colocava em outro órbita. – Se isso foi um sim, lá eu esperarei por você.
Qualquer um presente naquela sala percebeu o que tinha acontecido ali depois da saída de David. Perceberam talvez pela proximidade entre nós dois, ou pela coloração que meu rosto adquirira. Eu não conseguia evitar a ebulição do meu sangue.
.
Contrariando o esperado, as horas passaram correndo e eu me peguei arrumando as coisas em uma velocidade nunca antes vista. Desliguei o computador, troquei de blusa no banheiro correndo o risco de perder algum membro na manobra muito desajeitada para um cubículo e passei pelo Dr. Isaías com pressa. Não precisei dar tantas explicações quando aquelas horas marcavam o horário da minha saída todos os dias, mas ele visivelmente não entendeu o porque da pressa.
Ao sair do prédio quase ofegante avistei as costas do homem que me esperava. Pouquíssimas vezes na vida eu tive o prazer de ver alguém esperar por mim com as intenções que David carregava. Aquele encontro teria outro clima. E diante de um clima que eu não vivia com frequência precisaria me policiar para não parecer afoito ou qualquer outra coisa. Em passos curtos e precisos alcancei a presença dele e toquei seu ombro com gentileza numa tentativa de não assustá-lo. Ciente de quem seria, ele suavemente pousou a mão sobre a minha, a tirou dali enquanto girava o corpo e me puxou para um abraço inesperado. Eu finalmente estava sentindo o corpo dele da forma como queria sentir. Tão próximos, tudo se encaixou perfeitamente. Nossas pernas e coxas, nossos quadris e barrigas, as costas dele em meus braços e os seus braços entre minhas costas e a mochila. Meus batimentos denunciavam minha ansiedade, o que era bastante constrangedor e o calor que exalava do corpo dele explicitava a excitação. Éramos dois homens desejando um ao outro de forma quase violenta. Se pudéssemos e tivéssemos capacidade para isso, tudo ao redor seria destruído para que nossos desejos fossem atendidos ali mesmo na calçada. Nossos olhos diziam isso. Minha boca seca confirmava. As mãos agitadas de David atestavam.
Do abraço às poucas palavras trocadas ainda em tom confidencial, mas em olhares livres e explícitos e da calçada fomos para o estacionamento. Pardejava quando chegamos ao carro dele estacionado em uma das muitas vagas na área externa do prédio. Antes de me dirigir ao banco destinado ao carona, eu vi as mãos de David novamente em ação: ele segurou meu braço e tão gentilmente me fez encostar na porta. Ele sorriu quando me viu em uma contorção por causa da mochila atrapalhando aquela ação de forma que facilmente poderia quebrar o clima e ele não demorou em me deixar sentir novamente seu corpo. A mesma mão que me guiara naquele minuto subia lentamente por meu peitoral franzino, chegando sem muito esforço ao meu pescoço. Ele passeou os dedos pela região lisa do meu queixo perfeitamente barbeado e num piscar de pálpebras eu senti seu polegar massagear meu lábio inferior. Havia uma curiosidade quase inocente na forma como ele me tocava, descobrindo os primeiros espaços visíveis do meu corpo. Seus dedos ansiosos provavelmente há tempos não sentiam a aspereza de outra pele masculina e ele parecia se deliciar com o fato de poder excitar alguém semelhante, se não fisicamente, ao menos na essência. Em qualquer outra situação seria difícil controlar os instintos, mas era tão bonito vê-lo me observar que eu poderia permanecer imóvel por horas. Eu apenas sorri quando vi os olhos de David mirarem meus lábios por muito tempo.
- Sua vez. – Minha provocação o fazia lembrar que o primeiro beijo partira de mim.
E antes que eu tentasse provocá-lo novamente nossos lábios estavam colados em um beijo lento e em tom de despreparo. Beijar outro homem parecia uma memória distante para David e eu sentia que em cada movimento dos nossos lábios ele se lembrava do quão bom era se permitir. Num instante em que eu o deixei mais à vontade, sua língua invadiu minha boca e eu a recepcionei com todo meu carinho. Havia tanta textura, sabor, calor e movimento naquilo tudo que era impossível não deixar minhas mãos percorrerem, respeitosamente, o corpo do homem que me mantinha nos braços. Ele me puxava para si e eu desfrutava das vantagens de ser segurado. Ele sorriu entre o beijo e eu dei liberdade para se afastar de mim.
- Eu tinha esquecido o quão bom isso pode ser – eu ouvi ele confessar.
A distância entre nós dois fazia o constrangimento aparecer sutilmente. Aquele beijo era, contraditoriamente, algo que deveria e não deveria estar acontecendo. Até que ponto o certo e o errado são discutíveis? A ambiguidade daquele momento era outro fator que contribuía para a excitação. Que situação!
Sem estrutura para qualquer palavra, dei a volta no automóvel, sentei no banco do carona com uma intimidade que eu já achava que tinha e esperei por ele que fazia o mesmo.
- Promete que vai mentir se eu for decepcionante?
- Decepcionante? Às vezes você precisa ser um tantinho mais específico.
- Você não sabe há quanto tempo eu não beijo alguém. Falo do beijo real, desses que você me deu.
- Quanta preocupação – disse-me em um riso suave. Antes de colocar o cinto em torno do seu tórax ele novamente se inclinou em minha direção e roubou um beijo curtinho, apenas um encostar de lábios. – Deixe disso. Está tudo certo.
“Não, não está” eu quis dizer e tratei de manter a boca bem fechada antes que algo desnecessário saísse por ela.
- O que você quer fazer? - ele perguntou no meio dos meus pensamentos.
A cordialidade dele precisava surgir logo naquele momento?
- Maldade sua perguntar isso.
- Por quê? – Ele quase ria.
- Porque eu só consigo pensar em respostas que envolvam sua boca.
Não mais constrangido, a confissão arrancara dele uma gargalhada tão gostosa e rouca que eu precisei me controlar para não romper todas as fronteiras entre nós dois. Mas para a minha surpresa ele avançou em minha direção e segurou meu queixo com seus dedos grandes e grossos em outro beijo mais calmo e mais ritmado. Dessa vez minha língua era o alvo da exploração dele e eu estava adorando ser a descoberta.
- Você já tem minha boca – ele disse logo após o beijo. – Não precisamos ir com pressa, não é?
- Não... Não precisamos. – Eu concordei.
- E agora, o que você quer fazer?
- Estar aqui é suficiente. – Cravei uma resposta descarada demais para o meu gosto.
.
O entardecer daquele dia não era diferente dos outros, mas daquele ponto onde estávamos a cidade parecia pintada por uma bonita camada dourada, coisa que passa despercebida lá embaixo, em meios aos prédios e muitas camadas de egos inflados. Ali onde eu pisava meus pés não existia pressa, crises existenciais, transtornos ou competições egocêntricas. Havia apenas a possibilidade de estar com alguém na qual eu queria estar.
Ao sair do estacionamento, David declarou que me levaria em um pico no limite da cidade onde ele sempre ia quando mais jovem. Suas lembranças me diziam que ali, numa madrugada fria de inverno sob o brilho de uma lua condescendente, ele beijara um homem pela primeira vez. Ele prometera também que a vista era bonita, principalmente naquele horário. E então eu estava em pé não muito longe do que seria a borda e ao estender meu olhar pelo panorama urbano que eu tinha dali podia constatar com facilidade que a vista era mesmo tudo aquilo prometido.
Eu deixei que dois braços longos e carnudos emoldurassem minha cintura em um abraço gostoso e confortável. Deixei também que uma barriga macia roçasse minhas costas enquanto um quadril grosso se aconchegava em minha bunda, mas eu só sorri quando senti lábios tão úmidos e macios roçarem a pele fina do meu pescoço. Com aqueles lábios eu ganhava de brinde uma barba espessa de fios grossos roçando o comecinho do meu ombro. Arrepios corriam por todo meu corpo.
- Um passo para trás. Estou com medo de ver você despencar ribanceira abaixo. Já tive provas suficientes de que isso pode acontecer. – Eu ouvi ele brincar.
- Pode ir parando – o respondi em uma seriedade totalmente inventada.
- Pronto. Já parei!
- Apaixonante... – Eu disse em seguida num quase gemido.
- Não faça isso! – Ele me interrompeu, mas os beijos ainda eram depositados em minha pele.
- Estou falando da vista – eu disse segurando os braços dele em torno de mim.
- Ah, a vista. Tanta coisa mudou.
- Agora sobre o passado... Você teve muitos homens?
- O suficiente, eu diria. Nunca fui de me atirar para as pessoas. Sempre pelos cantos, nunca no meio.
- É mesmo? – Tão irônico eu o interrompi.
- Com você foi uma das poucas vezes em que me entreguei aos desejos, digamos, mais ousados. Acredite quando eu falo isso. Eu somente frequentava alguns clubes, mas nunca saía de lá com alguém.
- Espero não ser rude... – uma pausa mais que necessária. - Você me falou de outros homens, mas porque casou-se com uma mulher?
Enquanto falava eu acariciava a presença da aliança na mão esquerda. Não era o tipo de pergunta ou coisa que eu deveria fazer, mas não conseguia evitar.
- Eu me sinto atraído por pessoas, Ezra. Pessoas, apenas isso. Ou tudo isso, né? Naquela época eu conheci Lisa. Ela era linda, combinávamos como nenhum outro casal. Ela tinha tudo que eu queria e eu tinha tudo que ela precisava. Nós crescemos juntos, formamos uma família, mas quando não fundada corretamente, uma relação tende ao desgaste pelo tempo. Ele corrói além das coisas; as pessoas.
- É o que a gente escuta o tempo todo. Me parece real.
- E é. Nós precisamos parar de subestimar a ação do tempo – ele afirmou.
É claro que eu não discordaria do que ele falava e só continuava escutando-o. Vez ou outra eu ia elevando meu carinho por cima do tecido da camisa sentindo os músculos maduros que ele guardava no braço. O corpo dele sentia isso como uma provocação e logo me mostrava que ficava feliz com aquele tipo de carícia. Eu sorria com o descontrole causado e me deixava brincar com os volumes formados em nossos corpos.
- Mas eu não quero falar sobre isso – completou roçando aqueles lábios em meus ombros por cima da camiseta.
- Tenho medo dos assuntos que você queira tratar – eu brinquei.
- Não sou nenhum tarado que pretende lhe consumir nos limites da cidade – se defendeu e eu acreditei no tom sério de sua voz. – Aliás, isso seria até romântico, não?
Eu me livrei daquela armadilha gostosa que cairia brincando e me voltei para ele. Por causa da quase mesma altura faltava pouco para que nossas bocas ficassem no mesmo nível. Eu cerquei seu pescoço grosso com meus braços não muito másculos por causa da falta de músculos aparentes e ele novamente fez questão de mostrar como se segura alguém pela cintura.
- Mas eu quero que você seja um completo tarado – soltei em um sussurro fraco. O que deu em mim?
- Esse pedido seria cômico se não fosse excitante.
E como dois adolescentes munidos de seus desejos recém florescidos, eu me vi ser guiado para carro entre amassos e mãos fortes que seguravam minha pele com força perfeitamente medida. Eu sentei sobre o capô e o puxei para um encaixe entre minhas coxas. O corpo mais robusto exigia uma abertura maior e isso não era problema para mim. Perfeitamente acomodado entre minhas pernas, ele sorriu em pura satisfação e me fez deitar as costas na proteção do carro. Era desconfortável, mas assim ele queria. Num único movimento ele subiu minha camisa e a tirou com maestria deixando meu peitoral livre para a sua observação. Como no estacionamento, seus dedos tão curiosos e ansiosos passeavam por minha pele sentindo a camada muito fina de pelo que cobre minha barriga, a região que antecede a virilha, o meio do peitoral e a axila. Quando me tocava parecia conseguir penetrar seus dedos em minha pele, pois cada arrepio tinha força suficiente para me fazer contorcer em suas mãos. Nossos quadris roçaram com mais força quando ele se debruçou sobre mim com a intenção de me sentir melhor. Ele arrastava seu rosto por minha pele e me fazia sentir seu nariz enquanto ele me cheirava. O nariz que estava em minhas costelas logo chegou em minha axila e na região mais interna e sensível do meu braço. No exato momento em que fazia isso, de olhos fechados eu ouvi outra música iniciar no interior do carro e outra vez Tears for Fears dava o tom de nosso encontro. Entre os cheiros que ele me presenteava, ele acompanhava a música fazendo seus lábios roçarem em minha pele. “Advice for the young at heart. Soon we will be older, when we gonna make it work?” Nenhuma outra música carregaria uma proposta tão adequada ao momento. Eu ri com tudo aquilo e o puxei para mim com delicadeza.
- Você é dono do cheiro mais suave desse mundo – ele confessou quando retornou para os meus lábios.
- Se gostou tanto, não vejo problemas em tomar para si.
- Mesmo? Então eu posso conquistar esse terreno ao meu modo? Sem pressa?
- Sem pressa – eu concordei.
- Bendito táxi – ele sussurrou me fazendo rir antes de um beijo molhado, saboroso e cheio de vontade que me fez fechar os olhos e ignorar todas as cores que coloriam o céu acima de nós e a letra da música que embalava nossas carícias.
Um beijo que me fez esquecer a própria existência e todas as questões não resolvidas.
.
.
Canção: Advice for the Young at Heart, Tears for Fears.
.
.
Obrigado aos pouquíssimos leitores (haha) pelas visitas. Se tiver algum erro, relevem, eu postei sem muita revisão porque estou meio ocupado e não queria passar o final de semana sem liberar capítulo. :)
J,K., imagina se o Ezra fosse guia de alguma coisa? Eu tenho dó dos pobres coitados que precisassem chegar em algum lugar. haha Eu dei aquele hot momento e acabei de entregar outro com os mesmo elementos que adorou. Eu não estou aqui para brincadeiras. hahaha Descontração à parte, Tears for Fears é mesmo uma banda que consegue nos transportar para lugares que sequer vivemos. Pode isso? Eles são mágicos! Antes que essa resposta fique completamente confusa e gigante, sim, você pode perguntar quantos anos eu tenho. Estou batendo na porta dos 25. ;) Todos os abraços do mundo pra você.