De quatro sobre o colchão estendido no assoalho, Marcelo só conseguia gemer, agarrado à roupa de cama encardida que lhe servia de alívio, enquanto uma máquina de foder montada sobre ele disparava pistoladas frenéticas em ritmo inacreditável. Era a terceira trepada da noite, mas, mesmo com o corpo moído, ele se sentia disposto a dar pro garanhão insaciável quantas vezes mais ele quisesse.
Daniel podia escolher o palácio que quisesse pra morar. Não foram poucas as ofertas para ocupar mansões e coberturas. Poderia também se vestir muito bem. Todo dia recebia caixas com as mais bem desenhadas marcas, indicando o conteúdo valioso da moda. Devolvia todas, sem nem mesmo abrir. Se tivesse vontade, jantaria cada noite em um restaurante, dos mais finos aos mais descolados. Não queria, recusava todos os convites, fosse pra morar ou simplesmente jantar. Vivia do parco salário, fruto do seu trabalho como assistente administrativo em uma construtora de pequeno porte. Só dava pra pagar o quartinho no cortiço, almoçar prato feito e jantar pão com salame. Com roupas se virava em lojas de departamento das mais populares e eventualmente nos brechós da rua onde morava. Não se vendia por luxos.
Depois do beijo, Marcelo tinha perdido a fala. Apoiando a mão levemente no peito magro do macho, olhava-o com o que podia se definir como ternura submissa. Nunca tinha sentido tanto tesão em um simples beijo. A mão que ainda segurava sua bunda também revelava poder, espalhando uma sensação de calor que lhe subia pelas costas até arrepiar a nuca. A ousadia do magrelo tentou invadir a sua calça por trás. Nesse momento o moreno pareceu acordar de um transe e, mesmo que não tivesse ninguém observando na redondeza, esboçou uma reação tímida:
- Por favor, aqui na rua não. Calma. – Percebeu sua voz insegura, um pouco mais fina que o normal, quase efeminada.
- Mano, vou te comer. Claro que não aqui na rua. Mas curti o rabão, quero meter logo. – A voz de Daniel veio o oposto. Uma voz grave, impositiva, revelando extrema segurança.
Romântico incorrigível, Marcelo começou a ouvir a marcha nupcial na cabeça. O cara era o seu número. Tudo bem que era feio pra caralho, mas beleza nunca tinha figurado entre os principais atributos que buscava em um homem. Para ele, o que contava mesmo era a virilidade, a postura máscula e a clara definição de quem era o “marido” no casal. Precisava usar de toda estratégia para atingir seus objetivos. Naturalmente sabia estar sendo precipitado, o dia a dia é que iria revelar as afinidades, mas o que ele queria garantir era justamente a possibilidade do cotidiano. Não ia simplesmente dar e depois passar a semana aguardando ansioso alguma ligação ou mensagem no telefone. Tudo bem que essa era uma postura antiga, ainda assim, pretendia arriscar. Queria partir da velha máxima que diz que, tomando o leite de graça, resta pouco interesse na compra da vaca.
Segurando a excitação, explicita na barraca que havia se armado em sua bermuda de tecido fino, falou:
- Nossa Daniel, também fiquei bem empolgado, mas você não acha que a gente devia se conhecer um pouco mais antes? Talvez tomar uma cerveja, marcar um café amanhã... – Novamente se viu surpreso com a docilidade da voz.
A resposta veio mais detalhada do que ele esperava. Segurando com firmeza o seu braço trabalhado de academia, o machão sentenciou:
- Velho, eu quero te comer. Eu podia te obrigar, mas não vou fazer isso. Podemos sim, tomar uma cerveja. Depois vou levar você pra minha casa, e vamos meter a noite inteira. Tem mais, você é que vai pedir.
Embora consciente do seu porte avantajado, fisicamente bem superior ao do companheiro, Marcelo não teve dúvidas de que, se quisesse, Daniel poderia obrigá-lo. Sentiu um calafrio, misto de excitação e medo, e isso de alguma forma aumentou-lhe o desejo. Tentando armar um sorriso retrucou,com a docilidade com a qual começava a se acostumar:
- Então vamos tomar a nossa cerveja. Mas olha, é convite meu ok? Faço questão.
Os grandes e ossudos joelhos tocando os seus por baixo da mesa faziam o moreno suar. Nem a geladíssima cerveja aplacava o calor que aquele magrelo emanava. Quando sentia a mão ossuda resvalar sobre a sua, Marcelo sentia faltar o ar. É, o feioso não tinha falado nenhuma mentira ao escolher seu nick, “feio com pegada”. O sujeito era realmente uma usina de sensualidade.
Depois da terceira ou quarta garrafa, os dois não disfarçavam mais. Daniel havia pulado da sua cadeira em frente e sentado ao lado do galã da vez, onde aproveitava para alisar-lhe as coxas peludas, fazendo seu cuzinho piscar de ansiedade e colocando-o a ponto de realmente pedir para ser comido. A essas alturas não raciocinava mais nos termos de se preservar para o altar.
- Bora! – A voz da caricatura ecoou firme como sempre, voz de comando.
Pegando o tímido parceiro pela mão, forçou-o a seguir com ele porta afora. Marcelo já sabia pra onde iam e o que estava para acontecer, mas não esboçou mais qualquer resistência. Seguiu dócil como um cordeirinho a ordem do seu homem.
O quarto pobre, os cheiros estranhos e tantas camisinhas espalhadas pelos cantos revelavam a rotatividade do local, bem como a pouca higiene. Acostumado a ambientes finos e extremamente detalhista na arrumação do seu apartamento, o moreno acusou o golpe, e pensou em recuar. Não teve tempo. A mão poderosa havia alcançado a sua bunda logo após empurrar a porta, e o beijo selvagem já o deixara amolecido. Só lhe restava gemer, enquanto acariciava a protuberância que se formara na bermuda surrada do garanhão diante de si.
A agilidade de Daniel era surpreendente, bem como a sua energia. Sem se dar conta de como tudo havia acontecido, Marcelo se viu pelado, tendo os mamilos sugados com vigor pelo magrelo, que o amparava semi-deitado em seus braços, os dois ainda de pé próximos ao colchão apoiado sobre um improvisado tapete de esteiras de palha. O galã gemia e se contorcia descontrolado, agarrando com firmeza o pau do macho, também já completamente nu.
A ordem para chupar foi seguida por uma ligeira pressão em seus ombros, e ele não ofereceu nenhuma resistência, caindo de joelhos aos pés daquele que o tinha sob total controle. Visto assim, por baixo, o nariz do outro parecia ainda maior, em contraste com o corpo quase esquelético. Mas o olhar que vinha de cima... Ah, que olhar era aquele, que subjugava e não deixava qualquer dúvida sobre a desigualdade presente naquele quarto, a evidente supremacia de um homem sobre o outro. Já o olhar que subia também não deixava dúvidas. Era de uma subserviência e de uma entrega comoventes, revelando a resignação submissa do belo rapaz.
Agora ele estava ali, de quatro, montado feito uma cadela, depois de já ter sido um frango, frango assado espetado no caralho destruidor que o penetrava sem pudor. Que cheiro, que limpeza, que nada. Sim, foi Marcelo que pediu para ser comido, cumprindo a previsão do novo amigo Daniel.
Continua...?