O Diretor Milton parecia cansado. Seus olhos passeavam pela sala como se eu e o Lucas não estivéssemos ali.
Sua sala era menor do que eu imaginava mas aconchegante. Estávamos sentados de frente para ele, que não pareceu surpreso e nem incomodado com minha presença.
- Você é novo, não é? Vitor seu nome, nao é isso? - perguntou ele tirando os óculos.
- Isso, é um prazer conhece-lo - Falei.
- O prazer é meu Vitor, seja bem vindo - disse.
Assenti e sorri.
- Em que posso ajuda-los?
- Entao Diretor, é sobre o jogo ... - Lucas fez uma pequena pausa - Não pensa em cancelar, não né?
- Lucas, filho - ele pôs as mãos por cima da mesa de madeira - As coisas estão muito estranhas. Estão havendo ameaças a todos do time. - disse - Não só do time, mas da escola toda.
- Sim, eu sei ... Mas são ameaças infundadas ... Não há uma ameaça real.
- Eu não quero pagar pra ver - pausa - Você como capitão do time deveria se preocupar com eles.
- Eu me preocupo - Lucas parecia chateado - Mas ...
- Mas? - Diretor Milton parecia inabalável.
- A carta ... Está com o Senhor? Queria le-la - pedi.
Ele pensou um pouco e abriu uma gaveta da mesa. Mexeu em alguns papeis e me entregou um deles.
"Esse time idiota não vai ganhar o jogo. Talvez porque não vai haver o jogo. Muitas coisas podem acontecer antes, durante e depois. Eu não estou brincando. Se estiverem duvidando ..."
Minha mão suava um pouco, talvez muito.
Lucas me olhava, talvez esperando uma resposta.
- Eu acho que ele tem razão - Falei pro Lucas.
Talvez ele sinta raiva de mim, já que me trouxe para ajuda-lo, porém a carta era clara. Se houvesse o jogo, haveria outra coisa. Coisa que não poderiamos dizer qual era.
- Lucas você deveria ouvir seu amigo - Milton levantou-se - Bom, estou meio ocupado agora.
Nos levantamos e saimos da sala.
Lucas não dizia nada, porém caminhava ao meu lado.
Pude sentir que ele sua tristeza, talvez derrotado por achar que consiguiria mudar algo.
- Desculpa, eu queria ajudar - Falei parando de andar.
Ele também parou e me olhou. Sorriu logo em seguida.
- E ajudou - disse - Acho melhor não rolar.
- Mas não era o que voce queria.
- Ainda não é.
- Mas ...
- Mas, eu não posso coloca-los em risco - encostou-se na parede - Nao posso te colocar em risco.
- Me colocar ...?
- Você iria, não iria?
- Assistir é melhor do que jogar - Falei sorrindo.
Ele assentiu.
- Então é isso, não vai ter o jogo?
- Quais sao as nossas opções?
- Nenhuma.
Ele sorria pra mim, porém eu sentia que ele estava triste.
***
- Então não vai ter jogo? - Pedro estava sentado em sua cama com o Notebook no colo.
- Não - Falei - É muito arriscado - pausa - Pode ser uma simples ameaça ...
- Ou não - concluiu ele.
- O Lucas ... - peguei meu celular e fingi mexer nele - Ele é legal.
- Ele é - disse levantando os olhos e me encarando - Ele gostou de você.
- Ele diz que eu sou engraçado.
Pedro sorriu.
- Sei ...
- Por falar em gostar - sentei-me na cama dele - E você?
- Eu? Oi? - sorriu se fazendo de desentendido - Tô tranquilo.
- Você pode me contar, se quiser.
- Não tenho nada a declarar - disse com os olhos fixos no computador.
Sorri.
- Eu sei guardar segredo entende ... - Falei - Guardo segredo de todo mundo ... As pessoas confiam em mim. Tenho cara de confiável?
- Eu nao gosto dele.
- Não foi o que pareceu.
- Quando?
- Hoje, na reunião ... Eu vi como olhou pro Dog.
Ele não respondeu. Continuou olhando para a tela na sua frente.
- Tudo bem - me levantei e fui em direção ao banheiro quando ele disse :
- Ele é idiota.
Me virei para abaixado a tela do notebook.
- Isso nós dois sabemos - Falei me apoiando na parede - Mas ...
- Mas eu também sou - disse por fim - Ele me atrai de uma forma incrivelmente ridícula.
- Ele sabe que você gosta dele?
- Nunca saberá - Falou - E além disso eu não gosto dele ... Você gosta? Oi? Alguém gosta daquele garoto? - Nós dois rimos.
Alguém bateu na porta. Bateu com tanta força que eu pensei que fosse quebra-la.
Olhei para o Pedro que parecia tão confuso quanto eu.
Fui em direção a porta e a abri.
Vinicius que estava vermelho de raiva, entrou no quarto como um animal.
- Que porra é essa?
Continuei o encarando confuso.
- Porque você concordou em não ter jogo? - ele olhou rapidamente para o Pedro e depois se voltou para mim - Qual era a porra da dificuldade em ajudar o Lucas?
Recebi uma notificaçao no celular que estava em cima da cama do Pedro. Calmamente, passei pelo Vinicius para pega-lo.
Ele continuava nervoso e vermelho. Seus olhos acompanharam meus passos e não pareciam acreditar no que eu estava fazendo.
Era uma mensagem de uma amiga, a Julia.
"Tá ocupado? Vamos conversar no Skype?" perguntou ela pelo Whatsapp.
Olhei para o Vinicius, que fechava os olhos e Respirava fundo.
Respondi : "Só um minuto".
- Você entrou no meu quarto pra falar isso? - perguntei tranquilamente.
Pedro abriu o notebook novamente e fingiu (eu sabia que ele estava fingindo porque ele era sínico) estar digitando alguma coisa.
- Porra Vitor! - ele pôs as mãos na cintura e me encarou com aqueles olhos enormes - Esse jogo é importante! Só podia acontecer aqui nessa merda ...
- Como se eu tivesse culpa ..? - perguntei - Eu apoiando ou não, ele não iria permitir o jogo. - fechei os olhos e quando os abri Vinicius estava mais próximo de mim.
- Tudo bem - passou as mãos no cabelo - Foi mal. Eu estou nervoso ... Isso está me deixando nervoso.
Assenti.
- Fui um idiota, eu sei - continuou - É que ... É importante, sabe?
Fui até a porta e segurei a maçaneta.
- Sei.
O encarei como se ele soubesse o que fazer.
Vinicius saiu do quarto e antes que pudesse falar alguma coisa, havia Fechado a porta na cara dele.
*** DIA SEGUINTE
- Ele entendeu errado - Lucas estava inconformado pela forma como seu irmão havia me tratado - Vini é um idiota as vezes.
- Tá tudo bem - Falei.
Ele ficou quieto.
Estávamos no jardim atrás da biblioteca. Mais cedo eu havia tido 4 aulas, o que havia me deixado cansado. Lucas e eu havíamos nos esbarrado no corredor, e acabamos parando aqui.
- Você namora? - perguntou mudando de assunto.
- Não, e você?
- Também não - ele sorriu - Sério que você não namora?
- Parece surreal?
- Você é muito bonito pra ficar sozinho - disse ele me fazendo ficar vermelho.
Mordi os lábios pensando no que responderia.
- Não queria te deixar envergonhado - disse.
Estávamos sentados bem próximos. O braço dele estava colado ao meu, e eu podia sentir seu cheiro.
- Não estou - menti - Nao verdade, eu também acho - brinquei - Mas não está fácil encontrar alguém legal.
- Você deveria procurar melhor - disse ele me olhando fixamente.
Olhei em volta e embaixo do banco onde estávamos sentados. Lucas deu uma gargalhada gostosa.
- Palhaço - ele se aproximou mais um pouco - Você é diferente.
- Em qual sentido? - eu estava um pouco tenso pela sua proximidade.
- Em todos - a voz grave dele era a única coisa que eu ouvia - Nunca te falaram isso?
- Não com essas palavras - sorri desviando dos olhos dele.
Ele ficou em silêncio enquanto suas mãos foram para a parte de cima do banco, próximo ao meu ombro.
Ele deve ter percebido minha tensão, pois perguntou :
- Está com medo?
Sorri.
- Deveria?
Ele também riu.
- Não ... - Se afastou um pouco - É que ... Sei lá ...
- Desculpa ... - Olhei em volta - Eu não queria passar essa impressão ...
- Tudo bem - ele riu - Me desculpe também. Eu gosto de você - Falou rapidamente.
Absorvi aquele "gosto de você" rapidamente.
- E isso é bom? - perguntei curioso.
- Vou te mostrar que é - então ele beijou meu rosto.
***
Eu ainda sentia o beijo do Lucas em minha bochecha quando entrei no meu quarto. Era noite e o quarto estava escuro, o que significava que o Pedro não estava ali (ontem ele havia me dito que tinha medo de escuro).
Passados alguns segundos depois de eu ter Fechado a porta, duas batidinhas de leve me despertaram.
Ao abri-la me surpreendi.
- Estou calmo dessa vez - disse ele meio envergonhado.
Vinicius vestia uma bermuda azul escuro, camiseta branca e chinelos. Seu cabelo estava molhado, o que mostrava que ele havia acabado de tomar banho.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntei.
- Não ... - ele pensou um pouco - Queria pedir desculpa ... De novo. - ele revirou os olhos - Lucas fez questão de me mostrar o quanto fui ridículo.
Assenti.
- Bom, desculpas aceitas - Falei.
- Só isso?
Sorri.
- Geralmente não guardo rancor - pausa - Geralmente.
- Fui excessão então? - ele sorria e NOSSA, QUE SORRISO.
Ele estava apoiado ao lado da porta. Pensei se deveria convida-lo pra entrar.
- Acho que sim - Falei - Olha, eu tenho alguns trabalhos pra fazer - menti - Nem comecei mas já estou cansado.
- Trabalho de que?
Pensei rápido.
- Matemática ... - pausa - Equações, logarítimos ... Sabe como é.
- Sei - ele se desencostou da porta e me olhou - Entao, era só isso mesmo - disse e sorriu - Até mais ...
Sorri pra ele e fechei a porta.
Me apoiei nela e respirei fundo. Não sabia mentir. Talvez ele não tenha acreditado.
Mas que diferença fazia?
Ainda apoiado na porta, ouvi-la bater mais uma vez.
Abri pensando que era o Vinicius, mas não era ninguém.
Sai do quarto e olhei em volta. Ninguém.
Entrei no quarto novamente e meu celular vibrou.
Era uma mensagem de texto de um número privado.
"Mal chegou e já está causando tumulto? Tome um pouco mais de cuidado, principalmente no escuro ... Nunca se sabe quando o bicho papão vai aparecer"
Quando acabei de ler a mensagem minhas mãos suavam. Definitivamente eu não esperava por isso.
Mais uma daquelas ameaças ridículas, pensei.
Foi quando a luz do Colégio Interativo acabou.
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Oi gente, como estão? O que estão achando da história? Comentem por favor, preciso saber se devo continuar ou não. Meu tempo ta corrido então escrevi grande parte pelo cel dentro de um ônibus kkkk perdoem qualquer erro. Bjs.