A VIZINHA - I
Mudei para a praia do Cassino, quase no extremo sul do Brasil. Ainda que não tenha cometido exatamente qualquer crime, não quero ser achado. Então vim para estas paragens, cuja população varia de 25 mil residentes no inverno, a mais de 300 mil veranistas de dezembro a março, provenientes, em sua maioria, das três grandes cidades mais próximas - Rio Grande, Pelotas e Bagé - que mantêm boas casas de veraneio, abertas somente em fins de semana ensolarados, no inverno, e todos os dias nos meses de verão.
Moro sozinho em uma casa bastante grande, de dois pavimentos, situada em um terreno também grande. Passo os dias entretido com o jardim, escrevendo, cozinhando, lendo, vendo filmes e series de TV. Passo as noites dormindo profundamente, sempre que não estou olhando a minha vizinha.
O leitor certamente imagina por vizinha uma mulher jovem, atraente e sensual. Mesmo temendo decepcioná-lo, tenho que me ater à verdade dos fatos. Ela - Silvia - está mais para obesa que gorda, de meia idade, e um rosto que certamente já foi bonito perdeu o viço nos afazeres domésticos e nas agruras de um casamento infeliz. O casal tem duas filhas, já maiores de idade, de quem falarei mais tarde.
Porém ela sempre despertou desejo. Fetiche? Certamente! Eu a observo pela janela do meu quarto, no segundo piso da minha casa, que defronta com o andar térreo da casa dela, onde ficam a cozinha, a área de serviço e a grande janela do quarto de casal. Nossos terrenos são contíguos, e se tangem na linha divisória dos fundos, separados por um pequeno muro de não mais que um metro e meio de altura. Minha visão é completa, ainda mais que auxiliada por uma luneta que adquiri na fronteira com o Uruguai, a uns 200 quilômetros de distância, exatamente para esta finalidade.
Nunca fui vouyer; tornei-me um pela peculiar relação de Sílvia com o marido, agora ex-marido. Este sempre chegava tarde, brigavam com frequência, e por vezes ele era violento. A violência despertava a libido de ambos, de forma que agressor e agredida me brindavam com um espetáculo de sexo ao vivo, foram o estopim dessa minha história.
O roteiro quase sempre era o mesmo: ao chegar em casa da boemia, o marido - vou chamá-lo de Silvio - era recebido com impropérios, que se mantinham em altos brados até que ele levantava o braço e desferia tapas e socos no rosto e no corpo da esposa. Subjugada, Silvia calava, e apanhava em silêncio. Vencedor, a fazia abaixar, ou sentar-se na cama, e segurando-lhe os cabelos curtos (porque as gordas gostam de cabelos curtos, que lhes arredonda mais o rosto?), fazia-lhe baixar as calças,, baixar a cueca e felar seu pau. A mulher chupava com resignação, mas com competência, até que o marido empurrava o corpo enorme para a cama, despia-a parcialmente, e montava, penetrando-a, agora com carinho, pois beijava a boca inchada pelos sopapos e afagava os seios. Ficavam assim por bastante tempo, até que ela gozava primeiro, e ele em seguida, ambos sem a menor preocupação com os barulhos e gemidos que eu também os escutava com clareza.
O marido acabava, virava para o lado e dormia o justo sono dos bêbados, enquanto Silvia, contrafeita e satisfeita, ficava bastante tempo acordada. Pela lente da lanterna, com a visão ampliada, eu lia os pensamentos daquele rosto machucado, por vezes envolto em lágrimas.
"Quero essa mulher para mim!” decidi. Nunca fui punheteiro, mas não há como evitar a masturbação diante daquele enredo, ainda mais com a riqueza de detalhes que meus olhos e ouvidos captavam. “Quero comer essa mulher que aceita apanhar e foder daquele jeito.” Este é o meu fetiche..
Mas também especulo sobre os desejos de Sílvia e formulo perguntas que não consigo responder: porque Silvia reclama das noitadas do marido? sente ciúmes? ainda o ama? seria só o orgulho ferido de fêmea desprezada? porque aceita apanhar? porque cala depois que apanha? porque sente prazer depois de sentir tanta dor? Porque ela não baixa as cortinas do quarto e me poupa desse suplício? Confesso inveja pelos sentimentos que a vizinha nutre pelo seu opressor.
Depois que passei a ser espectador da vida conjugal dos vizinhos, perdi o interesse em buscar sexo em outras mulheres, como fazia desde que mudei para cá. Interessa apenas Silvia, e o prazer da punheta imaginando todas as formas e situações em que eu comeria essa gorda cada vez me satisfaz menos.
Passo o dia a observá-la. Meu pau endurece só de vê-la pendurando a roupa no varal, sem esconder o olho roxo ou o lábio inchado; deliro ao observá-la cozinhando, varrendo o pátio. Perco em devaneios imaginando-a nas outras dependências da casa às quais minhas lentes não têm acesso. Estou apaixonado, o que não é bom.
Vim para estes rincões para me esconder, para que passe o tempo sem ser achado. Mesmo assim, arquiteto um plano que põe em risco meu anonimato. Madrugada fria. Sigo o marido até Rio Grande, distante não mais que 20 quilômetros de onde estamos. Ele entra em um bar onde numa mesa o esperam os amigos e a amante. Abraçados, bebem juntos, beijam-se, dançam. Com o celular, eu bato todas as fotos que a descrição me permite. Volto para casa. Imprimo as fotos, que restaram claras, nítidas e comprometedoras. Subo ao meu quarto, posiciono a luneta no escuro e fico esperado a hora da briga. Todas as cenas se repetem: os gritos, a briga, a pancadaria, a mulher agachada com o pau do marido na boca, o sexo, o gozo, o sono, as lágrimas e gotas de sangue no travesseiro.
Dia claro, coloco as fotos em um envelope grande, escrevo “para Silvia”, caminho até o outro lado da quadra e deposito a encomenda na caixa do correio. Espero angustiado. Horas passam devagar, até que Sílvia entra em seu quarto, para sozinha, olhar as provas da traição que ela sempre soube. Sinto dor e esperança em vê-la chorando, mas meu desejo de possuí-la é maior que qualquer outro sentimento. Quando o marido chega, não espero começar a pancadaria para chamar a polícia. Denuncio a violência doméstica contra a mulher, e mesmo pelo telefone o inspetor que me atende consegue ouvir os gritos. Relato o que vejo: “Ele está batendo nela, mas desta vez é diferente. Por favor venham logo.”
A cena se desenrola enquanto espero as autoridades. Diferente das outras vezes, ela não senta quando ele manda, nem chupa seu pau quando ele baixa as calças. Silvio volta a agredi-la.
A polícia chega; do meu quarto não vejo nada. Vou à rua, dobro o quarteirão, e da esquina observo a viatura parada na frente da casa. Muito tempo se passa, até que a porta abre e os policiais, acompanhados pelo casal, saem à rua. Apesar dos hematomas salientes no rosto, Silvia não registrou a queixa. Eu já esperava por isso. Mas naquela noite, Silvio dorme em outro quarto.
No dia seguinte eu ligo: “Silvia, você não me conhece. Sou Armando, seu vizinho dos fundos. Fui eu quem chamou a polícia ontem.” Após um longo silêncio, a resposta: “você deveria cuidar da sua vida”
“Fui eu também quem bateu as fotos"
“Me deixa em paz”
“Eu vejo e ouço vocês todos os dias, não posso mais ver você sofrendo assim”
“Você não tem nada a ver com isso, não é problema seu …”
“Tenho tudo a ver com você, eu estou apaixonado por você, não posso mais ver você sofrendo, não entendo porque você se submete a isso …”
“Para! Nem sei quem você é…”
“Agora você já sabe, e eu vou estar te esperando.”
Silvia desliga o telefone. Vai até o quarto e espia pela janela, tentando me encontrar, e entender de onde eu observo a sua vida. Por precaução, baixa uma cortina branca, fina, translúcida. Conheço todos os cantos daquele quarto, e pelas sombras que a renda deixa transparecer, percebo que Silvia se olha no espelho, faz poses. Talvez eu tenha atingido um alvo.
A espera segue. Não houve mais brigas, Silvio mal entra no quarto. Percebo algumas sutilezas. Silvia usa roupas melhores para os trabalhos domésticos. Noto unhas em vermelho quando estende as roupas. Uma base creme cobre as marcas do seu rosto e pela primeira vez desde que estou aqui seus lábios estão cobertos de batom. Ela se arruma para mim, concluo.
Ligo novamente: “Oi, Silvia, é Armando”, cumprimentei. “Oi intrometido. Já parou de me observar?” Senti uma certa alegria na resposta. “Tentei, mas não consegui. Não parei um minuto de pensar em você. E ja pude ver o quanto você está mais bonita”
-“Sou gorda, sou feia, sou velha; o que você quer comigo? Quer se divertir?"
“Não acho você feia, não me importo que você seja gorda. Só não consigo tirar você da minha cabeça."
"Difícil acreditar em você.”
“Vem aqui na minha casa que eu te mostro que é verdade.”
“Sou casada, não posso.”
“Você diz que é casada e não pode. Ma você quer vir?”
Um longo silêncio de resposta, e eu arremato: “Estou te esperando. Você sabe onde é”
É óbvio que ela vem. Mulher quer se sentir desejada. Por menos que ela acredite na minha paixão, que inexplicavelmente é verdadeira, é certo que uma mulher desprezada e humilhada jamais deixará de conferir uma declaração que lhe toca tão fundo no ego. E tem outros componentes: a vingança do marido e a mais completa exposição da sua vida íntima ao vizinho indiscreto. Assim como ela se entrega ao marido, também se entregará ao homem que tem sua privacidade nas mãos.
Silvia é mais gorda ao vivo, de perto. A maquiagem malfeita também esconde mal suas feridas e rugas. Mas o sorriso é mais cativante, e o cheiro fresco de lavanda compensam, com sobras. Nos beijamos sem trocar palavras. Acostumada a tirar a roupa do marido, ela baixa minhas calças e chupa meu pau antes que eu tome qualquer iniciativa. “Para que eu vou gozar.” “Então goza na minha boca.” “Quero te comer antes de gozar.” “Tenho a tarde inteira para foder com você, o corno só vem tarde da noite.”
Eu gozo, ela segura a porra na boca, sem saber se cospe ou engole. “O banheiro é por aqui …”, conduzo. “Já engoli”, respondeu sorrindo. Nos beijamos. As cicatrizes duras nos seus lábios me incomodam mais que o gosto da minha porra. Ficamos trocando carinhos, palavras, risadas. Tiro a roupa dela, e o corpo adiposo, marcado de vergões e hematomas me excita. Testemunhei o surgimento de cada uma das feridas. “Me come no teu quarto, quero dar pra ti olhando a minha casa”
Subimos. Assim como o marido, eu a empurro para cama. “Tu sente vontade de me bater?” “Sinto, muita vontade”. Ela provoca, oferecendo o rosto: “Então bate gostoso!” “Hoje não” Abro as pernas gordas e chupo a buceta. Silvia grita na primeira linguado. Geme alto. Chupo mais, ela grita mais. Excita pensar que as filhas e os outros vizinhos possam estar ouvindo. Monto em cima, enfiando o pau no meio das carnes até achar o buraco da buceta, e me delicio com as tetas enormes, rosadas, e inesperadamente rijas. Ela goza, eu seguro. “Goza em cima de mim, me lambuza.” Uso meu pau como um pincel, deixando um rastro de esperma que começa no pescoço e desce até o umbigo.
Fico triste quando ela sai. Vou para a janela, procurando observá-la. Ela olha para cima,cada vez que se vira em direção aos fundos do seu terreno. Eu sorrio cada vez que Silvia procura meu quarto com o olhar.
As cortinas agora estão abertas. Como para me provocar, Sílvia e o Sílvio estão no quarto. Sem violência, tenta conquistá-la. Beija-lhe o rosto, a boca. Ela conduz a cabeça do marido para seu pescoço, seus seios, sua barriga flácida, e percebo que faz isso para obrigá-lo a provar do gosto que ficou grudado ao seu corpo. Mas ver o corno lambendo a minha porra seca na pele da esposa não me faz feliz. Tomado de ciúmes, fico assistindo os dois transarem. Ele goza, ela não. Ele vira e dorme, ela vira e procura a janela, balbuciando um “te amo” que sabe será captado pela minha lente. Irritado, não consigo dormir, pego o carro, dirijo ate a cidade, procuro uma puta na rua e peço um bloquete.
Silvia vem todas as tardes à minha casa. A atração sexual é crescente. Já sei que ela gosta de porrada, mas não consigo agredi-la. O máximo que eu consigo é comer o cu, que causa alguma dor e desconforto, mas não é algo que me satisfaça. Ela gosta de dar o bunda apoiada no parapeito da janela, olhando para o pátio da sua casa e a janela do seu quarto. Falo do ciúmes que sinto do marido, que já não chega tão tarde em casa, nem bate mais nela, mas a conversa não continua. Sou amante, sou objeto. Compreendo que trocou o fetiche da violência pelo fetiche da vingança. Vingança quando traí o marido; vingança quando o faz lamber a minha porra.
“Corno. A gorda da tua mulher passa as tardes fodendo com o vizinho.” Mando a mensagem por whatsapp de um celular pré-pago comprado na noite anterior. Deu certo. Debruçada na janela, dando o cu, Silvia para de gemer quando vê o marido parado no meio do pátio da sua casa. Aproveito a situação, passo os braço por seus ombros e beijo Silvia demoradamente, que, atônita, não sabe o que fazer. “Você agora é minha. Deixa que eu resolvo.” Visto as cuecas, desço as escadas, pego a arma, sigo em direção ao quintal. Silvia vem atrás, semi-nua. Segurando a arma numa mao, e a mão de Silvia noutra, digo: “Agora ela é minha. Vai embora e amanha tu volta para pegar tuas coisas. Some. Corno filho da puta.” Reconheço que Silvio deu as coisas e foi embora com o que lhe restou de dignidade.
As coisas mudaram imediatamente, mas não consegui ser violento. Ao menos sob o ponto de vista físico. Dono da situação, passei a dar ordens, com um comportamento mais ríspido. “Vai pra casa agora, tira as coisas desse corno do nosso quarto. Depois volta aqui para arrumar as minhas roupas.” E continuei: “fica pronta as 7 que a gente vai sair pra jantar, quero que todo mundo saiba quem é o teu novo macho.” Por fim, peguei o celular dela, pedi a senha, abri o facebook e postei uma selfie de um beijo nosso na página inicial. Antes que ela protestasse, baixei a cabeça dela à altura da minha cintura, dando a entender que queria uma chupada. Lembrei, mas não avisei, que há minutos atrás estava comendo o cu dela, mas ela não reclamou de nada.
Sem marido, sem amigos do casal, com laços familiares abalados pela súbita separação e novo relacionamento, Silvia vive exclusivamente para mim.
(continua)
walfredo.wladislau@hotmail.com