Continua...
Minha primeira vontade foi de virar as costas e ir embora,afinal aquele não era um problema meu.Mais conhecendo a turma do Vavá como eu conhecia,decidi livrar a cara de quem quer que estivesse apanhando.Não que eu quisesse bancar o herói,até porque isso não combinava comigo,mais a turma do Vavá é uma das piores ali da área e muleque que pisa errado com eles,termina jogado aos urubus.E pelo bem da minha consciência (sim,eu tenho uma!),procurei uma forma de descer e meio caminhando,meio escorregando,cheguei na parte baixa.Respirei fundo e mostrando mais coragem do que realmente tinha,me aproximei e com um barulho fiz com que eles notassem a minha presença.
-Olha aí galera...É o Miguelito!-Um baixinho disse,arrancando risada de geral.
Um homem moreno de cabelos lisos abriu espaço no meio dos outros e me encarou como uma onça encara sua presa.Em uma das mãos segurava o braço de um rapaz branco,que estava bastante machucado,mais respirava e gemia,o que era um sinal de que ainda estava vivo.
-Que tá procurando por aqui?...Essa não é sua área!-O homem moreno disse,soltando o rapaz no chão.
-Nada Vavá,só tava dando uma volta por aí...E sem querer vi a festinha de vocês,e me bateu a curiosidade de saber o que tavam comemorando.-Disse sarcástico.
-Sempre cheio de gracinha...Tu não imagina a vontade que tenho de cortar essa tua língua fora.-Vavá rebateu cruzando os braços.
-Fala aí...Por que estavam batendo no muleque?-Perguntei,decidindo ignorar a ameaça.
-Ele invadiu a nossa área.-Um rapaz gritou em resposta.
Antes que eu pudesse pensar no que dizer para contornar aquela situação,um barulho de assobios e risadas encheu o ar.Olhei para trás e senti um alívio enorme ao ver os rapazes que avançavam pela rua,era uma turma conhecida como a Gangue do Alemão e eram rivais do Vavá por tretas que as duas turmas tiveram no passado.
Aproveitando que Vavá e o resto estavam distraídos,me abaixei e cutuquei o rapaz,pedindo que ele se arrastasse para trás de todos que estavam ali,o que ele fez sem reclamar.Quando ele já tinha tomado uma boa distância,notei que a gangue do Alemão já havia notado nós ali embaixo e antes que o circo pegasse fogo,a passos lentos fui indo em direção ao rapaz.
Como um filme que você despausa,a ação passou a acontecer e o xingamento rolou solto.Ajudei o rapaz se levantar e com uma única palavra saindo da minha boca,o arrastei até o rio.
-Demos sorte da gangue do Alemão aparecer,mais se tentarmos ir por cima,vai sobrar pra nós dois.Então a gente vai ter que passar por debaixo da ponte e sair pelo o outro lado.-Disse nervoso,enquanto entrava no rio que por sorte era raso.
-Não consigo...Tudo dói e a água tá fria!-Ele reclamou choroso.
-Se quiser ficar aqui e servir de diversão pra quem perder essa briga,pode ficar...Mais eu não vou arriscar minha pele de novo.-Rebati em fúria.
O rapaz me encarou com lágrimas nos olhos e ao perceber que eu falava sério,fez um esforço e entrou no rio,soltando um gemido ao sentir a água gelada e fedorenta que nós envolvia.Com o braço nos meus ombros,caminhamos o mais rápido possível para debaixo da ponte e em silêncio fizemos aquele trajeto escuro.O barulho de briga e confusão dava para ser ouvido de longe,quando chegamos ao outro lado.
Apesar de não terem notado a gente,não me senti seguro e fiz o rapaz continuar andando até estarmos longe o suficiente da ponte.Molhado até a cintura,senti o frio me açoitar quando içei meu corpo para a margem,e em seguida ajudei o rapaz a subir também.Olhando em volta,notei casas abandonadas e uma estrada de terra que passava pelo meio delas.Eu não conhecia muito bem a área,mais só desejei não topar com a polícia ou qualquer outra coisa que tivesse o desejo insano de me ferir.
Tentei caminhar rápido,apesar de quase estar carregando aquele rapaz e foi com alívio que cheguei a uma estrada de pavimento.Fiz ele se sentar em uma calçada e com a mão no peito,esperei a minha respiração se normalizar.
-Eu salvei a sua pele...denada e tchau!-Disse por fim.
-Espera aí...Pra onde você vai?-Ele perguntou com dificuldade,me olhando assustado.
-Procurar um lugar seguro pra passar a noite.-Respondi sem vontade.
-Me leva junto!-Ele pediu choroso.
-De jeito nenhum,cara...Apartir daqui eu cuido de mim e você de você,então tchau.-Rebati.
-Mais eu não sei o que fazer...Eu fugi de casa e não tenho pra onde ir.-Ele disse,agora em lágrimas.
-Porra,não acredito que vai chorar...Toma vergonha nessa cara!-Disse sem conseguir acreditar.
-Você queria que eu fizesse o que?...Na minha casa,ninguém gosta de mim e pra não ser um peso tive que ir embora...Eu só queria um lugar pra dormir e aqueles homens chegaram e bateram em mim,agora tô todo molhado e com frio por sua culpa.-Ele disse entre soluços e gemidos,demonstrando uma insuportável fragilidade.
-Tá bom...Desde que pare com esse choro besta...te levo até os meus amigos.-Disse sentindo uma vontade absurda de abandona-lo ali,mais como eu disse antes,ainda tenho uma consciência.
Com muito esforço,ele engoliu o choro e me olhou com o olhar de cachorro faminto,o que quase me fez arrepender de ter salvo a pele dele.Ajudei ele a se levantar e com o braço em meus ombros,o ajudei a caminhar.
-Como você se chama?-Perguntei após algum tempo em silêncio.
-Ariel!-Ele respondeu.
-Aí meu saco...Além de fresco,têm nome de sabão em pó.-Disse sem pensar.
Aquilo foi o suficiente para que ele voltasse a chorar e o resto do caminho foi feito entre gemidos e soluçõs,o que me fez pensar seriamente em nunca mais me meter a herói outra vez.
Continua...
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Olá,Boa noite...
Consegui dar uma boa adiantada neste conto e agora vou adiantar e finalizar o outro.
Pessoal se vocês estão gostando,deixem aqui o seu comentário.
Smile.Smile e GeoMateus obrigado pelos comentários e notas.
Até a próxima.