Nossa convivência se dá desde a nossa mais tenra infância. Brincávamos juntos, estudamos juntos, onde ele estava estava eu. Onde eu estava ele estava. Sempre fomos meio grudadinhos. Frequentávamos desde pequenos, a mesma igreja evangélica. Hoje entendo perfeitamente que somos alma gémea. Não tínhamos o mesmo sangue mas éramos quase irmãos.
Eu Victor, sempre fui muito tímido. Raniel meu brother inseparável, o mais comunicativo. Não chegava a ser o popular, era até meio acanhado também, mas era bem mais atirado do que eu.
Na nossa adolescência, uma vez na escola ele comprou a minha briga. Nunca pensei que ele fosse agressivo, a ponto de quebrar a cara de alguém, mas ele fez isso por mim. Quebrou a cara e alguns dentes do sujeitinho que vivia me enchendo o saco e me fazendo buling. Eu bobinho, não sabia me defender. Um dia na hora do recreio o infeliz me deu um tapa nas orelhas q me fez ficar escutando zumbidos por semanas e logo saiu correndo. Tudo o que consegui fazer foi sentar no chão e abrir a boca pra chorar. Alguns garotos ao verem tamanha covardia vieram logo pra me socorrer. Raniel viu o bolinho que se formou em cima de mim e veio depressa, perguntando afobado o que havia acontecido. Os garotos contaram a ele quem tinha me batido. Raniel saiu dali rapidamente enquanto eu fiquei sentado no chão chorando desolado. Em poucos minutos estava formado outro tumulto. Ele capturou o desgraçado. Deu nele uma rasteira e o infeliz foi parar com a testa no chão de piso acimentado. Raniel montou encima do garoto e encheu a sua cara de soco. Ele estava tão enfurecido que ninguém se atreveu a separar a briga. Só sei que a diretora teve que chamar o guarda que ficava na porta da escola pra tirar Raniel de cima do menino. No fim das contas o resultado: dentes quebrados, boca ensanguentada e os brigões na diretoria e eu comemorando a minha vingança. Esses dias estávamos nos lembrando disso.
Raniel, apesar de não ser lá o padrão de beleza, era um cara bonito e mais do que isso, era um cara muito interessante. Algumas vezes me pegava com certo um ciúme quando o via de papo com alguma mulher, mas quando comecei a perceber que aquelas amizades não passariam daquilo, passei a ficar mais tranquilo.
Raniel tocava violão e guitarra na igreja além de cantar muito bem. Ele tinha uma voz encantadora. Cantamos no grupo infantil quando éramos crianças, depois fizemos parte do grupo musical de juniores, grupo de jovens e estávamos sempre juntos. Meu pai também era músico da igreja e o ensinou ainda quando pequeno, a arranhar os primeiros acordes de violão. Ele um apaixonado pela música, aprendia rapidamente. Me lembro que ele ia lá pra casa pra agente brincar. Era só ver o meu pai que ele largava tudo e iam os dois pra varanda onde ficavam lá a tarde inteira, mestre e aluno tocando até dar calos nos dedos. Eu ficava perturbando a fim de que ele largasse o violão e viesse jogar bola ou soltar pipa comigo, mas a música sempre ganhava e eu acabava tendo que ceder. Ou ficava lá cantando com eles ou ia brincar sozinho. O aperfeiçoamento veio posteriormente com as aulas de teoria musical que ele fez em conceituadas escolas de música.
Na medida que íamos crescendo, nossa amizade se amadurecia e se consolidava. Tínhamos muito assunto em comum. Da nossa igreja eu confesso que apesar das outras amizades, Raniel era a única pessoa com quem eu tinha prazer em estar. Passávamos horas em nossos quartos conversando. Ele frequentava a minha casa com a mesma intensidade com que eu frequentava a sua. Tínhamos o hábito de sair pra andar a toa sem rumo só pra conversar. Íamos a sorverteria juntos, quando ele ia resolver alguma coisa no centro, me chamava pra ir junto.
As vezes falávamos das meninas da igreja, das garotas do nosso bairro mas Raniel nunca se abriu comigo sobre alguma paixão ou envolvimento mais profundo com nenhuma delas. Na igreja também havia várias garotas que se derretiam por ele, porém o tratamento dele para com elas era o de um amigo engraçado e gente boa. O maior envolvimento dele era mesmo com a musica em primeiro lugar, com o seu trabalho e com a nossa amizade que era muito forte e sincera.
As vezes eu me pegava pensando em Raniel de um jeito diferente. Ficava tentando entender por que a simples presença dele me fazia tão bem. Tudo bem que a gente era amigo, mas por acaso, podia ser normal esse sentimento entre dois amigos que se vêem todo dia e que estão acostumados a conviver desde garotos? É normal um amigo suspirar baixinho pelo outro e contar as horas pra ele chegar logo do trabalho, e nem passar em casa pra deixar suas coisas, tomar um banho mas já vir logo direto pra ficar até sabe Deus que horas conversando? E quando ele vai embora pra sua casa que nem é longe, é normal essa sensação de vazio e saudade?
Eu hoje posso confessar que sempre tive uma admiração especial por Raniel que parecia transcender a nossa amizade. Isso ficou mais intenso quando ficamos adolescentes. As mudanças no seu corpo, a mudança na voz as vezes grossa outras vezes fina, o aparecimento de pelos nas suas pernas compridas, o bigodinho dele apontando eram coisas que me instigavam. Eu via essas mesmas caracteristicas nos outros garotos, pois são típicos de um adolescente em pleno desenvolvimento mas nele era diferente, mais chamativo. Ele cresceu e quando eu estava na puberdade, fazendo 14 anos ele ja tinha seus 16. Nossos rostos cheio de espinhas, eu sentia meus mamilos doloridos e um dia reclamei com ele e ele na maior sacanagem apertou-os bem fortes.
- Tá nascendo peitinho?
Soltei um grito de tanto que doeu. Tive vontade de dar um soco na cara dele e aquilo virou a sua zoação preferida. Era só ele me ver que já vinha logo agarrando os meus peitos só pra me atazanar. Eu me contorcia, me abaixava tentando proteger meus sensíveis e frágeis peitinhos mas ele me agarrava, me fazia cócegas até eu ceder. Só que eu não me dava por vencido e logo revidadava dando lhe soquinhos na barriga.
-Relaxa, Vitinho! Você está virando homem! - Ele falava, como se entendesse tão bem dessa fase da vida.
Um dia, numa dessas inocentes brincadeiras, ao entrar no meu quarto pela manhã e me pegar de surpresa pelos peitos, como ele gostava de brincar, ao invés de puxar e apertar, ele começou a massagear meus mamilos. Dessa vez eu não revidei. Pelo contrário, relaxei e deixei que ele tateasse. Eu estava com um short de um tecido mole. Foi impossível esconder a minha reação. Ai que tesão aquilo estava me dando. É de praxe adolescente escorrer tesão pelos poros. Naquele sábado, nós dois havíamos acordado num tesão incontrolável. Sua mão atrevida desceu e abaixou meu short. Meu pintinho durinho saltou babando. Ele pegou a minha mão e carinhosamente a colocou dentro da sua calça de moleton. Pude sentir a grossa espessura do seu calibre. Raniel só tinha 16 anos mas já era bem dotado. Ali naquele quarto tocamos a melhor punheta das nossas vidas. Urramos, sussuramos coisas desconexas, foram minutos de uma loucura indescritível. Dois adolescentes apenas descarregando as tensões de seus corpos tão jovens. Gozamos fartamente. Não tinha noção de que de dentro de um homem jorrava tanto leite daquele jeito.
O tempo passou. Apesar de ter sido muito bom, não voltamos a fazer aquilo de novo. De vez em quando a gente se pegava falando sobre. A gente ria da situação, mas ficava mesmo só na recordação. Não interferiu de maneira alguma na nossa amizade. Afinal não passou de um mero momento de tensão. Nada demais além de algo simplesmente comum entre os jovens. Porém confesso que particularmente, em algumas das minhas punhetas rotineiras, aquela manhã costumava me voltar na mente. Mas era algo só do meu pertencimento. E assim nossa vida seguia normal como sempre. Muitas vezes eu consegui perceber um vazio no olhar do Raniel. Um resquício de tristeza mesmo. Essa percepção era possível ao observa-lo de longe, em algum momento em que ele se encontrasse sozinho, distraído. Momentos esses que eram raros aos olhares das demais pessoas. Penso que quase ninguém percebia isso. Eu como o amigo mais proximo, tinha essa observação privilegiada. Estavam todos acostumados com o Raniel alto astral. E era assim que ele se mostrava na maior parte do tempo. Um cara pra cima, falante, sempre com o violão no braço acompanhando alguém numa música. Quantas vezes no término dos cultos, ficávamos nós o grupinho mais animado da igreja, cantando enquanto ele esbanjava seus dotes de bom violonista rasgando os dedos nas cordas, tocando pra agente. Logo ia ficando tarde e iam todos embora pra suas casas e ficava Raniel e eu no portão e tinha assunto pra décadas.
Eu também tinha lá meus muitos momentos de baixo astral e crises existenciais. Nessas horas era só ir correndo me abrigar na companhia agradável do Raniel. Seu jeito musical e alegre que me fazia esquecer das chateações da vida. Ele era o meu equilíbrio mesmo sem ter noção disso.
Eu era capaz fazer da sua alegria a minha.
Em uma determina época ele teve a oportunidade de ser contratado por uma grande igreja para tocar nos seus eventos. Ganharia uma boa grana. Para ele era uma realização importante. Ser pago fazer o que gostava, poder viajar, conhecer outras cidades, tocar com outros músicos. Nessa ocasião, os eventos e cultos dessa igreja estavam bombando. Em algumas de suas viagens ele dava um jeito e me levava junto. Outras vezes que eu não podia ir, eu não me aguentava de saudades do meu amigo. Às vezes quando ele se estendia nas viagens, eu ficava aflito e ansioso pra que ele voltasse logo e tinha até pesadelos a noite. Quando a temporada de shows e excursões dava uma trégua, curtíamos ao máximo juntos, nossos momentos alegres de plena amizade.
Raniel se tornou um excelente professor de música e além dos shows, complementava sua renda ministrando aulas de violão para crianças, adolescentes e para outras faixas idade.
Foi um tempo em que ele experimentou um sucesso financeiro. Tirou sua habilitação, adquiriu carro e tudo estava favorável.
Com o passar do tempo, Raniel começou se entender com Liz, uma moça de uma outra igreja Batista. Tudo começou quando a banda da nossa igreja foi convidada para tocar lá. Liz era vocalista do conjunto musical daquela igreja. Parece que rolou algo além da química musical. Percebi que aos poucos , uma distância entre nós começou se formar. A razão do meu desconforto não era pelo fato de vê-lo namorando e sim porque ele estava mudando. Queria que ele sentisse feliz. Daria maior apoio. Gostaria muito que ele compartilhasse aquele momento comigo que era seu amigo inseparável. Mas Raniel já não era mais o mesmo e se ele não sentia vontade compartilhar seu namoro comigo, eu não podia obrigá-lo. Nossos encontros, começaram a diminuir. As conversas agora, aconteciam com frequências regulares. Não eram mais intensas como antes e pouco a pouco foram se reduzindo a um simples olá, um aceno e nada mais do que isso.
Bastante chateado com aquilo tudo, eu o chamei para uma conversa para esclarecemos sobre o que estava acontecendo. Ele deu a desculpa que estava trabalhando muito, pois pretendia se casar em breve e que quase não tinha mais tempo pra quase nada. Questionei, rebatí seus argumentos e disse pra ele que quando há uma amizade sincera, sempre se arruma um tempo, e nada é pretexto quando quer se estar junto de quem se gosta. Ele disse pra eu ficar tranquilo e tirar aquilo da cabeça e me assegurou que eu ainda era o seu maninho do coração. No fundo, eu sentia que havia alguma coisa que não se encaixava direito naquela história, porém suas palavras me deixaram um pouco aliviado e seguro. Contudo seu distanciamento me incomodava. Me dava uma tristeza nos finais de tarde, um nó na garganta. Sentia falta da companhia do Raniel, das nossas conversas, das nossas risadas, dos momentos que a gente ficava cantando enquanto ele tocava violão. As vezes me pegava com raiva da Liz. Quando via ela sair de braços dados com Raniel depois dos cultos de sábado e domingo, me sentia jogado, abandonado. Mas fazer o quê, se era aquele o rumo que as nossas vidas estavam tomando naquele momento?
O tempo passou e decidi seguir meu caminho. Tinha que pensar em fazer alguma coisa diferente, voltar a estudar, conhecer novos amigos e foi o que eu resolvi fazer.
O casamento de Raniel e Liz já era algo que se falava bastante. Já tinha ocasião prevista. Eu comecei a estudar a noite e por isso não ia mais a igreja durante a semana mas ficava sabendo dos comentários. Eu arrumei um novo amigo muito bacana, o Tales, carinhosamente conhecido por Taleco. Eu estava me dando muito bem com ele. Tinhamos muita coisa em comum. Agente conversava muito, como se pode ver que não é novidade que eu adoro conversar. Éramos da mesma turma do cursinho e coincidentemente ele morava no mesmo bairro. O Taleco, era um cara engraçado e fazia piada com tudo. Um dia voltando pra casa, debaixo de uma chuva que não parava de cair, ele abriu seu guarda - chuva e me deu carona. Tinhamos uma liberdade tão bacana que colocávamos o braço em torno do ombro um do outro. Vínhamos abraçados abrigados dentro do guarda chuva caminhando pela calçada conversando. De repente passou um carro em alta velocidade se aproximou de nós, passando bem sobre uma poça de água ali próxima e nos deu aquele banho, além de um grande susto.
- Seu filho puta! - Taleco já foi gritando perdendo o bom humor. Não deu pra ver a cara do motorista porque foi muito rápido e ele saiu acelerando e cantando pneu. Eu pedi para o Taleco ficar calmo. Alguns segundos depois, já estávamos rindo daquilo e torcendo nossas roupas molhadas. Eu estava adorando aquela amizade. O bom humor do meu novo amigo me deixava leve, pra cima. Apesar de tudo, sentia muita falta do Raniel. As vezes quando estava sozinho em casa, me pegava pensando nele, lembrando de momentos tão bons que vivemos. Sua indiferença estava me deixando um tanto magoado. Agora só porque estava de namoro, não servia mais a velha amizade.
Por outro lado para Raniel tudo ia aparentemente bem. Ele demonstrava uma felicidade, uma satisfação. Um dia a noite eu estava no quarto estudando e meu celular vibrou. Alguma mensagem acabara de chegar. Ignorei naquele instante e continuei concentrado. Ia ler depois. Terminei, e peguei o bendito celular pra vizualizar e quando abri, tava lá a mensagem:
" Tô largando tudo e indo embora. Vc não vai mais me ver. Tô mal, não estou feliz como todo mundo pensa mas ninguém percebe, nem mesmo vc que diz ser o meu melhor amigo. Vc não liga mais pra mim. Tô de saco cheio desse bairro, dessa igreja, dessa gente mesquinha. Tô cansado da minha familia. Desculpe, se fiquei estranho. Vou sumir do mapa. Fique bem com seu novo amigo e desculpa qualquer coisa."
Fiquei apreensivo. O que estava pegando com o Raniel afinal? Queria muito sentar com ele pra conversar e saber o que estava acontecendo mas tinha lá minhas dúvidas se ele também queria isso.
Enfim, criei coragem e fui procurá-lo pra conversar. A conversa foi reveladora e bastante assustadora.
-Tô indo embora Victor. Cansei de tudo. Mas antes tenho que te falar algo que vai te deixar bastante chocado.
_ O que você tem de tão chocante pra me falar Raniel?
- Olha Victor eu amo você, mas você nem faz o menor caso disso.
- Quê isso Raniel! Eu também adoro você e não tenho duvidas que você me ama. Tudo bem que agora você começou a namorar a Liz e agora tem que ficar mais tempo com ela, mas eu entendo e aceito na medida do possível. Afinal, o que tem de chocante nisso?
- Você não entendeu Victor - ele levantou a cabeça de e meteu seu olhar bem dentro do meu:
- Eu amo você, Victor! Eu não amo a Liz. Nunca amei. Gosto dela mas não chega ser amor. Sempre gostei de você, mais que amigo, tu nunca percebeu? Você é o único cara que me interessa nesse mundo além de amigo, como homem, como namorado, pronto, falei! - um segundo de silêncio. Agora, a minha ficha
tinha caído. Entrei em parafuso ao ouvir tal declaração.
- Francamente Raniel, não estou te entendendo.
- É isso mesmo que você ouviu, Victor. Agora pense como eu ia falar isso pra você? Você jamais iria acreditar. Você não ia aceitar e vir com aquele papo de. que não dá porque a gente é amigo e blá, blá, blá. ..e ia pensar que eu tava ficando louco, como está pensando agora. E eu estou enlouquecendo mesmo Victor. Não suporto mais essa pressão dos meus pais, do pessoal da igreja, enfim...
- Mas você já está de casamento marcado e agora que você vem me falar isso, criatura?!
_Não, não vou mais me casar. Terminei com a Liz. - levei mais um susto.
-Decidi acabar com esse namoro, tomei coragem pra falar que te amo e depois vou embora desse lugar. Sempre amei você como homem mas não se preocupe, Victor. Eu sei que um relacionamento entre nós é algo impossível. Já que vou embora mesmo, só queria que você soubesse.
Eu estava sem reação, sem saber o que falar. Ainda tinha mais:
- E mais Victor, eu não suporto ver você e esse seu amiguinho juntos no maior love. Lembra aquele banho de poça d'água que vocês dois tomaram no dia daquela chuva? fui eu quem dei.
-Seu cachorro!!! Eu não acredito que aquele cara estúpido naquele carro era você, Raniel. Sério mesmo que você teve coragem de fazer isso só por causa de um ciuminho besta do meu amigo? Ah, ah Raniel por favor né?
- Amigo? Coisa nenhuma. Vocês estavam agarradinhos e quer que eu engula essa que vocês são só amigos?
Depois daquela conversa sem pé nem cabeça, fiquei encucado, sem conseguir acreditar. Que revelação foi aquela? No primeiro momento fiquei em choque, mas depois tudo foi se normalizando e comecei a achar a situação interessante. Meu Deus! Raniel era apaixonado por mim esse tempo todo e como é que eu tonto nem percebi? É fato que a gente tinha um carinho especial um pelo outro, uma admiração e às vezes, confesso que me surpreendia suspirando por ele, mas nunca imaginei que poderia haver sentimento de paixão da parte dele.
Raniel já tinha decidido mesmo a ir embora e largar pra trás os acontecimentos que estavam o angustiando. Eu também não estava feliz sabendo que ele estava indo embora, sabe Deus pra onde e nem sabia se ele voltaria.
Só consegui pensar que a vida dele, fosse pra onde que quer que ele estava indo, só iria se tornar mais triste. Ir embora não era a solução daquele problema.
Raniel enfrentava uma situação embaraçosa com sua familia. Em sua casa as cobranças eram constantes, como era também na minha casa, porém eu decidi ignorar e a convicção que eu tenho daquilo que eu sou, sempre vencia aqueles papos chatos. Raniel já tinha idade e nem cogitava namoro. Casamento então, era algo que àquela altura nem estava nos seus planos. Queria curtir a vida, aproveitar as ooportunidades, se dedicar à música na igreja, o ele amava fazer. Seus pais, até compreendiam isso. Tudo bem que não carecia correr pra casar, mas ao menos uma namorada, não lhe faria mau nenhum. Eles achavam que uma namorada era essencial na sua vida e acabaria de vez com as conversas atravessadas das pessoas sobre o fato de agente ser tão amigo a ponto de ficar grudado o tempo todo. A nossa amizade incomodava aquelas pessoas infelizes que não tinham o que fazer não ser tomar conta da vida alheia. Por isso as cobranças e insinuações na igreja também não davam trégua. Foi então, por causa dessa pressão toda que ele decidiu engatar o namoro com a Liz.
Antes que fosse tarde, resolvi procurá- lo e tentar a convencê-lo a ficar.
-Raniel, eu tô te pedindo, por favor, não se vá. Fique!
-Olha Victor, já estou decidido. Estou arrumando as minhas coisas e vou a princípio pra casa dos meus avós paternos, no interior. Depois vou ver com um chegado meu que também é músico e tá se ajeitando em Sampa, se posso ir pra lá.
- Raniel, eu ainda tô surpreso com tudo o que você me falou, mas eu só te peço um tempo pra digerir tudo isso. Eu estou disposto enfrentar a tudo e a todos do seu lado. Eu namoro com você. Eu me caso com você. Por favor, fique! - eu o pedi com um olhar firme, sincero e suplicante.
Continua...