O Hétero proibido. Essa história já passou por aqui. XI (último episódio parte final).

Um conto erótico de Berg
Categoria: Homossexual
Contém 6344 palavras
Data: 16/05/2017 14:37:50
Última revisão: 16/05/2017 16:23:21

O Fernando estacionou o carro em um local que eu jamais fora antes. Desci do veículo, e fui logo questionando que lugar era aquele.

- você não queria trazer teus amigos para jogar tênis? Então? Aqui estamos.

- e cade eles? - perguntei surpreso.

- estão la dentro nos aguardando.

- tu ta falando sério Fernando?

- sim Gabriel. Você acha que eu só quero te explorar sexualmente, mas eu já te dei prova suficiente que eu quero muito mais que isso. Eu gosto de você de verdade. Pena você não querer ver.

Olhei para o Fernando sem nada falar. Queria acreditar em suas palavras, mas eu era muito inseguro.

Entramos no clube, e logo avistamos Julio Cesar e o Juliano. O primeiro veio logo a meu encontro.

- grande Gabriel. - disse ele me cumprimentando.

- e aí Julio, como tu ta cara?

- bem melhor. Comecei a dieta que o médico passou, e já não sinto mais tantas dores.

- que bom cara. o Fernando tu já conheceu né!?

- já sim. Tive o prazer de conhece-lo. Tudo bem Fernando?

- tudo ótimo. - Fernando o cumprimentou.

Caminhamos ao encontro do Juliano, que já estava com uma raquete em mãos.

- Boa tarde, Juliano. - falei.

- boa tarde, Gabriel. - respondeu ele.

- beleza?

- tranquilo.

- bora lá? Temos duas horas pra jogar. - disse Fernando.

- opa. Agora. - disse Julio Cesar.

- onde eu pego essas raquetes Fernando? - perguntei.

- na recepção, mas pode ir indo pra quadra, que eu pego pra gente.

- e onde é a quadra?

- o Julio sabe. - disse ele já correndo pra apanhar as raquetes.

- ah, beleza!

Julio Cesar, Juliano, e eu, chegamos à quadra, e ficamos esperando pelo Fernando. Assim que Fernando chegou, formamos duplas. Fernando e eu, contra o Julio e Juliano.

Fernando mandava bem. Tinha técnica e força. Já, eu tava meio perdido em quadra. Os fundamentos do futebol não me ajudavam muito no tênis.

Fernando corria quase a quadra toda. Julio César também jogava muito, Juliano, idem.

- Vamos fazer uma pausa pra tomar uma água? - disse Fernando

- te dei canseira né!? - falei.

Fernando sorriu.

- um pouco. - disse ele entornando uma garrafinha de água.

- Vamos descansar um pouco? Ou então jogar individualmente pra ter cerca? - Julio Cesar falava com a voz ofegante.

- por mim pode ser. Ta tudo bem contigo? - Peguntei.

- um pouco cansado. - disse ele.

- descansa um pouco Julio. - disse Fernando - eu to de boa. Quem vai comigo?

- Vai lá Juliano? Eu faço cerca. - falei.

- beleza.

Juliano tomou da água, e voltou pra quadra com o Fernando. Os dois mandavam bem, e o jogo pareceu mais emocionante.

Julio, e eu sentamos um pouco mais longe, e ficamos assistindo ao jogo.

- tem certeza que ta bem Julio? Não quer ir pra casa, ou então ao médico?

- to bem sim Gabriel. Foi só uma arritmia, mas já está passando.

Julio parecia tonto.

- sei não hen. Tu ta pálido. - falei.

- fiz muito esforço. Mas agora eu vou voltar ao normal.

- acho melhor tu da uma segurada, e voltar a jogar só se realmente estiver melhor.

- vou fazer isso. E você e o Fernando, como tão?

Sorri sem graça.

- eu nem sei como estamos. - falei olhando para o desempenho do Fernando. - as vezes acho que temos algo sério, as vezes acho que ele só ta me usando.

- ele parece ser um cara legal. - disse Julio.

- ele é legal mesmo, mas acho que falta algo.

- o que falta?

- eu não tenho certeza se ele é gay. Meu sonho sempre foi ficar com esse cara, e agora não tenho certeza se isso me completa.

- ainda não entendi Gabriel.

- se eu ti fizer uma pergunta, você me responde com sinceridade?

- claro.

- eu tenho ate vergonha de te perguntar isso.

Julio sorriu.

- pode perguntar.

Respirei fundo e coloquei a vergonha de lado.

- você teria coragem de ficar com um cara?

Julio engasgou.

- to dando em cima de tu não. - Corrigi-me antes que Julio entendesse aquela pergunta como uma cantada. - o que eu quero saber é se você teria coragem de ficar com outro cara. Tipo, na hora do tesão...

Fiquei envergonhado e Julio percebeu.

- você fala de sexo? Quer saber se eu teria coragem de comer ou dar pra outro cara? - perguntou.

- isso.

Julio não pensou muito.

- Rapaz, Gabriel, difícil falar cara. É uma situação delicada, mas se eu sentisse atração, acho que teria coragem sim.

- mas independente de sentimento?

- agora você me apertou. Não entendi. - ele sorriu.

- eu to me enrolando cara, não to sabendo me expressar. O que eu quero saber é se é possível um homem fazer sexo com outro homem sem rolar sentimento, sem se apaixonar, e sem deixar de ser hétero.

- você tem dúvida se o Fernando te ama? É isso? Tem dúvida se ele deixou de gostar de mulher e passou a gostar somente de tu?

- é Julio. É isso. Acho que a gente fica e se curte, mas no fundo ele gosta mesmo é de mulher. Tenho medo de uma hora ele perder a vontade, e eu ficar sofrendo.

- que complicação Gabriel. Essa questão eu acho que você nunca vai ter certeza.

- mas você não acha que se ele me amasse eu sentiria?

- e você não sente que ele te ama?

- não Julio. Sinceramente eu não sinto. Acho que o fato de eu só ter conhecido esse lado hétero dele é o que me faz ter mais dúvidas se ele gosta de mim ou não.

- mas ele diz que te ama? Ele demonstra que te ama?

- sim.

- vou te dar um conselho. Não pensa nisso. Não fica esperando receber amor verdadeiro em troca do amor que tu tem por ele. Curte os momentos que tu tem ao lado do Fernando, e se entrega cara. Se um dia você descobrir que o amor de vocês não é recíproco, você toma outro rumo pra tua vida.

Eu ouvia o conselho do Julio atentamente.

- Mas enquanto isso não acontece, vai curtindo. Não perde a oportunidade de ta com quem você gosta por causa de ''achismo''. As vezes pensamos muito e vivemos pouco.

Enquanto Julio Cesar me dizia aquelas coisas, eu olhava para o Fernando. Como era lindo vê-lo sorrindo. O suor molhava sua camisa, e a deixava grudada em seu corpo.

- sabe de uma coisa Julio?

- o que?

- você tem razão. Você tem razão cara. - sorri. - eu vou parar de pensar tanto, e vou começar a viver. to ficando velho já, e não tenho mais muito tempo a perder.

Julio olhou pra minha cara de bobo e também sorriu.

Aquela tarde além de agradável foi proveitosa.

- quando marcaremos novamente? - perguntou Fernando.

- por mim, pode ser todo dia. - disse Julio sorrindo.

- como assim todo dia irmão? Tu não aguentou jogar quase nada. - alfinetou Juliano.

- ainda aguento muito mais que você. - Juliano sorriu.

- bom, semana que vem eu não vou ta aqui na cidade, mas daqui lá, a hora que vocês quiserem vir, é só combinar que eu vou estar a disposição. - Fernando foi gentil.

- muito obrigado Fernando. Foi uma satisfação. - disse Julio Cesar cumprimentando o meu hétero.

- digo o mesmo, guerreiro. Desejo melhoras pra você.

- obrigado. Tudo de bom a você também.

Enquanto Juliano se despedia do Fernando, Julio Cesar reforçou o conselho que havia me dado ainda na quadra.

- pensa no que te falei, e perde esse medo de errar. Você é um moleque novo, e vai ver que até os erros servem de aprendizado.

Julio Cesar puxava muito o ar pra poder conversar. Via-se que ele não estava bem.

- Obrigado cara. Eu vou fazer isso sim. Precisando de qualquer coisa, é só me da um '' ligão ''.

- ligo sim, com certeza.

Despedi-me dos irmãos e retornei para o apartamento do Fernando. Comecei a ver o Fernando com outros olhos. Afinal, a vida é tão curta para ficarmos tentando prever o nosso futuro. Naquela noite, enquanto meu hétero dormia, resolvi preparar algo para jantar e deixar em uma bandeja ao lado da cama. Talvez aquilo fosse muito clichê, mas eu havia literalmente ligado o foda-se.

Antes que Fernando acordasse, eu resolvi ir ate o apartamento dos meus pais ter uma conversa com minha mãe.

Já no prédio, ao sair do elevador, o primeiro rosto que vi foi o do Alexandre.

- e aí meu amigo. - disse o arquiteto me cumprimentando.

- e aí Alê, como você ta?

- comigo tudo bem, e você?

- tranquilo, graças a Deus. E essas malas? - perguntei curioso.

- to indo pra São Paulo.

- caralho meu amigo. Longe assim? Trabalho ou férias?

- um pouco de cada coisa. - sorriu. - Vou dar aula em uma faculdade de Sorocaba, e aproveitar para rever uns parentes.

- mas você volta?

- vai depender do meu tempo. Eu queria um favor seu.

- pode pedir Alê.

- caso eu não retorne pra cidade, você pode entrar em contato com uma transportadora pra fazer minha mudança?

- posso sim. Mas então é quase certeza não nos vermos mais? - perguntei.

- quem sabe um dia? Seremos amigos de profissão né!? - ele sorriu.

- pois é.

- um dia iremos trabalhar juntos Gabriel.

- vai ser um prazer cara. Irei sugar ate tua alma.

Alexandre sorriu.

- te desejo tudo de bom Alê.

- o mesmo pra você Gabriel. Toda sorte e sucesso do mundo garoto.

Alexandre deixou as malas caírem no chão, e me deu um abraço.

- se cuida, e até um dia desses.

- tchau Alê. - falei me despedindo.

Vi Alê entrar no elevador, e este ser fechado lentamente. O cara piscou pra mim antes de sua feição desaparecer.

Entrei no apartamento, agora, dos meus pais, e os dois estavam jantando.

- boa noite família. - falei entrando na cozinha.

- seu irresponsável - disse minha mãe me abraçando.

- sua benção mãe. - falei ainda nos braços dela.

- Deus te abençoe. - disse ela me dando um beijo.

- bença pai.

- Deus o abençoe. - respondeu ele.

- que historia é essa de sair de casa? - perguntou minha mãe.

- é por um tempo mãe. Quero fazer uma tentativa.

- de jeito nenhum. Pode voltar pra casa. Pegue o carro do seu pai, e vá buscar suas roupas.

- mãe, sem drama. - falei sentando à mesa, e pegando uma porção de batatas.

- tô falando sério Gabriel, você ainda é uma criança.

Sorri.

- criança aonde mãe? Já faço faculdade, tenho o meu trabalho, sou independente.

- agora ta cuspindo no prato que comeu né!?

- sou muito grato por tudo mãe. Mas agora eu ganhei asas e quero voar. - falei tirando onda.

- to vendo. Ta colocando as asinhas de fora.

Meu pai riu; eu, idem.

- agora falando sério mãe. Eu vou ta sempre por perto, mas eu quero tentar andar por conta própria.

- por que isso Gabriel? Tu é tão novo meu filho...

- deixa o menino. Não ver que isso só vai ajuda-lo a crescer mais rápido. Se não der certo ele volta. Não volta Gabriel?

Olhei pro meu pai, e foi difícil, mas segurei o choro. Ele me amava mesmo, e estava me dando carta branca, caso eu precisasse voltar.

- volto sim pai. Esse aqui vai ser sempre o meu primeiro lar.

- não vai meu filho. - insistiu minha mãe.

- é só uma tentativa mãe, e eu vou ta sempre por aqui.

- tem certeza?

- absoluta.

Agora deixa eu ir la no meu quarto pegar um carregador.

- primeiro jante.

- já comi mãe. - falei levantando.

fui ao quarto e me despedi do meu cantinho do pensamento. Se eu tava feliz, comemorava no quarto. Se estava com problemas, pensava no quarto. Se estava nervoso, me acalmava naquele quarto. Deitei na cama, passei a mão no, macio, lençol, e senti o perfume suave.

Olhei pela janela e vi a praça em que por tanto tempo fui feliz. Senti a garganta travar, e engoli o choro que teimava em querer sair.

Despedi-me dos meus pais, e antes que começasse a chorar feito um bezerro, fui embora, prometendo voltar todos os dias.

cheguei ao apartamento, e Fernando ainda dormia. Sentei na beira da cama, e massageei seu cabelo. O cara foi despertando aos poucos.

- oi. - falei com a voz suave.

Fernando espreguiçou-se antes de respondeu.

- oi amor.

- amor? - perguntei confuso.

- algum problema? - ele sentou na cama.

- não. - sorri. - nenhum! Ta com fome?

- faminto. - disse ele.

Apontei para o criado mudo.

- uau! - exclamou ele. - Tudo isso é pra mim?

- é sim. Eu que fiz, ver o que tu acha.

Fernando se esticou e encostou suas costas na cabeceira da cama. Ele fez um enorme suspense, antes de provar da minha comida.

- nossa! Muito bom Gabriel. - disse ele.

- sério?

- sim. Prova. - disse ele colocando uma porção em minha boca.

- caralho. Modéstia a parte, está bom mesmo.

- você ta no ponto de casar.

Sorri.

- você precisa vir morar comigo Gabriel. - ele me lembrou que iria embora pra Floripa.

- eu vou pensar Fernando.

- eu não quero te pressionar, mas o tempo ta passando rápido demais.

- eu vou pensar com carinho cara.

- promete?

- prometo.

Fernando passou as mãos em meus lábios, e me deu um beijo com sabor de bife acebolado.

Era sábado à noite. Dia da festa de arquitetura. Fernando havia ido pra missão, e eu já estava morrendo de saudades. A festa seria bom para se distrair, e curtir com os amigos.

As 21 horas em ponto, o Danilo passou no apartamento do Fernando.

****

- to aqui na frente - disse meu primo ao celular.

- To descendo. - respondi.

- beleza.

****

Peguei o elevador, e sem muita demora cheguei ao carro do Danilo.

- E aí primo. - disse ele me cumprimentando.

- fala primão. E esse chapéu de cowboy?

- não te falei né!?

- o que?

- vou tocar na festa essa noite. Os veteranos do teu curso me convidaram.

- teu sucesso ta se estendendo né!?

- Danilinho safadão. - disse ele sorrindo.

- O Kadu ta me ligando. - falei, olhando para o visor do celular.

- o que aquele mala quer?

- acho que já deve ta la pelo resort.

****

- fala Kadu.

- ta onde Gabo?

- passando pela Catedral agora.

- ta com o Danilo?

- to sim.

- tem como vocês me apanharem aqui? Pneu do meu carro ta furado.

- tem sim cara. Ta no teu apartamento?

- tô.

- beleza. Chegamos aí daqui a pouco.

- vou ficar na espera.

- falou.

*****

- hen primo, ele ta com o pneu do carro furado. Tem como a gente passar lá pra pegar ele?

- na hora. - respondeu meu primo.

Apanhamos o Kadu, e partimos para o resort. Quando chegamos, o Lucas estava estacionando o carro dele. Dei uma arrumada no cabelo, desamassei a camisa três quartos, e desci do carro.

- hey arrombado. - falei.

- fala sua frouxa. - respondeu o Lucas.

- o que é isso aqui? - falei apontando para os lábios do Lucas.

- o que? - Lucas passou as mãos nos lábios.

- acho que é gala seca. - respondi.

Kadu riu.

- vá tomar no seu cu. - disse Lucas.

- vá você vá.

Danilo tirou alguns instrumentos do carro, e entramos na festa.

- não sabia que seria festa temática. - disse o Kadu.

- também não sabia. - falei olhando para a decoração sombria da festa.

- Halloween fora de época? - perguntou o Lucas.

- parece que sim. - respondeu Danilo com sua viola em mãos.

A faculdade estava toda ali. Tinha mais gente que na festa dada pelo Kadu meses antes. Pegamos uma mesa um pouco mais afastada, e ficamos curtindo o som.

- que horas tu vai tocar primo? - perguntei.

- uia! Vai ter música ao vivo é? - perguntou Lucas.

- melhor atração da noite vai ficar por minha conta. - riu Danilo. - Vou subir no palco a meia noite primo. - disse ele.

- cãozinho dos teclados. - Disse Lucas sorrindo.

Kadu, que havia saído para pegar bebidas, vinha chegando com um balde de cerveja.

- olha só. O curso de vocês ta se bamburrando de tanta grana. - disse ele nos entregando uns copos personalizados.

- eu sei o que vocês fizeram no verão passado? - li a mensagem que estava no copo.

- ah é? Então será que eles sabem que eu passei o verão comendo buceta? - lucas sorriu.

- já ta melhorzinho né!? - Perguntou Danilo.- cuidado com os motoqueiros fantasmas. - Meu primo falou gargalhando.

- vai se lascar Danilão. Se aqueles manés aparecem outra vez, eu tenho um presentinho pra eles, lá dentro do carro.

- uma arma de pressão? - Danilo riu.

- vai tirando onda, vai tirando. Só não venha me pedir ajudar quando os caras começarem a te perseguir.

- ui, ui, ui... Que medinho.

Todos riam.

- e o Beto, e o Victor, alguém tem noticia? - perguntou Kadu.

- O Victor me mandou uma mensagem dizendo que já está chegando. O Beto, eu acho que ta sem net. Mandei uma mensagem, e não chegou pra ele ainda. - respondi.

- o Beto ta vindo ali. - apontou, Lucas.

Olhamos para trás, e vimos Beto acompanhado de um garota.

- ishi. Ta cachorrão. Com colerinha e tudo. - falou Kadu.

Nós rimos. Beto nos cumprimentou sem imaginar que ríamos pelo fato dele estar namorando ou ficando, talvez.

- e aí, qual a boa? - disse ele puxando uma cadeira, e sentando ao nosso lado.

- isso, nós que queremos saber. - falei.

Danilo riu.

- devo saber de alguma coisa? - perguntou Beto intrigado.

A moça passava as mãos por seu rosto.

- não vai apresentar a guria? - disse Danilo.

- podem tirar esses olhos gordos de cima da Michele. - disse Beto.

- prazer Michele, meu nome é Gabriel.

- prazer Gabriel. - respondeu a moça.

- prazer Michele. - disse Kadu.

- vamos parar com tanto prazer. - disse Beto,

Michele sorriu.

- vou ao banheiro. - falei me levantando.

Enquanto caminhava pelo salão, uma imagem me chamou atenção. A moça, que havia espalhado ter visto a Loura do banheiro, estava se agarrando com um veterano de arquitetura.

- o trauma já passou. - pensei.

Antes de chegar ao banheiro, fui abordado por Victor.

- e aí mano. Eu chego e tu vai? - disse me cumprimentando.

- não, não. To indo tirar água no joelho. Nós chegamos indagorinha pô.

- e cade o povo?

- ta numa mesa la perto do palco.

- vou chegar lá.

- mas primeiro, tu vai me tirar uma dúvida.

- que dúvida mano?

- você perguntou se eu confiava no Fernando. Lembra? Tu sabe de alguma coisa que eu não sei?

- não. Não sei de nada. - ele respondeu sem rodeios.

- então porque me fez aquela pergunta?

- porque é o que eu eu penso. Não coloco fé nesse lance de vocês dois.

- mas então tu tem que ter um motivo, ou saber de algo que eu não sei.

- sei a mesma coisa que você sabe. Como pode um cara que viveu a vida toda com mulher, agora ta de casinho com homem? Não acha isso estranho mano?

- também já pensei nisso, mas por qual motivo ele estaria comigo? O teu irmão me chamou pra ir morar com ele em Floripa. Isso não é gostar de mim?

- o que? Você ta de brincadeira.

- falo sério.

- e você vai?

- ainda não sei.

- cuidado pra não fazer besteira Gabriel.

- já pensei nisso mano. Independente de eu ir ou ficar, estarei fazendo besteira. Se eu ficar, jamais vou saber se daria certo. Se eu for com ele, e lá descobrir que estou sendo usado, vou ficar na merda.

- encosta o Fernando na parede, descobre o que ele quer contigo.

- já fiz isso.

- e o que ele disse?

- que me ama. - falei em seu ouvido.

- não da mano, não da. Não consigo acreditar nesse amor tão repentino.

- mas eu preciso acreditar mano. Eu quero que isso seja verdade.

- eu também quero, mas na moral mano, eu não deixaria de gostar de mulher e passaria a gostar de homem de uma hora pra outra. Sou viciado em buceta cara.

- e se...

- se o que?

- o Fernando não for hétero?

- então ele escondeu isso de todo mundo a vida toda?

- não sei, mas é possível não é?

- sinceramente, eu acho que não. Mas não quero te influenciar a nada.

Mais uma vez, Victor me deixou com a pulga atrás da orelha. Seria possível existir um hétero simpatizante?

Retornei do banheiro, e encontrei apenas Kadu, Beto e sua namorada. Os demais estavam na pista de dança.

- que cara é essa? - Perguntou Kadu.

- cara de zumbi. - falei tomando da cerveja do Kadu. - Posso te fazer uma pergunta brother?

- até duas. - disse ele sorrindo.

Sorri de volta. Acho que o álcool já estava subindo.

- tu já ficou com homem né!?

- algumas vezes. - Kadu respondeu sem vergonha.

O som estava alto, e tínhamos que conversar ao pé do ouvido.

- e com mulheres?

- também. - disse ele.

- mas do que tu gosta mais? - perguntei confuso.

- gosto de sentir prazer. De gozar, e satisfazer meu parceiro, sendo ele homem ou mulher. - ele respondeu sem titubear.

- mas como pode você gostar dos dois?

- ah, eu sou bi. - disse abrindo uma segunda latinha.

- bi? E sentimentos, você sente pelos dois sexos da mesma maneira?

- Não! Amor mesmo, eu só sinto por mulheres.

Kadu me desanimou. Talvez agora, eu conseguisse definir o Fernando.

- você foi o primeiro cara que eu senti algo diferente. - disse ele me olhando nos olhos. - Eu teria coragem de ter algo sério com você. Pena que tu não estava disposto.

- eu gosto de outro...

- eu sei que você gosta de outro cara. Relaxa! Mas, se um dia você estiver afim, assim como eu, quem sabe né!?

Confirmei com a cabeça e sorri.

- então o Fernando poderia sim estar gostando de mim. - pensei feliz.

Ficamos mais um tempo conversando, até o som pausar. Ouvimos um barulho vindo dos banheiros e algumas pessoas correndo.

- que porra é essa mano? - falei tentando ver o que acontecia.

- deve ser brincadeira. - respondeu Kadu.

Beto liberou a boca de sua mina, e também notou algo estranho.

- ta acontecendo alguma coisa. - disse ele de mãos dadas com sua garota.

- cade os caras? - perguntei.

- ta pra la. - apontou Kadu.

- Vamos chamar os caras, e sair daqui.

Ouvimos barulho de portas se trancando, e muita gritaria.

- acho que não é brincadeira não hen!? - Beto levantou-se e veio para o nosso lado.

Peguei a viola do Danilo, e coloquei em minhas costas.

- ninguém sairá vivo. - disse uma voz no microfone.

- isso só pode ser brincadeira. - falei.

- eles estão aqui. Eles estão aqui. - disse Lucas aparecendo apavorado.

- cade o Danilo e o Victor? - perguntei.

- eu perdi eles no meio da confusão.

- vou atrás deles.

- não! Os caras tão lá, e tão armados. - disse Lucas.

Meu amigo estava totalmente sem sangue.

- vou lá assim mesmo mano. Vou deixar meus amigos aqui não.

- fica aqui mo. - disse Beto, dando um beijo na Michele.

- não me deixa só mo. - disse ela o abraçando.

- não vou te deixar só. Eu já volto. Kadu, toma conta dela.

- eu vou com vocês. - disse Kadu.

- então você toma conta dela Lucas. - disse Beto.

- pode deixar. - respondeu Lucas.

Beto, Kadu, e eu resolvemos ir até a pista. Com as luzes apagadas, não dava pra reconhecer muitas pessoas. Enquanto íamos, várias pessoas vinham no sentido oposto.

- aí caralho. - senti uma pancada na cabeça.

- desculpe. - disse uma voz feminina.

- Larissa? - perguntei tentando identificar seu rosto.

- Gabriel? - disse a garota.

- tu viu o Victor e o Lucas?

- não os vi. Mas é melhor você não ir pra lá não. Tem uma saída na lateral do palco. - disse ela me arrastando pelo braço.

- eu só vou sair, depois que encontrar o Victor e o Lucas.

- sem condições Gabriel. Não tem como você encontrar eles nesse meio. O melhor é sairmos daqui, e tentar chegar a um local que o celular pegue sinal, pra gente poder chamar por ajuda.

- o que? Aqui não tem sinal? - perguntei tirando o celular do bolso.

O suor escorria pelo meu rosto.

- que droga. - falei colocando o celular novamente no bolso da calça.

Repentinamente, as luzes do palco se acenderam, e tinham dois motoqueiros armados dando voltas e colocando o motor pra roncar.

- caralho. São eles.

- eles quem? - perguntou a garota.

- um desses dois estava me perseguindo a quase um mês. Só não sei qual deles.

- minha amiga também estava sendo perseguida. - disse Larissa.

- quem é tua amiga? Eu conheço?

- a Tifani. Ela estuda contigo.

- uma loirinha dos olhos azuis?

- isso.

Senti uma mão tocar em meu ombro. O susto foi tão grande, que senti a cabeça doer.

- ahhhhh. - gritei.

- calma primo. Sou eu. - disse Danilo.

- caralho primo. Onde tu tava?

- eu to bem.

- e o Victor?

- eu não sei do Victor. Ele saiu pra ir ao banheiro, e não retornou.

- Cade os bixos de arquitetura? - disse uma voz ao microfone.

Olhamos para o palco, e era um dos mascarados.

- bixos? - perguntei sem entender. - por que ele esta nos chamando de bixo?

Danilo sorriu.

- é como são conhecidos os calouros.

- aproximem-se bixetes. -

A voz do mascarado era grossa. Eu já ouvirá aquela voz em algum lugar.

- você é uma galinha ou uma águia? - perguntou o homem.

As luzes foram se acendendo aos poucos. A fumaça voltou a funcionar. O som foi ligado novamente. Tudo parecia voltar ao normal. Várias pessoas foram subindo no palco. Todas mascaradas. Homens e mulheres.

- A galinha é medrosa, olha sempre pra baixo, não voa, é caça, aceita comer restos e qualquer coisa, vive de milho, grita por pouca coisa, dorme em galinheiro sujo e cagado, vive na imundice que o mundo criou. Seu fim é dentro de uma panela, ou morre de velhice no fundo do terreiro. A galinha passa despercebida. Já, a águia não. A águia é corajosa, destemida, valiosa. A águia voa alta, observa tudo, caça e escolhe o seu alimento. A águia não teme o inimigo invisível nem o visível, ela enfrenta tudo e todos. A água constrói seu ninho no topo dos penhascos. A águia vive com muita intensidade, ela é soberana... E quando chega no fim da vida... Quando chega no fim da vida, é apenas o começo. Sabendo que vai morrer, a água ergue sua cabeça, mira a mais linda nuvem de um dia ensolarado, e morre voando. E vocês bixos de arquitetura, são galinhas ou águias? Durante esse mês vimos muitas galinhas, mas também vimos muitas águias. - discursou o mascarado.

- e você primo, é galinha ou é águia?

- eu não to entendendo primo. - falei.

- bem vindos ao melhor curso que já foi criado por um humano. Vamos quebrar tudo futuros arquitetos, e que vocês sejam profissionais como águia. - disse uma moça, que também estava mascara. Essa era loura e tinha uma boneca nas mãos.

- a tal loura do banheiro? - pensei.

- esse é o trote Gabriel. - disse Larissa. - agora vocês estão batizados.

- não é possível. Isso não teve a menor graça. Você sabia disso primo?

Danilo envergonhando, confirmou com a cabeça.

- eu, o tio, a tia, o Victor. Todos sabiam.

- mas não tinha sido proibido trotes desse tipo? Isso foi muito sem graça.

- segundo os veteranos, estava tudo sobre controle.

Eu continuava sem reação. Estava estático, pálido, sem ar. O medo havia passado, mas eu sentia uma forte dor na cabeça.

Ouvi muitos calouros xingando os veteranos. Com certeza rolaria algum processo.

- aquela vez que cheguei em casa, e o pai disse que não podia continuar mentindo pra mim, era sobre isso que vocês estavam falando?

- sim. O tio não concordou muito com essa brincadeira. Ele tinha medo que isso te afetasse de alguma forma.

- e o reitor? Ta sabendo disso?

- isso eu não sei. Mas se não tava, vai ficar sabendo. Arruma essa cara primo. Você tem que concordar que os caras foram autênticos. - disse Danilo.

- quero é que eles se fodam. - falei dando um soco no peito do meu primo. - e tu sabe que ta me devendo né!?

- eu pago com prazer. Nada vai apagar as caras que tu fazia quando o maníaco mascarado aparecia. - disse ele sorrindo.

- filho da puta. - sorri também.

O clima de terror parecia já ter passado. Os calouros estavam todos na pista novamente.

- e aí Lucas. Ta puto ou já esfriou a cabeça? - perguntei assim que retornei à mesa.

- ainda quero matar um. - disse ele.

- com chubinho? - Kadu tirou sarro.

Todos rimos.

Eu sentia raiva, não dava pra negar. Eu quase fiquei neurótico, pensando que havia alguém me perseguindo, Mas em contra partida, eu me sentia mais aliviado. Em pensar que aquilo havia acabado, e agora eu poderia voltar a viver minha vida normalmente.

- o Beto não voltou com vocês? - perguntou Michele.

- tava preocupadinha amor? - disse ele trazendo uma vodka com suco de laranja.

Michele deu um beijo de língua no amado.

- eita caralho. - falei.

- vai ter língua de boi pro almoço de domingo. - disse Danilo.

Beto, ainda colado na morena, mostrou o dedo do meio.

Rimos.

Depois da meia noite, Danilo subiu no palco. A pista estava vazia. Todos os universitários estavam em suas mesas para assistirem a apresentação do sertanejo.

Meu primo se apresentou, e começou a fazer uma das coisas que ele fazia de melhor: Cantar.

E logo de cara, ele soltou um Matheus e Kauan.

♫♫♫♫

Eu quero mais uma vez

Sentir esse arrepio

Traga mais uma vez

O seu calor pra espantar meu frio.

O seu beijo de manhã com gosto de hortelã

Eu largo tudo hoje

Se você me prometer

Que vai me amar amanhã

Sabe que eu sou seu fã

Vamos virar a noite

Se você me prometer

Que vai me amar amanhã

De manhã.

♫♫♫♫

Todo mundo cantava junto. Meu primo estava feliz. Eu estava feliz em ver meus amigos felizes. Um dia lembraria com saudade daqueles momentos. Saudade, é aquilo que te machuca, mas ao mesmo tempo indica que você viveu momentos felizes.

Meu primo tocou várias outras, e só fomos pra casa quando o dia clareou.

Danilo, Kadu, e eu íamos curtindo um som na estrada. O carro do Beto passou por nós, e ele abaixou o vidro e buzinou.

- o Beto deixou a Michele na festa? - perguntou Kadu.

Danilo, e eu nos olhamos e rimos.

- advinha onde ela esta. - falei.

- não sei. Aonde? - disse Kadu inocente.

- acho que o Beto colocou ela pra vir a pé. - meu primo sorriu.

Fomos bagunçando até chegar à cidade.

Sono? Ninguém sabia nem o que era aquilo.

Entrei no apartamento, e me bateu uma solidão. Deitei no sofá, fechei meus olhos e lembrei do Fernando. Levantei, e calmamente fui ao quarto. A cama arrumada, era sinal que ele estava longe.

Olhei sua foto no meu celular.

- como é belo. - pensei.

Deitei na cama, e coloquei a mão na nuca, olhei para o teto e fiquei viajando no silencio daquele quarto. Acabei dormindo com a foto do Fernando, próximo ao meu rosto.

Levantei com um pouco de dor na cabeça. No celular, tinha uma chamada perdida do Juliano, e retornei de imediato. Peguei uma lata de refri na geladeira, e sentei na espreguiçadeira da sacada.

****

- Oi Gabriel. - disse Juliano.

- e aí meu amigo. Como é que tu ta?

- to bem. - disse ele. - e tu?

- to me arrastando. - falei sorrindo.

- e as coisas por aí. Já se acostumou?

- ainda não mano. Mas uma hora, eu sei que vou me acostumar, e você?

- eu to voltando pra estrada.

- sério? Que maravilha mano. Essa é a melhor noticia que eu recebo nos últimos tempos.

- não sei se vou aguentar Gabriel.

- um ano já né!?

- ta fazendo hoje. Acho que não vou me acostumar nunca com a ausência dele. A saudade é demais.

- vai sim Juliano. Se o Júlio estivesse aqui, com certeza, não gostaria de te ver pra baixo desse jeito. A vida segue meu amigo.

- eu sei Gabriel, mas é difícil. - disse ele com a voz penosa. - primeira viagem que vou fazer sem ele.

- ele vai ta sempre com você mano. Você pode ate não ver, mas ele vai ta sempre la.

Juliano se calou.

- mano?

- oi. - disse ele.

- ta chorando?

- não. - ele mentiu. Do outro lado da linha, eu ouvia ele tentando recuperar o ar.

- você deveria tentar vir por aqui qualquer dia né!?

- vamos combinar.

- já ta combinado mano. A hora que você quiser vir, vou te buscar no aeroporto.

- vou tentar ir agora em janeiro então.

- mas vem mesmo mano. Vou ficar te esperando.

- vou de certeza. Assim que chegar de viagem, tiro uns dias de férias por aí. Será que o Fernando se incomodaria de eu ficar hospedado no apartamento de vocês?

- claro que não mano. O Fernando mudou muito.

- pra melhor?

- sim. O Julio influenciou muito nisso. - toquei no nome do Julio sem perceber, e logo mudei de assunto. - Mas enfim mano. Eu vou ficar te esperando pra gente curtir a city. Vou ser teu guia turístico,

Juliano sorriu.

- pode crer. Reviver os velhos tempos. Agora vou ter que desligar Gabriel. Meu filho levou uma queda de bicicleta, e parece que machucou.

- ta certo cumpade. Feliz ano novo pra você.

- Feliz ano novo meu amigo.

****

Ao desligar o telefone, limpei uma lágrima. Saudade do Júlio. Saudade dos amigos. Os grupos do whats estavam bombando.

*****

- feliz ano novo cambada. - disse Victor.

- feliz ano novo viado. - falei.

- olha a viadagem aqui no grupo. - disse Beto.

- vão passar aonde? - perguntei.

Beto mandou uma foto da fazenda do pai do Kadu.

- caralho! Ta lindão. - comentei. - quem tanto aí?

- só os chegados. - disse Kadu.

- e o Danilo? Cadê? - perguntei.

- vai chegar mais tarde, ele não pode faltar. Sabe que ele é o cantor da terra né!?

- sei sim. - coloquei emoticons de riso. - E o Júnior, chamaram ele né!?

- claro mano, o Júnior já é nosso parceiro. O Lucas vai pegar ele na cidade. - disse Victor.

- que bom mano. O Júnior vai precisar muito de vocês.

- tamos aqui pra isso. - disse Victor.

- todos pracudir o Junior. - brincou Beto.

- e tu mano, quando vem cudir a gente? - falou Victor.

- qualquer dia eu chego por aí, pra gente começar a festa.

- pode crer mano. Muitas saudades de você.

- também sinto.

Ouvi uns barulhos vindo da praia, levantei da espreguiçadeira, e fui até a vidraça. O pessoal estava finalizando os preparativos para a virada de ano. Decidi que não iria passar o réveillon sozinho naquela apartamento.

Tirei uma foto, e mandei no grupo.

- e essa foto? - perguntou Kadu.

- aqui não tem fazenda, mas tem praia. - sorri.

- vai trair a gente né malandro?

- não tem pra onde eu ir mano. Vou me escalar la pela praia. - coloquei emoticons de zueira.

****

Depois das vinte e duas horas, coloquei uma bermuda, uma havaiana, e desci. Comprei um copo de bebida, sentei próximo a um grupo de pessoas, e ficamos olhando para a praia.

O vento batia em meu rosto, fazendo meu cabelo se mexer. Sorri sozinho lembrando de tanta coisa. Em um palco improvisado, uma dupla tocava alguns sertanejos. Lembrei do Danilo.

A praia começava a lotar, mesas e cadeiras tomavam conta da praia, as luzes de natal brilhavam na água. Comprei mais um copo do álcool, e me distanciei um pouco da civilização. Tirei meu chinelo, e fui sentindo a areia massagear meus pés. O som da música aos poucos ia abaixando, mas ainda assim era possível escuta-la. Sentei na areia, em um local estratégico, onde ninguém pudesse me ver chorar. Por fora estava tudo bem, mas por dentro faltava algo.

- você tem horas? - alguém perguntou.

- dez e quarenta e cinco. - respondi sem mostrar meus olhos molhados.

- uma vez você me prometeu maneirar na bebida. - disse o homem, ainda atrás de mim.

Não é possível.

- Fernando? - Levantei-me tão rápido que joguei areia em cima do meu hétero.

- não achou que passaria o ano novo longe de mim né!?

Fernando sorria.

- como você me achou? - perguntei parado em sua frente.

Não sabia se sorria, ou se continuava chorando.

- você me deixou preso fora de casa. Perguntei por você, e o porteiro me disse que tinha te visto vindo pra praia.

- não queria passar a virada de ano sozinho.

- você nunca mais estará sozinho. - disse ele tocando em meu rosto.

Fernando olhou para a multidão que havia ficado pra trás.

Sem perceber, nos beijamos ali mesmo, e fomos nos afastando cada vez mais. Fernando me jogou no chão da praia, e ficamos escondido atrás de algumas pedras. Sua bolsa era o nosso travesseiro. O irmão do Victor me beijava calmo. Seu cheiro amadeirado me deixava alucinado. Fernando tomou minha mão e a guardou dentro de suas calças.

- faz carinho que ele cresce. - disse em meu ouvido.

Fernando urrava com seu rosto colado ao meu. Seus lábios, macios, tocavam a pele do meu rosto. Virei o corpo do Fernando, e fiquei por cima dele. Subi sua camiseta, e comecei a lamber seu peito.

- ahhh. - gemeu.

Sua rola pulsava.

Abaixei sua bermuda, e fiquei admirando sua rola por cima da cueca.

- hoje eu não quero sexo amor. - disse ele.

Fiquei confuso. Fernando era viciado em meter.

- hoje só quero ficar com você e matar a saudade, amanhã a gente brinca. - disse ele beijando minha boca.

Afaguei minha cabeça no peitoral do Fernando, e fiquei olhando pra lua.

- voltou pra ficar? - perguntei quase sussurrando.

- ainda não, mas pode ter certeza de uma coisa: Todas as viradas de ano, eu estarei aqui com você.

Olhei nos olhos do Fernando, e ficamos nos comunicando com o olhar. Ele poderia estar em qualquer lugar, com quem quisesse. Mas ele não estava. Estava ali comigo. Eu não tinha motivos nem razão para duvidar do Fernando. Afinal, quem ama confia.

Apaguei deitado no peito quente do Fernando, e acordei com o barulho dos fogos. Despertei aos poucos e visualizei Fernando olhando pra o céu.

- já é ano novo? - perguntei esfregando os olhos.

- meia noite e cinco. - disse ele me encarando.

- feliz ano novo Fernando.

- feliz ano novo Gabriel. Hoje já é um novo dia. Sabe o que isso quer dizer?

- não.

- agora eu quero brincar. - disse sorrindo.

Sorri.

Quem nunca? Quem nunca teve que tomar uma grande decisão? Quem nunca quebrou a cara tentando acertar? Quem nunca se arrependeu de não ter tentado? Quem nunca, pelo menos uma vez na vida não se sentiu fraco? Quem nunca chorou ao escutar uma música e lembrar de alguém? Quem nunca fez planos, almejando ser feliz? Quem nunca amou mais e foi amado menos, ou foi amado sem amar? Quem nunca deixou de ser feliz por orgulho bobo?

A vida é assim... Todos os dias temos que tomar escolhas, fazer renúncias, abandonar os nossos, encontrar novas pessoas, apagar os erros e recomeçar em busca de acertos, chorar, sorrir...

Vai chegar um dia que você não irá mais acordar. Um dia que o sol vai ficar escuro. Um dia que os pássaros não mais cantarão. Neste dia você não terá mais chances de errar. Este dia será sinal de que o fim chegou. Por isso não faça planos para um futuro muito longe. Aproveite todas as chances que a vida lhe da, e se renove a cada novo dia.

♫♫♫

Eu largo tudo hoje

Se você me prometer

Que vai me amar amanhã

Sabe que eu sou seu fã

Vamos virar a noite

Se você me prometer

Que vai me amar amanhã

De manhã.

♫♫♫

Fim.

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Comentários

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Adorei o seu conto! Desculpa ñ ter comentado antes! Me emocionei com essa história!

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Adorei seu contos, uns dos mais lindos que já li na casa. espeo que você fique com o Fernando, ele lhe ama com certeza.

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Muito bom!!

Pq vc removeu o outro conto q havia iniciado??

Ele estava legal, deixou uma curiosidade solta. Você sabe prender a atenção dos seus leitores.

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E acabou,... Triste gostei demais do conto. Mais, pontas ficaram abertas e não deixar claro os fatos foi um ato falho. Porém você deu o fim que desejava, mais esperava muito mais. Mais adrenalina nesse trote; mais atitude do Gabriel; Mais sentimento do fernando; mais clareza nos desfechos. Mas como Gabriel terminou feliz,... Tudo bem.

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Gostei muito de acompanhar a história, eu me perdia um pouco pelo fato de você demorar um pouco a atualizar os capítulos, daí acabava esquecendo de algumas coisas, mas tirando isso, você acaba de ganhar mais um leitor fiel. Sobre o trote, achei bem pesado, apesar de já ter visto piores, eu achei que o Gabriel iria ficar com raiva e ir embora, mas me surpreendeu. Julio faleceu, isso é fato, mas de quê e como foi? Ficou uma lacuna aí. Fico feliz pelo Fernando e o Gabriel terminarem juntos, e o Gabriel tá certo, temos que aproveitar as chances que a vida dá, porque é melhor você lembrar das coisas que você teve coragem de fazer e FEZ do que lembrar das coisas que você teve vontade de fazer e NÃO FEZ, como aconteceu comigo, me arrependo demais.

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Caralhooo meu!!! final maravilhoso, parabéns!! vc se garantiu viu.

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GT, que final, e esse trote eu matava kkk,mais foi bem original mesmo

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REALMENTE SOBRARAM DÚVIDAS. MORREU ALGUÉM? GABRIEL VAI PRA FLORIANÓPOLIS? FERNANDO SAIU DO ARMÁRIO? É HETERO, HOMO, BI, TRI, TETRA??? ISSO NÃO FICOU CLARO. DETESTEI O TROTE. MAS NO GERAL O CONTO FOI BOM.

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Seu conto foi muito bom. Mas esse ultimo capitulo deixou muitas dúvidas, tipo: Por quê o Juliano estava viajando sem o Julio? E qual a decisão de Gabriel? Ele foi pra Floripa? Quanto a mãe de Junior? Gabriel assinou o contrato com o clube de futebol? Desculpe se você falou no conto, mas ficou meio confuso. Kkkkk (sou meio lerdo mesmo)

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O JULIO MORREU? :( ELE FOI PRA FLORIPA? TORCIA PELO VICTOR. QUE TROTE FOI ESSE? PUTA MERDA. MUITO BOM CARA SEMPRE LEIO SEUS CONTOS, MAIS PRIMEIRA VEZ QUE COMENTO. VOCE VAI CONTINUAR COM O CONTO DOS PRIMOS? ESSE AQUI VAI TER CONTINUIDADE?

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Olha o Fernando me surpreendeu e muito adorei

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Um trote? Um f*** trote? E o trouxa ainda ficou com Fernando...

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