Eu fazia de tudo para que o trabalho na obra não atrapalhasse nossa rotina, mas era difícil. Tinha de deixar a roupa acumular para pôr para lavar no fim de semana e perdia tempo no ferro de passar, em vez de ficar com ele. Quando chegávamos do trabalho, corria esbaforido para providenciar o jantar, pôr a mesa e ainda estar com o corpo pronto para ele antes de nos sentarmos para a refeição. E o problema não era só a questão do tempo e da rapidez com que tinha de fazer tudo: eu chegava cansado, às vezes quase exausto. O trabalho na reforma era braçal; eu não era um sujeito forte, bem pelo contrário. E aí, na hora do melhor da noite, fingia para mim mesmo que não estava com dores musculares e que o sono não se avizinhava, para não decepcioná-lo.
A casa ainda não mostrava sinais da situação e tampouco eu descuidava de servi-lo bem na cama, mas não sabia até quando conseguiria manter essa simulação de normalidade. E nosso cotidiano estava mesmo sofrendo algumas alterações. Perdi uma coisa que eu adorava, por exemplo, que era quando, no fim de semana, ele fazia trabalhos de marcenaria em casa e me chamava para ajudar. Não era sempre, mas havia sábados, ou algumas tardes de domingo, que ele dedicava a terminar uma cadeira, um banquinho, às vezes um adereço qualquer, com os quais de vez em quando presenteava os amigos.
Esses trabalhos de marcenaria eram uma lembrança da minha infância, mas, principalmente, da adolescência. Papai tinha prazer quando minha mãe lhe pedia uma tarefa caseira: consertar uma tomada, fixar alguma coisa na parede, ajeitar uma torneira. Especialmente depois que passou a mestre de obras, era nítido que chegava a inventar coisas para ocupar as mãos e os músculos.
Ele não se tornara peão apenas por necessidade: efetivamente, gostava daquele tipo de trabalho. No início, fazia de tudo, só evitando as tarefas de pedreiro, que ainda assim volta e meia executava, mesmo não sendo suas preferidas. Depois, quando já tinha a empreiteira, foi sentindo mais e mais a necessidade dessas atividades, porque deixara definitivamente de ser peão para tornar-se chefe. Até que foi se concentrando no trabalho com a madeira. Logo passou também a criar, desenhar, efetivamente projetar os pequenos móveis ou objetos que produzia.
Já contei que, ainda garoto, eu gostava de olhá-lo nessas horas. Ficava escondido, em geral à espreita em alguma das janelas que davam para o quintal, atento também para que minha mãe não me flagrasse, se estivesse em casa conosco. Eu acompanhava os movimentos dele, os bíceps que saltavam quando levantava uma tábua, o suor que brilhava em seu tórax e fazia seus pelos reluzirem sob o sol, as sobrancelhas que franziam quando ele conferia as peças com aquilo que havia desenhado. Ele nunca me chamava para ajudá-lo, e eu também nunca pedia. Apenas o olhava, talvez esperando que um dia ele me descobrisse e acenasse para eu me aproximar.
Minha espera só teve resposta naqueles meses, tantos anos depois. Era uma manhã de sábado; ele tinha me dado uma foda que interrompera o café da manhã e por isso eu tomava um café com leite fora de hora. Eu o olhava da porta da cozinha, já de banho tomado, com a caneca na mão. Sorriu para mim, convidativo. Atendi e fui recebido com um beijinho.
- Tu não é mais tão moleque pra ficar babando assim de longe, que nem antigamente. Fica aqui comigo.
Depois desse dia, ele me chamava sempre para ajudá-lo. Eu às vezes segurava alguma peça para ele polir, ou obedecia correndo quando ele mandava eu pegar uma ferramenta no quartinho do depósito; era seu ajudante. Observava mais de perto quando me mostrava alguma coisa, explicando como fazer ou como iria ficar depois de pronta. Ou ficava apenas rodeando enquanto ele trabalhava, esperando uma nova ordem.
Ele não dizia, mas eu sabia que não levava a menor fé que eu fosse um dia passar de ajudante a parceiro, mas mesmo assim me explicava as coisas, me ensinando. Acho que mesmo depois de eu ter demonstrado na obra que era capaz de fazer tarefas mais braçais, ele continuava com a certeza de que jamais eu poderia ser mais do que um ajudante no trabalho dele. E eu sabia disso, também. Mas ficava contente com aquelas horas que me deixava apenas assessorá-lo naquele seu trabalho, tão masculino, e ele achava engraçado como eu ficava radiante com isso.
Mas, com a sobrecarga dos esforços que fazia na obra, fui notando que ele queria me deixar quieto nos fins de semana, para que eu descansasse. Passou a me levar para comer fora e, embora não dissesse, eu sabia que era para eu não ter que cozinhar e lavar a louça. Mas nem dava gosto, porque eram saídas rápidas, com ele logo me levando de volta para que eu ficasse sossegado em casa.
Entre uma trepada e outra e as tarefas domésticas, me fazia repousar na cama ao seu lado ou me punha agarradinho com ele no sofá para vermos um filme. Ou ficava comigo no quarto, me fazendo cafuné, até que meus olhos se fechassem e eu acabasse tirando um cochilo à tarde. Aquilo era bom, era gostoso, mas eu sentia falta de quando ele me levava para passear pelos campos, para tomar um sorvete caminhando na praça ou me fazia de ajudante nesses trabalhos com madeira.
Além disso, a nova rotina me tornou ainda mais obcecado com minha higiene. Eu ficava apavorado só de pensar que, devido à correria e ao cansaço, eu me desleixasse sem perceber. Já estava há mais de um mês trabalhando na obra quando, pela primeira vez, a nova rotina efetivamente atrapalhou minha preparação para ele – e isso não poderia ter ocorrido numa noite mais errada.
Havia feito uma higiene logo que tínhamos chegado, para o caso de ele me pegar de repente, numa rapidinha antes do jantar. Depois, tomei um banho apressadamente, apenas para tirar o suor. Planejava voltar ao chuveiro imediatamente após a refeição, para a foda que antecedia o sono ou mesmo a tempo de atendê-lo se ele quisesse me pegar na sala de TV. Tinha terminado de me secar, sem muita paciência, e dava uma primeira pincelada de lubrificação quando o alarme do forno avisou que estava na hora de tirar o assado que havia colocado para aquecer.
Com medo de a carne queimar, me enrolei no roupão, corri à cozinha e resolvi o problema. Na volta ao banheiro, vesti rapidamente um short e uma camiseta, me penteei, perfumei sem muita atenção o pescoço e a parte de trás dos joelhos, e voltei à comida. Só me lembrei que havia esquecido de aplicar devidamente o lubrificante nem tinha perfumado o cuzinho quando já havia sentado à mesa.
Naquele dia, Machadinho não tinha aparecido para o trabalho. Estranhei, porque na véspera havíamos combinado que ele me ensinaria uma tarefa que meu pai me enchia o saco pra que eu fizesse sozinho, naquela maluquice de que ía me “ensinar a ser homem” mesmo com ele me comendo sem parar. Além de tudo, pão-pão-queijo-queijo: o operário que faltava não recebia pelo dia. E eu sabia que Machadinho estava fazendo de tudo para juntar dinheiro, entusiasmado com uma moto nova.
- Pai, eu estou meio preocupado. Ninguém ligou; ninguém apareceu o dia todo pra dar nenhum aviso dele.
- Tu te preocupa muito com esse Machadinho – respondeu, enquanto jantávamos.
- Não é isso, pai. Deixa de bobeira. É que pode ter acontecido alguma coisa com ele.
- E aconteceu.
- O que foi?
- Mandei ele embora.
- Embora? Por que?
- Não quero macho se engraçando contigo.
Eu me revoltei. Aquilo era absurdo; prejudicar um operário por um capricho besta.
- Baixa a bola, garoto. Eu sei o que eu faço.
Voltei à comida, sem conseguir olhar para ele, que permaneceu impassível. Naquele momento, eu senti tamanha distância dele que talvez fosse maior do que na infância, quando me repudiava, me chamava de “merdinha”, menosprezando uma criança. Ele continuou a comer, ignorando minha contrariedade, e logo foi puxando outro assunto. Eu me mantive calado.
Mas não desisti. Retomei:
- Pai, isso o que você fez foi uma injustiça. Um cara legal...
- Legal demais pro meu gosto.
- Isso é ciúme.
- Claro que é.
- Você não tem vergonha de despedir um operário por causa de ciúme?
- Não.
- Você não tinha razão pra isso, pai! Você não confia mesmo em mim?
- Em você eu confio. Não nele. Nem em nenhum outro que se engraçar contigo.
Dei por encerrado o meu jantar; tinha perdido a fome. Levantei da mesa sem nem olhá-lo e o deixei lá. Fiquei surpreso: esperava que fosse atrás de mim, que me desse uma bronca e iniciássemos uma cena, na ilusão de que ao fim ele voltasse atrás e readmitisse o peão. Não foi o que aconteceu; era óbvio.
Ele permaneceu sozinho na mesa e demorou a ir para a sala de TV. Entrou já desafivelando o cinto da bermuda.
- Tu tá muito nervosinho. Precisa levar rola.
Eu não dei trela, fazendo uma expressão de impaciência. E, de repente, me vi de quatro sobre a poltrona, levando uma chave de braço.
- Pára, pai. Eu não me lubrifiquei direito.
- Melhor. Assim vai ficar mansinho mais rápido.
Rasgou meu short numa puxada só, expondo minha bunda. Deu uma cuspida certeira; o suficiente apenas para possibilitar a invasão. E enterrou.
As caralhadas, fortes, decididas, me doeram. Ele não escondeu que fazia de propósito. O atrito do cacete com a mucosa quase seca me queimava por dentro. Foi um alívio quando ele encharcou meu reto e, continuando as marretadas mesmo após o gozo, espalhou mais a gala. Não teve pressa de parar, mesmo sabendo que havia me machucado. Só se afastou após um bom tempo me enrabando desse jeito.
- Nunca mais levante da mesa antes do teu pai – disse, por trás de mim, e saiu.
Eu me ergui com dificuldade. Estava com o braço e o cu doloridos; as pernas, bambas. Tentei me conter, mas chorava em silêncio. Fiquei ali, meio paralisado, um pouco encolhido no sofá, sem saber o que fazer após aquela surra. Ele retornou, continuando com a braguilha aberta e o membro à mostra – ainda dilatado, mas em descanso. Temi que me mandasse limpar o caralho, como era nosso costume. Eu só queria ficar em paz, sozinho. Notei que ele se lavara no banheiro, pois o membro ainda estava molhado.
- Não adianta esconder de mim. Eu estou vendo que tu tá chorando, garoto – disse, num tom que pareceu até carinhoso.
Permaneci de cabeça baixa, esgueirando-me. Veio até mim e me abraçou. Aconchegou-me junto ao seu torso. Aí foi que não consegui mesmo disfarçar o choro.
Ele me pegou no colo, deu um beijinho na minha testa e me levou para o quarto. Com muito cuidado, me pôs de bruços na cama. Examinou meu cu.
- Está ardendo muito?
- Agora parou um pouco.
- Não fica assustado. Não sangrou. Minha pica também ficou um pouco esfolada, mas nada que essa boquinha macia não cure, mais tarde.
Deitou-se ao meu lado. Cheirava a água de colônia. Eu me aninhei nele.
- Eu sei o que eu faço, Mateus.
Eu não disse nada. Nem tinha força para isso.
- Não quero mais falar nesse peão, ok? Deixa que eu cuido dos meus negócios e de você. Fica aqui, juntinho com teu pai.
Recolheu com o dedo a última lágrima que ainda molhava meu rosto. Quando adormeci, ele acariciava a minha cabeça.
Na manhã seguinte, quando retornei à cama para ele mijar, já estava desperto. Dei-lhe um beijo na testa e me pus de quatro, aguardando.
- Não. Vem cá.
Não entendi, mas fiquei na posição que mandou, deitado, apoiando-me em transversal às suas coxas. Seu pau, semiduro, roçava o meu. Ele me examinava novamente.
- Sentiu dor, hoje de manhã?
- Fiz uma higiene agora. Ardeu um pouco.
- A água saiu avermelhada? Teve sangue?
Fiz que não. Ele me puxou e deu uma lambidinha no meu cuzinho. Depois, desvencilhou-se de mim, num gesto terno. Levantou-se, agora com o cacete em riste, e foi ao banheiro.
- Hoje faço na privada mesmo. Não quero que teu castigo acabe virando alguma doença – disse, ainda andando.
Do banheiro, em meio ao barulho do mijo jorrando contra a água do vaso, completou:
– Nem vai levar ferro agora. Deixa pra noite; aí, a gente vê.
Quando retornou, o caralho estava a meiabomba, pesando novamente. Eu estava sentado próximo à beira da cama. A decepção era patente em meu rosto.
- É pro teu bem, Mateus.
Pôs-se em frente a mim e passou a mão em meu cabelo.
- Quer beber o leite? Na boca eu posso te dar.
Eu sorri e ele empunhou o membro para mim. Lambi, para lavar uma gotinha de urina. Disse para eu tomar cuidado, porque podia arder, já que tinha esfolado um pouco, na curra. Abocanhei obedecendo, mas logo ele mesmo me indicou, com a pressão das mãos, que fosse mais vigoroso. O sêmen não demorou muito a tomar minha boca.
Pus um short e fui para a cozinha, orgulhoso por estar com o sabor dele. À mesa, me deu a notícia de que tia Amélia viria nos visitar.
- Quando ela me ligou, na semana passada, não falou nada.
- Acho que vem na próxima semana. Ficou de ver.
- Eu disse a ela que você estava bem, mais animado com tudo.
- Disse isso pra mim também; e que tu também parecia muito animado no telefone. Falou que estávamos fazendo muito bem um ao outro – tomou um gole do café. – Quase que eu respondi que eu tinha te dado alegria de cu porque meu caralho encontrou o lugar certo pra entrar.
Eu ri, meio sem graça. Ele sabia que não era isso. Pelo menos, não só isso.
- Mateus.
- Sim?
- Sua tia não é intrujona, mas observa. Tu vai ter que tomar cuidado.
- Cuidado com o que?
- Conosco. Ela pode perceber.
- Claro que não, pai... Ninguém nem pensa... Ninguém nem consegue imaginar que um pai e um filho...
- Tu não é afeminado, mas quem entra aqui não precisa ser muito esperto para notar que você é a mulher da casa.
- Eu não sou mulher.
- Mas aqui em casa está sendo. Não quero que ela note isso.
- Mas isso quer dizer o quê?
Ele falou, fazendo um ar peralta e rindo muito:
- Que a gente vai mentir pra caralho...
Enquanto ele punha a camisa e pegava as coisas para sair, e eu tirava a mesa, começou a desfiar um monte de histórias para passarmos para a tia: que temos uma empregada mas que ela não apareceria naqueles dias por conta de não sei o quê, que comíamos muito fora porque ninguém ali cozinhava, que fazíamos rodízio para lavar a louça, que vivíamos manchando as roupas porque não tínhamos ainda aprendido direito a usar a lavadora etc. etc.
- Você passou a pomada direitinho?
Aquiesci, enquanto ele abria a porta para sairmos.
- A tia vai ficar conosco em casa, então? – falei, já quando entrávamos no carro.
- É. Não sei. Acho que não vai ter jeito. Até que eu queria estar mais com ela, mas espero que aquela maluca não resolva ficar mais de três dias mesmo. Quero ver como vou agüentar ficar esse tempo todo sem te fuder.
Eu não tinha me dado conta disso. Tudo mudaria com ela em casa, mas... principalmente o sexo!
- Fica ruim mandar tua tia pro hotel. Pelo que sei, o Manezinho deu uma boa melhorada lá. Pôs até frigobar. Os quartos estão bonitos; o filho da puta fez a obra com outro... Mas tenho que receber ela em casa. Você vai ter que segurar o fogo desse cuzinho.
Fez a manobra com o carro e saímos.
- Já peguei o nome e o telefone do teu proctologista.
- Pai, eu não vou fazer isso. Você não vai comigo, não. Eu até vou, mas sozinho.
- Vou ter que te levar – falou, paciente, explicando que, como eu imaginava, não havia proctologistas na cidade.
De carro, a viagem levava no máximo uma hora e meia – isso, se estivesse com muito movimento –, em vez das duas horas que gastei no ônibus quando tivera a ideia infeliz de comprar os shorts. Era uma cidade bem maior; uma capital regional.
- Ah, tá. Tudo bem. Mas você fica esperando eu terminar a consulta embaixo, na calçada.
- Lógico que não, garoto. Quero conversar com esse doutor. Ver o que ele fala quando tiver te examinando. Quero saber direitinho o que estou fazendo contigo pra não me arrepender depois.
Eu arregalei os olhos:
- Pai, você pode ir preso! Não pode contar!
- Preso eu e preso você. Nós dois. Tu tem que ir na internet pra ver como é isso; se isso é crime mesmo, qual a pena – deu uma bufada. – Olha a merda em que você me enfiou...
- Você acha que pode confiar assim, sair falando, só porque ele é médico? Olha,...
- Claro que não, ô palerminha. Eu não vou contar nada. Deixa comigo. Você vai ficar de bico fechao. Só vai mostrar teu cuzinho pra ele olhar e pronto. Entra mudo e sai calado. O resto teu pai cuida pra você.
- Mas o paciente sou eu! Eu é que...
- Já armei tudo na cabeça, Mateus. Tu vai ser o filho viadinho que dá pra gato e cachorro; eu descobri agora; te aceitei assim porque te amo; estou preocupado com tua saúde e tu não tem mais mãe pra cuidar de você. Então, como um bom pai, que te aceita e zela por você, resolvi eu mesmo te levar. Vai ser assim.
- Pai, isso não vai colar...! Vai ficar muito estranho... Eu tenho 22 anos, pai; ninguém com 22 anos vai ao médico com...
- Mateus! – interrompeu, com aquela voz de terremoto. – Vai ser assim.
Ficamos em silêncio.
- Ele vai te achar um viadinho retardado, e pronto. É de outra cidade; não vai ficar te encontrando na rua. Se for bom, vira teu proctologista fixo. Tu vai passar a fazer periódico que nem mulher faz.
Começou a rir das próprias palavras. Fiz um muxoxo, mas depois ri também. Tentei explicar a falta de sentido que tinha aquilo:
- Nenhum homossexual faz isso, pai. A gente...
- A gente somos eu e você. Não tem essa de “a gente”. E eu e você já decidimos.
- “Eu e você decidimos”???
- Tu é mais inteligente do que eu, mas é palerma. Então, dá no mesmo. Deixa comigo – disse, diminuindo a marcha para fazer uma curva. – Sou teu pai e teu macho. Se ficar de muito nhenhenhém não vai nem mais precisar de porra nenhuma de proctologista. Te enfio um caralho hoje à noite que vai te deixar tão arrebentado que tu vai parar direto no hospital.
Eu me assustei com a agressividade dele. Fiquei calado até o fim do trajeto, amedrontado no banco do carona. Estava perto; chegamos logo.
- Ei, garoto.
Voltei-me. Ele tinha se debruçado sobre o teto do carro e fiquei na mesma posição, do outro lado, frente a ele. Fez um gesto com a cabeça, como se assim se aproximasse de mim, e falou bem baixinho:
- Te disse: sou teu pai e teu macho. Tanto um quanto o outro nunca vão te bater e fazer tu precisar ir pra um hospital.
Sorri, baixando a cabeça, sem jeito.
- Palerminha... – ele disse risonho, balançando a chave na mão, enquanto caminhávamos para o trabalho.
[continua]