PARTE B DO EPÍLOGO
Eu devia ter ficado eufórico, quicar naquele banco do carona. Mas foi o oposto: paralisei. Meus olhos se encheram d’água e o choque foi tamanho que senti como se eu fosse explodir; o corpo todo retesado, incapaz de lidar com aquilo. Meu rosto pareceu queimar; eu deveria estar vermelho. Olhava para frente, estático. Ele percebeu meu estado. Encostou e parou o carro. Voltou-se para mim.
- Mateus.
Olhei, mesmo sabendo que a represa dos meus olhos estava a um fio de romper.
- Eu nunca esqueci a primeira vez que teu rosto bateu no meu. Acho que nenhum pai esquece isso. Tu estava há pouco no mundo; não via porra nenhuma na tua frente. Era só um bichinho que eu tinha feito na tua mãe; não sabia nada de nada. O que eu senti era o deslumbramento de ter na frente o filho que eu tinha feito. Como todo pai.
Ele falava muito lentamente, mas sem pausas.
- Depois, quando você começou a ser você, andava, falava pela casa, tinha teu jeito, eu vi que queria você, que tu tinha alguma coisa que eu queria e que não sabia bem. E, mais depois, palerma como sempre tu foi, eu não tinha mais como disfarçar o que tu sentia e nem sabia. Não era igual; não era igual a tudo que é pai e filho.
Ele me encarava muito firmemente, como sempre fazia diante da vida. Não deu bola para minhas lágrimas. Permanecia impávido, como se não notasse que sua voz monocórdia fraquejava em uma ou outra sílaba.
- Eu sou teu pai. Eu é quem tinha de cuidar daquilo. Mas tu não largava de mim. Não largava. Eu te enxotava e tu não largava. Tua mãe nunca percebeu nada. Ela não podia, eu não podia deixar que ela visse nada, porque senão eu não ia conseguir olhar para ela. Nem pra mim.
Ele não interrompia: as frases se sucediam, embora pronunciadas com vagar. Parecia achar que qualquer interrupção o faria perder a força que seu olhar parecia querer reter. A emoção estampada em meu rosto não o demoveu um só milímetro de uma rigidez tão contraída que, se ele se deixasse perder o prumo, se desfaria em algodão.
- Eu te escrotizava direto e tu não arredava; parecia até burro. E tu foi crescendo, criando pelo na perna, espichando. Eu te juro, eu te juro pelo mais sagrado, nunca fiquei de pau duro, nunca deixei meu pau endurecer, Mateus. Nunca. E tu cada vez mais enfurnado em casa, lendo teus livros e pensando. Tu pensava muito. E eu pensava como a tua vida era complicada; como tu complicava as coisas pensando tanto daquele jeito, e que para mim era tudo mais simples. E eu gostava de ver tu complicando, porque a vida é complicada mesmo, muito complicada, e tu era capaz de ver essas complicações que eu não conseguia ver. Tu era muito diferente de mim, sempre foi, e cada ano que passava ficava mais ainda. E pra mim era tudo o contrário do que devia ser: isso, cacete, não me afastava de ti. Era tudo tão errado, tão errado, porque quanto mais eu te via diferente, mais eu gostava, e gostava como não devia gostar.
Não; nem aqui ele fez uma pausa:
- Daí, tu decidiu ir embora e eu sabia que era mesmo aquilo, que tinha que ser aquilo até a minha morte. Eu tinha feito certo; te sacaneado direto. Quando tu foi, meu coração rasgou. Sofri pra caralho. Muito, Mateus. Muito. Mas tua mãe não soube; ninguém nunca soube; ninguém percebeu. Ninguém podia perceber; de jeito nenhum. O que tu era pra mim não podia ser nunca. Tua mãe morreu sem saber de nada e eu morri junto com ela, sem você. Mas tu é palerma, sempre foi palerma, e voltou.
Parou abruptamente, encarando-me com a respiração suspensa, a expressão dura. Virou-se de frente para o volante. Estático. Choraminguei muito baixinho.
- É a primeira vez que eu ouço essa história, garoto. Nunca pensei que um dia fosse ouvir.
Deu a partida no carro. Tive a impressão de talvez ter percebido que seus olhos estavam úmidos.
Chegamos em casa após o silêncio que perdurou por todo o caminho. Ele foi para o quarto, tomar banho. Fui para a cozinha, aquecer o jantar. Entrei no banheiro que nunca usávamos e me refugiei lá. Sentei e chorei; chorei muito, tentando não fazer barulho. No jantar, não havia como ele não notar meu rosto ainda vermelho. Mas não fingiu que nada se passara. Foi lacônico e eu também – precisávamos ser –, mas não distantes. Apenas recolhidos num só.
Quando deitamos e ele apagou a luz, achei que não transaríamos. Mas ele veio até mim, me abraçou muito ternamente e entrou, me dando beijos muito quietos, carinhos muito cuidadosos, até aliviar seus culhões e, sem palavras, também o peso que sentíamos.
Na madrugada, acordei assustado com ele metendo o caralho de uma vez só e me agarrando com força. Sou magro; papai é forte: qualquer arroubo dele me atingia, mas eu gostava disso. Parecia alucinado, me dando as caralhadas não tanto com violência, mas com desespero. Então, no meio delas, falou em meu ouvido; a voz trêmula atrapalhando demonstrar o quanto estava determinado:
- Vou te levar daqui. Vamos sair daqui, Mateus.
Continuou metendo, como se os avanços no meu corpo aumentassem sua força:
- Pra longe, pra bem longe. Tu vai pintar esse cabelo, Mateus. Tu vai pintar de louro; ninguém vai saber quem tu é e quem eu sou. E a gente vai ser casal; casal a vera. Vai todo mundo saber que a gente é casal. Porque não aguento mais. Esse caralho não agüenta mais, meu coração não aguenta mais. Tu não aguenta mais. A gente vai largar tudo aqui. Vamos embora.
Não cessou as caralhadas; manteve-as por mais algum tempo. Aos poucos foi diminuindo o ritmo, até que parou. Não gozou; não quis. Sua respiração foi se normalizando, seu peso aumentando sobre o meu corpo. A mão ainda acariciou meu cabelo, ainda tocou com muito cuidado meu rosto, como se o reconhecesse pelo tato. Até que adormeceu sobre mim. Dormi logo em seguida.
Fizemos a mudança quase dois meses depois; um pouco mais. Ele tinha que terminar a reforma que estava em andamento, havia outra à espera e uma terceira já acertada. Foi o tempo de encontrar um comprador para a casa – ele sequer aventou a possibilidade de baixar o preço para se livrar logo dela –, para o carro e também para a empreiteira, embora ela não valesse muito sem ele. Mas conseguiu compensar com a venda do terreno baldio que arrematara três anos antes e que tinha se valorizado muito, por conta de obras de urbanização que haviam sido feitas na área.
Quis vender tudo o que podia – da casa, só ficou com um antigo porta-retratos, no qual tinha posto uma foto de mamãe, logo após sua morte. Não nos desfizemos das roupas – porque eu insisti –, mas nem a louça se salvou. Os pertences muito pessoais, muito queridos – as ferramentas dele, os meus livros – foram conosco. Alterei meu cabelo na véspera de nossa partida. Ele queria que eu os pintasse, para criar a ideia inverossímil de que eu era louro de nascença e que isso impediria a suspeita de consanguinidade.
- Pai, não dá para eu passar a vida toda enganando que sou louro... Não convence. Tudo bem, eu mudo, para ter mais uma diferença entre a gente, mas não para fingir que nasci louro.
- Então, tu quer fazer o que?
- Deixa comigo. Confia no teu filho – respondi, imitando a voz dele.
Quando me viu, fez uma das expressões mais bonitas que vi nele, muito próxima do dia em que me fez desmaiar de tanto tesão. Seu rosto iluminou-se, num sorriso discreto de deslumbramento:
- Mateus, como tu tá bonito – falou baixo diante dos meus cabelos descoloridos num tom amarelo, cuja artificialidade era endossada pelas sobrancelhas, mantidas muito escuras, como era da minha natureza. Eu realmente fiquei bonito.
Às vezes, eu pensava que talvez fosse mais gostoso se compartilhássemos todo o processo da mudança que nos levaria a uma nova vida, como fazem muitos casais rumo ao casamento. Mas não eram assim que as coisas funcionavam com ele, e eu gostava como elas funcionavam. A cidade para onde migramos, a casa que foi comprada, tudo foi por decisão dele. Participei porque fiz as pesquisas via internet – logicamente, comandadas por ele – para que ele decidisse. E, bem, aqui e ali ele perguntava minha opinião, não me deixava tão à parte – mas para opinar entre as opções que ele definia previamente.
Um mês antes, viajou sozinho para fechar o negócio do novo imóvel e ver detalhes sobre a cidade onde moraríamos. Acertara previamente com três proprietários diferentes. Retornou com a compra resolvida: não fora a nossa preferida, mas a segunda escolha. Era uma casa menor do que aquela na qual vivíamos, mas com um terreno bem maior, afastada da cidade – desvantagem que acabamos até gostando, pois levou a tornar os passeios de bicicleta parte de nossas vidas. E era mais barata.
Ele voltou muito animado. Não trouxe surpresas: confirmou tudo o que já sabíamos, via internet. Embora menor do que a nossa, a cidade – distante quase três horas de avião mais três em dois ônibus – não tinha um perfil provinciano. Bem ao contrário. Valorizada por uma geografia entre o mar e a montanha, com praias de um lado, cachoeiras do outro e belas florestas nos lados, ela vivia fundamentalmente do turismo e dos recursos que lhe chegavam da indústria madeireira, concentrada em cidades do entorno. Aliado a isso, tinha um clima privilegiado: era suficientemente quente no verão e quase gelada no inverno, o que garantia o fluxo de turistas durante todo o ano. Não havia baixa temporada.
Essas características a tornaram ideal para nós. Ressaltei para papai que o provável cosmopolitismo da cidade – hipótese que foi se tornando mais forte na medida em que descobríamos alguns sites do comércio local – favoreceria nossa aceitação como casal. De seu lado, agradou-lhe a proximidade com a atividade madeireira, pois dali talvez ele pudesse tirar trabalho. E o fato de o turismo durar o ano inteiro sinalizava uma facilidade de empregos e quem sabe, de futuros negócios. Embora tenha ficado apenas três dias lá, pôde confirmar nossas previsões:
- Cheia de bar, gente na rua, comércio para turista, praias bonitas... E o melhor:...
Seus olhos brilharam, quase travesso:
- A gente não vai chamar atenção de ninguém. Tem viado pra caralho! – e começou a rir, se embolando comigo e nos fazendo rolar sobre a cama.
Papai não lamentou tanto assim abandonar a terra onde nascera e da qual nunca saíra, nem as amizades de uma vida inteira. Da minha parte, não tinha ligação afetiva quase nenhuma mesmo: a casa me era querida porque nela cresci, mas nada tão forte, e amigos nunca os tive, porque na infância e, principalmente na adolescência, preferia a solidão.
Nossa partida não causou estranhezas: dissemos que estávamos indo para a capital e o fazíamos porque papai não suportava mais as lembranças de mamãe por toda a parte e acompanhou o filho, que terminaria os estudos. Também ninguém estranhou – nem percebeu – que perderiam nosso paradeiro: iríamos ficar um tempo sem endereço fixo, para procurarmos um apartamento com calma. Papai prometeu, de pé junto, que assim que tal ocorresse, ele informaria a todos – assim como, muito convincente, prometia que logo todos teriam como passar dias conosco na capital e que sempre voltaríamos para rever os amigos. Logo nas primeiras horas de viagem, contrariamos a lei e ambos caprichamos na força para jogarmos os celulares bem longe, pela janela do ônibus. Os laços haviam se cortado com incrível facilidade.
Os primeiros tempos foram, previsivelmente, difíceis – mas não tanto assim. Papai obviamente não era rico, mas começamos a nova vida com um saldo que, economizando, poderia nos sustentar talvez por um ano, até. A casa precisava de pequenas reformas – no que o fez ressuscitar como peão – e não tínhamos móveis – o que o fez realizar-se como marceneiro. Eu fiquei como ajudante em seus trabalhos, numa posição gostosa e já conhecida, cujo erotismo antes imanente se tornara mais fluído. Não foram poucas as vezes que lambi seu corpo suado ou ele repentinamente me pôs na bancada para fuder.
Contávamos ainda com a facilidade de papai em fazer novas amizades. Previdente, ele organizou nossa rotina de forma a que tivéssemos presença constante na vida social da cidade. Custava dinheiro, mas ele via como investimento – e foi, efetivamente, um bom investimento. No segundo mês, ele conseguiu vender alguns objetos de madeira para uma loja de artesanato para turistas e, no terceiro, eu me tornei uma espécie de caseiro – em realidade, um administrador – de uma das muitas casas dos ricos que passavam o verão ou o inverno na cidade. A maioria delas ficava mais da metade do ano fechada.
Foi o início das atividades que acabariam definindo nossos novos trabalhos. Antes do fim do primeiro ano, o que ganhávamos era mais do que nossas despesas mensais – incluindo a movimentada vida noturna. Das pequenas peças de artesanato logo revendidas em outras lojas, papai passou para a produção de móveis – cada vez mais robustos – e, em dois anos, adotou definitivamente a madeira maciça e, em três, incluiu madeira de lei na sua produção. Seus custos de produção aumentavam, mas seus ganhos em igual medida.
Logo no início, quando a produção era pequena, ele contava comigo. Depois, contratou um ajudante, e depois outro. Junto com a reforma da casa, havia erguido um barracão no fundo do terreno, que acabou ampliando ao mesmo tempo em que construiu um muro lateral que permitia o acesso sem devassar nossa casa, para que eu pudesse andar peladinho e fazermos nossas sacanagens sem maiores cuidados. Também por conta disso, logo nos primeiros meses havíamos incrementado os canteiros em torno do terreno, para que, com o tempo, arbustos e folhagens nos resguardassem, tal como em nossa casa original. A possibilidade de termos vizinhos no curto prazo era remota, mas era melhor prevenir do que remediar – ainda mais em se tratando de um casal com libido excessiva, como era o nosso caso.
Eu acabei descobrindo uma mina de ouro – de ourozinho, mas ainda assim uma mina. A administração das casas – que, na verdade, estavam mais para mansões – me dava uma remuneração razoável, muito mais pela responsabilidade do que propriamente pela carga de trabalho. Para a maioria das tarefas (limpeza, consertos, manutenção de metais e madeiras contra corrosão e insetos, jardinagem etc.) eu contratava terceiros. De pesado mesmo, embora não tanto, eu ficava, quando muito, com a limpeza das piscinas – o que me fazia economizar sem muito esforço, já que os ricos tinham todo o maquinário, em geral sofisticado, para dar conta do recado.
Nunca ultrapassei o total de dez casas administradas, pois não daria conta de um bom trabalho, e atingi esse número pouco mais de um ano após aquela primeira. Em condições normais, eu as visitava de três em três dias, verificando a segurança, o funcionamento dos eletrodomésticos e outros equipamentos, a possível ocorrência de empenamentos ou infiltrações etc. Com isso, tinha tempo para cuidar de papai e de estar sempre preparadinho para ele. O zelo que espontaneamente demonstrava com o trabalho foi o principal trunfo para eu acabar sendo disputado pelos veranistas de luxo. E, antes de mim, não havia na cidade ninguém que desempenhasse esse papel de síndico de mansões vazias.
Continuei embevecido com meu pai, e não era para menos. Iniciando uma nova vida já com mais de quarenta anos, ele confirmou o óbvio: que não era talentoso apenas no sexo e que não fora só por isso que me tornara seu fã incondicional. Sua estratégia em nos tornar rapidamente conhecidos fora de uma perspicácia tremenda: tirando partido de nossa situação como um casal especial (gay, estável e de fácil entrosamento) e da própria diferença de nossos perfis.
Papai logo repetiu na vida noturna da cidade a fama que construíra nos poucos bares da cidade natal: o dono da mesa. Seu tom sacana e camarada, o bom humor onipresente, o desprendimento com que demonstrava sua inteligência e seus modos essencialmente populares – vistos como pitorescos – atraíam novas amizades, que só nos abandonavam quando ele decidia pedir a conta. E, ao lado dele, seu companheiro, que era quase o oposto: o jovem de aparência moderninha e bonito – falei que tinha ficado bonito com meu novo visual... – que cativava pela timidez dosada na medida certa: em vez de retraído, atraía papos mais intimistas, olhares mais sensíveis e sorrisos delicados. Não fingíamos: nós somos assim. E, perfazendo uma dupla dessas, éramos imbatíveis.
Mas éramos mais do que uma dupla: éramos um casal publicamente reconhecido como tal. E, mais do que uma fantasia amorosa, papai havia concretizado a minha – nossa – fantasia sexual mais perigosa e escondida. Ser currado, humilhado, associado a um bichinho de estimação ou tratado como uma subfêmea dada a veemência da minha passividade, ou quaisquer dos outros fetiches que vivia com papai, não era nada perto do que passaria a viver. A maior das fantasias sexuais se realizou rapidamente, e tornou-se diuturna: o reconhecimento, por uma cidade inteira, de que eu era um homem que se sujeitava a ser continuamente sodomizado e submetido ao poder de outro, e que tinha vocação e prazer nisso.
Essa fantasia – radical porque correspondia ao real, e não a uma encenação para prazeres momentâneos, ainda que intensos – foi sendo estabelecida desde o início, sutil mas ininterruptamente. Papai não me expunha de maneira tão escandalosa como quando me apresentara aos peões, e menos ainda como na ida ao proctologista. Aprendera a ser mais sugestivo, a contar mais com a observação do interlocutor do que com suas próprias palavras. E creio que foi comigo que aprendeu que a sutileza poderia tornar exponencial o erotismo.
Estabelecia o jogo, com a cumplicidade de quem testemunhava, por meio dos gestos, dos olhares, dos comentários displicentes, das referências a passagens aparentemente frugais do nosso dia a dia em comum. Contava com a espontaneidade com que meu comportamento comprovava a imagem que o interlocutor ía formando na própria cabeça. Era o não dito que tornava a minha – nossa – fantasia mais fascinante e radical: as imagens depravadas que sabíamos que nosso comportamento suscitava nos demais, fossem hetero ou homossexuais. E o jogo erótico então estava ganho: éramos um simpático casal de homens no qual um se estabelecia naturalmente como o macho do outro e o outro reconhecia a superioridade que o mantinha em submissão.
Papai não precisou esforçar-se para ser reconhecido como o macho do casal: sua virilidade, expressa na aparência, nos seus modos e no linguajar, era espontânea – e, por isso, natural, evidente, sem exageros que o tornassem ridículo. Tampouco eu tive que forçar qualquer barra: a sedução que exercíamos sobre nossos convivas decorria, em grande parte, justamente do fato de que eu não era afeminado, não agia como mulherzinha – embora nossos convivas tivessem todos os dados para visualizar como eu seria na intimidade com o macho. Apresentava-me com uma masculinidade jovial que apimentava mais ainda o tipo de relação de poder que papai e eu alimentávamos na imaginação fecunda de vários de nossos parceiros de jogo.
Ele mandava em mim naturalmente, meu sorriso cativante embutia segredos libidinosos, a diferença da compleição de nossos corpos insinuava as relações de poder que se estabeleciam na cama, a divisão de tarefas em casa indicava a sujeição que o macho mais forte impunha ao mais fraco... Excitava-me a consciência de que, sob os olhos amáveis de boa parte das pessoas que conversavam comigo, um tufão lhes percorria o corpo quando se davam conta de que o rapaz à sua frente se sujeitava a, de quatro, ser montado pelo homem da cadeira ao lado, que o usava tal como o garanhão cobre a égua para injetar-lhe esperma.
A imaginação libertina que sabíamos em algum momento suscitar em boa parte de nossos conhecidos, mas que civilizadamente guardavam para si, alimentava o tesão de ambos. Não sabiam, mas eram cúmplices da nossa fantasia mais bruta, devassa, proibida. Vivíamos em público nossa maior e mais abrangente fantasia sexual: aquela que justificava todas as outras, desde a primeira noite em que nos tocamos. O que funcionava a dois estendeu-se para toda a cidade: tudo tornou-se erótico e lascivamente sugestivo, sem que ninguém nos reprimisse, visto que não tinham consciência disso.
Nossa estratégia naquele jogo era fruto de uma combinação surda: eu e papai não falávamos muito sobre isso, não planejávamos formalmente. Nossa cumplicidade era tão forte que apenas agíamos, um entendendo cada lance do outro e avançando mais casas a partir dele. Papai mandava em mim ostensivamente, mas o fazia amavelmente, às vezes carinhosamente mesmo – e eu confirmava sua posição ao obedecê-lo na frente de todos ao passo que, também ostensivamente, a recíproca não era verdadeira.
Ambos atentávamos para o quanto de segurança podíamos contar para iniciar aquele jogo e levá-lo à frente. A cidade era efetivamente tolerante com homossexuais; sua presença era comum e, por vezes, até ostensiva – embora, evidentemente, não se visse trocas de carinhos e menos ainda beijos em público. Papai, por sua vez, acomodou-se surpreendentemente bem à sua nova situação de gay. Era reconhecido como um gay macho, e isso lhe bastava. Era viado, mas macho; isso resolvia tudo. Continuava macho e me tinha ao seu lado; qual importância tinha agora ser ou não viado?
A parte mais vulnerável era, evidentemente, eu. Mas contávamos com a popularidade de papai e de ambos como um casal “do bem”. Se suscitávamos a volúpia proibida nos corações de uns e de outros, isso não ocorria por algum comportamento indecente ou agressivo de nossa parte; era justo pela razão inversa, e isso nos absolvia. Mas o que me fazia sentir protegido era mesmo estar com papai. Foram poucas as vezes em que ele teve de tomar uma atitude mais incisiva para me defender. Mas tanto sua figura fraternal, que despertava uma simpatia cúmplice, quanto a potencial agressividade sugerida por sua virilidade, eram eficientes na minha proteção. E, claro, saber que estava intacto porque todos tinham a consciência de que eu pertencia a um macho me excitava tremendamente.
Também fui, muito aos poucos, adicionando alguns artifícios para atiçar os devaneios eróticos dos demais jogadores. Presenteei papai com um cordão de ouro, que podia ser apreciado sobre os pelos do peito estrategicamente expostos pelo seu antigo hábito de, volta e meia, manter a camisa com três ou quatro botões abertos. Isto lhe dava um aspecto sensualmente varonil – em contraste com as camisetas que delineavam meu torso magro e, portanto, menos vigoroso. Eram estratagemas assim, simples e sem artificialismos, que inconscientemente atraíam nossos amigos – e quem mais nos visse – para o jogo erótico do qual passamos a desfrutar.
A praia foi um cenário que, por minha iniciativa, tornou-se especialmente excitante para que levássemos à frente minha – nossa – fantasia. Mas não de maneira espalhafatosa como a princípio a exposição dos corpos pode sugerir. O segredo, como observei, estava na sutileza, na aparente naturalidade e displicência com que mandávamos nosso recado.
Não freqüentávamos tanto assim as praias, mas elas eram uma de nossas opções de lazer. Lá, encontrávamos amigos sem precisarmos marcar de antemão, como é comum em cidades litorâneas e turísticas. Os grupos variavam, mas sempre tínhamos companhia. Foi depois de algum tempo que passei a ver naquelas ocasiões mais uma oportunidade de, mantendo a sobriedade do jogo, atiçar o erotismo que eu e papai emanávamos como casal. Simplesmente, passei a posicionar meu pau não mais para o lado, como era costume, mas para cima ou, depois dos primeiros dias, para baixo, fazendo com que ele meio que se encaixasse no saco.
O procedimento era astuto: não escondia o membro, apenas tornava menos identificável seus contornos. Não necessariamente o tornava pequeno, apenas demonstrava que seu dono não fazia questão de que fosse notado. O volume estava ali, podia ser percebido, mas tão débil como queria que minha virilidade fosse encarada frente à de papai. Porque o segredo dessa jogada é que eu estava ao lado dele; isto é o que garantia o efeito. E ele mantinha seu membro acomodado ao lado, paralelo à cintura, como faz a maioria dos homens.
Papai não era de exibir o volume, embora a natureza lhe permitisse poder exercitar esse orgulho adolescente. Usava uma sunga escura, discreta, pouco chamativa, dada a sua banalidade. E se em algum momento tocava em seu pau sobre o tecido, para acomodá-lo, o fazia discretamente, de forma não mais evidente do que qualquer outro. Mas, a olhos interessados, seu volume só passaria despercebido se, tal como eu, ele se esforçasse para isso. Não era nada tão chamativo, nada monstruoso ou inconveniente, mas era um bom volume. Mesmo em repouso, seu pau tinha uma grossura acima do usual, assim como era de sua natureza carregar culhões excepcionais. Era inevitável que esse conjunto ocupasse espaço por baixo do tecido e seu relevo fosse perceptível.
Nunca fiz qualquer menção que incentivasse alguém a observar nossa diferença. Nem sinalizei para que constatassem ali, no modo como cada um arrumava sua virilidade naquelas sungas, mais um indício de quem era quem, de quem afirmava e quem se retraía. O segredo daquela jogada era justamente manter-me alheio à reação do outro; fazer com que, por olhares escondidos e sem ciência de seu papel, dissesse o que eu queria que dissesse. E também nunca cheguei a passar vergonha, apesar das ereções passageiras que viviam me atentando nestas horas.
Meu pai pareceu ignorar minha jogada. Eu desconfiava que não, mas só tive certeza quando troquei a sunga por uma outra num tom mais claro, para aumentar o efeito sem chamar a atenção. Então, com um sorriso malicioso e se aproveitando que os amigos ainda não tinham chegado, a denunciou. Eu ri, completamente envergonhado, e tive de ficar de bruços para me esconder. Ele não me deu uma bronca, nem mandou que eu parasse; tornara-se mais tolerante com o que considerava minhas “viadagens”. Consentiu, sem maior alarde, e, na verdade, creio que até gostou. Mas só voltou a lhe dar importância uma ou duas vezes, na cama, para instigar-me enquanto me metia o cacete.
Mas estes artifícios tinham um papel acessório no jogo. Eram as reações voluntárias, os detalhes quase imperceptíveis, o que mais excitava e concretizava a fantasia. Era o caso do simples uso do verbo “mandar” – que, no contexto da nova cidade, assumia outra conotação. Para aquelas pessoas, ele não era meu pai, mas meu companheiro. E com frequência me avisavam, com naturalidade, que ele havia me mandado fazer alguma coisa – como, por exemplo, pegar cerveja para ele. Não diziam “pediu”, ou “falou”; diziam, com toda naturalidade e talvez sem se darem conta do que diziam, “mandou”. Ou, ainda, quando algumas vezes utilizavam a expressão “seu marido” para referir-se a ele, mas, eu notava, jamais o faziam diante dele ao referir-se a mim. E, ao menos aparentemente, não o faziam com qualquer desdém ou picardia; muito ao contrário, a impressão que me transmitiam é que se sentiam tolerantes, educados, modernos, ao fazê-lo.
Esses pequenos detalhes me atiçavam. Numa loja, alguém me advertia sem qualquer embaraço que eu estava levando um produto de uma marca ou modelo que ele não comprava, prevendo que eu imediatamente o trocaria. E eu o fazia, confirmando ao meu interlocutor que, como ele bem sabia, quem mandava era ele. Essa previsão que todos tinham sobre a obediência a meu macho me fascinava. Quando, ainda que amável, ele me chamava a atenção, todos anteviam que eu iria recuar quanto a uma atitude, uma escolha, um desejo que havia demonstrado. Mas não me encaravam como um idiota ou desprovido de personalidade, porque me conheciam, haviam conversado comigo, sabido como eu raciocinava. Eles me encaravam como obediente ao meu homem – e nós havíamos lhes ensinado que isso era o normal entre nós.
Essa exposição me levava a ereções constantes e inesperadas, e até hoje ocorrem quando me lembro de algumas passagens que, a rigor, nada teriam de eróticas. Agora mesmo, quando algumas me vêem à mente enquanto escrevo, meu pau pulsa e endurece. Minha excitação às vezes era tamanha que o esforço era hercúleo para que pudesse conter minha aflição até que papai decidisse que íamos embora, para então levar pica e me acalmar. E isso ocorria em conversas inocentes num bar, ou mesmo numa festinha infantil do aniversário do filho de alguém.
Algumas vezes, não me contive e, discretamente, pedia-lhe que fôssemos para casa, indicando uma ereção que não passava. Não me atendia imediatamente, pois tinha prazer em me deixar ansioso de tesão e gostava de deleitar-se com sua autoridade. Uma vez, ao lhe contar do porquê de tamanha excitação – um comentário que de tão frugal denunciava a intensidade de meu prazer pela submissão pública –, me obrigou a curvar-me no quintal da frente para meter-me o cacete ali mesmo, sob o luar. Como fizera após a partida de tia Amélia, me enfeitiçava com a possibilidade remota de que alguém caminhasse aquela hora por aquele bairro ainda com poucas casas. E com a ideia de que minha sujeição exposta em público se confirmasse no testemunho de quem visse como eu me rendia, excitado, ao que efetivamente ele fazia comigo quando a sós.
Mas, se para ambos era a fantasia erótica mais fascinante de todas, era também a mais perigosa. Não levaria a dor, a marcas no corpo ou à própria morte de cada um, como outros fetiches igualmente radicais. Era pior: arriscava-nos a perder um ao outro, a lidar com a morte – do outro.
Ao nos casarmos – o que, em nosso caso, significava morarmos juntos e assumirmos publicamente uma vida marital –, arcamos com o risco de pôr fim a tudo o que havíamos vivido até ali, sem um compromisso assumido publicamente. Isto é enfrentado por qualquer casal. No nosso caso, porém, havia um agravante: ruindo a relação, um perdia o filho e o outro se tornava órfão. Por mais amistosa que fosse nossa separação – e ambos sabíamos que não havia qualquer possibilidade que o fosse –, jamais teríamos como esquecer o que havíamos vivido, em prol de uma primazia da consangüinidade e do tipo de amor que, em tese, ela nos vincularia. Ao deixar de ser amante, ele também deixaria de ser pai. E eu deixaria de ser filho.
Não haveria retorno. Viveríamos a dor da morte do outro em vida. Por isso, sabíamos que, quando ele tirou do limiar da dúvida aquela fantasia a princípio amorosa, havia nos mergulhado na maior e mais radical fantasia sexual: aquela em que sexo e morte se entrelaçam de tal forma que a menor perda do controle dos amantes se torna fatal. E eu havia mergulhado nessa fantasia junto com ele.
Havia ainda outro fantasma: nossa diferença de idade. Se nos excitávamos ao tornarmos público o tipo de relação que tínhamos, erotizando tudo ao nosso redor, tínhamos ciência de que boa parte daquela sedução advinha do fato de ele estar na casa dos 40 e eu na casa dos 20. Ele era maduro, mas não velho; eu era jovem, mas não um adulto pronto. Essa situação, evidentemente, não seria eterna. Assim como também poderia não ser eterno, diante da rotina mas, principalmente, da natural decadência física, todo aquele tesão que um sentia pelo outro.
- Você é garoto ainda. Eu vou ficar velho. Você vai querer outro, mesmo não querendo. E vai me deixar.
Olhei surpreso. Aquela ponta de insegurança não combinava com ele. Não mesmo.
- Que isso, pai...! Faz as contas. Quando você tiver 70, eu já vou ter 50. Nossa diferença não é grande assim. A gente vai ficar coroa quase junto. Se é que eu não morro antes.
Seu semblante enrijeceu e ele me olhou muito profundamente. Quase empalideceu.
- Tu não diz isso. Se tu morrer, eu morro junto.
Em meus sonhos, morreríamos juntos, como sonha qualquer casal apaixonado, mesmo sabendo que não será assim. Mas, que outra opção teríamos? Deixar de enfrentar nossos desejos para evitar a dor de uma frustração futura? Entregávamo-nos à nossa maior fantasia, ainda que o medo pudesse ocasionalmente nos ameaçar. Já havíamos vivido vinte anos na dor dos desejos refreados. Agora, aprendíamos um com outro como lidar com eles, e com nós mesmos.
Papai, embora aparentemente mais relaxado, não mudara essencialmente em nada. Ele continuava autoritário, machista, muitas vezes grosseiro. Exercia sua dominação sobre mim como se habituara a fazer, sem qualquer preocupação em desempenhar o papel de integrante de um casal “do bem”, iniciando seu dia comigo de quatro levando sua primeira mijada, para me fuder depois. E eu continuava a atazaná-lo com meu tesão sem fim, pedindo no olhar uma nova curra, a denúncia de um segredo que me envergonhasse, uma frase displicente que me humilhasse diante de sua grandeza. Mas, ainda no início, quando a reforma da casa se deu por encerrada, ele mostrou mais uma vez que, bem ou mal, tinha seus momentos de amolecimento diante do que considerava minhas frescuras. Eu pedi que ele passasse o dia todo fora para que, à noite, inaugurássemos nosso novo lar com tudo o que tinha direito.
Eu não havia ainda organizado os poucos objetos de decoração que fui arranjando. Por minha insistência, ele não pôs quadro algum na parede nem instalou as persianas da sala. Enfim: a cereja do bolo não fora posta. E eu queria fazê-lo sozinho, para à noite recebê-lo devidamente preparado, cheirosinho e peladinho com a casa, aí sim, totalmente pronta.
Foi o que ocorreu, e eu o recebi ansioso, como tantas vezes havia ocorrido. Ele me enlaçou pela cintura e me deu um beijo apaixonado. Vivíamos juntos uma aventura que nenhum pai ou filho provavelmente havia vivido com tanto arrebatamento. Me fudeu logo, ali mesmo de quatro, para que eu tivesse sua porra dentro de mim enquanto finalizava os preparativos de nosso jantar à luz de velas.
Mais tarde, em nosso novo quarto – o único da casa – me possuiu novamente. Nós não escondemos um do outro o deslumbramento que cada um sentia pela própria coragem, pelo desplante de sermos como éramos, de nos encontramos no que, para o mundo, era doentio, nojento, abusivo, grotesco, terminantemente proibido.
Esse orgulho e a excitação que sentíamos pelo que nos esperava dali para a frente se traduziu numa foda muito intensa. Sua musculatura me comprimia, contrastando com os carinhos com que fazia percorrer seu tesão por meu corpo. O cacete me invadia até o fim e depois me abandonava completamente, sem perdão. Ele brincava com o que sabia ser dele e queria ser dele.
Num dado momento, virou-me de frente e se pôs muito perto, o rosto muito perto, suspendendo meus braços e os prendendo, esticados sobre o colchão. Sua expressão era muito forte, quase assustadora. Olhou no fundo dos meus olhos. Eu devia me intimidar com aquela intensidade, mas não temi, porque estava com ele. Parecia olhar além de mim.
- Eu te amo.
Quis responder, mas não consegui. Só continuei com os olhos pregados nos seus. Sua pica pulsava dentro de mim, inchada e imóvel.
- Eu te amo, garoto. Eu te amo tanto... – meteu o mais fundo que pôde; as estocadas recomeçaram e foram aumentando de intensidade; doíam dentro de mim. – Te amo mais que tudo na vida. Mais que qualquer coisa que tive na vida. Às vezes, seu merdinha... Às vezes, eu queria que você voltasse pro meu saco pra eu te fazer de novo, mas fazia igualzinho. Igualzinho como tu é. Igualzinho... Igualzinho.
Ele ia me apertando cada vez mais forte. Papai preferia usar o corpo quando fudia, quase nunca as palavras. Mas falava sem diminuir o ritmo com que me golpeava por dentro. Eu arfava, gemia, e mesmo a dor eu queria mais.
- Tu é tudo que eu queria, Mateus, meu Mateus... Me deixa doido; esse teu jeito palerma me deixa doido, tua voz me deixa doido, essa tua maneira de pensar me... Eu não te entendo; você é burro, é um frouxo... É mais inteligente que eu, mas é burro; não presta; te fiz errado. Mas eu só quero ficar contigo; você comigo o tempo todo.
Parecia endoidecido; me assustava e me enlouquecia junto, mas eu não tive medo: se quisesse, podia me partir em dois que eu estaria junto com ele. Suas mãos me apertavam; os dedos pareciam que entrariam na minha carne.
– Teu corpo, teu jeito, essa tua pele, você todo, você todo meu, seu puto. Eu te amo, eu te amo desse jeito frouxo que tu é, meu merdinha.
Ele estava fora de si, pareceu tremer, ou talvez perder as forças e recobrá-las no ato; o corpo dele enrijecido me envolvendo como se eu estivesse dentro do peito dele. A porra explodiu como se fora daqueles músculos que me mantinham preso, imóvel entre seus braços; seu tórax arfando, o caralho cravado em estocadas curtas e vigorosas, imprudentes.
Ouvia o barulho do canal sendo explorado agora inundado. As metidas não cessaram. Senti seu saco me bater, molhado pelo esperma que vazava com a continuidade dos movimentos. Entrei em orgasmo, sem me dar conta que gemia mais alto. Ele tapou minha boca, me encheu de beijos, nossos rostos deslizando em suor; talvez até fossem lágrimas. Meu pau deu uma golfada breve, depois outra; ele enterrou o caralho de novo o mais que pôde e percebi que largava mais uma carga de porra; o cacete sem parar sequer um instante. Ele não queria parar; eu não queria que parasse. Metia, metia, metia, como se quisesse entrar todo em mim, como se pudesse me tomar todo, como se não tivesse me tomado já quando o conheci, ainda criança.
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FIM