Não me agradava ser tratado como uma garota, André se negava aceitar que gostava de homem, aliás, que eu era homem e ele gostava de mim, não entendia o motivo dessa negação, mas claro que pretendia entender mais sobre ele.
- André, acho que está na hora de você me contar mais sobre você, assim como já sabe da minha história, gostaria de saber da sua.
- Ué eu morava na rua, você já sabe também.
- Sim, e antes disso, você não tem perfil de uma vagabundo que tenha algum envolvimento ilícito.
- Claro que não guri.
- Então me conta, quero te conhecer direito.
- Não tem nada feliz na minha vida que você gostaria de saber.
- Pois é, nem sempre a vida é perfeita.
- Perfeita? Passou bem longe disso. Eu quando mais novo tinha uma namorada, conheci na escola, ficamos juntos por mais de dois anos, descobri que ela estava gravida, só que eu não podia ser feliz sem que alguém atrapalhasse.
- Como assim?
- O rapaz que se dizia melhor amigo dela começou a dizer que eu tinha flertado com ele, que fazíamos sexo direto, um verdadeiro filho da puta, viado nojento.
- Ela acreditou?
- De começo não, mas na festa de aniversário da mãe dela ele veio em mim e me beijou, ela viu e não me deu tempo de explicar, foi correndo embora, depois de dar uma surra naquele nojento, fui atrás dela mais ela não estava na casa. Soube que ela sofreu acidente na avenida ao lado da minha casa.
- Meu deus.
- Pois é, perdi meu filho, perdi a minha futura esposa, quase fui preso por culpa do viadinho, acabei rejeitado pela minha mãe que é depressiva graças ao cara que ela arrumou. Na minha vida nada deu certo.
- Tudo isso por uma intriga, um invejoso te causou tanta destruição assim?
- É, um viado desprezível, meu, tenho nojo dessa gente. Sinceramente.
- Você sabe que eu sou...
- Nem se compare com aquilo guri, ele não merece ser comparado com gente decente.
- Desculpa, mas você não tem parentes vivos?
- Só uma tia que mora escondida do mundo, lá no maranhão.
- Entendi, fico feliz de ter conhecido você então, posso tentar te alegrar um pouco, quem sabe.
- Você já está fazendo isso, só preciso que você não me cobre pra expor que estamos “juntos”.
- Agora entendi, ninguém acreditava que você não tinha nada com aquele rapaz, por isso você afirma a todo momento ser macho, mais pode ficar tranquilo, eu sei muito bem como você é, afinal, não sei se sentiria o mesmo por você se fosse homossexual.
- haha, Nicolas as vezes acho que você é mais safado que eu guri.
- Impossível, você já me mostrou algumas vezes que eu nem de longe sou safado assim.
Quebrando o ar serio da conversa, já que fazia o André ficar com a feição triste pensando em suas perdas, os dois rindo das bobagens que a conversa se encaminhou, até que ele voltou a ficar sério.
- Agradeço por ter te conhecido, sério mesmo, já estava desiludido, não acreditava que ainda existiam pessoas decentes nessa vida.
- Para com isso, assim fico sem graça, agora não precisa se preocupar, já sei, vou fazer de você alguém da “alta sociedade” o que acha? Só como passa tempo mesmo.
- Qual é, não levo jeito pra isso.
- Só por diversão, porque sinceramente eu também prefiro você assim como é.
- Ahh guri. – Veio logo me beijando, me deitando no sofá – Só não te pego aqui agora, porque preciso ver o que precisa pra escrever nessa ficha, pra conseguir o tão esperado emprego.
- Ah! Que cara sério, mais sem pressa, olha com calma.
- Como assim, pode me ajudar aqui, você disse que ia estudar pra esse tipo de coisa, agora é hora de treinar.
- Ah claro, estudar pra preencher fichas – Acabei rindo de novo, gostava daquele clima descontraído com o André, não sentia falta mais de ficar sozinho, ao contrário, dava graças por ter ele de compania.
Ficamos por um tempo preenchendo aquela ficha, ele desceu pra entregar na recepção, pra que fosse enviada de volta pro meu pai. Quando voltou estávamos com fome, mas ele não me deixou pedir comida no hotel, resolveu cozinhar pra mim, o que de fato me deixou de boca aberta, nunca imaginei que ele pudesse ter esse talento, cozinhar, eu era realmente uma negação.
- Guri, vou usar sua cozinha, cansei de ficar comendo comida desses lugares, parece tão sem graça.
- Tá, mais vê se tem o que precisa, se não tiver tem que ligar e pedir pra trazerem as coisas aqui.
- Acho que tem, eu dei uma olhada mais cedo, pensei em cozinhar pra você, ia ser de surpresa, mas acabou que não saiu como planejado.
- Quantos mistérios você tem escondido?
- Quando se vive sozinho por um tempo, tem que aprender de tudo um pouco, ou passa fome.
- Espero nunca viver sozinho.
- Eu espero mesmo que você não fique sozinho, porque eu teria que ir te ajudar pra não morrer de fome haha’.
- Então mora comigo ué.
Quando falei aquilo, André se calou, não vi se estava sério ou bravo, ele estava na cozinha de costas pra mim, não dava pra saber qual seria a reação dele. Do nada ele virou pra mim com um sorrisinho no rosto.
- É acho que é a única saída.
Aquilo de certa forma me deu uma alegria sem tamanho, não entendi esse sentimento por um ato tão simples, talvez a ideia de ter ele comigo por muito tempo me fazia feliz assim.
- André...
- Fala
- Não gosto muito que você me trate como menina sabe, aquilo de namoradinha, poderia não sei no feminino né.
- Mais eu te vejo como minha menina.
- só que eu nã... – Fui cortado como de costume.
- Entendo, é assim que você prefere, vai ser tenso me acostumar com isso mais não vou dizer assim como você pediu,
- Eu te entendo, esse trauma com gay. Saiba que pode confiar, eu não diria a ninguém que estamos nos “conhecendo” sabe.
- que eu estou te pegando né.
- Pois é, bem direto você né.
- E não é verdade?
- claro, enfim, acho que não tem o que se preocupar, combinado?
- Eu acredito em você guri, pode ficar tranquilo, não vou te tratar como algo que te irrita.
- Obrigado. A propósito, o que vai cozinhar?
- Com o que temos disponível, parmegiana de frango, espero que te agrade, porque só temos filé de frango e de peixe no congelador.
- Frango, ótimo, pelo amor de deus peixe não.
- Peixe é saudável guri, mas eu também não curto muito.
- Que ótimo, assim você não vai ter vontade de cozinhar isso.
- Se você quiser que eu continue cozinhando, tem que fazer alguma comprinhas né.
- Você pode fazer isso, afinal não sei o que precisa.
- Você é o dono do dinheiro, isso não me agrada, mais não tenho dinheiro.
- Vamos os dois, calma que daqui a pouco você vai ser um motorista meio segurança meio homem que eu gosto, vai ter sua renda.
- Ótimo, assim você para de pagar as coisas pra mim.
- Não me incomoda, eu sei que você não gosta, mais não é só pra você essas coisas né.
- Comida não, mais e as roupas? O celular?
- Pra mim também.
- Como assim?
- Te ver pelado trocando as tantas roupas que você tem agora, ver você bonito chamando atenção por onde passa, ter como falar com você mesmo longe, não vai achando que não sou egoísta, também pensei em mim esse tempo todo.
- Ah rapaz, resposta pronta é. Mais nem tudo é verdade, me ajudar sem pedir nada em troca, me jogar pra recepcionista, não pensou em você nessas horas.
- Então né, vamos pro que interessa, e a comida?
- Não achou resposta né – Caímos na gargalhada, quando ele anunciou que estava pronta. – Aqui, o arroz não está tão gostoso mas, me esforcei eu juro.
Sentamos na mesa, ele do meu lado, me olhando enquanto tirava o meu prato, esperando ansioso eu começar a comer, como se precisasse da minha aprovação. Quando comi um pouco, não quis parar mais, melhor comida que eu comia a tempos.
- Nossa, podemos trocar seu cargo pra cozinheiro. Haha’
- Gostou?
- Demais, perfeito.
- Ah que bom, achei que errei no sal.
- Nada, tá muito bom.
- Então, não é melhor que a do hotel?
- Sem comparação
Assim que terminei de comer, ele segurou meu queixo e virou pra sua direção, ganhei um beijo do nada, sem provocar nem nada, foi espontâneo dele, aquilo me alegrou, claro depois de me deixar corado. Era impressionante que mesmo depois de tudo que fizemos ele ainda tinha a capacidade de me deixar com vergonha, nos atos simples dele comigo, me faziam sentir tímido.
- Não sei de onde saiu isso, mais por favor, faça mais vezes.
- Haha’, é especial, por me devolver a vontade de continuar.
- Só dei as oportunidades, a vontade estava em você.
- Então quero continuar com você.
- E você achou que eu iria abrir mão de você tão fácil?
- Você não tem jeito mesmo né.
Depois de um abraço apertado, e aconchegante, comemos, sinceramente, a melhor comida que eu comia a anos. Depois da comida voltamos a assistir, esperando meu pai retornar a chamada pra dizer se meu carro iria chegar ou se o André já estava empregado.