— Meu nome é Kevin e tenho 19 anos. Trabalho em uma empresa de modas e faço faculdade à noite.
Minha vida está uma perfeita bagunça, mas nem tudo é tempestade. Ainda bem que tenho meus melhores amigos para me amparar. São eles: Melissa, Ravel e Fabrício. Além de Melissa ser minha melhor amiga, nós dividimos um apartamento bem amplo.
Ravel é como um irmão para mim. Ele está sempre do meu lado e demonstra se importar comigo de verdade.
Já Fabrício, meu terceiro e último melhor amigo, vive me dando conselhos e me apoiando nos momentos mais difíceis. Até quando estou triste, ele dá um jeito de me fazer rir.
Era sexta-feira. O dia começou com o despertador tocando e Kevin acordando com dificuldade — ele odiava levantar cedo, mas já estava acostumado à rotina. Saiu da cama, foi até o banheiro e fez sua higiene matinal.
— Bom dia! — disse ele, ao dar de cara com Melissa, já acordada.
— Bom dia! — respondeu ela, de frente para o fogão, preparando panquecas.
— Me responde uma coisa, Melissa. Como você consegue estar de pé tão cedo? — perguntou Kevin, enquanto colocava dois pratos na mesa e se sentava.
— Sei lá… já me acostumei. Minha mãe sempre dizia que acordar cedo faz bem — disse ela, servindo uma panqueca para ele e outra para si mesma.
— Humm… — murmurou ele, saboreando um pedaço.
— E como você consegue ser melhor que eu na cozinha assim? — perguntou, limpando os lábios com um guardanapo enquanto se levantava para pegar o paletó.
— Não exagera. É só uma panqueca. Aliás, o senhor nem terminou de comer e já está apressado pra sair — disse ela, cortando a comida com calma.
— Hoje não posso me atrasar. Ah, e hoje tem balada depois da facul. Você vai, né? — perguntou Kevin, dando um beijo no rosto dela antes de sair.
— Talvez eu vá! — gritou ela, tentando ser ouvida enquanto ele já saía.
Kevin chegou à empresa, entrou no elevador e cumprimentou os colegas com um "bom dia" seco — eles não gostavam muito dele, por ser o queridinho de Mirella. Até para escolher o papel higiênico, ela pedia a opinião dele, o que Kevin fazia com prazer. Além de ganhar bem como consultor de marketing, ainda recebia bônus por ser quase um assistente pessoal dela.
Assim que o elevador chegou ao andar da presidência, Kevin foi até a sala de Mirella. Bateu três vezes, mas não houve resposta. Girou a maçaneta e entrou.
Mirella não permitia a entrada de funcionários sem motivos específicos — e muito menos sem bater. Apenas Kevin tinha esse privilégio, mas mesmo assim ele sempre respeitava e batia antes.
— Senhora Mirella? — chamou, aproximando-se e virando a cadeira dela, que estava de costas. — Está tudo bem?
— Estou, sim… é apenas um problema pessoal — respondeu ela, com uma expressão abatida.
— É grave? — perguntou Kevin, percebendo sua feição entristecida.
— Não, não se preocupe. É só o de sempre — disse ela.
— Ah… entendi — respondeu Kevin, já sabendo que “o de sempre” significava Marlon.
Kevin nunca conheceu Marlon pessoalmente. Sabia apenas o que Mirella contava — e nunca havia ido à casa dela, já que sempre resolviam tudo ali na empresa.
— Senhora Mirella, posso te fazer uma pergunta?
— Claro. Você pode perguntar qualquer coisa.
— Qual é a idade do seu filho?
— Vinte e um — respondeu ela.
— O quê?! Me desculpa, mas seu filho já é um marmanjo para agir como uma criança inconsequente. Desculpe a franqueza, mas é a verdade. Pelo que a senhora me conta, ele sai para festas, não avisa para onde vai, dorme fora e nunca dá satisfações.
— Eu sei… também acho que ele exagera às vezes. Mas o que posso fazer? Não o culpo — suspirou ela, deixando uma lágrima escorrer, que secou rapidamente. — Ele cresceu distante de mim…
— Mas isso não justifica tudo. Você só se distanciou porque precisou batalhar para construir seu império. E ele nem valoriza isso.
Mirella era uma mulher deslumbrante: elegante, bondosa e determinada. Engravidou cedo e não teve tempo para o filho que tanto precisava dela. Precisou focar nos estudos e trabalhar duro para criar sua própria empresa. Marlon foi criado pelos avós até os 10 anos, quando passou a morar com a mãe.
— Vou para minha sala. Depois a gente conversa. Só pra encerrar: se ele fosse meu filho, eu já teria dado uns bons puxões de orelha! — brincou Kevin, saindo da sala.
Kevin passou o dia em sua sala. Ao fim do expediente, arrumou seus papéis e levou alguns trabalhos para casa. Após um banho, vestiu-se para a faculdade com um certo capricho: camisa gola alta vermelha, calça jeans apertada que realçava seu corpo e sapatênis branco. Passou um perfume doce e foi para a sala.
— Vamos, Melissa! — gritou.
— Já estou indo, só um segundo! — respondeu ela, terminando de colocar o salto. — Pronta! A noite promete.
Melissa estava deslumbrante: calça branca, blusa preta destacando o decote. Ela era linda — alta, parda, olhos cor de mel e cabelos longos e lisos. Tinha um corpo invejado por muitas garotas.
Kevin também era muito bonito e desejado por vários homens, mas não se entregava a qualquer um. Era alto, pardo, cabelo preto cortado dos lados e com mechas loiras jogadas para frente, olhos claros, corpo magro, cintura fina e coxas marcadas.
No carro, seguiram para a faculdade. Lá, foram recebidos por Ravel, que Melissa nunca simpatizou. Sempre sentiu algo estranho nele, mas não sabia se era intuição ou desconfiança.
— Te vejo na balada, beh! Hoje um gato vai me levar — disse Melissa, piscando para Kevin e entrando na faculdade.
— Tá bom, beh, nos vemos lá — respondeu ele.
Ravel revirou os olhos e debochou quando Melissa virou as costas.
— Não entendo por que vocês dois não se dão bem. Já tentei de tudo — disse Kevin.
— Talvez porque somos muito próximos, e ela tenha medo de te perder — respondeu Ravel, com um tom malicioso.
— Bobagem. Melissa não é assim. Talvez só não tenha pegado confiança em você ainda — disse Kevin, bagunçando o cabelo de Ravel, que sorriu. Ele o acompanhou até a sala.
— Já que você vai pra balada, me espera. Vou também — disse Ravel, animado. Mas, assim que Kevin entrou, seu sorriso sumiu.
— Maldito imbecil… — murmurou, cerrando os punhos enquanto subia para sua própria sala.
As aulas passaram rápido. Kevin organizou seus materiais e foi esperar Ravel no carro. Ele chegou minutos depois, ofegante e com as roupas amassadas.
— O que será que ele aprontou? — pensou Kevin, rindo.
Seguiram para a balada.
Ravel era extremamente bonito, com traços delicados e chamativos. Seu cabelo e estilo lembravam o de Kevin — até nas mechas loiras. Mas, por trás da aparência impecável, escondia sentimentos obscuros e invejosos. Apesar de ser gay, usava sua beleza como ferramenta para atrair qualquer um, e vivia se envolvendo com várias pessoas. Era conhecido por sua promiscuidade e dificuldade de se valorizar.
Ao chegarem à balada, Kevin foi estacionar o carro.
— Pode ir na frente, Ravel.
— De jeito nenhum. Espero por você aqui — respondeu ele, de braços cruzados e com um sorriso debochado.
Kevin se aproximou e os dois entraram. A música estava ensurdecedora. O local estava lotado: pista de dança cheia, bar movimentado. Kevin se aproximou do ouvido de Ravel:
— Vou pegar umas bebidas. Já volto.
Ravel apenas assentiu, revirando os olhos ao vê-lo se afastar. Observou o ambiente e usou todo seu charme para atrair um homem atraente, por volta dos 29 anos. Rapidamente, os dois desapareceram em direção ao banheiro da boate.
O local era frequentado por todos os tipos de pessoas. Aquela noite, predominavam héteros e mulheres em busca de diversão. Kevin, por sua vez, queria apenas beber e curtir a noite.