Agridoce – Dias atuais ( Ep – 2)
Abro meus olhos e não enxergo nada, demoro alguns segundos até ter de volta a visão. Suspiro e passo a mão no rosto -Foi só um sonho – digo a mim mesmo - Levanto e vou em direção a porta, passando em frente a janela avisto Cristina colhendo frutos no quintal do outro lado da janela, no andar de baixo. – Oi! – aceno em direção a Cris– Oi – ela responde com um pequeno aceno. Dou um sorriso breve e desço as escadas rumo a porta dos fundos, onde tem saída paro o quintal.
-Sabia que você fica linda misturada em meio a árvores? – pego o café dela sob a mesa de madeira velha, ela me olha e continua em silêncio, colhendo acerolas. Me sento na rede e a observo. -Vai continuar com essa “greve de linguagem verbal” ?!– faço aspas no ar com as mãos – Poderia maneirar, né? – Questiono dando uma golada no café - Cristina deixa a bacia de acerolas em cima da mesa e se senta junto a mim, me olha por alguns segundos, fecha os olhos e deita a cabeça na rede ao meu lado. -Sabe o que é, Valentim? Eu estou cansada. Minha família continua atrás da minha sombra, minhas notas só caem gradativamente, não estou rendendo no trabalho...fora os nossos problemas aqui em casa. Somos amigos mas parecemos casados! – Rimos alto disso – Só não temos o lado bom, o sexo. -Continuo- Podemos viver com isso.- Ela ri - balancei os braços deixando café nos molhar na rede – sabe que vai ter que limpar isso, né?! – Cris levanta rindo, pega a bacia e entra na cozinha. Pego um cigarro na carteira, tiro o isqueiro do bolso e acendo.
40 minutos depois adentramos o salão principal da nossa faculdade. – Nos vemos mais tarde! – Cris se despede subindo as escadas para o segundo andar- Até! – Continuo andando pelo corredor -cantarolo uma canção antiga- passo pelos banheiros, sala dos professores, cantina e finalmente chego na minha sala. -Que Droga!- chuto a lixeira do corredor - Esse professor é o mais mala de todos! – Exclamo a mim mesmo. Deixo a alça da mochila escorregar pelo braço e me sento ao chão.
-psiu! – ecoou pelo corredor – Velentim! Aqui, sou eu, Nico. – “WTF?” – digo em voz baixa – O que faz ai, seu puto?! -Nico abafa o riso e some virando o corredor, pego minha mochila e saio correndo atrás dele.
-Lembra que o nosso traficante preferido estava em cana?! – Sim...- respondo – Então, ele voltou. E olha só o que eu peguei pra nós hoje – Nico retira do bolso um saco cheio de LSD e doses de heroína – WOW! – Grito e rapidamente coloco a mão na boca – Vamos com calma -sussurro- vamos sair daqui...minha aula era importante, mas preciso dessas drogas. – Calma aí, parceiro – ele guarda o saco com as drogas no bolso – preciso de um favor seu. -Nos entre olhamos – E é pra ontem. – ele caminha em direção aos banheiros e eu o sigo. Nico abre a porta do banheiro masculino, entramos e tranquei a porta atrás de nós. Caminhei até o vaso, tirei meu amiguinho pra fora – Nico, senti sua falta. – Falo sem olhar pra ele – achei que ia sumir de novo. Como sempre – Nico ri mas abafa o som – E deixar essa cidade toda pra você, Valentim? Nem fodendo. Termina isso logo, devo estirar uma carreira pra ti? Tenho um restinho de ontem. – Sim, pode... – dei descarga e arrumei minha calça, caminhei até a pia – Qual cofre?! – indago Nico que reage com surpresa – C-como sabe q-que é isso?! – Eu não sou tolo, e ainda sou seu amigo. – seco minhas mãos, tiro uma nota de cinco reais do bolso e a enrolo – Então... onde é?! – tomo o celular da mão dele, escolho a carreirinha e como uma bala aspiro ela completa. -Wow! Esse tá bom! – passo o celular e a nota pro Nico, tão rápido quanto a mim ele aspira tudo. – É na casa do novo “sugar Daddy” da minha irmã. O velho deve ter uns 100 anos e fede a riqueza. – E como você sabe do cofre? – Pergunto a ele, sento na pia – Bem...eu fui lá essa noite. Minha irmã saiu com o velho e eu aproveitei pra dar uma olhada. -pisca pra mim- e é aí que você entra. Topa ou não?! -respiro fundo – Vamos nessa!
(...)
