Photograph
Loving can hurt, loving can hurt sometimes
But it's the only thing that I know and
When it gets hard you know it can get hard sometimes
It is the only thing that makes us feel alive
We keep this love in a photograph
We made these memories for ourselves
Where our eyes are never closing
Hearts were never broken and time's forever frozen still
So you can keep me inside the pocket of your ripped jeans
Holding me close until our eyes meet
You won't ever be alone
"Wait for me to come home"
Essa canção do Ed Sheeran define minha relação com William.
Eu não estava conseguindo dormir em pouco tempo, ouvi o som do motor do carro chegando, era minha mãe e a Laura com as crianças. Elas fizeram o mínimo de barulho possível e logo a casa já voltara ao silêncio noturno novamente.
Aquela noite foi difícil de dormir, eu me revirei por diversas vezes na cama, mordendo os cantos da boca, pensando na nossa discussão. Eu o amava e só queria que ele entendesse que eu e a Laura só estavamos pensando no bem dele, e o pai não era um símbolo ou exemplo a se seguir. Algo óbvio, mas, que ele não queria enxergar.
- Baixinho, você está bem? Não para de se mexer na cama!
- Está tudo bem William! Tô sem sono.
- Ele é meu pai Binho, eu preciso conhecer ele, preciso saber dos meus irmãos, preciso entender o que fez ele sumir!
- William! Seu pai "se é que é possível chamar ele assim", só foi embora porque viu que a Laura não tinha mais grana/bens e condições de manter os vícios dele, era e é um sem vergonha, e não mudou em nada, só apareceu porque, acho que descobriu que você é um homem financeiramente estável! Agora quer faturar um fácil nas custas do próprio filho.
- Fabiano eu não quero brigar com você por causa do meu pai e por causa da imagem que você e minha mãe fazem dele, ele é meu pai e eu já decidi, amanhã vou pra casa dele!
Nem esperei ele terminar a frase, me levantei da nossa cama e fui até o quarto do Igor, ele estava descoberto e eu me atentei a cobri-lo com calma para que não se assustasse e acordasse. Puxei uma poltrona ao lado da cama e enquanto admirava o sono do meu filhão que tinha chego cansado da praia com as avós, eu me perdi em pensamentos e lembranças de todo período até aquele momento.
Já são 8 anos juntos.
Onde eu parei de me importar?
Onde eu errei?
Onde eu deixei de demonstrar o amor que sentia por ele?
Não existiu, eu não tinha uma resposta pra tantas perguntas, porque, simplesmente não existiu, eu nunca deixei de amar e ou me importar com ele, sempre me dediquei a ele, puro e incondicionalmente, mas, infelizmente não foi o suficiente!
Foram 8 anos ao lado do cara que chegou de mansinho, chegou brincando e aos pouquinhos foi ganhando terreno, foi me envolvendo, se envolvendo e quando demos por conta, ele já estava dormindo comigo, idealizando tantas coisas para nosso futuro que achei que fosse um louco, mas, construimos muitas coisas juntos, muitas histórias, muitas alegrias, muitas conquistas que tivemos nesses anos juntos, que eu me sinto até hoje um ser privilegiado e agraciado por Deus.
Eu não me senti culpado, eu estava disposto a deixar o William decidir dessa vez e essa seria sua decisão final, eu não iria tentar me impor ou lutar por nós dois igual as outras dezenas de vezes que largamos e voltamos.
Dessa vez eu estava disposto a deixa - lo partir sem chororô, sem desculpas e sem remorso ou medo do que a vida estaria reservando para nós e nosso futuro.
Desde de 2008 que eu fico nesse empasse de achar que a vida sem o magrelo não seria feliz, mas a felicidade que eu busquei até então, sempre veio com o sacrifício de ter que dar outra coisa em troca e eu sempre tive esse medo, medo de perder, de ficar sem, de ficar só, mas agora eu não tinha mais aquele medo.
Parei de raciocinar enquanto vi o Igor resmungando algo e sorrindo por conta de algum sonho bonito que estava tendo.
Decidi que o William estava livre para viver a vida que talvez achasse ser a melhor pra ele! Acabei dormindo alí com meu filho.
Noutro dia eu levantei tão cedo, antes mesmo que as duas véias que acordam com as galinhas.
Coloquei um moleton, tênis e sai pra caminhar e continuar com meus devaneios. Passando em frente a um prédio fechado e abandonado, local que um dia foi uma lanchonete, onde levei uma garrafada que raxou minha cabeça .
As coisas não são eternas, não duram para sempre, elas se desgastam, se deterioram e com o passar do tempo vão sumindo no ar, viram poeira e de tudo isso, nos sobram apenas as recordações e os momentos dos dias alegres, tristes e divertidos vividos por cada um de nós! São como essa cicatriz que ainda tenho na testa, que me rendeu o apelido de Potter rs.
Não digo que minha relação com William estava defasada ou gasta, eu o amei, amo e vou continuar amando até o último suspiro do último dia da minha vida.
O aprendizado que tive, foi a coisa mais importante que consegui absorver com tudo o que estava acontecendo.
Agora eu já não tinha mais 23 anos, não era mais um nerd bobo que acreditava nas conversas e investidas de um garoto de 17 anos.
Eu estava com meus 31 anos, com dois filhos e com uma responsabilidade muito diferente a daquela época.
Foi uma volta longa, corri por alguns metros, caminhei e pensei muito. Por duas horas e meia eu percorri alguns vários km e quando cheguei em casa o William já tinha ido pra casa do pai.
Naquele momento eu senti meu coração acelerar, era como se alguma coisa apertasse meu coração, me senti sufocado, como se algo estivesse sendo arrancado de mim.
Minha mãe dizia que quando eu tinha essas coisas, era sempre o sinal de que algo ruim aconteceria, era um pressentimento. Respirei fundo, dei um braço na minha mãe, outro na Laura que chorava incansavelmente e subi pra tomar um banho, antes passei pelo quarto do Igor e da Laurinha que ainda dormiam.
Tomei meu banho e desci me preparar para receber o pessoal que logo estaria em casa novamente.