12 horas depois eu já estava acordado.
Tinha um bom tempo que não visitava ou acordava na cama daquele hospital, com uma enfermeira arrumando o travesseiro para melhor acomodar minha cabeça, acompanhada de um médico que sorria enquanto esperava por alguma reação de minha parte.
- Me lembro de você rapazinho, você trouxe uma senhora aqui uma vez, que se cortou com estilhaços do violão? É você mesmo ou estou enganado?
Ele sorria esperando por uma resposta positiva para sua pergunta.
- Sim Doutor! Aquela vez eu vim por causa da mãe do meu marido que entrou no meio de uma briga nossa, e dessa vez eu vim por causa do pai! Foi o pai dele quem me deixou todo quebrado assim. Eu o enfrentei e acabei na pior rs.
Ele parou por um segundo e me fez uma pergunta tola, sem pensar ou um quase pensamento alto e logo em seguida se desculpou.
- Vale a pena, ter um relacionamento assim? Hum-ops, perdão pela falta de educação Fabiano! É que não me parece saudável estar num relacionamento assim. Eu vou ter que chamar a polícia para você fazer um B.O e também para registrar uma queixa contra o homem que te agrediu.
Quando fui responder, a porta do quarto quase que me é derrubada. Era o Iago que entrou desesperado perguntando por mim.
Quando me viu, colocou a mão no peito e fez um sinal negativo com a cabeça. Logo depois suspirou aliviado!
- Binho, você está bem?
- Sim, ele está bem sim, só uns arranhões, um dente e uma costela quebrada, a dor de cabeça por conta da pancada no chão e as lesões que logo irão sumir, mas você não pode entrar no quarto do paciente dessa maneira rapazinho!
Quando o médico terminou de dar a bronca, o Iago se desculpou e veio me dar um abraço.
Ele estava chateado e disse que quando o Rick ligou avisando, ele não pensou em outra coisa a não ser, correr para o hospital.
O Andrémonio quebrou um dente da minha boca e fraturou uma costela com o chute que ele me deu depois de me derrubar no chão e me desmaiar, quando bati com minha nuca contra o piso da cozinha.
Os policiais chegaram e um deles era o tio do William. Quando meu viu, ele se assustou e ficou todo preocupado comigo, entrou em desespero e me perguntou quem havia feito aquilo, já condenando o William, achando que o problema fosse o sobrinho.
Eu contei tudo que tinha acontecido, a ligação do homem, a viagem do William, a minha briga com o homem dentro da casa da Laura.
Eu fiz um Boletim de Ocorrência contra ele e, no mesmo dia o chamaram a comparecer na delegacia para contar sua versão do ocorrido.
O Rick acompanhou a Laura, lá eles se depararam com o André na delegacia, que confirmou tudo que havia feito, disse que foi em legítima defesa, que eu o peguei por trás, distraído. Depois ainda falou do filho e tornou a fazer ameaças, dizendo que todos alí presente eram testemunhas que se eu procurasse o William, ele iria me matar.
O irmão da Laura interrompeu o homem e avisou;
- Seu filho estava perdido no mundo, usando drogas, saindo com gente errada, não obedecia minha irmã e não me respeitava, se não fosse esse rapaz entrar na vida dele, acho que nem filho você teria mais seu bosta. O Fabiano sim é homem, segurou a barra do William, foi buscar ele na boca, enfrentou gente barra pesada da rua e carregou ele até o hospital quando ninguém quiz ajudar, cuidou do William, acreditou que o moleque tinha jeito, que ia mudar e se tornar um cara de bem e olha no que o William se tornou hoje, tem 25 anos, um emprego bom, viaja pra fora do país, tem um salário bom e tudo isso não foi graças a você seu ladrão sem vergonha, que só se aproveitou dos bens que meus pais deixaram pra Laura. Foi o Binho quem ajudou meu sobrinho na pior hora e na maior das necessidades da vida dele. Por tanto André! Você tome cuidado ao ameaçar esse rapaz, eu tenho ele como a um filho e eu mesmo acabo com sua raça se você fizer algo contra ele, você ta me ouvindo?
Quando a Laura me contou tudo isso, eu fiquei sem palavras e comovido, pois, não imaginava que o tio do William tinha essa imagem de mim.
Mas a surpresa chegaria mais tarde, com a visita do William.
Ele foi me ver, se mostrou preocupado comigo, perguntou sobre meu estado e também pediu desculpas pela violência do pai, mas, não tinha ido até lá para saber sobre mim e sim para pedir que eu retirasse a queixa contra o André.
- O que você está me pedindo William?
- Binho, eu sei que é uma situação complicada pra você, mas meu pai tem passagem pela polícia, ele ta com medo de perder o emprego e aí eles vão passar necessidades. Eu amo você Fabiano, mas eu amo meu pai também!
Eu fiquei louco!
- Ama? Você ama "seu pai"? Agora ele é seu pai? A coitada da Laura se matou de trabalhar a vida toda para te criar, cuidou até agora de você e de repente, você ama esse monstro? O que aconteceu com você William?
- É Fabiano, eu continuo o mesmo, mas preciso dar uma chance pra ele se redimir. Pra ele mostrar que mudou, que é um homem correto.
- William, sabe de uma coisa? Vai você e seu pai para o raio que o parta. É melhor você ir embora agora!
- Você teve uma relação Homossexual comigo durante 8 anos e agora vai fazer as vontades de seu pai? Vai tentar ser algo que não é? Vai correr atrás de buceta? É isso William? Por determinação de seu pai, você é hetero agora?
Quando ele saiu da sala eu chorei muito, pensei e repensei minha história com ele e decidi que eu faria uma última vontade do magrelo.
Eu decidi retirar a queixa, mas antes, nós dois teriamos uma conversa bem séria e decisiva!
Nunca me imaginei tendo que fazer isso, mas, eu não podia sofrer por ele novamente, se fosse sofrer, que fosse pra nunca mais precisar correr atrás dele novamente.
Eu liguei pra ele voltar até o hospital!
Quando chegou, ele abriu a porta e sorriu, aquele sorriso que me derrubava, me amolecia, me deixava sem chão.
Eu só olhei firme para ele e pedi que se sentasse.
Eu retiraria a queixa se ele não procurasse mais aquele inferno, eu ia esquecer tudo que havia acontecido, mas ele teria que se afastar daquele homem.
Mas para a minha surpresa, ele se incomodou com meu pedido, ficou irritado e me esculachou, dizendo que não ia ficar longe do pai, que não ia deixar de visitar aquele homem por um capricho meu e também disse que talvez o pai tivesse razão a meu respeito.
Aquilo foi como se eu levasse outra surra, mas essa ainda mais dolorida, em 8 anos de relacionamento, era a primeira vez que eu me sentia arrependido de ter dado tantas chances para o William.
Pedi que olhasse bem para meu rosto, pois, era a última vez que me veria. Pedi também que retirasse tudo dele de dentro da minha casa, tudo! A partir daquele momento nós não existíamos como um casal mais, ele poderia visitar o Igor e a Laurinha, mas "o nós"já era passado.
Quando eu voltasse pra casa, eu não queria ver nada dele na minha casa.
Eu retirei a queixa contra o pai do William.
Mas também no dia 18 de maio de 2016, eu tirei o William da minha vida também.