[Ítalo narrando]
- Não precisa falar nada, meu amor. Não quero que você se canse. – Segurei nas mãos do Lucas. Os meus olhos estava marejados. – Escuta uma coisa: Eu te amo. Nada e nem ninguém irá nos separar, entendeu? Você é meu, e eu sou seu. Vou estar sempre ao seu lado. Sempre. Agora você pode descansar, e estarei aqui velando o seu sono, cuidando de você. Você ter alta em breve e farei questão de sair de mãos dadas com você desse hospital. Te amo, Luquinhas!
O Lucas começou a chorar e nós nos beijamos. O beijo que estava sendo guardado para esse momento cheio de emoção. Um beijo de amor, de cumplicidade. Coisa que nunca tivemos com Álvaro e nem com a íris.
- Eu sei que... que eu não posso f-falar muito... – Deu uma pausa para pegar mais fôlego. –... mas estou feliz por v-você estar aqui. Obrigado, meu amor.
Passei o tempo todo contando sobre a falta que ele estava nos fazendo, sobre o casamento da Ingrid que havia sido adiado para esperar o padrinho se recuperar. A enfermeira logo veio dar o medicamento para o Lucas e ele dormiu.
- Seu Alexandre, preciso tomar um café, comer alguma coisa. O senhor pode ficar tranquilo que dormirei aqui hoje. Sinta-se à vontade para ir para casa com o seu pai. Qualquer noticia eu lhe informo.
- Tudo bem, meu querido. Enquanto você vai fazer um lanche, vou conversar com o médico sobre o estado de saúde do meu pai. Vou pedir para ele ficar com o Lucas enquanto fazemos nossas coisas.
Fomos para a recepção e pedimos para o doutor César ficar com o Lucas.
[Alexandre narrando]
- Doutor, eu gostaria de falar sobre o meu pai. Preciso que o senhor me dê mais detalhes sobre o estado de saúde dele. Não quero que ele desista da vida sem lutar.
- Alexandre, vou ser bem sincero. Acredito que você espera isso de mim. Seu pai esta com a doença em um estágio muito avançado. Eu o sugeri um tratamento revolucionário nos Estados Unidos ou Londres, mas ele se recusa a tentar mais um tratamento e não dar certo. Ele tem poucos meses de vida. Se não tentar algo, certamente não terá nenhuma chance de sobrevivência.
- Poxa, doutor. Eu e meu pai perdemos tanto tempo com nossas desavenças que nem percebemos o quanto isso foi ruim para nos dois. Eu vou tentar convencê-lo a fazer esse tratamento. Vou tentar lutar junto com ele pela nossa família e pela sua saúde.
- Estarei a disposição para o que você precisar. Bem, não sei se ajuda, mas uma médica nova aqui do hospital tem mais detalhes sobre esse tratamento. Você poderia conversar com ela e ela pode ajudá-lo com o doutor César. Ela fez uma especialização com esse amigo de Nova Iorque.
- Onde posso encontrá-la?
- Vou telefonar para ela e ver onde ela está.
Após dois minutos, ele desliga o celular.
- Ela vai estar a sua espera na cantina do hospital. A doutora Angélica está na mesa próxima a porta.
- Muito obrigado. Nos falamos depois, doutor.
- Com prazer.
Apertei a mão do doutor e fui em busca da possível salvadora do meu pai.
[Clara narrando]
Eu e a Ingrid voltamos para a pousada após o passeio que fizemos e da longa conversa que tivemos.
- Clarinha, você não sabe quem teve a ousadia de ligar para mim.
- Até já imagino... o Bruno!
- Ele mesmo. Veio perguntar sobre você, o Lucas...
- É muito cara de pau! – interrompi-o. – O Bruno foi a maior decepção da minha vida. Ele sempre tão bom, mas no fundo era um duas caras. Só de pensar que ui refém desse canalha, de que me entreguei a ele, fiz tudo...
- Clara, já passou. Você agora tem alguém que te ama de verdade e que não quer usá-la. O Felipe é o homem certo para você.
- Fico feliz por saber que já tenho toda a torcida do Flamengo ao meu lado.
- Felipe? Que surpresa!
- Vim te chamar para sair. Preciso te mostrar uma coisa.
- Claro, deixa eu só verificar o funcionamento da pousada. Quando o gato não está, os ratos comem em cima da mesa.
- Eu passo o olho em tudo. Você sabe o quanto todo mundo aqui é responsável. Vai tranquila, dona gerente.
- Ingrid, você é hóspede e não pode fazer o meu serviço.
- Eu sou sua amiga e quero seu bem. Trata de ir logo.
A Ingrid quase me empurrou para fora da pousada. Eu e o Felipe fomos ate a orla.
- Para onde vamos, delegado?
- Vamos ate o píer. Preparei uma surpresa para você.
[Alexandre narrando]
- Doutora Angélica, certo? – Estendi as mãos para cumprimentá-la. – Eu sou oAlexandre Villar. – Fui interrompido por ela.
- Como sabe o meu nome? Não vi o doutor Cordeiro mencioná-lo.
- Você não me reconheceu mesmo, não foi?
- Espera aí... Angélica Pimentel Gomide?
- Em pessoa e de jaleco. Como vai, Xande? – Beijou minha bochecha.
- Mais ou menos. Acredito que já deva saber sobre o meu filho.
- Sim, alguns casos são debatidos entre nós. Sou a nova neurocirurgiã do hospital.
- Então você terminou a faculdade de Medicina mesmo? Que coisa boa.
- Vamos nos sentar.
- Claro.
- Sim, me formei já tem um tempo. Fiz minha especialização aqui e terminei outra nos Estados Unidos. E você? Conseguiu terminar a faculdade? Já está administrando o “Império Villar”?
- Não, é uma longa história. Terminei a faculdade, mas não trabalho na empresa do meu pai. Tenho uma pequena pousada no interior do Estado. Sou viúvo. A mãe do Lucas morreu no parto.
- Caramba. Eu sinto muito.
- Já faz muito tempo. Meu filho já tem dezoito anos.
- Mas você casou novamente?
- Não, acredito que não amarei mais ninguém. A dor da perda da minha esposa foi forte demais. Tive que criar nosso filho sozinho, sem ninguém. Meu pai não aceitava o meu relacionamento. Ela era pobre. É uma longa história. E você, casou?
- Não, depois da nossa separação não consegui amar mais ninguém. Para ser sincera, Xande, eu te amo até hoje.
- Você me deixou sem palavras, Angélica. Você não mudou nada. Sempre direta e franca.
- A vida é direta e franca, meu bem. Acredito que o nosso reencontro foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias.
[Clara narrando]
- Felipe, tudo está muito lindo!
- Eu havia prometido que nós conversaríamos, mas estava reunindo forcas para isso. Vamos nos sentar. Preparei tudo para você.
O píer estava forrado com uma grande toalha e uma cesta de comida, duas jarras de sucos, dois cocos, e muitos vasinhos de flores decorando tudo. Era mais do que um piquenique, um passeio. Era um encontro.
- Você é um anjo, Felipe! Obrigado por tudo que tem feito por mim.
- Clara, eu sei o quanto você ainda gosta do Bruno, o quanto a história de vocês terminou de maneira complicada e turbulenta, mas eu queria te pedir uma chance. Você é uma mulher maravilhosa, alguém que merece ser amada e respeitada. Eu não sou perfeito, tenho muitos defeitos, mas eu gosto muito de você. Sua doçura e gentileza me chamam muita atenção. Isso sem falar no quanto você é linda. Eu queria muito ser seu namorado. Você aceita namorar comigo?
- Felipe, posso não estar inteira ainda, mas sei que você me ajudará a arrumar a bagunça aqui dentro e a juntar os meus caquinhos. Se você me pedisse mil chances, te daria mil e uma. Eu aceito ser sua namorada.
- Nós seremos muito felizes juntos.
Dei um beijo no Felipe. Um beijo longo e demorado.
[Ingrid narrando]
- Alguma notícia do Lucas, meu amor?
- Não, Victor. Como foi o jogo?
- Bem pesado. Os brasileiros jogam bola muito bem.
- Tá no sangue, francês.
- O DNA do brasileiro é diferente mesmo. O País é lindo, mas a fama dos seus políticos na Europa e no resto do mundo, não é nada boa.
- Eu sei bem como é isso. Já deixei de ser republicano há muito tempo. Hoje eu me considero monarquista.
- Monarquia, Tiago? De onde você tirou isso?
- Ué, Ingrid, foi no período monárquico, principalmente no Reinado de Dom Pedro II que experimentamos a maior era de desenvolvimento no século XIX. O Imperador, através do Poder Moderador, poderia dissolver o Parlamento em caso de corrupção generalizada. Pensa só o quanto isso seria útil nos dias de hoje.
- Sei que você faz História, mas ainda acho bom termos o direito de escolhermos os nossos governantes.
- Tinhamos Primeiro-Ministro, Ingrid. Sempre houveram eleições no Brasil. A Chefia de Governo era exercida através dos Parlamentares eleitos pelo povo. Ao Monarca só cabia a Chefia de Estado.
- Começamos com futebol e já estamos em forma de Governo. Você sabe o que fizeram na Revolução Francesa?
- Sei, sim. Os descendentes de Dom Pedro II se exilaram na França. Ao contrário dos seus conterrâneos, os daqui não foram mortos, Victor. Bom, tenho que verificar algumas coisas, depois a gente debate mais sobre isso.
- Vai lá, monarquista.
- Em breve você também será, Ingrid. Passa o olho aí. Se precisar de algo, liga no meu celular.
- Tudo bem. Volta logo.
Quando o Tiago saiu, o Vitor comentou:
- O Tiago é formado em História?
- Sim, mas não exerce a profissão. Tem mestrado e tudo, mas não consegue se demitir da pousada. Ele ate perdeu uma oportunidade de trabalho na faculdade onde o Lucas estuda.
- Corajoso ele.
- Amor por isso aqui. Até eu trocaria o conforto de um escritório para sentir esse cheiro do mar e ter uma vista dessas.
- A cidade é linda mesmo.
- Muito.
[Álvaro narrando]
- Aconteceu alguma coisa? Quando você mandou me chamar pensei que fosse algo grave.
- Tenho que voltar para São Paulo. O César está muito ocupado com o fedelho do neto, e a empresa está de pernas para o ar. Vamos perder dinheiro se eu não colocar ordem na casa.
- E onde eu entro nisso?
- Você vai para São Paulo comigo. Vamos fazer uma visitar aos Villar.
- Com que cara eu vou aparacer no hospital? O Lucas, o Ítalo e o seu Alexandre me odeiam.
- Mas o César gosta de você. Temos que dar prosseguimento ao plano. Vamos acabar com a relação do César com o filho. O Lucas vai ficar com raiva do pai, corre para os braços do avô, a gente acelera a morte do velho e, puft, seremos donos de tudo que pertence aos Villar. Isso, claro, se você cumprir sua parte e reconquistar o fedelho.
- Vou fazer as malas. São Paulo que me aguarde! O castelinho de areia do Ítalo vai cair!
Continua...
Olá, queridos, estive ausente por motivos de saúde e mais alguns problemas pessoais. Não houve um só dia em que não me preocupei com o conto parado. Preciso da ajuda de vocês para terminá-lo. Acredito que antes do final de semana eu postarei outro capítulo. Peço desculpas e que vocês não desistam de mim. Obrigado por cada e-mail recebido. Amo todos vocês!