Questão de Ética - Parte II

Um conto erótico de Thiago Toke
Categoria: Homossexual
Contém 1371 palavras
Data: 24/10/2017 19:15:17

Por quase todo o ano que se seguiu nosso relacionamento dentro da empresa era basicamente profissional. Não havia espaços para brincadeiras, piscadelas, ou até mesmo conversas que se pautassem em assuntos diversos ao âmbito empresarial. Nas vezes em que, de alguma forma, eu tentei ganhar abertura e fazer algo do gênero, fui advertido quase que instantaneamente, o que rapidamente me levou a aceitar o fato de que nossa relação lá dentro nunca mais seria a mesma. Porém, ao final de quase todo expediente, recebia em meu apartamento a visita de um Reinaldo completamente diferente daquele ao qual me despedia no trabalho, sempre muito bem trajado, devidamente perfumado e insaciável no quesito sexual. Era muito claro para nós dois que tínhamos necessidades bem discrepantes: eu queria um amor, ele só queria um parceiro fixo e sigiloso para sexo casual. Embora tudo aquilo fosse cômodo para ambos, enquanto deixávamos aquela relação completamente maluca se arrastar por meses a fio, em minha cabeça tudo começava a ficar confuso. Não éramos mais amigos como antes, também não éramos namorados e eu estava apaixonado por aquele homem.

- O que somos? - questionei

- Como assim, “o que somos”?

- Não somos mais amigos como éramos há algum tempo, nossas conversas, nossas bebedeiras, nossas ideias de sociedade, tudo isso ficou para trás. Também não somos namorados... tudo o que somos só existe dentro desse apartamento ou dentro da empresa...

- Somos como dois super-heróis – Falou em tom de brincadeira - durante o dia temos nossas vidas e protegemos nosso segredo e durante a noite combatemos o crime!

- Isso ainda não responde bem minha pergunta.

- Somos dois caras que se curtem.

Não foi difícil para mim deixar tudo isso para lá quando Reinaldo abriu mão de suas visitas noturnas após eu ter dito um indesejável “eu te amo” em meio ao frenesi de uma foda louca.

Os dias se seguiram sem que eu tivesse uma única oportunidade de conversar, mesmo que fosse para receber a mais idiota das explicações. Então, com o passar do tempo, feito água por entre os dedos, foi-se esvaindo os traços de paixão por aquele homem sedutor e, apesar da minha vida sentimental estar péssima, minhas atividades no trabalho estavam como nunca antes, não demorando até que começasse a receber propostas de outras empresas da área.

Foi quando tomei coragem e bati à porta da sala do Reinaldo:

- Entra! – gritou do outro lado.

- Posso falar contigo um minuto?

- Desculpe, Thiago, estou muito atarefado hoje, podemos deixar essa conversa para outro momento? – retrucou, sem ao menos tirar os olhos da tela do computador.

- Não vou demorar. Na verdade, só queria mesmo anunciar minha decisão de deixar a empresa.

- Não, você não pode fazer isso comigo, não agora! Vamos tão bem e você é um dos melhores desse time! – Disse enquanto passava apressado por mim e trancava a porta da sala.

- Desculpa, mas eu já não me sinto bem aqui, toda essa situação está me matan...

- Eu sei que você está chateado comigo por não ter sumido todos esses meses sem dar explicações. Eu só não queria te machucar, eu gosto de você... só não daquele jeito. – interrompeu-me, falando tão baixo que eu quase não fui capaz de ouvir.

- Não precisa se explicar, eu entendi isso muito bem, ficou mais do que claro. Mas, não é por isso que eu estou aqui hoje. Recebi uma proposta irrecusável de trabalho, quase cinquenta por cento a mais do que me paga aqui.

- Eu cubro a proposta! – disse, retomando seu tom de voz.

- Eu não quero ficar em um lugar onde persista esse clima estranho. Você sequer olha para mim! Como eu posso continuar a trabalhar num ambiente desses?!

- Aqui você já conhece o trabalho, conhece as pessoas, tem autonomia pra fazer o que bem entender e, se você ficar, eu cubro a oferta e lhe garanto fazer o impossível para amenizar esse seu desconforto, você aceita?

- Não deveria, mas acho que temos um acordo.

- Ótimo! – comemorou, retornando à sua cadeira – Quem sabe podemos sair pra comemorar seu aumento?

- Eu sou difícil, vai ter que me conquistar primeiro!

- Não quero saber, sou seu chefe! E te pego às dez!

Saí de sua sala sem acreditar no que tinha acontecido e com mais um turbilhão de novas suposições para pensar. Estava feliz com o aumento, tinha planos e poderia fazer muitas coisas novas com o montante adicional que receberia do meu laboro. Aquela noite seguiu tão bem como nossas antigas noitadas, falávamos mais uma vez de nossas ideias e ideais, compartilhávamos uma visão empresarial bem alinhada, e dessa vez, Reinaldo parecia estar mais à vontade para comentar quando um rapaz bonitinho passasse. Era claro que estávamos nos divertindo e bebendo como dois amigos e não passaria daquilo. Ao me deixar na porta do prédio Reinaldo não hesitou:

- Antes de sair, tenho um favor de amigo pra te pedir. Na verdade, é mais que um favor, uma súplica! Não confio em ninguém mais para fazer isso por mim.

- Nossa, fico até lisonjeado! O que seria?

- Eu tenho um primo com certa dificuldade de se manter longe de confusões e parece que a última dele quase o levou para trás das grades.

- Bem, você sabe que eu não advogo... - respondi

- Não é esse o caso. – Interrompeu – Ele tem certo problema com bebidas e sempre se envolve em brigas de bar, mas sai ileso graças ao prestígio da nossa família. Dessa vez foi um pouco diferente, a briga foi com o filho de um vereador e, por isso, acabou na delegacia e está respondendo a um processo. Agora, minha família está certa de que somente um emprego pode afastá-lo de mais problemas e ensiná-lo um pouco de responsabilidade.

- Você não está pensando em colocá-lo no operacional, né?

- Não sou maluco de colocá-lo no meio dos vendedores, nossa equipe vai bem e se ela arrumar confusão corre o risco das vendas despencarem!

- Você não está dizendo que quer que eu cuide dele?! – perguntei, assustado.

- Não acredito que ele vá ficar mais que uma semana. Nunca trabalhou na vida e sempre teve quem bancasse. É meio irresponsável, mas longe do álcool ele é bem adestrável. E, até lá, você pode mantê-lo ocupado com tarefas simples, como tirar fotocópias, enviar e separar correspondências... Só por uma semana, por favor! – interrogou, com um sorriso que faz qualquer um aceitar a mais absurda das propostas.

- Eu: Uma semana! E se ele criar confusões, vou promovê-lo a assistente pessoal do diretor-presidente, no caso, você!

- Reinaldo: Justo! – completou rindo – Mandarei ele te procurar na segunda.

- Ainda melhor mandar ele procurar o terapeuta da empresa...

Reinaldo riu e nos despedimos com um aceno de mão.

O fim de semana não demorou a passar. Recebi a visita de alguns amigos e acabei tendo um flashback com meu ex-namorado. Realizei os afazeres domésticos e cozinhei todas as besteiras que nutricionista alguma sonhara em prescrever. Esquecera completamente que na segunda-feira teria que encara o papel de ressocializador de um baderneiro alcoólatra. Não que eu o julgasse por isso, ao contrário, sempre acreditei no potencial humano como gerador de grandes mudanças internas e externas, só não sabia como estimular aquilo. Talvez o Reinaldo estivesse errado e eu não fosse a pessoa certa para cuidar do caso. De qualquer forma seria apenas uma semana.

A manhã de segunda foi bem tranquila se comparada a outras tantas anteriores. O sistema ficou fora do ar por todo o dia e os supervisores tinham reunido suas equipes para uma dinâmica motivacional. Eu e meus subordinados seguíamos lanchando o resto das besteiras do meu domingo, estava mais para um clima de confraternização. Comemos tanto que ninguém ousou sair para o horário de almoço.

Quando, por volta das 13h, entra em minha sala um rapagão loiro, alto, por volta de 1,90m, cabelos jogados e olhos azuis da cor do topázio, corpo atlético, uma barbinha tímida por fazer, trajando uma camiseta colada ao corpo e uma bermuda jeans.

- Eu sou Matheus e o Naldo disse que eu começaria aqui, hoje. Poderia falar com o Thiago? – Perguntou

Não sei se demorei muito para respondê-lo, haja vista que estive em transe por algum tempo, embasbacado com a sua beleza, mas lembro de ter ouvido claramente aquelas palavras por sua voz rouca e gostosa. Que família era aquela?!

CONTINUA...

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JÁ LI ESSE CONTO ANTERIORMENTE. MAISUMA VEZ VC FOI BABACA E ACABOU CEDENDO. DE DUAS UMA SE ACEITAR REINALDO ASSIM, SERÁ A PUTA DELE. MAS SEQUER AMOR TERÁ QUE SER COM OUTRA PESSOA. E CERTAMENTE ERROU EM NÃO IR PARA OUTRA EMPRESA. MAS, AMOR DE PICA FICA. LAMENTÁVEL.

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