Amor de verão -Demitri (01)

Um conto erótico de Demitri
Categoria: Homossexual
Contém 925 palavras
Data: 29/10/2017 13:26:18
Assuntos: Gay, Homossexual

A semana de lançamento de uma revista como Celebrity é o caos total. Cada chefe de departamento fica à beira de um ataque de nervos. Escrivaninhas ficam lotadas, telefones indisponíveis e almoços são deixados de lado. O ar fica

saturado de uma sensação de pânico que cresce a cada hora. O bom humor desaparece e os pedidos beiram o ultraje. Na maioria dos departamentos, as luzes ficam acesas até tarde da noite. O forte aroma de café e a ardência da fumaça de cigarro estão sempre presentes. Caixas de antiácidos são devoradas e garrafinhas de colírio passam de mão em mão. Após cinco anos na equipe, Gabriel já considerava o pânico mensal parte do trabalho.

Celebrity era uma publicação fina e respeitável cujas vendas geravam milhões de dólares por ano. Além de histórias sobre os ricos e famosos, publicava

artigos de eminentes psicólogos e jornalistas, entrevistas com políticos e astros de rock. As fotos eram de excelente qualidade, assim como o texto era cuidadosamente pesquisado e redigido de uma maneira concisa e enxuta. Alguns de seus detratores talvez a considerassem apenas fofoca de qualidade, mas a palavra qualidade nunca era esquecida. Um anúncio em Celebrity era aposta certa para gerar vendas e interesse, e

seu preço era igualmente proporcional. Celebrity era, em um negócio competitivo ao extremo, uma das mais importantes publicações mensais do país. Gabriel Radcliffe não teria buscado algo menos importante.

— Como ficou o trabalho com as esculturas? Gabriel lançou um olhar para Bryan Mitchell, uma das principais fotógrafas da

Costa Oeste. Agradeceu o copo de café que Bryan lhe passou. Nos últimos quatro dias, não dormira mais do que 20 horas.

— Bom — disse ele.

— Já vi trabalhos melhores rabiscados em becos. Embora concordasse, Gabriel

apenas deu de ombros.

— Algumas pessoas gostam do que é sem valor e obscuro. Com um sorriso, Bryan balançou a cabeça.

— Quando me disseram para fotografar da melhor forma possível aquele emaranhado de fios pretos, quase pedi para eles apagarem a luz.

— Você fez o negócio parecer quase místico.

— Posso fazer um depósito de entulho parecer místico com uma iluminação adequada. — Deu um sorrisinho para Gabriel.

— Da mesma forma que

você pode fazer ele parecer fascinante. Um sorriso surgiu no rosto de Gabriel , mas sua cabeça já estava se dirigindo

para diversas outras direções.

— Tudo num dia de trabalho, certo?

— Falando de trabalho... — Bryan encostou os quadris bem feitos

acomodados numa calça jeans na organizada mesa de trabalho de Gabriel e bebeu o

café. — Ainda está tentando arrumar alguma coisa com Hunter Brown? As benfeitas sobrancelhas de Gabriel ergueram-se em conjunto. Hunter Brown estava se tornando uma odisseia pessoal e quase uma obsessão. Talvez por ele

ser tão completamente inacessível, ele estabelecera a meta de ser o primeiro a

romper a nuvem de mistério. Levara quase cinco anos até conseguir chegar à

função de repórter, e tinha a reputação de ser obstinado, meticuloso e

impassível. Gabriel sabia que merecia os adjetivos. Três meses dando de cara com paredes vazias à procura de Hunter Brown não arrefeceram seu ímpeto. De um jeito ou de outro, conseguiria a matéria.

— Até agora não fui além do nome do agente dele e do telefone do editor. — Talvez se percebesse um quê de frustração na sua voz, mas a expressão era

de determinação. — Nunca vi gente mais fechada.

— O último livro dele chegou às livrarias na semana passada. — Distraído,

Bryan pegou uma folha do alto de uma das várias pilhas de papéis com que Gabriel vinha sistematicamente trabalhando. — Você leu?

— Dei uma olhada, mas ainda não tive chance de começar. Bryan jogou para trás a longa trança cor de mel, que caiu sobre seu ombro.

— Não comece a ler numa noite escura. — Deu um gole no café e então soltou uma gargalhada. — Cara, acabei dormindo com todas as luzes de meu

apartamento acesas. Não sei como ele consegue fazer uma coisa assim. Gabriel levantou o olhar novamente, os olhos calmos e confiantes.

— Isso é algo que vou descobrir.

Bryan assentiu com a cabeça. Conhecia Gabriel fazia três anos, e não tinha dúvida que ele conseguiria.

— Por quê? — Seus olhos francos e amendoados pousaram sobre os de Gabriel.

— Porque... — Gabriel terminou o café e jogou o copinho na lixeira lotada — ninguém mais descobriu.

— A síndrome do Monte Everest — comentou Bryan, e deu um risinho espontâneo.

Um olhar de relance mostraria dois amigos atraentes numa conversa informal num escritório moderno e bem decorado. Um olhar mais de perto revelaria os contrastes. Bryan, de jeans e com uma camiseta confortável, era

totalmente descontraída. Tudo nele era informal e nem um pouco arrumado — dos tênis manchados às tranças soltas. Seu rosto encantador e de belas feições só recebera uma ligeira pincelada de rímel.

Lee, por outro lado, usava um elegante terninho azul-claro, e os nervos que a mantinham no ritmo eram evidentes nas mãos que nunca se aquietavam. Seu

cabelo tinha um corte perfeito num estilo curto e pendente que precisava de muito cuidado — o que, para ele, era tão importante quanto a boa aparência.

Sua pele tinha a delicadeza e a brancura que alguns ruivos adoram e outras odeiam. Sua maquiagem havia sido meticulosamente aplicada naquela manha, Possuía traços delicados e elegantes que compensavam a boca desmedida e obviamente teimosa.

Os dois amigos tinham estilos inteiramente diferentes e gostos

inteiramente diferentes, mas, por mais estranho que parecesse, a amizade começou no instante em que se conheceram. Embora Bryan nem sempre gostasse das táticas agressivas de Gabriel e este nem sempre aprovasse o jeito despojado demais de Bryan, a proximidade dos dois ficou inalterada nesses três

anos......

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