Quando acordei no outro dia, eu fiquei na cama um tempo pensando, em poucas horas eu estaria com uma pessoa, talvez a única pessoa que pode me ajudar a desmascarar Katarina, ou Fabíola. Porém eu posso estar correndo o risco disso ser uma cilada. Eu estou apostando tudo nisso, e rezando para que eu encontre uma luz no final do túnel.
Me lembrei das palavras de Robert "não faça nada", eu estou traindo a confiança dele, mas isso é pra própria segurança dele, quanto menos Robert fizer parte disso melhor.
Meus pais ainda estavam dormindo quando desci, então achei melhor não os acordar. Era 6:45, eu tratei de ser rápido porque a mulher foi bem clara, " nem um minuto depois ".
O café ficava a alguns minutos da minha casa, era um lugar tranquilo, e eu fiquei feliz por ele ser bastante movimentado. Cheguei lá as sete em ponto. Olhei em volta e procurei uma pessoa que eu nunca tinha visto na vida, uma tarefa nada fácil, porém eu sabia que era uma mulher, e mais sorte por ter apenas uma mulher no café, ela estava afastada de todos.
Fiquei de frente a mesa dela e me sentei, eu ia pagar o maior mico se não fosse ela.
— Você é pontual, ou está apenas desesperado! — Ela disse sorrindo e tirando seu óculos escuros. Seus olhos eram verdes intensos. Ela não aparentava ser velha, nem muito jovem, eu diria que ela estava muito bem. Seu cabelo era castanho e estava solto caindo sobre os ombros, usava um vestido azul apertado.
— Digamos que sou os dois.
— Eu não entendo o porque de um garoto ter me ligado pra falar sobre o passado, como você encontrou meu número?
— Eu pesquisei. — Disse calmo. — Acho que você é a única pessoa que pode me ajudar.
— Sou sim, mas não sei se devo te ajudar. — Ela sorriu de uma forma sombria, nesse momento eu já tinha perdido as esperanças. — Mas você pode começar pedindo um café para mim.
— Tá bem, peça oque você quiser. — Eu chamei a garçonete que se arrastou desanimada na nossa mesa.
— Vão querer o que?
— Um café bem forte. — Falei.
— Eu quero um café também, mas sem açúcar, e espero que o café seja bom. — A garçonete olhou de maneira torta para ela e se retirou.
— Podemos começar agora?
— Tudo bem. — Ela se apoiou na mesa. — O que quer saber?
— Primeiro, quem é Katarina? — Ela me olhou, me obeservando.
— Fabíola. — Corrigiu ela. — Eu sei, é um nome ridículo, Katarina foi o nome que eu mesmo dei pra ela, na verdade eu dei tudo que ela tem. — Eu estava confuso.
— Não entendo!
— Eu vou explicar tudo. — A garçonete voltou com o café e praticamente o jogou na mesa.
— Obrigada queridinha. — A garçonete se afastou, Teresa ria de alguma piada silênciosa.
— Quando você disse que deu esse nome a ela…
— Ah sim, eu conheci Fabíola quando ela era uma infeliz, descalça mal trapilha, um horror. Mas eu via nela muito potencial. Eu levei ela pra morar na minha casa, na época eu era casada. — Ela fez uma pausa para tomar o café. — Logo eu a eduquei e lhe mostrei o lado bom da vida de rico. Mas ela era misteriosa, a família foi morta em um acidente, e ela foi a única que sobreviveu, pra mim isso é estranho.
— Você acha que ela pode…
— Talvez. Mas não estamos aqui pra falar de suposições e sim de certezas.
— Sim, claro.
— Logo Fabíola se tornou Katarina, uma menina que acreditava ser rica, foi uma mentira tão bem feita que ela própria acreditava nisso. E foi ai que eu não sabia que estava criando um monstro. Ela roubou meu marido. — Teresa fez outra pausa. Ela não olhava para mim agora. — Eu descobri a traição e matei meu marido, acabei na cadeia.
— Minha nossa. — Eu estava espantado.
— Quando sai de lá eu descobri que ela estava dando um golpe em um senhor, se passando por filha dele.
— Eu li em um artigo que ela roubava crianças.
— Ah sim, ela trabalhou um tempo em um hospital, e traficava crianças para as vender. Ela e um homem, que se chamava. Como era mesmo o nome dele? — Ela pensou um pouco. — Ah sim, Vagner.
— Vagner? — Eu gritei.
— Calma garoto, mantenha a classe, ele morreu na perseguição.
Não podia ser meu tio, sem nenhuma chance, Vagner é um nome tão comum. Mas se fosse ele, eu estava cada vez mais perdido.
— Fabíola morreu nesse dia, achavam que ela morreu, e então começou a se passar por Katarina Valastros, a filha de um multi-milionário. — Ela terminou o café. — E é isso, você não sabe a vontade que eu tenho de ver ela apodrecer na cadeia por ter destruído minha vida. — Teresa sorria. — E por isso estou aqui, pra te dar uma prova bem concreta de tudo isso. A filha de Katarina, não é filha dela. — Eu me levantei e ela também.
— Como?
— Ela roubou aquela criança. Quer dizer, ela alugou a criança. — Eu sorri, então Pablo não era pai, ele foi enganado todo esse tempo. — Ela vai se livrar da criança depois que se casar com um homem, que homem lindo. — Ela se abanou. — Mas ele está com um final trágico.
— O que? — Eu fiquei desesperado.
— É, ela vai matar esse tal de Pablo. — Eu estava estático. — Bem, vou indo tenho hora no cabeleleiro. Tenha cuidando rapaz. Seja mais esperto que Fabíola, ou Katarina como achar melhor. — E ela se foi. Me deixando desesperado por dentro.
Agora eu sei de tudo que preciso saber, mas eu não sei por onde começar. Em vez de me ajudar Teresa me deu mais um milhão de problemas.
Eu me recompus e voltei para casa, já era onze horas, e eu lutei pra esconder minha cara de desesperado.
Minha mãe estava na cozinha.
— Oi mãe.
— A onde você estava Vítor? Eu acordei e você não estava no seu quarto. — Ela me olhava feio.
— Eu tive que resolver alguns problemas, mas estou aqui. — Sorri pra fazer ela ficar calma. Eu estava ficando cada vez melhor em mentir. — Humm eu conheço esse cheiro, lasanha!
— É sim, fiz porque você e seu pai amam e comem feito animais!
— Mãe não temos culpa se a senhora parece um coelho, só come verdura!
— Cala a boca. — Ela riu.
— O que é isso? — Eu achei um convite em cima da mesa.
— Filho acho que...
Eu abri sem deixar ela terminar de falar. Era um convite de casamento, o casamento de Pablo. Seria na próxima semana.
— Filho? — Eu olhava pro convite, meus olhos já estavam lacrimejando.
— O que?
— Não fique mal por isso. — Eu tinha tão pouco tempo, e não sei como tirar Pablo da situação que ele se encontra.
Eu subi para o quarto, mas não ia chorar, eu precisava de um plano, precisava desmascarar Katarina em menos de uma semana. E não sei como fazer isso. Estou perdido.