Acordei no outro dia decidido, hoje tudo acabaria, eu ficaria novamente de frente com Katarina e um de nos dois não voltaria vivo. Eu estava esperando ela me ligar, ou me mandar uma mensagem. Pablo estava sentado na cama.
— O que vamos fazer?
— Não sei, eu estou esperando ela ligar. — Eu me levantei da cama e fui pra o banheiro.
— O que será que ela quer?
— Eu não sei, a única coisa que eu sei é que tenho que salvar Robert, eu devo isso a ele. — Pablo entrou no banheiro e ficou na porta.
— Me diga, vocês dois tiveram alguma coisa?
— Depende do que você fala em "ter alguma coisa".
— Não gostei disso. — Ele sorriu e me abraçou.
— Não tivemos nada muito sério.
— E quanto sério estamos falando? — Eu ri, ele ia querer saber de tudo.
— Bem, nos beijamos, muitas vezes. — Ele virou a cara e eu ri silênciosamente. — Mas ele nunca conseguiu superar você. — O abraçei. — Porém, você mereceu, me trocar por uma mulher, francamente.
— Ela me enganou.
— Filho não é motivo para você se casar com ninguém. — Ele se calou, acho que ele não ia conseguir se defender. Fiquei mais aflito com o silêncio, eu preferia que começassemos a discutir a ter que ficar no silêncio.
— Você está nervoso não é?
— Aflito, eu não aguento mais esperar aquela mulher me ligar.
— Ela vai ligar, eu vou lá embaixo arrumar algo para você comer. — Ele saiu do banheiro. E eu tomei banho. Sai do banho desanimado.
Meu celular começou a tocar,e com a pressa de atender eu quase deixei ele cair no chão.
— Alô.
— Oi fofinho, estava me esperando?
— Sua ridícula, fala a onde está o Robert.
— Hmmm, não sei.
— OLHA AQUI SUA…
— Vamos manter a classe, vou dizer tudo que você tem que fazer. E pra começar, quero que você tire Pablo desse problema.
— Ok, Pablo já está fora.
— Ótimo, não chame a policia.
— Certo.
— Você conhece a antigo salão de dança que fica na saída da cidade?
— Sim,conheço.
— Venha pra cá. — Ela desligou o telefone.
Me sentei na cama sem reação, eu tinha que fazer com que Pablo não fosse comigo, mas esse não é uma tarefa nada fácil.
Me deitei na cama e fechei meus olhos, eu não tinha muito tempo, e eu não tinha nenhum plano.
— Você está bem?
— Bem? Pablo, você acha que estou bem?
— Desculpa. — Ele deixou a bandeija que trouxe nas mãos e colocou na mesinha. — Ela ligou?
— Não, eu ainda estou esperando. — Menti. Me senti mal por estar mentindo pra ele, porém, não tenho escolha.
— Tudo bem, eu vou tomar banho. — Ele se levantou e se despiu entrando no banheiro. Essa era a minha chance, a porta do banheiro tinha chave, e eu o tranquei lá dentro.
— Eu sinto muito.
— Que brincadeira é essa Vítor? Abre essa porta. — Ele estava nervoso, batendo na porta.
— Eu amo você.
E sai do quarto, corri escada abaixo e quase cai, claro. Por sorte o carro de Pablo estava com a chave na ignição. Ele iria me matar, primeiro por ter trancado ele e depois ter roubado o carro.
Enquanto eu estava dirigindo eu apenas pensava em uma forma de sair desse problema, vivo. Mas eu não tinha muita chance, eu estava desarmado, e com certeza Katarina não estava. Mas eu precisava salvar Robert, ele não tem nada a ver com essa história, e se eu salvasse ele então tudo vai ter valido a pena.
°°°
Quando cheguei no antigo salão de dança já era quase noite, ele ficava no fim da cidade, e depois você devia pegar uma estrada de chão. A única coisa que eu sei é que ele está abandonado a um século.
O lugar estava dormido no silêncio e escuridão, os únicos som que eu escutava era dos meus passos e meu coração. A falta de comunicação estava me deixando irritado. Vi uma sombra se mover na escuridão.
— Eu já tô aqui sua vagabunda. — Gritei.
— Pontual. — Luzes se acenderam queimando meus olhos. — Bom ver você de novo Vítor.
— Pena não poder dizer o mesmo. — E lá estava Katarina, com um longo vestido azul transparente. Seu cabelo não era mais louro e comprido, e sim negro e ficava acima das suas orelhas. Apesar disso, ela estava muito bela como sempre.
— Você gostou do meu look pra acabar com você? — Ela sorriu.
— Ah eu amei, você agora se parece uma verdadeira vagabunda. — O sorriso dos lábios dela sumiu. — A onde está Robert? — Ela se moveu lentamente.
— Seu amante, é muito fiél a você, eu quase dei um fim nele, porém, ele nunca me fez nada. Apesar dele ter tido um pequeno caso com Pablo. — Eu engoli seco. — Venha, vamos sentar.
Ela se dirigiu para outro cômodo do salão. Eu fui atrás dela, não estava com medo e sim confuso, a onde ela queria chegar?
— Você não sabia que Robert gostava de Pablo?
— Sim, e eu não ligo pro passado. — Ela não me olhava.
— Se você diz. Mas vai querer saber que os dois já foram pra cama. — Ela se sentou em um poltrona vermelha que ficava no centro da sala. — Parece que ele desistiu de Pablo quando descobriu que ele gostava de outro, no caso você. Olha só, você estraga a vida de todo mundo. Primeiro Beto, depois Robert.
— Olha, eu não vim aqui bater papo sobre oque aconteceu, eu vim atrás de Robert, e é melhor você parar de falar ou eu vou acertar sua cara.
— Uau, ficou valente derrepente. Tudo bem. — Ela se levantou e voltou para o salão, eu revirei os olhos. — Seu Robert está lá. — Ela apontou para um ponto escuro, quando as luzes se acenderam eu pude ver Robert, ele estava sem camisa, e estava acorrentado na parede, seu rosto estava baixo, ele parecia sem vida. Corri até ele.
— O que você fez com ele sua disgraçada?
— Nada, ele está vivo, por enquanto. — Eu toquei seu corpo, que estava muito gelado, o desespero tomou conta de mim, eu tinha que me controlar.
— Por favor, acorde. — Eu disse o abraçando. — Solte ele, Katarina ele está com frio. — Katarina se moveu para meu lado.
— Coitado dele. — Ela me entregou a chave e eu o soltei, seus braços e suas pernas estavam presos em correntes de ferro grossas, eu o segurei para ele não cair no chão. — Você deve ser doente. — Ela sorriu.
— Me diga, você se preocupa tanto com ele, você o ama?
— Eu preciso levar ele para um médico. — Eu não estava prestando atenção nela. Só agora eu vi que Robert estava sangrando seu sangue manchou minha camisa.
— Ele vai ficar bem, mas você. — Ela estava apontando uma arma pra minha cabeça. Me levantei lentamente. — Como você se sente? Não vai poder salvar seu amado Robert, e também não vai poder voltar para Pablo.
— Você sabe que vão vir atrás de você Katarina. — Eu sorri. — Pablo vai vir atrás de você.
— Não se ele não poder me encontrar. — Ela sorriu malíciosamente. Ela engatilhou o revólver, eu fechei meus olhos esperando o pior. Eu podia ouvir Pablo dizendo que me amava,eu via o rosto da Marta, Edy, Beto, dos meus pais. E minha vida estava passando diante dos meus olhos. Eu abri os olhos então.
— Vamos lá sua disgraçada, atira se você for mulher. — Ela sorriu. Um disparo foi feito e acertou minha perna esquerta, eu abafei um grito de dor. Cai de joelhos.
— Oops eu errei, mas isso não vai acontecer de novo. — Tentei me levantar de novo, mesmo contra o protesto de dor da minha perna. — Você é forte, é uma pena ser tão inútil. — Eu parti pra cima dela então, aproveitando o momento de distração. Consegui tirar a arma das mãos dela. — Vai lá, vamos, acaba comigo seu viado filho da puta. — Eu apontei o revólver pra cabeça dela, mas esse não era eu, se eu fizesse isso eu ia pra cadeia.
— Eu não posso. — Katarina se levantou furiosa.
— Eu sabia você não presta pra nada, um inútil. — Meu sangue ferveu, ela estava me irritando. Eu dei um murro na cara dela, vi ela cuspir um dente.
— Eu me sinto mal por ter batido em você, mas pra mim você não é uma mulher. — Seus lábios sangravam. Ela veio pra cima de mim e segurou o revólver que eu estava nas mãos no peito dela.
— Vai lá Vítor, aperta a porra do gatilho.
— EU NÃO POSSO FAZER ISSO. — Me afastei dela quando ouvi um disparo, e no minuto seguinte Katarina estava no chão.
— Mas eu posso.
— Berta? — Eu ainda me lembrava da empregada insolente de Pablo.
— Vítor não é?
— Você, você matou ela? — Olhei pra Katarina que estava caída no chão.
— Não. — Então Berta deu mais três tiros no corpo imóvel de Katarina. — Agora sim. — Ela se aproximou do corpo. — Espero que você tenha uma boa recepção no inferno, ou não, xeque-mata Fabíola. — Eu estava chocado demais para me mexer. — Preciso tirar você e seu amigo daqui. — Ela ajudou Robert ficar de pé. — Você consegue andar até o carro?
— Sim, vamos sair daqui por favor.
°°°
— Por que me salvou?
— Eu não te salvei, eu me salvei, Fabíola ia me ferrar garoto. Eu ajudei ela a sequestrar seu amigo. Mas ela ia me tirar da jogada. — Barta riu.
— Mesmo assim, muito obrigado, eu te devo uma.
— Deve sim, e pode me ajudar pagando os melhores advogados para me defender. — Eu ri.
— Como ele está?
— Ele vai ficar bem, só está desacordado. — Eu respirei aliviado. Não acredito que eu tinha conseguido, e ainda continuo vivo. — Como está a perna?
— Doendo.
— É, eu imagino. Desculpa não ter aparecido antes, eu estava esperando o momento certo, eu pensei que você ia fazer o trabalho por mim.
— Eu não posso virar um assassino.
— Esse é o problema, você é bom demais. — Eu me calei e ela também, agora a dor estava aumentando e eu estava suando. Por sorte tinha um hospital que ficava na saída da cidade.
Berta teve que carregar eu e Robert para dentro, sorte que ela é forte.
— Oh minha nossa. — Falou uma voz feminina.
— Doutora, eles foram atacados. — Disse Berta.
— Alguém ajude aqui. — Fomos levados para quartos separados. — Fique calmo rapaz. — A médica falou. — Vamos ter que tirar essa bala de você. — Eu respirei fundo. Era tão típico pra mim passar por acidentes. Um homem que parecia ser o enfermeiro aplicou algo no meu braço.
— Isso vai fazer você dormir. — Ele falou. E quase que por encanto eu senti todos meus sentidos se desligarem,e apaguei.