Eu estava nervoso, eu devia estar, a julgar o fato como minhas mãos se moviam para um lado e para outro, como elas suavam,e o suor que se acumulava na minha testa. Minha respiração era rápida,mas ela parava de momento e momento, meus pensamentos já não trabalhavam comigo.
— Já chega Ewerton, assim você vai estragar tudo, quantas vezes eu vou ter que secar sua testa?
— Não precisa secar minha testa Vítor, eu estou bem. — Tomei o lenço que ele estava segurando na mão e o esfreguei na testa. Ela ficou vermelha.
— É por isso que eu tenho que secar sua testa. — Ele riu. — Você está bonito, eu fiquei muito preocupado quando você disse que queria se casar com um terno azul,eu acho isso uma loucura.
— Não loucura maior que me casar de branco,isso sim.
— Mas você ficou bonito. Muito. E olha esse cabelo,que orgulho de mim.
— É, você transformou meu cabelo em uma escultura de gel. — Vítor tinha arrumado meu cabelo, ele estava espetado para todos os lados,como um porco espinho,eu ri disso. Vítor havia colocado todo o pote de gel no cabelo, o fato dele ser um pouco comprido e não ficava no lugar, não agradou nem um pouco Vítor. — Ficou lindo. — Vítor ainda arrumava alguns fios do meu cabelo. E sorria.
Eu estava usando um terno azul escuro, eu gostei muito dele,ainda mais porque foi feio sob medida pra mim, justo e confortável. Exatamente oque eu queria.
— Prontinho. Eu amei a casa da sua sogra,parece um castelo. O jardim está incrível, vai ser um belo casamento.
— Onde está Felipe?
— Ele está com Pablo,eles estão se ajudando a se vestir,sabia que os dois são iguais,não tem nenhum pingo de senso de moda. — Eu ri. — É claro que eu escolhi a roupa deles.
— E como ele está vestido?
— Segredo. — Olhei para Vítor desconfiado.
— Quero ver ele.
— Eiei o noivo não pode ver outro noivo antes do casamento.
— Mas isso só existe pra casamento de héteros. Não tem essa regra aqui.
— Agora tem,eu mesmo com as manas do vale criamos a regra. Não se pode ver o noivo antes do casamento. Ou a lua de mel vai ser um fiasco. — Eu ri alto.
— Que absurdo. — Me sentei na grande cama do quarto onde estávamos. Era uma das torres da casa,sim,essa casa se parece um castelo,até os tijolos lembram um castelo antigo. Eu me sentia bem aqui, se não fosse a casa da mãe de Felipe, eu ia amar viver aqui. Alguém bateu na porta e Vítor foi a abrir saltitante,seu sorriso desapareceu quando ela abriu a porta.
— É o dragão,digo,a digníssima senhora Brenda Ramos Lakart.
— Não seja irônico garoto insolente. — Brenda entrou no quarto autoritária. Ela estava parecendo uma rainha. O fato de usar um vestido verde enorme que tinha uma pequena calda,e um colar de pedras que brilhavam,deixava ela parecendo uma rainha.
— Vou sair para que vocês fiquem a vontade. Qualquer coisa grite. — Vítor saiu olhando Brenda de cima a baixo e saiu rindo. Eu sorri.
— Olha pra você,quando eu te vi pela primeira vez você se parecia um mendigo sem educação,e agora está vestindo Kiton,você sabia que essa marca é italiana né? — Ela falava arrumando o terno. — Você está bem vestido, mas ainda continua um morto de fome sem sobremone. — Eu ri.
— Obrigado senhora,tenho orgulho de não fazer parte da sociedade que a senhora frequenta. — Me coloquei na frente do espelho. — Eu tô bonito pra caralho não acha?
— Não sei o que Felipe com toda a educação dele viu em você. — Eu ri. Se ela conhecesse o filho dela no colegial,ele se parecia um marginal.
— Eu posso não falar chique como a senhora, nem saber segurar um talher da forma correta,muito menos ter postura. Mas eu tenho oque seu filho precisa,amor. — Eu sorri.
— Você é atrevido. E eu gosto de pessoas assim. Porém deixa eu te falar uma coisa,amor não sustenta nenhuma relacão. — Ela sorriu maliciosamente. — Você está bonito. — Ela saiu pela porta. Me deixando irritado naquele enorme quarto. Mas eu pensei positivo. Ninguém vai estragar o dia do meu casamento. Então sorri.
Vítor abriu a porta todo animado.
— Está na hora. — Ele me puxou pelo braço, corremos pelo corredor da casa descendo a escada em formato de caracol,até chegarmos no segundo andar. — Prontinho,não desmaie. — Vítor sorriu para mim e desceu a escada de mármore. Eu respirei e comecei a andar também. No pé da escada estava a pessoa mais linda que já vi nessa vida,a única que mudava meu dia do negro para o colorido,a única pessoa pela qual eu morreria. Felipe.
— Você está espetacular. — Felipe veio ao meu encontro,seu terno era azul também, mas um azul bem escuro quase preto. Eu fiquei encantado.
— Achei que ia te ver só depois. — Sorri e segurei seu braço.
— Mais uma lei das manas do vale, foi oque Vítor falou. — Ele riu e eu também.
— Vítor é tão engraçado. — Descemos as escadas lentamente,não estávamos com pressa,nós temos todo o tempo do mundo.
— Quando ele escolheu esse terno eu fui totalmente contra, eu gosto de preto. Mas ele me lançou um olhar tão ameaçador. Descidi não ir contra. — Eu ri de novo. — Mas olha pra você, você é tão bonito, mas hoje você está impossível. — Chegamos ao último degrau e eu respirei.
— Bem,obrigado. Quem está lá fora?
— Não tem muitas pessoas,mas tem o suficiente pra te fazer se sentir nervoso. — Ele me conhecia tão bem. — Mas não se preocupe, eu vou estar do seu lado.
Quando chegamos do lado de fora,um grande tapete vermelho estava estendido,achei aquilo muito clichê.
— Vítor. — Falei baixinho. Tinha flores por todos os lados,margaridas. Minha flor preferida,gosto do perfume delas,e elas estavam por todos os lados. Eu imaginei que se tivesse flores aqui elas seriam azuis.
— Lindas não? — Fiz sinal positivo pra ele com a cabeça. Fomos recebidos por nossos pais. Eu achei estranho.
— Seu amigo falou que isso é uma lei do vale. Não entendi nada. — Lorenzo deu de ombros. O senhor Geraldo estava confuso. Era uma bela cena,nossos pais no dia mais importante da nossa vida.
— Bem, vamos Felipe, e não pense que eu vou pegar na sua mão como se você fosse uma criança pequena. — Geraldo fechou a cara,e Felipe ficou sério. — É brincadeira meu filho. — Os dois se abraçaram e foram na frente.
— Bem,posso oferecer meu braço?
— Claro,pai. — Sorri aceitado seu braço.
— Eu nunca pensei que estaria com você nesse dia,e te levando para o altar.
— Eu te decepcionei não é? O senhor queria que eu me casasse de outra forma,com uma mulher. — Lorenzo parou de andar e me fitou.
— O que? Não Ewerton, eu tenho muito orgulho de você meu filho, eu não me importo com quem você se casaria,eu só quero ver você feliz, eu te amo,sou seu pai,você nunca vai me decepcionar. — Ele me abraçou e eu lutei para não chorar. Ele era o melhor pai do mundo,do meu mundo. — Bem,agora vamos,você tem que se casar, ao menos que queira desistir e sair correndo como nos filmes.
— De jeito nenhum, depois de quatro horas arrumando meu cabelo, eu não vou desistir. — Rimos.
Todos estavam lá, colegas da escola, eles sorriam para mim,uns até choravam. Eu me senti bem por saber que tem tantas pessoas aqui que eu conheço. Felipe estava sorrindo pra mim, eu andei mais rápido arrastando meu pai comigo. O mesmo me deu um beijo na testa e foi para o lugar dele. Vítor e Pablo estavam do lado esquerdo de Felipe,a mãe dele do direito,ela estava tão séria.
Um homem estava lá também, jovem e forte,deve ser ele o amigo de Pablo.
— Meu nome é Samuel e eu vou celebrar o casamento de vocês. Antes de vocês assinarem os papeis eu gostaria de falar algumas coisas se me permitem.
— A palavra é toda sua Samuel. — Falou Felipe.
— Obrigado,vivemos um mundo onde o diferente assusta muito as pessoas. Eu sei que metade de vocês estão achando essa celebração uma verdadeira palhaçada, que isso é um absurdo. Mas não, quando duas pessoas decidem subir em um altar para se casar significa que isso é muito sério, o casamento é a celebração do amor, e quando duas pessoas decidem ficar juntas. E não tem diferença entre casal hétero e homossexual,todos somos iguais ao olhos de Deus,a diferença só vê as pessoas preconceituosas,que trazem uma verdade dos tempos primitivos.
Está na hora de deixarmos tudo que aprendemos para trás,não aceitar oque as pessoas dizem que é verdade, e procurar a própria verdade. Quem aqui acha o casamento entre homossexuais errado porque ouviu isso do seu pastor,dos seus avós,pais,e tomaram isso como errado? Quantos aqui acharam isso errado no fundo, mas se calaram por medo?
Tem pessoas lá fora ensinando errado para seus filhos,ensinando o ódio,e não o amor,não ensinam que deve se respeitar o diferente, mesmo que você não goste,respeite. Se ver um casal homossexual na rua,continue andando. Assim como os homossexuais fazem quando veem um casal hétero.
Tudo é questão de respeito, isso é tão difícil? — Todos estavam calados,Brenda estava de cabeça baixa e pensativa. — Bem,eu fico muito feliz por celebrar o casamento de Ewerton e Felipe, que estão começando suas história juntos agora. Eu desejo muita sorte para ambos. — Sorri para Samuel. — Bem,agora sem mais demoras,podem assinar esse papel e enfim estarão casados.
Eu fui o primeiro, porque eu estava com tanta pressa para isso acabar de uma vez,eu estava muito nervoso. Felipe assinou logo em seguida, depois foi a vez de Vítor e Pablo.
— Bem,eu agora eu digo que estão finalmente casados. Por favor se beijem. — Felipe me berrubou no colo dele e me beijou me tirando tido o ar. Eu estava vermelho,as pessoas começaram a bater palmas e gritar excitadas. Felipe me soltou e segurou meu braço.
Quando estávamos passando o tapete vermelho uma chuva de pétalas de rosas azuis caíram na nossa cabeça, eu sorri.
— Azuis.
— Eu encomendei. — Felipe riu e saiu correndo me puxando pelo braço para dentro da casa.
°°°
Nossa festa de casamento não parecia ter hora pra acabar,depois do horrível vexame que eu paguei dançando com Felipe na frente de todo mundo eu decidi que não ia mais dançar aquela noite. Eu estava na mesa dos doces,se tem uma coisa que eu mais amo além de Felipe é a comida.
— Vai ficar gordo assim.
— Ivan? Nossa quanto tempo.
— Dois anos pra ser exato. — Ele me abraçou e eu sorri. — Então eu cheguei tarde pra te impedir de casar. — Fiquei sério.
— Não vamos começar com essa história que aconteceu no passado.
— Caro Ewerton, um homem apaixonado nunca esquece.
— É melhor você esquecer primo, porque você perdeu qualquer chance de ficar com Ewerton. — Felipe estava atrás de Ivan,que seria pra mim.
— A esperança é a última que morre,bem,espero que sejam felizes. — Ele saiu depois de pegar alguns doces da mesa.
— Ele consegue me irritar tanto.
— Calma Felipe, não liga pra ele. — Beijei Felipe e ele sorriu.
— Nossa viagem pra Londres é daqui duas horas.
— Mas de noite?
— Sim,temos um helicóptero.
— É claro que vocês tem. — Eu ri.
— Vou deixar você com seus amigos, se despeça porque vamos ficar um bom tempo fora. — Ele me beijou quase me derrubando e saindo. Eu amei a ideia.
Vítor estava de longe se esfregando em Pablo. Eu sorri.
— Vocês são tão cheios se energia. — Vítor riu.
— Samuel foi incrível não foi?
— Muito.
— Daqui a pouco vamos ter que ir embora também. — Disse Pablo.
— Eu entendo,vou ficar com saudade de vocês dois. Mas criamos um laço que o destino costurou em nós, vamos ficar juntos pra sempre.
— O destino e seus laços. — Vítor e Pablo riram de algo, mas eu não entendi do que.
°°°
— Bem,temos que ir. — Eu estava no quarto me trocando.
— Eu sei,as malas já estão prontas. — Falei apontando para a pequena pilha de malas que estava ali.
— Sim. — Felipe me abraçou forte. — Eu te amo tanto senhor Ramos.
— Eu te amo mais. — Ele me beijou de novo,mas agora mais delicado,mas nunca deixando de lado o jeito de Felipe de ser.
— Logo logo vamos voltar.
— Espero que não tão logo. — Ele riu.
— Então, talvez não tão logo. — Felipe me jogou na cama e subiu em cima de mim.
— Felipe temos que ir.
— Temos todo o tempo do mundo. — Eu dei de ombros e puxei ele pra me beijar. Eu não ligava,agora eu estava completamente feliz, e casado com o homem da minha vida.