— Então Vítor, é verdade?
— O que você 'tá fazendo aqui? -— Carlos perguntou para Pablo.
— Eu vim buscar o Vítor.
— Ah então já são namoradinhos, que fofinhos!
— É sim, ele é meu namorado, e você nunca mais toque nele. — Pablo me puxou pelo braço e me levou pra longe. Eu olhei pra trás, foi um movimento involuntário, vi Carlos colocar as mãos no rosto, senti uma pontada de culpa.
— Está me machucando Pablo. — Reclamei quando estávamos longe o suficiente de Carlos.
— Desculpa. — Ele me soltou. — Era difícil saber o que ele estava pensando, seu rosto não tinha nenhuma expressão.
— O que você faz aqui?
— Fui na sua casa, mais seus pais falaram que você veio se encontrar com aquele playboyzinho, eu sabia que vocês estavam na praça.
— Ah, muito obrigado, me livrou de uma barra. — Eu estava sendo verdadeiro.
— Então, aquilo que você falou é serio?
Eu não sabia como dizer para ele que eu estava morrendo de amores por ele, eu não queria levar um fora do meu próprio primo.
— Não, aquilo foi uma desculpa que eu tive pra dar um fora no Carlos. — Dei de ombros, eu sempre fui um péssimo mentiroso.
— Ah, uma desculpa! — Ele sorriu como se soubesse que eu estava mentindo.
— É, você acha mesmo que eu ia gostar de você? Logo de você! — Comecei a rir.
— Também não precisa humilhar, eu não sou tão feio assim!
— Na verdade não é nem um pouco feio. — Falei em voz alta, eu tenho que parar de falar tudo que penso. Me arrependi de ter dito, eu estava me entregando com certeza.
— Então você me acha bonito? — Ele mordeu o lábio.
— Claro, eu não sou cego né, mesmo você sendo tudo o que é, devo admitir, você é muito lindo. — Ele foi chegando perto de mim, ele ficou tão perto quanto o espaço entre nós permitia, eu fiquei ofegante e parei de respirar.
— Sabe o que eu acho? Que você gosta de mim o tanto quanto eu gosto de você.
— Do que você está falando?
— Olha pra você, está todo nervoso porque eu estou perto de você.
— É que tenho medo de cometer uma loucura.
— Ah Vítor cometa. — Ele tocou meu rosto com a sua mão, sua pele estava muito quente. — Eu deixaria você cometer todas as loucuras comigo. — Então em um movimento sem pensar eu o beijei, a atrenalina correu por todo o meu corpo, junto com uma corrente elétrica. Eu sentia tudo naquele momento, e ao mesmo tempo não sentia nada, era uma sensação estranha, que me deixava fora de mim. Ele passou seu braço pela minha cintura e me puxou para mais perto dele, Pablo era maior que eu, agora eu pude tirar a prova, fiquei quase que nas pontas dos pés. Eu mordi seus lábios acho que um pouco forte demais, foi quando ele se afastou, eu me senti vazio,completamente vazio.
— Uau. — Ele estava ofegante. — Faz tanto tempo que eu não ganhava um beijo assim. — Eu podia ouvir as batidas do seu coração em sincronia com o meu.
— Eu te amo. — Confessei, mais uma vez falei sem pensar, esperei a reação dele, eu lia cada sinal do seu rosto, e ele sorriu pra minha surpresa.
— Eu também te amo Vítor, eu sempre te amei desde que a gente era criança, eu estive longe de você esse tempo todo. Eu sonho a noite que você vai ser meu e nunca vai me deixar. E quando eu não vejo você eu tenho vontade de não existir. — Aquelas palavras soaram tão clichê,mas eu não liguei, enquanto ele falava seu rosto ficava vermelho.
Ele me olhava no fundo dos olhos agora, eu sentia que era o homem mais feliz do mundo por ouvir aquelas palavras.
— Eu não sei como isso foi acontecer, mas aconteceu, e eu não me importo com as consequências.
Ele me beijou de novo, eu puxei a cabeça dele pra mais perto, eu precisava sentir ele perto de mim, o beijo agora foi mais calmo, eu não queria morder ele de novo e fazer ele se afastar mais uma vez. Me enchi de vida quando ele me tocou novamente.
— Eu também não me importo, eu só quero ficar com você. — Toquei seu rosto ele beijou minha mão. — Vítor quer namorar comigo?
— Você tem certeza de que é isso que você quer? — Minha voz saiu um pouco áspera, eu não entendi o porque.
— Eu não tenho dúvidas!
— Então eu aceito. — Ele sorriu, como se já soubesse da minha resposta muito antes de me fazer a pergunta, ele colocou as costa da minha mão no seu rosto, era quente, quase febril.
Pablo me levou para casa, ele não soltou minha mão o caminho todo, eu estava feliz, minha felicidade era quase palpável.
— Você não quer entrar?
— Não, não hoje, amanhã você tem aula, nada de dormir tarde!
— Ahhh. — Abraçei ele. — Tudo bem papai. — Dei um beijo nele.
— Eu quero outro.
— Que pidão. — Eu o beijei outra vez. Ele colocou suas mãos em volta da minha cintura me impedindo de sair de perto dele.
— Eu te amo. — Falou ele no meu ouvido.
— Eu te amo mais.
— Se você vai começar com esse clichê, então eu te amo infinitamente mais. — Dei um soco de brincadeira no braço dele.
— Eu não sou clichê!
— É sim,e brega, careta e tals.
— Ah cala a boca. — Empurrei ele.
Eu fiquei bravo, ficava irritado muito fácil não precisa fazer uma grande coisa pra me deixar assim. Ele me olhou com uma chama nos olhos, como se estivesse gostando daquilo.
— E agora ficou bravo!
— Quer saber, eu não devia ter aceitado namorar com você!
— É, foi perda de tempo. — Rebateu ele.
Eu entrei dentro de casa com raiva, bati todas as portas que eu achei pela frente.
— Idiota, imbecil, como se eu gostasse de você! — Falava pra mim mesmo enquanto tirava a roupa.
Se Pablo não pode me aceitar da forma que eu sou então ele não me merece. Deitei na cama e comecei a chorar. Era uma reação bem típica. Quando alguém briga comigo eu fico bravo, e depois eu quero quebrar algo e depois eu choro, e então me arrependo. Tudo nessa ordem. Nem sempre, é claro.
Eu dormi com meus olhos ardendo, desejando que o dia de amanhã nunca chegasse.
°°°
— V, você está me ouvindo?
— Que?
— Tô falando disgraça!
— Ah, desculpa Marta, eu só estava longe!
— É bem longe né, o que houve?
Estávamos na escola, as aulas ainda não haviam começado, e eu não queria ficar ali, não ia conseguir me concentrar assim.
— Você leva minha mochila pra sua casa não leva? — Perguntei quase desesperado pra Marta.
— Levo, mas por que?
— Você é a melhor! — Beijei ela e sai correndo pela porta, nem eu sabia exatamente das coisas que eu fazia, agir por impulso era uma das minhas qualidades e meu pior defeito.
Quando eu sai da escola eu não sabia pra onde ir, pra casa eu não poderia, mesmo meus pais não estando lá, minha mãe sempre chega antes que as aulas acabassem. Não tinha outro lugar, a não ser a loja.
Peguei um taxi, o taxista me olhava muito desconfiado, estava tão na cara que eu estava fazendo algo errado? Cheguei na loja rápido demais, antes mesmo de eu planejar o que eu ia dizer para Pablo.
Paguei o homem e desci. Respirei fundo e entrei. Por sorte a loja não estava cheia. E não dei de cara com Pablo. Mas não demorou muito para ele aparecer.
— O que você faz aqui? — Perguntou confuso.
— Eu vim pra cá, não tenho humor nenhum pra ficar dentro de uma sala.
— E você veio pra cá, eu reprovo esse comportamento.
— Tá tá, eu também não ia conseguir pensar depois de tudo que aconteceu ontem! — Pablo só me olhava.
Eu me sentei no sofá, e Pablo se sentou do meu lado tão perto quanto o sofá permitia.
— Eu tenho que me desculpar, acho que por minha culpa brigamos.
— Nada de desculpa, eu odeio quando me pedem desculpa ou perdão!
— Então desculpa por pedir desculpa! — Eu olhei feio pra ele. Ele me abraçou. — Você não pode me deixar, eu não esperei tanto por você pra tudo acabar por uma briguinha atoa! — A voz dele saiu desesperada.
— Me solta! — Eu me levantei do sofá e cruzei os braços.
— Isso é sério mesmo?
— É, eu não gosto de você eu já disse.
— É oque você diz, mas seu corpo fala outra coisa! — Ele chegou perto de mim, seu perfume me deixava tonto. Ele me beijou e eu abaixei totalmente a minha guarda. Eu odiava quando alguém me deixava desarmado. Eu empurrei Pablo e bati no seu rosto.
— Nunca mais toque em mim, por que você não morre? Seria um livramento pra mim. — Fui para trás do balção Pablo ficou na minha frente.
— Não é o que você quer! — Ele sorria.
— Eu nem sei porque eu vim pra cá.
Eu me virei para ir embora quando ouvi um barulho ensurdecedor, o primeiro foi o barulho dos vidros da loja que quebraram e depois eu ouvi um tiro. O barulho me assustou.
Quando olhei para trás Pablo ainda estava de pé, uma lágrima corria pelo seu rosto, ele estava sangrando, e caiu no chão.
Eu estava chocado demais pra ter qualquer reação no momento, eu não consegui pensar em mais nada além de que Pablo estava morto. Corri pra perto dele,ele ainda estava acordado.
— Vítor.
— Por favor não fale nada, você, você está sangrando! — Toque no seu peito a onde a bala havia atravessado. Eu não podia ver sangue, me deixava tonto, fiz de tudo para prender minha respiração.
— Bem, antes eu do que você!
— Isso deve estar doendo. — Falei desesperado.
— Um pouco.
— Oh meu Deus, oque eu faço, você não pode morrer não, você não! — Pablo apertou minha mão.
— Vítor...
— Eu não quero que você morra.
— Vítor cala a boca! — Eu olhei pra ele. — Ligue pro hospital e peça uma ambulância.
— Tá! — Eu peguei meu celular, minha mão estava com o sangue dele. Eu liguei pro hospital e pedi uma ambulância, não sei como eu me lembrei do número, eu estava muito desesperado.
— Eles já estão vindo. — Falei tocando no rosto dele.
— Se eu morrer, vou morrer feliz por ser o seu rosto o último que eu vou ver!
— Você não vai morrer! — Eu estava lutando contra as lágrimas que queriam descer! — Eu não falei sério quando disse que queria que você morresse!
— Eu sei! — Ele sorriu. — Por que você não está respirando? — Ele perguntou confuso e fez uma cara de dor.
— Eu não quero acabar desmaiando aqui, não posso sentir o cheiro de sangue!
— Ah. — Ele riu e depois parou.
Eu escutei o barulho da ambulância e fiquei mais calmo, ele me olhava,eu coloquei sua cabeça no meu colo. Ele fechou os olhos.
— Se você morrer, eu juro que te mato! — Ele sorriu.
— Eu não vou.
°°°
Eu estava no hospital, estava horrível todo sujo com o sangue de Pablo na minha roupa. Eu tive uma crise de raiva quando não quiseram me deixaram ir na ambulância junto com ele, mas eles mudaram de ideia depois.
Liguei para a pessoa que mais me entederia agora, minha tia Clara,diferente do meu tio Vagner ela era forte.
— Vítor? — Perguntou uma voz famíliar.
— Tia Clara. — Fui correndo abraçar ela,fazia tanto tempo que eu não via a via,ela estava calma.
— Esta aqui por causa do Pablo não é?
— Sim tia. — Eu estava tentando fazer de tudo pra não demonstrar que estava nervoso.
— E como ele está? Os médicos já deram notícias?
— Ainda não, e isso está me deixando louco!
— Estranho, eu sempre pensei que você odiasse Pablo! — Olhei para ela, minha tia tirou os óculos escuros.
— Bem, era um mal entendido, mas também é normal eu vi ele ser baleado. — Tentei afastar aquela lembrança.
— Eu sei, já pedi pra encontrarem o culpado, mas é muito difícil já que ninguém o viu, mas eu prometo que o culpado já pagar caro! — Minha tia era uma advogada e uma empresária de muito prestígio.
— Eu espero que encontrem!
Um hora depois, a pior hora da minha vida apareceu um médico pra falar com a gente.
— Famíliares de Pablo lemos?
— Sim. — Levantei do banco eu estava a ponto de chacoalhar ele pra ele dizer alguma coisa. — Como ele está doutor?
— Está bem felizmente, mas se a bala tivesse sido mais para cima ela teria acertado o coração dele!
Eu abraçei minha tia, que parecia muito aliviada com a notícia.
— Você deve ser o Vítor não é? Ele faz questão de te ver! — Falou o doutor.
Olhei para a minha tia e ela pediu para mim ir, ela era uma mulher forte, mas eu vi nos seus olhos que ela queria chorar.
Segui o doutor até o quarto do Pablo. Eu estava muito aflito perto do doutor.
— Não precisa ficar nervoso, ele não corre mais nenhum risco de vida, por um milagre ele se salvou.
— Obrigado por ter salvo ele doutor!
— É o que eu faço, aliás meu nome é Beto.
— Vítor! — Eu sorri.
Entrei no quarto, Pablo estava com os olhos fechados. Eu fui até ele e me ajoelhei perto da cama. Quando eu peguei a mão dele ele acordou.
— Oi.
— Oi, como você se sente?
— Cansado! — Ele riu.
— Eu saiba que você ia se salvar.
— Eu prometi que nunca ia te deixar, não foi? — Eu corei.
— Eu espero que encontrem o responsável desse atentado, eu juro que eu mesmo vou apertar o gatilho da arma na cabeça dele! — Falei sério.
— Ou a policia vai cuidar dele né Vítor, você não vai fazer nada! — Fiz uma careta pra ele. — Eu acho que essa bala era pra você!
— Por que você acha isso?
— Uma suposição!
— É, se você não tivesse na minha frente, quem estaria aqui seria eu! — Ele apertou minha mão.
— Você sabe quanto tempo mais eu vou ficar aqui?
— Não, mas eu posso saber, e não vou sair do seu lado até você ganhar alta. — Ele tocou meu rosto.
— Obrigado.
— Agora descançe, eu vou ficar aqui!
Pablo apertou minha mão e fechou os olhos. Eu respirei fundo e agradeci baixinho por ele estar vivo.